A capital italiana acordou, esticou os braços e as pernas, esfregou os olhos e não viu José Mourinho por perto. A Roma despediu o treinador português, mas a cidade não o esqueceu nem concordou com a decisão. Os adeptos giallorossi penduraram uma tarja numa ponte onde criticaram quem ficou e elogiavam quem foi embora. “Clube fantasma, jogadores sem bolas, honra a ti, José Mourinho”.

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A derrota por 3-1 no San Siro, contra o Milan, que deixou a Roma arrumado no nono lugar da Serie A, acabaria por ser o último jogo do Special One no cargo. A equipa voltou à ação neste sábado frente ao Hellas Verona e no Estádio Olímpico a expectativa era ver como iam reagir os adeptos ao adeus de Mourinho que se despediu de forma emocionada do clube, mas que até pode já estar a caminho da Arábia Saudita.

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A mudança de cenário começava desde logo no banco, onde ia estar uma cara bem conhecida, mas com pouca experiência como treinador. Daniele De Rossi, antigo capitão e lenda do clube, assumiu a equipa com um contrato válido até ao final da época e com um salário que não vai além dos 500.000€ (total), sendo que lhe foi prometido um bónus caso a Roma atinja a Liga dos Campeões. Independentemente das circunstâncias, o antigo jogador está na cadeira de sonho. “Não poderia dizer não à Roma”, assumiu o técnico. “Tratem-me como um treinador e não como uma lenda do passado. Não ando pelo campo com uma mascote. Vou lutar até a morte para ficar aqui”.

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Daniele De Rossi disse na primeira conferência de imprensa desde que é treinador da Roma, que enviou uma mensagem a Mourinho e que recebeu conselhos de Francesco Totti. Do ponto de vista das opções táticas, era previsível que o técnico, cuja única experiência ao leme de uma equipa foi na Spal, fizesse mudanças. As declarações deixavam antever o desejo de impor um futebol mais ofensivo, acabando por defrontar o Hellas Verona com apenas quatro defesas. “Quando o treinador muda, todos os jogadores treinam a 3.000 km/h. Recebi uma resposta incrível nos primeiros treinos, vamos ver se dura. Nestes dias tentei colocar dois ou três conceitos na equipa, nada mais para não causar confusão”.

Assim que os jogadores subiram ao relvado e as equipas técnicas ocuparam o banco de suplentes, o primeiro aplauso foi para De Rossi. Muitos adeptos levaram inclusivamente bandeiras com as iniciais do novo treinador. No entanto, assim que começou a ser entoado o hino da Roma, ainda antes do apito inicial, os adeptos ergueram uma tarja onde se lia: “Foi o privilégio ter-te do nosso lado. Obrigado José!”. Seguiu-se uma série de manifestações do mesmo tipo. O clima era algo entre a adoração ao novo treinador por aquilo que fez como jogador e o agradecimento a José Mourinho. As críticas incidiam sobretudo na direção do clube e nos próprios jogadores, assobiados quando subiram para o acontecimento. “Nunca pretendemos troféus e louros, apenas respeito pela camisola e pelos seus valores… Honrem a Roma e lutem pela sua gente”.

O jogo levava cerca de dez minutos quando o Estádio Olímpico se uniu para cantar o nome de José Mourinho ao mesmo tempo que outras mensagens foram exibidas. “Defendeste-nos contra tudo e todos. Roma não esquece. Obrigado, Sr. José”. A Curva Sul, onde se concentram os ultras gillarossi, foi particularmente ativa nas demonstrações de apreço pelo português. “Há memórias que não têm contratos: as corridas e os sorrisos que nos deu, cada vez que se alinhou… pelo seu romanismo será sempre respeitado! Obrigado, mister!”.

Em termos futebolísticos, a Roma sofreu uma transformação significativa. Além do sistema tático que evoluiu para o 4x3x3, a equipa da capital italiana mostrou mais vontade de ter a bola e de rendilhar o seu futebol com ligações interiores raramente vistas com Mourinho. Assim, Romelu Lukaku (19′) e Lorenzo Pellegrini (25′) deixaram os giallorossi em vantagem ao intervalo. Na segunda parte, a Roma foi menos consistente, mas valeu que Milan Djuric desperdiçou uma grande penalidade. O Hellas Verona acabaria por conseguir reduzir por intermédio de Michael Folorunsho (76′) num lance em que Rui Patrício foi traído pelo efeito da bola. O triunfo (2-1) deixou a Roma com 32 pontos, menos dois que a Fiorentina, a primeira equipa em zona de acesso à Liga dos Campeões, que ainda não jogou nesta jornada.