Separados por um ponto, com a possibilidade de assumir a liderança isolada, cheios de certeza de que este domingo seria um dos momentos mais importantes da temporada. Liverpool e Manchester City encontravam-se em Anfield no início de março, no segundo e terceiro lugar da Premier League e atrás do Arsenal, que já tinha jogado e vencido na jornada atual e caía em caso de triunfo de reds ou citizens.

De forma natural, principalmente numa semana em que o Liverpool goleou o Sparta Praga na Liga Europa e o City ultrapassou o Copenhaga de forma simples na Liga dos Campeões, o jogo começou a ser disputado fora do relvado. E tudo porque Trent Alexander-Arnold, que até está lesionado e nem sequer era opção para Jürgen Klopp este domingo, decidiu deixar uma provocação aos adversários.

“Olhando para esta era, ainda que eles tenham vencido mais títulos do que nós e tenham sido mais bem sucedidos do que nós, os nossos troféus significam mais para nós e para os nossos adeptos. E tudo pela situação financeira de ambos os clubes”, disse o internacional inglês numa entrevista à revista FourFourTwo, vincando a forma como cada uma das equipas aborda o mercado de transferências.

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Ora, de forma natural, o comentário não caiu bem junto do balneário do Manchester City. Haaland foi o primeiro a reagir, sublinhando que Alexander-Arnold “não sabe o que é conquistar o triplete”, e Rúben Dias também respondeu, sublinhando a “grandeza” dos citizens e associando-a à do Benfica. “O sucesso das outras pessoas diz respeito aos seus próprios feitos. Nós estamos focados em nós próprios, só assim se progride e é essa a forma de ser de um clube grande: não comentar o sucesso dos outros e tentar enaltecê-lo ou diminuí-lo e função do que é mais conveniente”, defendeu o central português.

Quem surgiu a apoiar Alexander-Arnold, obviamente, foi o próprio Jürgen Klopp. “Algumas pessoas falaram comigo e disseram-me o que deveria dizer. Neste clube, tens de dizer que respeitas o adversário. O Pep Guardiola é o melhor treinador do mundo e eu levo uma boa vida sem estar perto disso. O Trent nasceu em Liverpool e jogou em todas as nossas equipas de formação. Um dos nossos lemas é ‘isto significa mais’ e o que acontece aqui significa mais para nós. Quando sentimos algo assim, por que não dizê-lo? Eu não tenho interesse nisso, mas é o que ele sente e não tenho qualquer problema com isso. Tenho a certeza de que ele também demonstrou respeito”, atirou o treinador alemão na antevisão da partida que marcava o último duelo com Pep Guardiola para a Premier League.

Assim, este domingo, Klopp continuava sem contar com Alexander-Arnold e Alisson e, apesar de já ter Salah no banco de suplentes, ainda não lançava o egípcio no onze inicial — optando por Darwin, Harvey Elliott e Luis Díaz no ataque, com Endo, Mac Allister e Szoboszlai no meio-campo. Do outro lado, Guardiola tinha Julián Álvarez, Bernardo, Phil Foden e De Bruyne no apoio a Haaland e deixava Rúben Dias no banco, lançando Nathan Aké, Akanji e Kyle Walker no trio defensivo.

A primeira parte foi expectavelmente equilibrada, sem que nenhuma das duas equipas conseguisse manter um ascendente prolongado e com o controlo do jogo a ser constantemente partilhado entre os dois lados. O primeiro lance mais perigoso pertenceu ao Liverpool, com Conor Bradley a desequilibrar na direita e a cruzar para Darwin chegar atrasado ao segundo poste (14′), e Luis Díaz chegou mesmo a acertar na baliza, mas o lance foi anulado por fora de jogo do avançado uruguaio (19′).

Ainda dentro da meia-hora inicial, porém, o City conseguiu abrir o marcador. De Bruyne bateu um pontapé de canto estudado ao primeiro poste e John Stones apareceu completamente sozinho a desviar para surpreender Kelleher (23′), com Guardiola a felicitar a própria equipa técnica depois da explosão de alegria. O Liverpool voltou a ficar perto do golo com um remate ao lado de Díaz (42′), o City quase aumentou a vantagem com um cruzamento de Walker a que De Bruyne chegou atrasado (45+1′), mas o jogo foi mesmo para o intervalo com a margem mínima dos citizens.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e o Liverpool acabou por conseguir empatar logo nos instantes iniciais da segunda parte: Ederson fez falta sobre Darwin, o árbitro assinalou grande penalidade e Mac Allister, na conversão, anulou a vantagem do City (50′). Guardiola acabou mesmo por ser forçado a substituir Ederson pouco depois, já que o guarda-redes brasileiro ficou lesionado na sequência do choque com Darwin no momento do penálti, e Klopp mexeu à passagem da hora de jogo para lançar Robertson e Salah.

Díaz teve uma enorme oportunidade para carimbar a reviravolta, ao atirar ao lado depois de surgir isolado na cara de Stefan Ortega (63′), e o Liverpool ia atravessando o melhor momento em toda a partida, sem permitir os habituais momentos prolongados de posse de bola do City. Guardiola entrou nos últimos 20 minutos a lançar Doku e Kovacic, abdicando de Álvarez e De Bruyne e mantendo Bernardo, mas o ascendente dos reds era notório e Darwin também esteve perto de marcar, concedendo uma defesa crucial de Ortega na cara do guarda-redes (72′).

Phil Foden ia marcando o golo mais caricato da carreira, com Kelleher a socar um cruzamento contra o inglês e a bola a acertar em cheio na trave (74′), Klopp fez a última jogada ao trocar Darwin por Gakpo e Doku teve a última ocasião do jogo ao atirar ao poste à beira dos descontos (89′). No fim, Liverpool e Manchester City empataram e deixaram o Arsenal no topo da Premier League, sendo que os gunners têm agora os mesmos pontos que os reds, com vantagem no confronto direto, e mais um do que os citizens.