O clima político é de pré-campanha e o capacete, botas e colete refletor que António Costa e ministros trazem colocados também parecem ser. Já não será primeiro-ministro quando estiver pronta a futura estação Estrela da Linha Circular do Metropolitano de Lisboa, por isso Costa visita-a já como está, até porque “o que importa é quem começa” e não quem inaugura. Parece ser o mantra do momento para primeiro-ministro que está de saída, esse e outro, que vem contrariar a versão presidencial sobre de quem é a culpa das eleições antecipadas: há eleições porque o Presidente quis.

A 64 metros de profundidade, em plena escavação do túnel do metro, António Costa foi a despique com Marcelo, ao mesmo tempo que dizia que a sua função não é comentar o que diz o Presidente da República. Na mensagem de Ano Novo, Marcelo repetiu que a decisão de Costa em sair foi “legítima”, mas foi “pessoal”, já esta terça-feira, Costa sublinhou que “o ato eleitoral foi decidido e convocado pelo Presidente”. E nesta tentativa mútua de desresponsabilização pela crise política, primeiro-ministro e Presidente vão-se contrariando num assunto de peso e que pode ser de elevada cobrança política a 11 de março, dia seguinte às legislativas, caso não exista uma solução de governação estável.

Por baixo do fato de visita à obra está o de primeiro-ministro e Costa garante que é nessa qualidade que está ali na visita a uma obra que quer na lapela do seu Governo. “O país não pode parar porque há dissolução da Assembleia da República”, disse aos jornalistas durante a visita para recusar que exista qualquer aproveitamento eleitoral. E atira o “dever do recato” só para depois da marcação oficial de eleições, o que acontecerá a 15 de janeiro, segundo o calendário definido pelo Presidente da República. “Estamos longe desse momento”, avisa Costa, fazendo antever que vai fazer render os próximos 13 dias — e agenda desta quarta-feira já traz outro lançamento, desta vez do programa para a construção, recuperação e reabilitação de escolas.

Pressão sobre o PSD na Alta Velocidade

Mas os seu discurso já é totalmente de balanço. Neste caso concreto, de avanços nas Infraestruturas, a começar pela obra onde tinha os pés. “Não é uma linha que liga o Rato ao Cais Sodré, não são só 2 quilómetros. É um anel que permitirá a existência de uma linha circular” em Lisboa, afirmou tendo na plateia o presidente do Conselho de Administração do Metropolitano de Lisboa, Vítor Domingues dos Santos, e também os seus ministros da Presidência e do Ambiente e os secretários de Estado Adjunto e da Mobilidade.

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Antes dele já o ministro Duarte Cordeiro tinha sintetizado a importância da linha noutros moldes, mais focado na sua área de governação, e a apontar a quem se segue. “O futuro primeiro-ministro deixará de ter desculpas para não ir a pé para o trabalho”, disse entre sorrisos já que a estação da Estrela ficará a poucos passos da residência oficial do primeiro-ministro.

“É a primeira obra que serve exclusivamente a cidade de Lisboa e ajuda à fluidez do trânsito”, argumentou ainda Costa colocando no fim da frase a palavra “irreversível”. O prazo para a entrega da obra já deslizou de outubro de 2024 para fevereiro de 2025 e Costa sublinha que agora já não pode haver volta atrás. Tal como também já não queria que houvesse para a Alta Velocidade — tal como o Observador avançou logo após a demissão de Costa — e agora pressiona o PSD.

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O concurso para este projeto tem de ser lançado até ao final do mês e o primeiro-ministro acena como os 750 milhões de euros de financiamento comunitário disponível para a obra para dizer que “todos compreendem a necessidade imperiosa de lançar o concurso. Mesmo um país rico não se pode dar ao luxo de desperdiçar um financiamento de 750 milhões”, afirmou. Costa lembrou ainda a validação parlamentar do Plano Nacional de Infraestruturas, mas também já disse que o concurso só será lançado com o acordo do PSD, tendo em conta a atual situação política. E, por sua vez, Luís Montenegro já disse ter dúvidas sobre o traçado, além de desconfiar dos argumentos de Costa sobre o acesso aos fundos comunitários.

A estratégia de Costa no carril lateral da campanha que aí vem está definida e passa, no começo, por acenar com as dificuldades que 2024 pode trazer. “A conjuntura internacional em 2024 é muito desafiante”, afirmou na obra da linha circular para logo a seguir atirar que não se pode “perder o que se conseguiu alcançar até agora” e aí enumera a “criação de emprego” e a “subida de rendimentos”. “Não podemos estragar aquilo que de bom temos e é necessário continuar sem estragar”, atirou por fim sobre esta mesma matéria.

Garante não estar em campanha e até recusa comentar muito mais sobre as eleições do que o clássico apelo ao voto. Promete, no entanto, noutras “circunstâncias e outras funções” dizer “algo mais sobre o que fazer com o voto”. A circunstância mais próxima será o próximo congresso do PS onde, de acordo com a Lusa, Costa fará a intervenção de abertura dos trabalhos, logo na sexta-feira. Aí já na qualidade de militante de base do partido que liderou nos últimos nove anos.