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Os Estados Unidos da América (EUA) decidiram esta sexta-feira impor sanções aos dois filhos adultos do líder dos sérvios bósnios, Milorad Dodik, e ainda a quatro empresas que controlam sob a acusação de corrupção.

A rede em torno de Dodik, à qual pertencem o seu filho e a sua filha, permite-lhe “desviar fundos públicos da Republka Srpska [RS, a entidade sérvia da Bósnia-Herzegovina] e enriquecer e também à sua família em detrimento dos cidadãos da Bósnia-Herzegovina e de uma governança funcional no país”, sublinhou, em comunicado, o Departamento do Tesouro (equivalente ao Ministério das Finanças) norte-americano, responsável pelas sanções económicas.

Considerado próximo do Kremlin (Presidência russa), Dodik, 64 anos, já foi sancionado por Washington e Londres por ter admitido a secessão da entidade que dirige.

Na segunda-feira, o líder compareceu num tribunal em Sarajevo após ter sido indiciado em 11 de agosto pelo procurador central bósnio pelo “não respeito” das decisões do alto representante internacional para a Bósnia-Herzegovina, o alemão Christian Schmidt.

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Este cargo está previsto no acordo de paz de Dayton, que em 1995 pôs termo à guerra civil nesta ex-república jugoslava (1992-1995), com o alto representante a garantir poderes excecionais, incluindo alteração de leis ou demissão de líderes locais.

Num comunicado distinto, o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Matthew Miller, indicou que a rede em torno de Dodik “facilita a função de primeiro plano desempenhada por Dodik na contestação ao acordo de paz de Dayton de 1995 e da autoridade do alto representante, e ainda a perpetuação de uma corrupção profundamente enraizada na Bósnia-Herzegovina”.

Através do apoio financeiro e político dos indivíduos e entidades hoje designadas, Dodik envolveu-se numa rede de corrupção que assegura a estabilidade financeira e política de pessoas à custa dos cidadãos da Bósnia-Herzegovina que vivem na Republika Srpska”, considerou, por sua vez, Brian Nelson, subsecretário do Tesouro responsável para a área do terrorismo e informações financeiras, citado no comunicado.

O Departamento do Tesouro especificou ainda que Milorad Dodik “utilizou a sua posição oficial na Bósnia-Herzegovina e a sua rede de ligações pessoais e de empresas para acumular riquezas pessoais”, através de diversas formas de corrupção.

Em paralelo, segundo as autoridades norte-americanas, “o seu discurso etno-nacionalista que divide, reflete a sua intenção de concretizar esses objetivos políticos”.

As relações entre Dodik e o alto representante internacional Christian Schmidt, um antigo ministro alemão e membro da conservadora União Social-Cristã (CSU), deterioraram-se após a suspensão em abril de 2022 pelo político germânico de uma controversa lei pela qual a entidade sérvia bósnia pretendia apropriar-se de bens do Estado no seu território.

Após o acordo de paz de Dayton que pôs termo à guerra — que provocou cerca de 100.000 mortos e mais de dois milhões de refugiados e deslocados civis — a questão da partilha dos bens públicos nunca foi solucionada.

No início de setembro, Dodik anunciou a iminente publicação de um decreto destinado a impedir Schmidt de deslocar-se à entidade sérvia.

O gabinete do alto representante está instalado na capital, Sarajevo, em território da entidade croato-bosníaca. No entanto, Dodik acabou por recuar após advertências de Washington e Bruxelas, que reafirmaram o seu apoio ao político alemão.

O território da RS representa cerca de 50% do país. A outra metade situa-se na Federação entre croatas e bosníacos (muçulmanos), a segunda entidade legitimada pelo acordo de Dayton.

A ex-república jugoslava continua a confrontar-se com as ambições secessionistas dos sérvios bósnios e uma crescente fratura e afastamento entre os nacionalistas bosníacos muçulmanos e croatas católicos.

Os partidos nacionalistas continuam a dirigir as respetivas entidades, num cenário de profundas divisões étnicas.