“Belo discurso portuense”, comentou informalmente Manuel Pizarro, quando Marcelo Rebelo de Sousa terminou de falar nos Paços do Concelho, esta sexta-feira. O novo Presidente da República escolheu encerrar no Porto as cerimónias de três dias da sua tomada de posse como antítese ao centralismo. E pediu aos portuenses que “jamais troquem a sua liberdade, o seu rigor no trabalho, os seus gestos de luta e de coragem por qualquer promessa de sebastianismo político ou económico”.

A visita à cidade é “simbólica”, começou por dizer Marcelo, “como homenagem ao Porto”, mas também “como sublinhado de virtudes nacionais num tempo atreito a desânimos, desilusões e desavenças“, Ao seu lado, Rui Moreira ouviu atento, depois de, no seu discurso, que abriu a cerimónia, ter desafiado o novo Presidente para que fale “em defesa de um Portugal menos centralista”, não só nos interesses mas, sobretudo, nas mentalidades.

Por duas vezes o discurso do Presidente da República foi interrompido por aplausos. A primeira vez em agradecimento pelo elogio à história de resistência do Porto, cidade “de algum modo como berço da liberdade e da democracia”.

A segunda salva de palmas soou depois de Marcelo Rebelo de Sousa citar Alexandre Herculano — “neste Porto em que rudeza e virtude são muitas vezes companheiras” — e avisar que também ele iria ser rude, para fazer dois pedidos. O primeiro: que jamais os portuenses “troquem a sua liberdade, o seu rigor no trabalho, os seus gestos de luta e de coragem por qualquer promessa de sebastianismo político ou económico. O futuro é obra de todos e não é dádiva de ninguém”, avisou.

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O segundo pedido à principal cidade da Região Norte, a mais pobre do país de acordo com dados do Eurostat, serviu para exaltar um “caminho ao sonho” e deixar o derrotismo no passado. “Nunca se rendam à ideia errada de que quase nove séculos de história ou de poder são obra do acaso, que é uma fatalidade que Portugal esteja votado a ser pobre, dependente, injusto”. Para que “as crises deixem de ser o único horizonte possível”, sublinhou.

O elogio final de Manuel Pizarro, presidente do PS Porto e vereador do município, resume o agrado geral que o discurso de Marcelo provocou na audiência. De Rui Moreira, Marcelo teve sobretudo votos de confiança em como será um presidente próximo dos portugueses, de todos eles. “Estou certo de que o será”, disse o autarca, que nos últimos meses tem subido de tom as críticas ao centralismo. E lembrou um Portugal “torturado pelas dificuldades” e, portanto, “mais assimétrico e, desgraçadamente, mais desigual”.

Depois de ser recebido na Câmara Municipal, irá almoçar na Casa do Roseiral e depois segue a pé para a Galeria Municipal para visitar uma exposição de homenagem a Paulo Cunha e Silva, vereador da Cultura falecido em novembro. O programa termina com uma visita ao bairro social do Cerco.

À saída da Câmara do Porto, Marcelo desdobrou-se em abraços e beijinhos às pessoas que o esperavam de forma entusiástica. Houve lágrimas de emoção e Marcelo não se esquivou ao contacto com as pessoas, perante o desespero do corpo de segurança.