O treinador do Palmeiras, o português Abel Ferreira, pediu nesta sexta-feira desculpa por ter usado a expressão “equipa de índios” como sinónimo de desorganização, num país como o Brasil, que tem 1,7 milhões de indígenas.

Repudio toda e qualquer forma de preconceito e discriminação. Infelizmente, há expressões que continuamos a perpetuar sem que nos debrucemos sobre o seu conteúdo. Errei ao usar uma dessas expressões na coletiva de imprensa”, lê-se na página oficial do técnico no Instagram.

Abel Ferreira empregou esta expressão na quinta-feira, após a vitória por 3-1 frente ao Atlético Goianiense, aludindo ao equilíbrio dado ao “onze” pelo médio argentino Aníbal Moreno, que, em sua opinião, permitiu que os avançados jogassem mais libertos.

“Porque esta não é uma equipa de índios. Há uma organização e, dentro dessa organização, há liberdade para gerar e se conectarem. Temos princípios de jogos e um deles é o equilíbrio e o Aníbal é um desses pêndulos”, referiu, na ocasião, o português.

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Um dia depois, Abel Ferreira lamentou a expressão utilizada: “Reconheço que palavras têm poder e impacto, independentemente da intenção. Todos devemos questionar, pensar e melhorar todos os dias. Peço desculpa a todos, em especial às comunidades indígenas“.

Governo brasileiro censura treinador português

A ministra dos Povos Indígenas do Brasil condenou este sábado o português Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, por ter usado a expressão “equipa de índios” e convidou-o a conhecer a história dos povos indígenas e da “colonização de Portugal”.

“O técnico do Palmeiras errou, e muito, na sua declaração. Gostaria de convidá-lo a conhecer a história dos povos indígenas do Brasil. E também conhecer a história de colonização de Portugal, seu país de origem, em relação ao Brasil e como estamos trabalhando para rever isso”, começou por escrever nas suas redes sociais, Sonia Guajajara, já depois de Abel Ferreira ter pedido desculpas de manhã.

A ministra brasileira afirmou ainda que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, “admitiu que o país foi responsável por uma série de crimes contra escravos e indígenas no Brasil”

“Uma declaração muito importante porque o reconhecimento de tais crimes é o 1.º passo para ações concretas de reparação”, prosseguiu.

Em causa estão declarações feitas a 23 de abril, durante um jantar com correspondentes estrangeiros em Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que o país deveria “assumir a responsabilidade total” pelo que fez no período colonial e “pagar os custos”

A ministra brasileira elogiou o posicionamento do chefe de Estado português que trouxe para debate a importância de avançar “numa agenda de igualdade étnico racial como premissa para a cidadania”.

Sonia Guajajara recordou ainda o acordo o memorando de entendimento assinado em junho em Portugal entre o Governo brasileiro e o Observatório do Racismo e Xenofobia.

“Essas ações são importantíssimas e passam também pelo combate a estereótipos em relação a esses povos, que levam a falas inadmissíveis como essa de Abel Ferreira”, concluiu a ministra brasileira.