O Presidente dos EUA deu na passada quarta-feira a primeira entrevista depois de ter abandonado a corrida à Casa Branca. A conversa foi para o ar na manhã deste domingo. À estação norte-americana CBS News, Joe Biden confessou não estar confiante de que, caso Donald Trump seja derrotado, a passagem de testemunho seja pacífica, discutiu a candidatura da vice-presidente Kamala Harris e deixou um ataque ao ex-Presidente: “É um perigo para a segurança dos EUA”.

Joe Biden sai empurrado e apoia Kamala Harris. Mas não é certo que a vice consiga bater Trump — ou que seja sequer a nomeada dos democratas

“Ele fala a sério. Nós não o levamos a sério mas ele fala a sério. Quando fala sobre ‘se perdermos haverá um banho de sangue’ e ‘é porque foi uma eleição roubada’, ele fala a sério”, disse Joe Biden ao coordenador das eleições e da campanha da estação CBS News, Robert Costa.

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Biden referia-se ao discurso de Donald Trump num comício em Ohio, em março, onde o ex-Presidente disse que, caso não vença em novembro, haverá um “banho de sangue”. Na altura, o porta-voz da campanha de Joe Biden, James Singer, alertou que o magnata procura “outro 6 de janeiro”, data em que o Capitólio foi invadido por apoiantes do ex-Presidente.

Se Trump perder as eleições, Biden “não está confiante” de que a transição de poder seja “pacífica”

Questionado sobre uma possível vitória de Donald Trump, Biden pediu para Costa “anotar” as suas palavras: “Se ele ganha esta eleição, vejam o que vai acontecer. Ele é um perigo para a segurança dos EUA“, afirmou, acrescentando que os norte-americanos estão “num ponto de inflexão na história mundial” e que as decisões que tomarem agora determinarão como serão as próximas seis décadas.

“A democracia é fundamental”, defendeu, explicando que foi essa a razão que o levou a discursar na semana passada no Supremo Tribunal dos EUA, onde propôs que “limitem os mandatos a 18 anos” para os juízes do Supremo Tribunal. “Os republicanos MAGA [a sigla de Make America Great Again] têm pouca consideração pelas instituições políticas. É isso que mantém este país unido. É isso que é a democracia. É isso que somos enquanto nação”.

Com Robert Costa, Joe Biden falou ainda sobre a sua decisão de não continuar na corrida, revelando que desistiu porque tinha uma “obrigação” para com o país de garantir que Donald Trump fosse derrotado. “As sondagens que tínhamos mostravam que era uma corrida renhida, que teria sido disputada até ao fim”, disse à CBS News, continuando: “Mas o que aconteceu foi que vários dos meus colegas democratas pensaram que eu ia prejudicá-los. E eu estava preocupado com o facto de, caso continuasse na corrida, esse seria o tema sobre o qual iriam entrevistar-me”, sublinhou. A convicção de Biden era a de que seria uma “verdadeira distração” na campanha.

Joe Biden desiste da corrida à Casa Branca e apoia Kamala Harris para candidata democrata

Explicou também que quando se candidatou pela primeira vez, pensou em si “como um presidente de transição”, mas que “as coisas começaram a mexer-se muito rapidamente”. “Nem sequer consigo dizer que idade tenho. É difícil para mim dizê-lo”, acrescentou.

“Uma questão crucial para mim, não é uma piada, é manter esta democracia. Embora seja uma grande honra ser Presidente, acho que tenho a obrigação, para com o país, de fazer a coisa mais importante que se pode fazer. E isso é: temos de derrotar Trump”, disse.

Com Kamala Harris agora na corrida à Casa Branca, Biden expressou ainda o seu apoio, enfatizando que “devemos, devemos, devemos derrotar Trump” e que considera a dupla Harris e Walz como “uma grande equipa”. Tim Walz é o governador do Minnesota que na semana passada foi escolhido como vice-presidente na candidatura dos democratas à Casa Branca.

O Presidente dos EUA disse que planeia juntar-se a Kamala Harris e a Tim Walz na campanha e rejeitou quaisquer dúvidas sobre a sua saúde. “Tudo o que posso dizer é: vejam. Eu tive um dia muito mau naquele debate porque estava doente, mas não tenho nenhum problema sério”, disse, referindo-se ao debate que teve com Donald Trump no final de junho, reforçando o que tem vindo a afirmar desde então.

Kamala Harris escolhe governador do Minnesota Tim Walz para vice-presidente

Sobre o seu tempo na Casa Branca, Joe Biden afirmou, convicto, de que conseguiu provar que a democracia funciona. “Tirou-nos de uma pandemia. Produziu a maior recuperação económica da história americana. Somos a economia mais poderosa do mundo. Temos mais para fazer. E demonstrou que podemos unir a nação”, explicou.

Quanto aos seus últimos meses enquanto Presidente dos EUA, diz estar a trabalhar todos os dias para conseguir que um acordo de cessar-fogo em Gaza possa ser alcançado ainda antes do final do seu mandato, o que afirma acreditar “ser possível”.

“O plano que elaborei, aprovado pelo G7, aprovado pelo Conselho de Segurança da ONU, ainda é viável”, disse Biden. “E estou a trabalhar literalmente todos os dias, e toda a minha equipa, para garantir que não se transforme numa guerra regional. Mas isso pode facilmente acontecer”, acrescentou.