Mais de 300 médicos de família de todo o mundo vão encontrar-se com o Papa Francisco, no Vaticano, no sábado, no âmbito da campanha “Obrigado, Doutor!”, que pretende sublinhar a importância dos cuidados primários de saúde.

A audiência culmina um encontro de dois dias e contará com a participação de uma delegação de três médicos portugueses, encabeçada por Tiago Villanueva, presidente da União Europeia de Médicos de Família (UEMO), que, em declarações à agência Lusa considerou que, face à influência global do Papa, ter Francisco “a dar visibilidade ao papel do médico de família, à importância do médico de família é absolutamente extraordinário”.

Segundo Tiago Villanueva, o encontro acontece no âmbito das “celebrações inéditas” pelo Papa do Dia Mundial do Médico de Família, assinalado em 19 de maio, e vai sublinhar como “os médicos de família são importantes e que é importante recrutar mais médicos de família e mantê-los no sistema, porque hoje o recrutamento e a retenção são um problema”.

“E não estou a falar de Portugal, estou a falar de países do Norte da Europa, países da América do Norte e países ricos, em que os médicos de família são bem remunerados e têm melhores condições de trabalho que em Portugal, mas mesmo nesses países é muito difícil manter os médicos de família no sistema”, disse o presidente da UEMO, acrescentando estar “emocionadíssimo” por ver que o Papa “está sensível a esta questão” e de quem espera uma mensagem a falar “da importância do papel do médico de família nos sistemas de saúde”.

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Questionado sobre os caminhos que devem ser seguidos para resolver as dificuldades de recrutamento de médicos de família, Tiago Villanueva disse à Lusa que “toda a gente fala das questões remuneratórias”, mas “isto vai muito além das condições remuneratórias”.

“É importante proporcionar melhores condições de trabalho. As pessoas acham que os médicos [de família] têm vida mais fácil que nos hospitais, mas não é verdade, porque os médicos [de família] ainda trabalham sob uma enorme pressão, com consultas que duram 15 ou 20 minutos, a ver doentes muitas vezes muito complexos, durante muitas horas”, afirmou.

Perante esta pressão, “é fundamental aumentar a flexibilidade laboral”.

“Se for ao Reino Unido, é raro o médico de família que trabalha a tempo inteiro, porque os médicos sabem que se trabalharem a tempo inteiro vão entrar em ‘burnout’, porque trabalhar como médico de família é muito exigente”, frisou o presidente da UEMO.

Por outro lado, os médicos de família “querem ter um projeto de carreira”.

“As carreiras estão estagnadas e acho que é importante oferecer um projeto de carreira mais aliciante do que só meramente a parte assistencial. Oferecer uma carreira que inclua condições para desenvolver investigação, fazer um doutoramento, aliar com as funções de docência“, defendeu, como possibilidades para tornar a missão dos médicos de família mais atrativa.

A campanha “Obrigado Doutor!”, lançada em novembro de 2023 no Vaticano, é uma iniciativa global que visa destacar “o papel humanizador que os médicos de cuidados primários, também conhecidos como médicos de família, desempenham no sistema de saúde e na sociedade”.

Iniciada pela associação médica sem fins lucrativos SOMOS Community Care, de Nova Iorque, em colaboração com a Pontifícia Academia para a Vida, a campanha envolve associações como a União Europeia dos Médicos de Família (UEMO), a NYS – Academia de Médicos de Família, a Federação dos Médicos Católicos do Mundo, o Conselho Mundial de Saúde e o Journal of Research & Applied Medicine.

Estas instituições assinaram a “Declaração para a redescoberta do médico de família”, na qual apelam a todos os atores sociais e políticos para que unam esforços e voltem a colocar a relação médico/doente no centro dos sistemas de saúde.