João Almeida, que regressou ao Parlamento para ocupar o lugar vago deixado por Nuno Melo, reclama para o CDS muitas das bandeiras que André Ventura capturou e acredita o partido não corre o risco de ser confundido com o Chega por assumir aquela que foi sempre a agenda do partido. “Se o CDS já existia, seria o Chega a ser um CDS B. O CDS nunca será um Chega B”, argumenta o democrata-cristão.

Em entrevista ao Observador, a partir do 31.º Congresso do CDS, que decorre este fim de semana em Viseu, João Almeida defendeu, de resto, que a Aliança Democrática deve tentar provar ativamente que o Chega é uma partido que não contribui para as soluções. Ora, se Luís Montenegro e muitos dirigentes sociais-democratas têm apontado baterias ao PS e a Pedro Nuno Santos, o democrata-cristão aponta o diretamente dedo a André Ventura.

“Eu não acho que se deva dar esse privilégio. Acho que ninguém se pode desresponsabilizar. Toda a gente já percebeu que há uma esmagadora maioria de portugueses que nas eleições votou pela mudança e não perceberá se o Parlamento não concretizar essa mudança, que está farta de votar e que não compreenderá bem que o país vá para eleições outra vez. Portanto, acho que todos no Parlamento têm de ter essa responsabilidade. E isso vai do Chega até ao Bloco. Os portugueses quiseram mudança e têm razão para não quererem ir outra vez a eleições. E eu acho que será penalizado quem inviabilizar a concretização da mudança ou proporcionar umas eleições que não são desejadas. E acho que essa responsabilidade tem de ser passada para quem a puder vir a ter.”

Na relação particular com o PSD, João Almeida reconhece há o risco de o CDS perder a identidade se não for capaz de explicar exatamente qual é o seu papel no próximo Governo e a sua verdadeira utilidade. “Risco corre sempre. Qualquer partido menor numa coligação, em Portugal ou em qualquer outro país, corre esse risco. Cabe-nos a nós, a quem está no Governo, a quem está no Parlamento e a quem está no partido, manter essa autonomia, essa identidade e afirmá-la para que, obviamente, não se dilua o papel do CDS e que não seja efémera esta participação no governo que se dilua numa AD”, defendeu.

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O antigo secretário de Estado — que foi candidato à liderança do partido nas eleições que deram a vitória a Francisco Rodrigues dos Santos — defende que o CDS deve ser um parceiro de coligação exigente e ambiciosa, em particular “em matéria fiscal” e na redução de impostos. “Acho que, com o curso da legislatura, isso vai ser possível e mais visível. “Também não fazia sentido, acho que isto é evidente, um mês depois das eleições, o CDS pôr-se em bicos de pés, a dizer que acha que deve ser mais assim ou mais assado.”

João Almeida foi ainda confrontado com as declarações de Pedro Passos Coelho sobre a relação com Paulo Portas durante o período de intervenção da troika. Mesmo não se alongando, o democrata-cristão não deixou de defender Paulo Portas e sugerir que o antigo primeiro-ministro nem sempre soube bater-se de frente com os credores. “O que eu ouvi a Pedro Passos Coelho foi dizer que a troika em determinada altura desconfiou de Paulo Portas. Vou-lhe dizer com toda a abertura de espírito: se desconfiou, ainda bem. Ainda bem que Paulo Portas naquela altura foi exigente e em nome de Portugal e dos portugueses não se limitou a assinar tudo o que a troika nos trazia. E não estou a dizer com isto que mais alguém se limitou a assinar. Estou a dizer aquilo que sei.”

João Almeida. Numa coligação, “um partido menor corre riscos”