Jesus Cristo está de cabelos longos e somente com a parte inferior do corpo coberta por um pano branco, tal como é habitualmente retratado na cruz. Mas a imagem escolhida para promover a Semana Santa em Sevilha está a causar polémica em Espanha. Há quem considere esta interpretação da figura de Cristo como “afeminada” e “ofensiva”.

O quadro é da autoria do artista sevilhano Salustiano Garcia e representa Jesus após a ressurreição, de tronco nu, com uma coroa. “É o lado radiante da Semana Santa”, diz o artista que foi convidado para elaborar a obra pela organização da Semana Santa de Sevilha, que reúne as irmandades da cidade que participam nas procissões da festividade católica, que acontece de 24 a 30 de março. Perante as críticas de conservadores, que o acusam de sexualizar o corpo Cristo, Garcia responde: “Se o meu Cristo é gay, que Deus venha vê-lo.”

“É absolutamente uma vergonha e uma aberração”, descreveu o Instituto de Política Social Espanhol (IPSE), organização que defende os “símbolos cristãos” e que se posiciona contra o aborto. A instituição conservadora pede a remoção da obra e exige um pedido de desculpas público por parte do artista, argumentando que esta representação não está de acordo com o espírito da Semana Santa.

Entretanto, mais de 12 mil pessoas já assinaram uma petição na plataforma Change.org para exigir a retirada imediata do cartaz, apresentado no passado sábado, por “não representar em absoluto a fé, os valores cristãos, a tradição e o fervor religioso desta cidade”.

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A polémica tem cavalgado nas redes sociais e já levou responsáveis políticos a pronunciar-se sobre o caso. “As expressões de homofobia e ódio nas opiniões sobre o cartaz #SSantaSevilla24 são intoleráveis”, alertou Juan Espadas, do Partido Socialista espanhol (PSOE), na rede social X, saindo em defesa do artista. Na mesma plataforma, Javier Navarro, do VOX, também tomou posição sobre o assunto. “É evidente que este cartaz estava em busca da provocação”, criticou o líder do partido de extrema-direita em Sevilha.

Reportam meios espanhóis, como o jornal ABC, que o arcebispo de Sevilha, José Ángel Saiz Meneses, quer acabar com a polémica. O episódio galgou fronteiras e culminou em diversos meios internacionais. Em Itália, o diário Il Messagero descreveu-o como “o Cristo gay de Sevilha“. Na rede Social X, o arcebispo publicou apenas: “Hoje fixemos o nosso olhar, com especial intensidade, no Santo Cristo. Pedimos-lhe que mude o nosso coração, que nos ajude a amadurecer, a concentrar-nos no essencial, a seguir os seus passos”.