O Presidente francês, Emmanuel Macron, recusou esta segunda-feira que a detenção em França de um dos fundadores da plataforma digital Telegram, Pavel Durov, tenha resultado de uma decisão política.

Pavel Durov, cidadão franco-russo, foi detido na noite de sábado após aterrar num aeroporto perto de Paris, na sequência de uma investigação que aponta para a alegada conivência da plataforma de mensagens instantâneas em crimes que vão desde fraude a tráfico de droga, passando por assédio cibernético, crime organizado e apologia do terrorismo.

“É a Justiça, com total independência, que deve fazer cumprir a lei”, escreveu Macron na rede social X, garantindo que a França defende a liberdade de expressão e incentiva o “espírito empresarial”.

Acrescentou, porém, que “tanto nas redes sociais como na vida real, as liberdades devem ser exercidas dentro de um quadro estabelecido pela lei para proteger os cidadãos e respeitar os direitos fundamentais”.

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O Telegram garantiu no domingo cumprir as leis europeias.

O Kremlin considerou “inapropriado” comentar a detenção do fundador do Telegram e negou que tenha existido um encontro recente entre Durov e o Presidente russo, Vladimir Putin.

Aos jornalistas, o porta-voz da presidência, Dmitri Peskov, referiu que Moscovo ainda não conhece em concreto as acusações. “Antes de dizer qualquer coisa, devemos esperar até que a situação fique mais clara (…). Sem isso, provavelmente seria inapropriado fazer quaisquer declarações”, respondeu.

Prisão preventiva de fundador do Telegram em França prolongada até quarta-feira

Pavel Durov, multimilionário de 39 anos, com dupla cidadania francesa e russa, foi detido sábado no aeroporto de Bourget, no norte de Paris após chegar de Baku, no Azerbaijão, relevou uma fonte à agência noticiosa France Presse.

Pavel Durov, CEO do Telegram, foi detido em França

Putin esteve em Baku no início da semana passada e questionado esta segunda-feira sobre a coincidência, o porta-voz do Kremlin afirmou que Durov e Putin não se encontraram.

O Telegram também já tinha recusado dias antes da detenção que o seu fundador tivesse viajado expressamente na semana passada para o Azerbaijão para se encontrar com Putin enquanto este realizava uma deslocação oficial.

Segundo a imprensa azeri, Durov terá passado três semanas de férias na costa do Mar Cáspio antes de viajar para França.

A prisão de Durov, que nasceu em São Petersburgo e é residente no Dubai desde 2017, gerou indignação entre políticos russos, que protestaram em frente à embaixada francesa em Moscovo, alegando que Durov está a ser perseguido por não aceitar submeter-se à pressão ocidental.

Alguns media lembraram que as autoridades russas tentaram bloquear o Telegram em 2018, mas fracassaram, destacando ainda como o Kremlin pressionou Durov a vender o Vkontakte, o Facebook russo, o que levou à criação do Telegram em 2013 e ao posterior exílio de Durov.

Uma detenção que faz parte de um caso mais complexo

No domingo à noite, a prisão preventiva do fundador da plataforma digital Telegram foi prolongada. Segundo fonte próxima do caso, o juiz de instrução de Paris responsável por esta investigação judicial, centrada em particular em atos cometidos por um grupo organizado, prolongou a prisão preventiva, que poderá durar no máximo 96 horas, ou seja, até à próxima quarta-feira.

Findo esse prazo, Pavel Durov poderá ser posto em liberdade ou apresentado àquele magistrado para uma eventual acusação formal.

Na segunda-feira, os procuradores franceses acrescentaram ainda que a detenção fazia parte de um esquema maior, cuja investigação tinha sido aberta no dia 8 de julho contra “pessoas desconhecidas”. Esta investigação procurava informações sobre potenciais acusações de pornografia infantil, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.

“Faz parte do quadro de procedimento que Pavel Durov seja questionado pelos investigadores”, declarou em comunicado a procuradora parisiense. Contudo, Laure Beccuau não explicitou se todas as acusações da investigações se aplicam a Durov.

Segundo a lei francesa, casos complexos como este são atribuídos a magistrados com poderes especiais de investigação. Depois do interrogatório, Beccuau pode tomar a decisão de avançar com uma acusação formal contra Durov ou retirar as queixas.