Desde 2018 que Bruno Fernandes figura no leque de melhores futebolistas do mundo. Nesse ano, marcou 32 golos ao serviço do Sporting e tornou-se no médio com mais golos numa só temporada. Pouco depois rumou ao Manchester United e levou consigo um currículo com quatro troféus (Liga das Nações, Taça e duas Taças da Liga) e múltiplos prémios individuais. É certo que em Inglaterra tem tido dificuldades em reencontrar a rota do sucesso – tem uma Taça da Liga em quatro anos e meio –, mas também é certo que, num curto espaço de tempo, Bruno Fernandes tornou-se numa das principais figuras dos red devils e da Premier League.
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Visto como um ídolo e um exemplo de capitão para a maioria dos adeptos do Manchester United, Bruno Fernandes mantém essas características bem longe dos relvados. Na véspera de defrontar o rival Manchester City na final da Taça de Inglaterra, o The Players’ Tribune partilhou esta sexta-feira uma carta do internacional português, que é uma autêntica declaração de amor ao clube e aos adeptos. O título – “Dear United” (“Querido United”, em português) – só por si já deixa antever o cariz do conteúdo.
“Quero dizer algumas palavras do coração antes desta final da Taça de Inglaterra. Sei que não tem sido uma época fácil para vocês. Não temos estado ao nível que vocês merecem. Nem sempre conseguimos equiparar o apoio que vocês nos dão. Como capitão, sinto isso mais do que ninguém, e não é uma responsabilidade que me foi dada. Este clube é mais do que qualquer coisa simpática que possa dizer na comunicação social, é um clube com o qual me preocupo profundamente”, começou por dizer o internacional português sobre a partida de Wembley.
De seguida, Bruno Fernandes recordou o momento em que soube que ia para os red devils. Quando telefone tocou por volta das 22 horas, o português encontrava-se a adormecer a filha que, na altura, tinha três anos. Para não a acordar, deslocou-se para dentro de um armário e foi lá que falou com o empresário. Perante o assédio de Londres, acreditou que ia para o Tottenham, mas quando percebeu que o destino era Manchester, desabou em lágrimas. “Nem respondi. Comecei a tentar reter as lágrimas. Sabem aquela sensação em que estás a tentar travar para a outra pessoa não perceber que estás a chorar e nem consegues falar?”, partilhou.
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“Um dos meus objetivos de vida era jogar na Premier League. Tentei bloquear todo o barulho, mas na época em que vivemos, com redes sociais, telefones e mensagens de texto, é claro que os meus amigos me avisaram dos rumores. Como criança portuguesa, não podes deixar de sonhar em jogar nos grandes Estádios de Inglaterra. No final, os clubes não conseguiram chegar a um acordo e o acordo [com o Tottenham] caiu. Foi uma emoção complicada, mas fiquei muito feliz no Sporting. Senti o amor dos adeptos e foi um lugar fantástico para mim. Mas não foi o meu destino”, recordou sobre a altura em que foi associado ao emblema de Londres.
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Quanto ao Manchester United, Bruno Fernandes confidenciou o que disse à mulher. “Sinto que já estou a viver um sonho no Sporting. Mas isto é mais do que um sonho. É o Manchester United”. O médio aproveitou ainda para recordar o início de carreira, em que “não ganhava nenhum dinheiro como jogador”. Nessa altura era Ana quem suportava as despesas do jovem casal. “Quando me mudei para Itália, aos 17 anos, vivi no centro de treinos durante o primeiro ano, e depois ela acompanhou-me aos 18, quando terminou o secundário. Desde o primeiro dia perseguimos este sonho juntos”, acrescentou.
Foi precisamente em Itália que teve um dos momentos mais difíceis da sua carreira, quando o diretor desportivo da Udinese lhe disse que não contava mais com o seu contributo. “Os tempos difíceis nunca nos quebraram”, revela. Em sentido inverso, Bruno afirma que se sentia “feliz” quando jogava futebol num parque com relva artificial no Porto. “Quando era criança, naquele campo, tive a visão de que um dia jogaria pelo Manchester United. (…) Não foi uma loucura. Olhei para aquilo como se fosse apenas um passo de uma longa jornada”, revelou.
Na carta, Bruno Fernandes partilha ainda a sensação de jogar pela primeira vez em Old Trafford e de escutar a música que os adeptos fizeram para si. “Todas as pessoas que foram ao bar no intervalo estavam a cantar a minha música. Fiquei atordoado, porque só tinha assinado três dias antes! Haverá sempre quem não goste do seu futebol, mas 99% de vocês só me demonstraram amor. Até hoje, sempre que vejo alguém do outro lado do mundo a vestir a minha camisa, sinto uma sensação muito especial”, concluiu.
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