Pela primeira vez, Mike Pence assume que, “em boa consciência”, não vai apoiar a candidatura à Casa Branca de Donald Trump, de quem foi vice-Presidente durante quatro anos. Em entrevista à Fox News, Pence frisou as diferenças “profundas” em relação ao magnata norte-americano, que acusa de estar a afastar-se da agenda conservadora.

Desde a invasão ao Capitólio em janeiro de 2021 que, publicamente, se notava a crispação entre os dois republicanos, mas não era ainda certo qual seria a posição de Pence nas eleições que se realizam no final deste ano. À Fox News, clarificou: “Não deve surpreender que eu não vá apoiar Donald Trump este ano“, disse o ex-governador do Estado do Indiana e ex-candidato à corrida dos republicanos à Presidência dos EUA, esta sexta-feira.

Questionado sobre a razão desta posição, Pence respondeu com o ataque ao Capitólio a 6 de janeiro de 2021, quando apoiantes de Trump defenderam que devia ser enforcado, o que levou a que tivesse de se refugiar num local seguro. Na altura, recusou apoiar Trump na tentativa de anular o resultado das eleições presidenciais de 2020 e permanecer no poder.

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À Fox News, Pence mostrou orgulho pela administração de que fez parte. “Foi um registo conservador que tornou a América mais próspera, mais segura e viu conservadores serem nomeados para os nosso tribunais num mundo mais pacífico”, afirmou. Mas acrescentou que a sua campanha eleitoral, que terminou em outubro do ano passado, refletiu as “diferenças profundas” face ao ex-Presidente em “várias matérias” e não apenas nas “responsabilidades constitucionais” que diz ter exercido a 6 de janeiro, perante a invasão ao Capitólio.

Mike Pence desiste de corrida à Casa Branca

Pence acusa Trump de estar a “afastar-se” do compromisso assumido por ambos de “enfrentar a dívida” pública ou proteger a “santidade da vida humana”, e de “reviravolta” na postura face à China (que para Pence deveria ser mais dura), assim como perante a venda forçada do TikTok.

“O que posso dizer é que, em cada um destes casos, Donald Trump está a seguir e a articular uma agenda que está em desacordo com a agenda conservadora que tivemos durante os nossos quatro anos. E é por isso que não posso, em boa consciência, apoiar Donald Trump nesta campanha”, afirmou. Além de Pence, Nikki Haley, que desistiu recentemente da corrida republicana à Casa Branca, não apoiou o magnata norte-americano.

A posição agora anunciada por Mike Pence é um recuo face ao que defendeu há cerca de sete meses. Em agosto do ano passado, durante um debate com os candidatos republicanos (em que Trump não participou), os intervenientes foram questionados sobre se, se o ex-Presidente for “condenado em tribunal”, continuariam a “apoiá-lo como a escolha do partido”.

Se a resposta fosse positiva, teriam de levantar a mão: o gesto foi feito por Nikki Haley, que já desistiu da corrida republicana, o senador Tim Scott, o empresário Vivek Ramaswamy, o governador da Dakota do Norte Doug Burgum, o da Florida Ron DeSantis e o próprio Mike Pence.

A garantia, agora revelada, de que afinal não apoiará Trump não significa que Pence votará em Biden. “Sou republicano“, afirmou. “A forma como vou votar quando a cortina se fechar, isso ficará para mim.”