A garantia feita por Joe Biden de que não vai abandonar a corrida à recandidatura para a Casa Branca, e a justificação de que estava cansado e com uma forte constipação durante o debate com Donald Trump, não convenceram muitos democratas no Congresso, que mantêm pressão sobre o Presidente dos EUA. A imprensa norte-americana dá conta que há reuniões de emergência planeadas para domingo e na próxima semana focadas em Joe Biden.

Segundo a NBC News, Hakeem Jeffries, o líder do Partido Democrata na Câmara dos Representantes (a câmara baixa do Congresso dos EUA), convocou uma reunião à distância com alguns elementos da cúpula do comité do Partido Democrata para domingo. A reunião, que será de foro extraordinário, deverá focar-se no Presidente Joe Biden, numa altura em que é pressionado para desistir da corrida após a prestação frente a Donald Trump no debate televisivo. No fim de semana passado, Jeffries criticou a performance de Biden, que apelidou como uma “desilusão” e um “recuo”.

Já o senador Mark Warner prepara um encontro de senadores democratas para a próxima semana com o objetivo de abordar as preocupações e as dúvidas sobre a elegibilidade de Joe Biden e as consequências que os resultados eleitorais podem ter na Câmara dos Representantes e no Senado. Mas nem todos os senadores democratas apoiam essa intenção: o senador John Fetterman, por exemplo, disse à NBC que não tenciona participar na reunião, caso seja convidado.

Joe Biden renovou na sexta-feira a promessa de derrotar Donald Trump nas eleições de novembro. Numa ação de campanha em Winsconsin, afastou as especulações sobre uma eventual desistência da corrida à Casa Branca, embora reconheça que não esteve bem no debate.

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“Provavelmente ouviram dizer que tivemos um pequeno debate na semana passada. Não posso dizer que foi a minha melhor prestação. Mas desde então tem havido muita especulação. ‘O que vai fazer Joe Biden? Vai manter-se na corrida?’”, começou por dizer. E respondeu com uma promessa. “Vou continuar na corrida, vou vencer Donald Trump”, garantiu, sublinhando que não ia “deixar que 90 minutos de debate arrasassem três anos e meio de trabalho”. “Deixem-me dizer-vos claramente: sou o Presidente norte-americano em funções, sou o candidato do Partido Democrata, vou ficar na corrida”, clarificou.

Biden afasta dúvidas sobre desistência: “Vou continuar na corrida, vou vencer Donald Trump”

Já na primeira entrevista após o debate, à ABC News, justificou o fraco desempenho com o facto de estar cansado e com uma forte constipação e sublinhou que foi um episódio isolado, tentando afastar preocupações sobre a sua saúde.

Mas muitos democratas, quer sejam políticos no ativo, ou apoiantes, alguns dos quais fazem importantes donativos para a máquina de campanha de Biden, já vieram publicamente mostrar preocupação e mesmo apelar a que desista. Aliás, alguns dos maiores doadores suspenderam o apoio financeiro até que Biden desista.

Na quinta-feira, Abigail Disney, herdeira da fortuna da Disney e uma das maiores doadoras do partido, foi uma das que deixou essa intenção clara: “Isto é realismo, não é desrespeito”, afirmou, acrescentando que “se Biden não desistir, os democratas vão perder”. “Disso tenho a certeza absoluta. As consequências da derrota serão genuinamente negativas”, acrescentou.

Para Abigail Disney, Kamala Harris seria uma boa alternativa para derrotar Trump. “Se os democratas tolerarem qualquer um dos seus defeitos [de Kamala Harris], nem que seja um décimo do que toleraram os de Biden, podemos ganhar estas eleições com larga margem”, disse. Para já, Disney representa, porém, apenas uma minoria de doadores.

Barry Diller, magnata dos media, quando questionado na sexta-feira sobre se em conjunto com a mulher, a designer Diane von Fürstenberg, estava firme em relação à campanha de Biden, respondeu: “Não”. Diller já doou, nesta campanha, mais de 100 mil dólares. Já o filantropo Gideon Stein deverá suspender praticamente o valor total de três milhões de dólares em apoios, entre outros.

Alguns democratas reiteraram publicamente as preocupações em relação a Joe Biden mesmo após a entrevista que o Presidente dos EUA deu a garantir que tem condições para continuar. Lloyd Doggett, por exemplo, disse à CNN que “a necessidade de desistir é mais urgente esta noite [sexta-feira] do que quando fiz o primeiro apelo na terça-feira”. Também o congressista Mike Quigley defendeu que a entrevista mostrou que Biden “não tem o vigor necessário”

Segundo avançou a Reuters na semana passada, a campanha de Biden contactou centenas de importantes doadores democratas e prometeu tornar o Presidente mais visível, incluindo em entrevistas.