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Os Açores escritos pela luz

O altíssimo padrão de qualidade deste "Arquipélago" vai fazer dele, obra que se percebe ter sido longamente amadurecida, a referência maior por anos e mais anos, entre os fotolivros sobre os Açores.

"Gostaria que todos aqueles que visitassem os Açores tivessem consciência da importância de manter intacta a autenticidade deste território", escrevem os autores
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"Gostaria que todos aqueles que visitassem os Açores tivessem consciência da importância de manter intacta a autenticidade deste território", escrevem os autores

"Gostaria que todos aqueles que visitassem os Açores tivessem consciência da importância de manter intacta a autenticidade deste território", escrevem os autores

Arquipélago de nove ilhas entre Europa e Américas (as Canárias têm sete, Cabo Verde dez, Madeira e São Tomé e Príncipe duas cada), os Açores distinguiram-se nos últimos anos por um cada vez mais intenso fluxo de turismo de natureza, que a sua centralidade atlântica polarizou tanto quanto a oferta de trilhos, observação de cetáceos e de aves — o que veio aumentar exponencialmente a cobertura mediática de tudo isso, das fotografias de magazine aos documentários para televisão e cinema.

Essa farta cornucópia de imagens derramada sobre tudo e todos — e que smarthphones e redes sociais também renovam a cada instante, continuamente — pode resultar num déjà-vu contraproducente, que substitui o vívido por um falso conhecimento daqueles lugares e das suas gentes, mas a verdade é que se torna quase irresistível o registo de imagens do que ali operaram vulcanismo primordial e paisagem construída, diante da absorvente imensidão de mar e céu. Sobretudo agora que a fotografia por drone possibilita perspetivas que estão muito para lá do que o olhar humano pode alcançar.


Título: “Arquipélago”
Fotografia: Ricardo Lopes
Textos: Inês Duque Dias
Editor: Written by Light
Páginas: 296

Não admira que nos Açores se esteja a evidenciar nitidamente, como já algumas vezes afirmei, um escol de fotógrafos profissionais de alto gabarito, com obra publicada e reconhecida além-fronteiras, ou em vias disso, a ponto de se poder dizer que a fotografia irá distinguir os Açores tanto quanto a literatura. O que verdadeiramente admira — e não é pouco — é a excelência do álbum Arquipélago, que Ricardo Lopes (Lisboa, 1975-), “um açoriano de alma” (p. 2) sediado em Lajes do Pico, lançou há pouco, com design de José Mendes, impressão da estimável M2 Artes Gráficas e chancela da editora independente Written by Light.

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O altíssimo padrão de qualidade desta obra — pois é exatamente disso que se trata, não se duvide nem um pouco —, vai fazer dela, que se percebe ter sido longamente amadurecida, a referência maior por anos e mais anos, entre os fotolivros dedicados aos Açores (ou, para recorrer a indicativo local, será o seu próprio Pico…). E constitui também um repto fundamental, feito no momento certo, para não dizer decisivo: “Gostaria que todos aqueles que visitassem os Açores tivessem consciência da importância de manter intacta a autenticidade deste território; que todos pudéssemos contribuir para mantê-lo assim, cru, natural e preservado; que todos compreendessem a importância vital de salvaguardar e respeitar a natureza, sem nunca nos esquecermos das pessoas que povoam estas ilhas” (final do prefácio, p. 2).

Há um índice que informa dos lugares e das datas das fotografias, mas há sobretudo o que pode ser lido como "perfis" de todas as ilhas

“Fuga para o autêntico” é o título do breve manifesto inicial, de cunho pessoal e familiar (e ainda bem!), que convoca “os nossos ossos mergulham no mar” de Vitorino Nemésio e o seu grande amigo Raul Brandão (1867-1930), o visitante de 1924 que escreveu um livro que brilha ainda, um século depois. A primeira fotografia põe em evidência o facto de os Açores serem, na Europa, “o único território onde se produzem plantas de chá”, o que sinaliza muito bem a sua singularidade, e depois assistimos ao desfile duma longa sequência de imagens captadas em todas as ilhas, qual inventário de cenários e panoramas, do litoral às lagoas, dos faróis aos moinhos, mostrando — num rico, dialogante e contrastivo jogo de justaposições entre páginas à esquerda e à direita — toda a riqueza natural do território e quão fácil é sermos empaticamente surpreendidos por ele; servem de exemplo as pp. 38-39, com a estrada ziguezagueante do Poço da Pedreira em Santa Maria e a estrada recta do Norte Pequeno, no Faial. E com drone se vão fazendo verdadeiros prodígios, como são as imagens da Fajã dos Cubres, em São Jorge (p. 49), da capela dos Canto, nas Furnas de São Miguel (p. 31), da baixa de Angra do Heroísmo (p. 99) ou do jardim central de Velas, também em São Jorge (p. 155). A claríssima atenção aos ilhéus como parte integrante do território açoriano é outro dos atributos da lucidez deste Arquipélago.

No fim do livro, assumindo protocolo consagrado para este tipo de edições — o que também demonstra maturidade oficinal e uma cultura do fazer bem —, há um índice que informa dos lugares e das datas das fotografias, mas há sobretudo o que pode ser lido como “perfis” de todas as ilhas, que descartam designações há muito estabelecidas, como Ilha Verde para São Miguel, e estabelecem designativos novos: Corvo “ignoto abrigo do ser”, Flores “o endereço de um sonho”, São Jorge “mergulho no profundo”, Santa Maria “um vento quente”, etc.

Se o inventário do território parece estar bem estabelecido, neste portefólio, justa atenção explicativa é dada a palavras-chave da açorianidade

Produções humanas — redes de pesca da Caloura (pp. 116, 175), plantação de ananás (p. 108), cerâmica de Lagoa (p. 2379, pimenta à venda num mercado (p. 161) em São Miguel; bordado (p. 118), queijaria em Nossa Senhora do Pilar (p. 149), olaria de São Bento (p. 65) na Terceira; artesanato na Fajã do Ginjal (p. 144) em São Jorge, etc. — são postas em destaque mas sem protagonistas à vista, como se o registo feito num momento específico, concreto, viesse perturbar a perenidade que envolve todos os sítios, deixando convite ao ócio deleitoso — sem mais que a desejada partilha — piscinas naturais e cascatas (Barca, Cabrito e Pocinho no Pico, pp. 36, 202 e 57 e 208; Salto do Cabrito, em São Miguel, p. 71;  Carapacho, na Graciosa, p. 229; Simão Dias e Porto da Fajã do Ouvidor, em São Jorge, pp. 232-33 e 254-55, 243; São Lourenço, em Santa Maria, p. 252 — e muitas outras haveria). E se o inventário do território parece estar bem estabelecido, neste portefólio, justa atenção explicativa é dada a palavras-chave da açorianidade, como mistérios (p. 56), fajã (p. 120), impérios (p. 152) e, já se sabe, vulcão (p. 184).

Se eu fosse açoriano, comprava este maravilhoso livro para o deixar a filhos e depois netos, pedindo que o estimassem sempre como se fosse velha relíquia de família ou antigo mapa-múndi, ou para o oferecer aos meus melhores amigos de lá, certo de que o admirariam como um dos melhores tributos dos novos “colonos” daquelas ilhas, que as estão a descobrir e valorizar, ajudando a criar ali um dos melhores lugares para se viver. Pois, também nesse sentido, Arquipélago é um livro notável.

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