As chuvas torrenciais que afetam o sul do Brasil, que têm provocado alagamentos sem precedentes ao longo da última semana, já fizeram mais de 60 mortos. O mais recente balanço aponta para a existência de 66 mortes no estado do Rio Grande do Sul — que faz fronteira com a Argentina e o Uruguai — e uma na região vizinha, de Santa Catarina.

As autoridades investigam se outras seis mortes estão relacionadas com a tragédia climática, que já é considerada o pior desastre natural da história da região. Há ainda registo de 101 pessoas desaparecidas. Cerca de 82,5 mil pessoas tiveram de ser retiradas de suas casas, sendo que 13,3 mil foram levadas para abrigos públicos e outras 69,2 mil encontram-se desalojadas mas a receber apoio em casas de familiares e amigos.

Com o mais recente balanço a apontar para mais de 60 mortos, o site brasileiro G1 avançou que estas chuvas torrenciais já são mais mortíferas do que as últimas que atingiram em força o Rio Grande do Sul, matando, em setembro do ano passado, 54 pessoas. Nessa região, cerca de 421 mil residências continuam sem luz e 115 municípios não têm serviços de telefone e internet, havendo ainda 61 estradas com bloqueios totais e parciais devido às cheias dos rios.

Este sábado, as cheias levaram as autoridades locais a bloquear todos os acessos ao centro histórico da cidade. Pedindo à população que vive na região que saia para locais seguros, a prefeitura de Porto Alegre comunicou que o centro de Saúde Santa Marta, localizado no centro histórico, fechou devido à cheia do Guaíba, tendo móveis e equipamentos de informática sido levados do piso térreo para os andares superiores do prédio. Outras quatro unidades de saúde da região central da cidade também foram encerradas.

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O volume de água é tão grande que a Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul deu conta que a estação hidrometeorológica instalada no Cais Mauá, em Porto Alegre, apresentou problemas na leitura durante a madrugada deste sábado. Os técnicos do Departamento de Recursos Hídricos e Saneamento têm estado, juntamente com a Defesa Civil, a verificar o nível da água “in loco”.

Segundo a imprensa local, o rio Guaíba, que passa por Porto Alegre, apresenta uma elevação de cerca de quatro metros e meio e aproxima-se do recorde histórico registado em 1941, quando a subida da água no rio chegou aos 4,76 metros.

As tempestades que têm atingido o sul do Brasil levaram o Papa Francisco a dedicar a sua oração deste domingo às populações: “Que o Senhor acolha os defuntos e dê conforto às suas famílias e a todos os que tiveram de abandonar as suas casas”, disse o pontífice.

Também este domingo, Lula da Silva, Presidente do Brasil, viajou até Rio Grande do Sul, região que decretou estado de calamidade pública devido a “eventos climáticos de chuvas intensas”, para visitar as cidades atingidas e a task-force montada no local. Segundo a CNN, o líder brasileiro sobrevoará — se as condições meteorológicas permitem — as regiões de Canoas, São Leopoldo, Eldorado do Sul e Porto Alegre.

Câmara do Porto lança campanha para ajudar cidade brasileira de Porto Alegre

A Câmara Municipal do Porto vai lançar uma campanha de apoio e angariação de fundos para Porto Alegre. À Lusa, fonte da autarquia esclareceu que pretende “prestar solidariedade” com a cidade no nordeste.

Segundo o presidente da Câmara do Porto, o independente Rui Moreira, as cheias que assolam o estado brasileiro “devem merecer preocupação”. “Ao ligar para o perfeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, para manifestar a solidariedade da cidade do Porto, pediu-me que divulgasse a campanha de apoio e angariação de fundos”, refere, citado em comunicado, apelando a todos para que ajudem o “povo irmão”.

As tempestades que atingem o Brasil têm destruído estradas, pontes, provocado desabamentos e alagamentos desde a passada terça-feira. O estado brasileiro mais ao sul tem sido bastante afetado pelas mudanças climáticas. Depois de sofrer problemas com uma forte seca devido ao fenómeno La Niña, no ano passado a região passou a ser afetada pelo El Niño e registou em menos de 12 meses quatro desastres climáticos causados por ciclones extratropicais e tempestades.

O Rio Grande do Sul, com uma população de 11 milhões de pessoas, tem sido atingido repetidamente no último ano pelo fenómeno climático El Niño, que provoca fortes chuvas no sul do país e seca na região norte e nordeste do país.

Notícia atualizada às 15h35 com o aumento do número de mortos e desaparecidos