Depois da avalanche do verão, onde a Arábia Saudita investiu mais de 900 milhões de euros em contratações, esperava-se que o mercado de inverno voltasse a assistir a um autêntico êxodo de alguns dos melhores jogadores do mundo para o país onde já estão Cristiano Ronaldo, Neymar e Benzema, entre muitos outros. O mês de janeiro, porém, viu o mercado saudita tornar-se uma simples nota de rodapé.

Na janela de transferências de inverno que terminou em Portugal esta quarta-feira, o principal investimento da Saudi Pro League foi mesmo Renan Lodi, que deixou o Marselha e reforçou o Al Hilal de Jorge Jesus a troco de mais de 20 milhões de euros. O nome mais sonante a mudar-se para a Arábia Saudita nas últimas semanas, porém, é o de Ivan Rakitic: o experiente médio croata rescindiu com o Sevilha e assinou com o Al-Shabab, que muito provavelmente vai passar a ser treinado por Vítor Pereira.

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Em sentido contrário, a liga saudita até perdeu dois dos principais jogadores que chegaram nos últimos anos. Jordan Henderson arrependeu-se de ter assinado pelo Al Ettifaq no verão e conseguiu voltar à Europa através do Ajax, enquanto que Éver Banega deixou o Al Shabab, que representava há quatro épocas, e voltou à Argentina para jogar pelo Newell’s Old Boys. Pelo meio, Karim Benzema tentou muito sair do Al-Ittihad, mas não conseguiu e vai ficar na Arábia Saudita pelo menos até ao final da temporada, e Jota deixou mesmo o clube orientado por Marcelo Gallardo para se juntar ao West Ham.

A ausência de investimento da Arábia Saudita no mercado de inverno tem várias explicações – e muitas foram dadas numa entrevista recente de Michael Emenalo, diretor desportivo da Saudi Pro League que já teve as mesmas responsabilidades no Chelsea e no Mónaco. “Acho que o mercado não será muito movimentado, porque o trabalho feito no verão foi muito interessante e agressivo. Espero que a atenção agora esteja no trabalho dentro do centro de treinos, para melhorar esses jogadores e para lhes dar tempo para que se adaptem”, começou por dizer o nigeriano.

“Acho que conseguimos o que queríamos, que era colocar o nosso pé no mercado e competir agressivamente. E queríamos fazer isso ao dar a cada um dos clubes da liga uma oportunidade de melhorar. Acho que fizemos isso. E acredito que, em termos de qualidade dos jogos e de rendimento da maioria dos jogadores internacionais, estamos a dar uma prova de que o mercado de transferências foi relativamente bom. Espero que continuemos a aperfeiçoar o nosso processo no futuro”, acrescentou.

Ainda assim, a ausência de investimento no inverno não foi meramente estratégica. De acordo com o The Athletic, a larga maioria dos clubes sauditas gastou a sua quota de um orçamento global de 17 mil milhões de euros que o Estado investiu no desenvolvimento do futebol. Adicionalmente, quase todos os clubes já atingiram o limite de oito jogadores estrangeiros no plantel – Renan Lodi, por exemplo, foi inscrito na vaga do lesionado Neymar. A partir da próxima temporada, esse limite vai subir até um máximo de dez jogadores estrangeiros por clube, adivinhando-se desde já uma repetição da postura agressiva saudita no próximo verão.

“A visão da liga saudita é elevar os padrões. Queremos elevar padrões em tudo o que envolve o Campeonato e os seus clubes. E isso significa melhorar a gestão, as nossas relações públicas, melhorar comercialmente, melhorar o nosso acesso aos adeptos. Temos de melhorar as exibições dentro de campo, a formação, elevar os padrões de treino e o desenvolvimento dos jovens. Queremos que os departamentos médicos que cuidam dos jogadores sejam do mais alto nível. Melhorar o bem estar dos funcionários e dos jogadores”, explicou Michael Emenalo na mesma entrevista, sublinhando a ideia de que a Arábia Saudita está agora a passar por uma fase de estabilização de tudo aquilo que foi construindo nos últimos meses.

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