O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, defendeu em entrevista à Reuters que o Banco Central Europeu (BCE) deve começar a trajetória de corte nas taxas de juro o mais cedo possível, de forma faseada, e reitera que não é preciso esperar pelos dados salariais do primeiro trimestre, conhecidos em maio, para tomar essa decisão.

Na semana passada, o BCE manteve inalteradas as taxas de juro diretoras, com a taxa dos depósitos a manter-se nos 4%, um valor que se acredita ser o “pico” deste ciclo. Segundo a Reuters, Mário Centeno concordou com a decisão, mas aponta agora para a necessidade de começar o processo de redução. Na quinta-feira, Christine Lagarde indicou que houve consenso em como ainda era “prematuro” falar em descer os juros, mas um “primeiro pequeno passo” foi dado nesse sentido, segundo os analistas.

BCE dá um “primeiro pequeno passo” para começar a descer as taxas de juro

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Para Centeno, não é preciso esperar por maio, altura em que serão conhecidos os dados salariais do primeiro trimestre, para verificar se os chamados ‘efeitos de segunda ordem’ sobre os salários estão a fazer-se notar, ao contrário do que defendem colegas do BCE. “Não precisamos de ter de esperar pelos dados salariais de maio para ter uma ideia da trajetória da inflação”, argumentou, em entrevista à agência.

Há “muitos indícios de que a inflação está a cair de forma sustentada”, em direção ao objetivo de médio prazo de 2%, à boleia da dissipação dos “choques” que estavam a pressionar os preços, incluindo na energia.

Em dezembro, Centeno já tinha admitido que o início do ciclo de cortes nos juros deveria ser antecipado face ao que o BCE previa no verão. Também este mês, em Davos, defendeu que o BCE deveria estar preparado para discutir a redução dos juros.

“Taxas de juro vão descer. Não é questão de ‘se’ mas, sim, de ‘quando’”, diz Mário Centeno

Sem um novo choque nos preços, Mário Centeno volta a defender uma redução das taxas de juro. “Podemos reagir mais tarde e mais fortemente, ou mais cedo e mais gradualmente. Sou completamente a favor de cenários de gradualismo porque temos de dar tempo aos agentes económicos para se adaptarem às nossas decisões”, afirmou, admitindo uma métrica de 25 pontos base.

“O BCE tem de ser, a partir deste momento, também uma fonte de estímulo para o crescimento económico na zona euro”, acrescentou.