Em condições normais, este seria apenas mais um dia. Aproveitando a paragem nas provas de clubes pelos compromissos das seleções e perante um calendário que se tornou um pouco mais desafogado (neste caso pelas piores razões) depois da eliminação nos oitavos da Liga dos Campeões após desempate por grandes penalidades com o Arsenal, os jogadores do FC Porto tiveram um período de “mini férias” com quatro dias de folgas, regressando esta terça-feira aos trabalhos numa espécie de antecâmara da chegada de todos os outros elementos que estão agora em ação. Ou seja, era um momento típico de chegada, treino, regresso a casa. No entanto, e depois de tudo o que aconteceu esta segunda-feira, esta manhã tornou-se tudo menos isso.

Sérgio Conceição acusado de agredir árbitro e líder autárquico após final de torneio Sub-9 do FC Porto. Técnico já avançou para a Justiça

Na sequência de todas as notícias em relação a Sérgio Conceição na final do escalão Sub-9 da Gañafote Cup, com acusações de agressões a um árbitro e ao presidente da Câmara de Cartaya que foram logo negadas por fontes próximas e pelo próprio advogado, o técnico dos azuis e brancos fez questão de falar com os jornalistas no Olival e comentar tudo o que tem acontecido nas últimas 24 horas, dando a sua versão dos factos.

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“Antes de passarmos a esses factos, gostaria de realçar algo importante. Ontem [Segunda-feira] o nosso presidente disse que o importante é pensar no Estoril. E é uma verdade, daí as minhas declarações agora, porque quero ter na sexta-feira uma conferência normal, onde se fale daquilo que é mais importante, o jogo do Estoril. Esta é a primeira nota. A segunda nota é o agradecimento pelo comunicado emitido pelo FC Porto, a estar solidário e acreditar na única e verdadeira versão, que é a minha. Depois dizer que estou desgastado com esta situação. Por tudo aquilo que os meus filhos, a minha família e as famílias dos jovens atletas presentes passaram. Este desgaste vem porque fiquei incrédulo, porque a pessoa que perdeu o controlo era um eleito local, que tinha responsabilidades e deveres perante os cidadãos e que não teve nada a ver com o seu comportamento”, começou por balizar o treinador dos portistas aos jornalistas presentes.

“Agrediu não uma vez, mas várias vezes um jovem de 22 anos, que por acaso era o meu filho [Moisés]. Segundo, entrou num chorrilho de mentiras e acusações, que já foram praticamente todas desmentidas pelos presentes, tanto pessoas portuguesas como espanhóis, todos os presentes desmentiram o que ele diz que se passou. E terceiro, perdeu a narrativa das suas declarações. Fiquei extremamente admirado como é que alguém que é um eleito local e parece que tem mais poder ou está acima da polícia… Acredito que esta confusão toda e estas acusações venham cá para fora também porque sou treinador do FC Porto, mas é inacreditável a continuação de agressões, que foi vista, e espero que as imagens, se estiverem no sistema de videovigilância, venham para cá para fora. Eu quero que sim, para comprovar todas as mentiras que este senhor veio proferir e também para perceberem que a única pessoa agressiva e com atos de indisciplina incríveis perante toda a gente que estava presente foi esse senhor”, prosseguiu, falando neste caso de Manuel Barroso, presidente da Câmara de Cartaya, e desmentindo depois qualquer edição de vídeo.

[Já saiu o quinto episódio de “Operação Papagaio” , o novo podcast plus do Observador com o plano mais louco para derrubar Salazar e que esteve escondido nos arquivos da PIDE 64 anos. Pode ouvir o primeiro episódio aqui, o segundo episódio aqui, o terceiro episódio aqui e o quarto episódio aqui]

“Vi escrito que o FC Porto enviou o vídeo cortado. É mentira. Tive oportunidade de dizer que é mentira e enviar as mensagens de um miúdo espanhol, que está identificado, e que nos disponibilizou a mensagem, porque viu as declarações do presidente da Câmara local e como é um apreciador de futebol e trabalha no scouting do Valladolid, salvo erro, ficou incrédulo com toda a situação e enviou uma mensagem para o Moisés, que se quisesse disponibilizava o vídeo onde não houve nenhuma agressão de ninguém. Tenho essas mensagens registadas. Houve sim uma agressão desse senhor ao Moisés, daí a disponibilidade dele de enviar o vídeo. E o vídeo foi enviado na íntegra como foi enviado para o Moisés neste caso. Não foi o FC Porto que enviou o vídeo cortado para nenhum lado, fui eu, através do Francisco Empis, que enviámos o vídeo na íntegra como chegou às nossas mãos”, esclareceu o técnico dos dragões a esse propósito.

“Para já, a invasão, como dizem, não foi no final. Havia famílias a festejarem com os miúdos que ganharam o torneio, que neste caso foi o Sevilha, havia os nossos meninos mais desiludidos e tristes com os pais no campo, praticamente todos os pais estavam no campo mas na zona de jogo. Eu estava na zona intermédia, uma zona que fica entre os dois campos de futebol de 7. Uma zona onde fica o árbitro, água para assistência aos próprio jogos… Os campos são de dimensão mais reduzida. Toda a gente estava… Se eu e os outros pais devíamos estar no campo? Provavelmente até não, mas é hábito isso acontecer, os pais irem ter com os miúdos, uns festejarem, outros a consolarem por uma derrota ou uma exibição menos conseguida, se assim se pode dizer, porque eles não ligam muito a isso, sinceramente”, explicou, “rebobinando” o filme.

“Aquilo que me deu a entender e que me foi passado a imagem é que entrei no final do jogo a contestar alguma coisa e não é verdade. O campo terá as suas câmaras onde se poderá depois comprovar isso. Havia muita gente junto à linha lateral, outros pais dentro do campo, uns perto da baliza onde o jogo finalizou… Entretanto aquilo acabou, eles continuaram por ali, o árbitro pega no seu saco e vem tranquilamente para o balneário quando eu o abordo de forma tranquila, até a rir-me, com outros pais, para dizer que podia ter marcado um penálti que seria mais emocionante a final ir a penáltis. Não me deixou acabar tudo, disse-lhe algo como isto, porque queria num jeito amigável entrar nessa brincadeira, porque entretanto se intrometeu esse eleito local, presidente da Câmara local, que não sabia na altura quem era na altura. Ele também não sabia quem eu era, mas também não é importante, estamos a falar do respeito entre pessoas e ele perdeu completamente o controlo e começou a empurrar de forma agressiva. E, dentro do túnel, ainda foi mais agressivo, porque aí houve uma palmada no peito do Moisés”, continuou a detalhar Sérgio Conceição.

“Estavam alguns pais, depois o Vítor Bruno, o pai do João Mário, que tem um pequeno a jogar na equipa de Sub-9. O Paulo Assunção também estava presente e disponibilizou-se para testemunhar tudo o que estou a dizer e a sua esposa. É uma situação importante de revelar, porque vi hoje escrito e fico verdadeiramente admirado como na imprensa portuguesa se dá mais ênfase às acusações deste sujeito do que a minha defesa. Não é de estranhar, porque visto uma cor diferente dos diretores dos jornais que meteram cá para fora… Não estou a dizer que têm ou não têm culpa mas estão a partir de um pressuposto em que as acusações são mais importantes do que a minha defesa e isso eu não aceito”, apontou o técnico dos dragões.

“Estou muito triste. Sempre acompanhei os meus filhos nos seus trajetos e nos seus percursos. Como sabem, tive dois dos meus filhos a jogar em clubes diferentes, rivais do nosso. Sempre fui muito respeitado. Ia visitá-los e observar alguns jogos tanto no Seixal como em Alcochete e nunca tive nenhum problema. Isto é desgastante, é difícil. A minha família, a minha mulher e os meus filhos, estavam presentes para ver aquilo que se passou e sabem aquilo que se passou e aquilo que estou a falar. Muitas das famílias, não só da nossa equipa, mas também das outras equipas, estavam e assistiram à situação. Isto são acusações falsas e mentirosas de alguém que devia ter a responsabilidade e o dever de ser uma pessoa que está acima, pelos vistos, da autoridade em Espanha, que eu não sabia, daí a identificação deste senhor. Os meus advogados estão a tratar da situação, estão em Espanha para fazer aquilo que têm a fazer. Se for preciso eu fazer uma pausa no futebol, deixar o futebol, para provar aquilo que eu estou a dizer eu deixo. A minha honra, aquilo que eu sou como homem, como pai é muito mais importante”, concluiu.