Quatro anos passaram desde que um violento terramoto sacudiu o Japão. Além da devastação provocada pelo abalo de 7,3 de magnitude, o país ficou com um grave problema em mãos: a central nuclear de Fukushima, próxima do epicentro, começou a emitir radiação perigosa para todas as formas de vida. No espaço de 20 quilómetros, não há nada. As ruas estão desertas, as casas abandonadas, as pessoas partiram todas há muito. Todas? Não. Há um homem que resiste.
Chama-se Naoto Matsumura, tem 55 anos e é agricultor e criador de gado numa zona fantasma. E é o homem mais radioativo do Japão. “Quando os deixei analisar-me, disseram-me que era o ‘campeão'” da radiação no país. “Mas também me disseram que não ficaria doente nos próximos 30 ou 40 anos. Quase de certeza estarei morto nessa altura, por isso não me importa nada”, explica Naoto à Vice, que lhe dedicou um documentário em 2013.
Quando os cientistas da agência de exploração aeroespacial do Japão lhe disseram que tinha aqueles níveis de radiação, aconselharam-no também a deixar de comer ou beber o que quer que fosse produzido perto da central. Naoto seguiu a recomendação, mas nem por isso deixou de fazer a vida normal. Chegou a sair de Tomioka, a vila natal, mas não se habituou a viver fora dali, pelo que se apressou a regressar. “Nasci e fui criado nesta vila. Quando morrer, será em Tomioka.”
Tomioka é uma cidade fantasma, onde nada funciona e onde os animais foram deixados à sua sorte. “Precisamos de gás, eletricidade e água”, dizia o japonês em 2011 aos jornalistas da BBC que o visitaram. “As pessoas velhas querem voltar, até a minha mãe e o meu pai. Querem morrer aqui. Agora sou o único a tratar dos animais”, comentava.
Foi precisamente pelo tratamento aos animais que Naoto Matsumura se tornou, entretanto, famoso em todo o mundo. O japonês começou por cuidar dos que tinha na quinta, mas rapidamente se tornou o único guardião de todo o gado, porcos, cães, gatos e avestruzes da cidade.
“Estava assustado ao início porque sabia que a radiação se tinha espalhado por todo o lado. Depois pensei que se ficasse muito tempo, acabaria por ter cancro ou leucemia. Mas quanto mais tempo estava com os animais, mais eu via que estávamos todos saudáveis e que ficaríamos bem”, relata.
Existem diversas páginas de apoio a Naoto Matsumura na internet e no Facebook, onde é possível também fazer donativos para ajudar este amante dos animais a continuar a sua obra.