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RODRIGO MENDES/OBSERVADOR

RODRIGO MENDES/OBSERVADOR

330 mil portugueses têm Covid Longa. Os casos de quem continua a viver com o cansaço e a confusão mental

Guiomar ficou com asma e crises de ansiedade. Maria deixou de ser cozinheira e anda com uma botija de oxigénio. Covid Longa "é a maior herança da pandemia" e não há um Plano Nacional para os doentes.

Quando passam quase três anos e meio sobre o primeiro caso de infeção por SARS-CoV-2 registado em Portugal, em março de 2020, centenas de milhares de portugueses, apanhados pelo vírus, ainda se debatem com sequelas da Covid-19. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que sejam 336 mil, cerca de 6% do total de casos registados em Portugal (que foram 5,6 milhões, até final de julho). Enfrentam falta de ar, cansaço, brain fog (névoa ou confusão mental), falhas de memória. Os sintomas são múltiplos, como contam ao Observador dois doentes que ainda mantêm queixas.

Já os médicos ouvidos pelo Observador alertam que a doença “tem efeito a longo prazo”, com limitações graves — cognitivas e respiratórias, principalmente — que se estendem até aos mais jovens. Por isso, defendem, deve ser criada uma resposta integrada no SNS, que permita tratar melhor doentes. E partilham casos de pessoas que nunca mais voltaram a viver como antes da pandemia.

Guiomar prepara-se para “viver com as sequelas para o resto da vida”

Um desses casos é o de Maria (nome fictício), 42 anos, da área de Lisboa. Levava uma vida sem limitações físicas até ter sido infetada. Desenvolveu então um quadro grave de Covid-19 e teve de ser internada. Agora, tem insuficiência respiratória. Acompanha-a, permanentemente, uma botija de oxigénio, além de ter de cumprir com frequência os exercícios de reabilitação da função respiratória que lhe foram prescritos. A vida que tinha antes da pandemia desfez-se.

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Era cozinheira, uma profissão que não pode continuar a exercer, porque a botija que leva sempre consigo a impede de trabalhar junto a fogões. Está, por isso, obrigada a reinventar-se profissionalmente. A segurança social propôs que frequentasse cursos de formação, para que aprendesse uma outra profissão. É o que Maria tem feito. A história é contada ao Observador por Miguel Toscano Rico, o médico responsável pela Clínica de Atendimento Pós-Covid do Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central, no Hospital de Santa Marta, onde Maria é seguida e por onde já passaram mais de 1200 doentes, a maioria mulheres, desde março de 2021, quando foi criada esta resposta no Hospital de Santa Marta.

O internista Miguel Toscano Rico coordena a Clínica de Atendimento Pós-covid do Hospital de Santa Marta

Pedro Rocha / Global Imagens

Toscano Rico, especialista em Medicina Interna, está preocupado. “Temos casos de fadiga crónica, queixas respiratórias, alterações neurocognitivas, brain fog [névoa ou confusão mental], dispneia [falta de ar], síndromes vertiginosos [tonturas e vertigens], embolias pulmonares”, enumera o responsável, que estima que cerca de 10% dos doentes que tiveram Covid-19 mantiveram, durante semanas, algum tipo de sintomas. A maioria foi recuperando, outros mantêm as queixas muito depois da infeção e do posterior desenvolvimento da Covid-19 – serão mais de 330 mil em Portugal, estima a OMS.

“Os que tiveram internamentos mais prolongados, com ventilações prolongadas, tiveram um período de seguimento de cerca de um ano”, explica. Mas há casos com períodos de seguimento superiores a dois anos e que ficaram com sequelas resultantes das primeiras vagas de SARS-CoV-2, quando a vacina ainda não existia.

É o caso de Guiomar Tiago, 59 anos. Trabalha num lar de idosos, em Alverca, e foi infetada em março de 2021. Esteve mais de três meses isolada (sempre a testar positivo ao vírus) e com sintomas — apesar de nunca ter sido internada. A Covid-19, conta, afetou-lhe o sistema digestivo e respiratório, um impacto que sente até hoje e a que se juntaram, depois, as crises de ansiedade.

Guiomar desenvolveu asma. A falta de ar, constante, obriga-a a ter sempre consigo um inalador, para utilizar quando estiver a passar por uma crise aguda. “Eu era uma pessoa saudável, cheia de vida”, lembra ao Observador, lamentando que, agora, o cansaço a impeça de fazer alguma tarefas que antes eram rotineiras. “Canso-me muito. Se aspirar uma divisão da minha casa, tenho de parar, fico sem fôlego e muito cansada”, diz. Subir escadas, garante, é “horrível”. E a Covid Longa obrigou-a até a fazer obras em casa. “Tive de tirar a banheira. Só o facto de tomar banho me cansava, não tinha força para levantar as pernas e sair”, conta.

Guiomar Tiago, 59 anos, desenvolveu asma, problemas digestivos e ansiedade na sequência da Covid-19. Os sintomas mantêm-se

Além disso, o trauma da infeção terá contribuído para as crises de ansiedade que hoje sente, e para as quais está a ser medicada. “Tenho crises de ansiedade, fico muito nervosa. Por vezes, os nervos ou o facto de não tomar medicação para a ansiedade são situações que me levam ao desmaio e à diarreia, coisas que nunca tive antes da pandemia”, garante.

Doentes mais jovens mantêm sintomas e um cansaço que não tem explicação

Guiomar viu também alterada a sua atividade profissional. “Fiquei frágil a partir do momento em que voltei ao lar. O meu trabalho requer muito esforço físico, porque implica levantar idosos e tratar da higiene deles”, conta. Agora, por causa das limitações decorrentes da Covid, tem “funções de coordenação”. Atualmente, faz fisioterapia e está a ser acompanhada nos hospitais de Vila Franca de Xira e Curry Cabral (em Lisboa). Resignada, admite que vai ter se “habituar a conviver com as sequelas para o resto da vida”.

Cristina (nome fictício), uma "mulher nova, com menos de 35 anos", e que sofreu uma "deterioração neurocognitiva muito significativa" depois de ter tido Covid-19. Tinha uma função profissional de grande responsabilidade que, conta Toscano Rico, deixou de conseguir cumprir.

Do total de doentes com queixas compatíveis com Covid longa, cerca de 60% apresentam melhorias ao fim de um ano, mas “menos de 15% apresentam uma remissão completa dos sintomas”, diz, ao Observador, o pneumologista Filipe Froes, que acompanha vários doentes no hospital onde trabalha, o Pulido Valente. As queixas mais duradouras são, sublinha, a fadiga e as alterações cognitivas (como alterações de humor, dificuldades de concentração e de articulação do discurso). O especialista explica que ainda não são conhecidos os “mecanismos etiopatogénicos [que estão na origem de uma doença] relacionados com as queixas”, estando a ser desenvolvidos estudos que permitam descobrir esses mecanismos, bem como “biomarcadores que possam contribuir para o diagnóstico da doença e para a monitorização da resposta.

Apesar de a maior parte das pessoas que mantêm sintomas de Covid-19 serem mais velhas, na casa dos 50 a 60 anos, muitas outras, em faixas etárias mais jovens, foram profundamente afetadas e mantêm queixas variadas, salienta Miguel Toscano Rico, médico do Hospital de Santa Marta. “Se pensarmos que as limitações interferem até em doentes jovens, na sua capacidade de trabalhar, há um impacto importante na parte socioeconómica”, salienta o médico, que partilha também a história de Cristina (nome fictício), uma “mulher nova, com menos de 35 anos”, e que sofreu uma “deterioração neurocognitiva muito significativa” depois de ter tido Covid-19. Tinha uma função profissional de grande responsabilidade que, conta Toscano Rico, deixou de conseguir cumprir — aliás, Cristina não tem sequer sequer capacidade de “planear a vida”, tendo ficado com a memória afetada e com o que os médicos designam como Brain Frog, um conceito que abarca um conjunto de condições, como dificuldade em manter a atenção ou a concentração, lentidão no processamento de informação e falhas de memória.

Fadiga, perda de memória, falta de ar e mais 200 sintomas. Covid longa pode durar meses ou anos (e ser a próxima “pandemia”)

Já Ricardo Pereira, 40 anos, mantém ainda hoje uma respiração ofegante quando faz qualquer tipo de esforço físico e deixou de praticar desporto. Depois de ter ultrapassado a fase aguda da Covid-19 (em novembro de 2020, apenas “com febre ligeira e algumas dor no corpo”), o inspetor bancário ficou mais de oito meses sem paladar e olfato, sintoma que se foi dissipando. No entanto, o cansaço manteve-se.

“Canso-me com muita facilidade, a subir escadas. Antigamente subia sem dificuldade e agora fico com a respiração mais ofegante”, conta. “Comprei um relógio para medir os batimentos cardíacos. Em repouso, antes rondava os 70/80 e agora tenho 90 a 110”, acrescenta, salientando a diferença no pós-Covid. Ricardo fazia ginástica e corrida, desportos que abandonou, seguindo a indicação da sua médica de família.

Este cansaço, que muitos doentes ainda mantêm, “não é explicado pelas provas respiratórias nem por exames de imagem”, reconhece a pneumologista Inês Luz, responsável pela criação da consulta de pós-Covid do Hospital Amadora-Sintra — consulta que seguiu mais de 200 doentes e que foi entretanto encerrada. A especialista sublinha que acompanha doentes com fadiga e cansaço há mais de dois anos, sendo que, diz, em grande parte deles o cansaço é “multifatorial”, e está relacionado com outras patologias, como a Apneia do Sono. Inês Luz realça ainda que muitos doentes que, antes da pandemia, tinha asma ligeira viram a sua doença progredir em resultado da Covid-19 e hoje têm “crises frequentes”, com necessidade de tratamento diário.

O médico Miguel Toscano Rico diz que "houve algum subdiagnóstico da Covid Longa, sobretudo dos doentes de ambulatório", que não tiveram quadros graves de Covid, o que significa que muitos doentes manterão alguns sintomas, mas não estão sequer a ser acompanhados nem a fazer nenhum tipo de tratamento, o que se poderá traduzir em piores resultados em saúde no futuro.

No Reino Unido, um levantamento realizado em março deste ano indicava que cerca um milhão de pessoas com Covid Longa mantêm dificuldades de concentração e 750 mil apresentam perda de memória ou confusão mental, enquanto um estudo, publicado no final de julho de 2023, descobriu que os efeitos do Brain Frog se podem comparar a um envelhecimento cerebral na ordem dos dez anos. Os investigadores do King’s College, de Londres, sublinham que o “comprometimento cognitivo associado à Covid-19” é claro, comparável ao cérebro estar sob “sintomas leves ou moderados de sofrimento psicológico”.

Demências podem ser uma consequência da Covid-19

Miguel Toscano Rico, que lida há mais de dois anos com estes doentes, confirma que “houve uma grande repercussão intelectual e cognitiva em muitos” deles, o que aumenta o risco de virem a desenvolver demências no futuro. “As demências demoram muito tempo até se instalarem de forma permanente. Não sei o que vai acontecer dentro de dez anos”, sublinha o médico, alertando que “houve algum subdiagnóstico da Covid Longa, sobretudo dos doentes de ambulatório”, que não tiveram quadros graves de Covid, o que significa que muitos doentes manterão alguns sintomas, mas não estão sequer a ser acompanhados nem a fazer nenhum tipo de tratamento, o que se poderá traduzir em piores resultados em saúde (os chamados outcomes) no futuro.

A norte, o Hospital de São João teve em funcionamento, durante largos meses, uma consulta de fácil acesso para acompanhar os doentes que ficaram com sintomas. A consulta foi entretanto encerrada, já este ano. Ao Observador, o infecciologista António Sarmento, que acompanhou muitos doentes depois da saída da ex-responsável Margarida Tavares (que saiu para ser secretária de Estado da Promoção da Saúde), alerta que a Covid-19 “tem efeito a longo prazo”, traduzindo-se em dificuldades cognitivas e cansaço, por exemplo, com muitos doentes a manterem “sintomas prolongados”, diz, acrescentando que “quanto mais grave o caso (mesmo sem internamento em cuidados intensivos), maior o risco do Covid Longa”.

O infecciologista António Sarmento alerta que a Covid-19 "tem efeito a longo prazo"

Pedro Correia/Global Imagens

O especialista ressalva, no entanto, que muitos dos sintomas da Covid Longa não são específicos, podendo confundir-se com outras patologias. “Há uma sobreposição entre sintomas muito frequentes e é difícil atribuir a uma determinada causa”, sublinha o médico “Este vírus tem um comportamento diferente dos vírus que conhecíamos”, admite, dando o exemplo do cansaço, uma condição referida por muitos doentes meses após terem tido um quadro de Covid-19. “As pessoas atribuem o cansaço à Covid. E pode ou não ser. O mesmo para as dores de cabeça, para a insónia”, diz, referindo também a perda de paladar e de olfato, que se mantêm há mais de um ano em muitos doentes.

António Sarmento partilha um caso que, assume, o “impressionou”. O de uma mulher, na casa dos 40 anos, “ativa, nada depressiva, e que esteve internada em enfermaria (e não nos Cuidados Intensivos)”. Um ano depois do internamento, “ainda não conseguia subir três lances seguidos de escadas”, devido ao cansaço. De imediato foram feitos exames, que não mostraram qualquer problema, nomeadamente do foro cardíaco. Mais de dois anos depois, Manuela (nome fictício) “exerce a sua profissão com dificuldade”, conta o médico.

Na região Centro, o Hospital de Leiria acompanhou mais de 300 doentes, e ainda mantém aberta a  consulta de pós-Covid, apesar de uma diminuição da procura. A fadiga e o cansaço são os sintomas mais reportados pelos doentes, refere, ao Observador, o pneumologista João Machado, responsável pela consulta. Se, em 2022, havia um equilíbrio entre homens e mulheres, em 2023 o sexo feminino ficou em clara maioria na afluência à consulta, adianta o médico. Mais de metade dos doentes seguidos em Leiria têm entre 46 e 65 anos.

“Long Covid é a maior herança da pandemia”

João Machado mostra-se preocupado, uma vez “que uma percentagem dos doentes mantêm, de forma crónica, os sintomas” adquiridos com a Covid-19, embora, realça, os médicos do serviço de Pneumologia não encontrem, nas provas de esforço realizadas pelos doentes, “grandes alterações” a não ser uma menor tolerância ao esforço físico, cujas causas ainda “não estão explicadas”. O especialista admite, no entanto, que esta realidade possa ser originada, nalguns casos, por uma espécie de stress pós-traumático causado pela Covid-19.

Se numa fase inicial os doentes mais críticos eram mais impactados depois da fase aguda da doença, atualmente não existe uma relação entre a gravidade da Covid-19 e os sintomas atuais, ou seja, pessoas que tiveram doença ligeira durante a pandemia recorrem às consultas “com sintomas mais prolongados no tempo”, diz o médico. “O Long Covid é a maior herança de saúde que a pandemia nos deixou”, refere Filipe Froes.

João Machado partilha a história de um instrutor de ginásio, “que transpirava saúde”, seguido na sua consulta, com cerca de 35 anos, e que teve um quadro grave no Covid-19, no final de 2021. A recuperação foi, por isso, lenta, tendo demorado vários meses. João (nome fictício) teve de fazer reabilitação, foi recuperando alguma da capacidade respiratória e de tolerância ao esforço (tarefa rotineira antes da pandemia, até tendo em conta a sua atividade profissional), mas ainda não longe dos níveis pré-pandémicos, mantendo uma tolerância ao esforço “menor do que antes” e fadiga.

Hospitais mobilizaram-se, mas falta Plano Nacional para a Covid Longa

Logo em 2021, os hospitais mobilizaram-se para acompanhar os doentes no pós-Covid. Foram criadas consultas em vários hospitais. Ao Observador, o Ministério da Saúde adianta que, “em 2022, estavam registadas nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde 19 consultas com a referência “pós-Covid/long Covid”, que acompanharam cerca de 2 mil utentes em primeira consulta ou consulta subsequente. A maioria destas pessoas foi seguida pela Clínica do CHULC, no Hospital de Santa Marta — mais de 1200 doentes. Pelo menos outros 400 foram acompanhados na consulta pós-Covid do Hospital Pulido Valente, que pertence ao Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, e que foi entretanto encerrada, confirmou ao Observador o pneumologista Filipe Froes.

Na região Centro, e durante um ano, de março de 2022 a março de 2023, o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra seguiu 102 doentes, confirmou ao Observador Lèlita Santos, diretora do Serviço de Medicina Interna, especialidade que agora acompanha os doentes. No Hospital de Santarém, no Hospital da Covilhã e no Centro Hospitalar Barreiro-Montijo foram também criadas consultas de seguimento. Também o Centro Hospitalar do Médio Tejo acompanhou cerca de 100 doentes, entre 2022 e 2023, confirmou ao Observador fonte oficial da unidade que junta os hospitais de Abrantes, Torres Novas e Tomar.

No SNS, a resposta aos muitos doentes que ainda mantêm sintomas de Covid é agora diferente de hospital para hospital. Enquanto algumas unidades optam por manter a consulta a funcionar, outras encaminham os doentes para a Medicina Interna (a grande especialidade hospitalar, generalista e capaz de abordar o doente como um todo); outros optam por referenciar os doentes para a especialidade que poderá tratar melhor os sintomas reportados (Neurologia, Infecciologia, Cardiologia, Pneumologia, Medicina Física e Reabilitação).

"A grande maioria dos utentes com esta condição terá sido e estará a ser seguida nos Cuidados de Saúde Primários, estando a ser ponderada a forma de codificação dos casos acompanhados neste nível de cuidados", adianta ao Observador o Ministério da Saúde.

O pneumologista Filipe Froes é bastante crítico da falta de uma resposta integrada aos doentes com Covid Longa. “Não estamos a oferecer os melhores cuidados a estes doentes e com isso criamos dois problemas: um problema de não-recuperação de pessoas adultas em idade ativa e um problema coletivo, porque estamos a prejudicar a sociedade”, critica.

“Precisamos de um plano nacional de Long Covid, numa resposta integrada e coordenada, com a criação de Centros de Referência, para que se faça uma abordagem protocolizada aos doentes, adaptada à melhor evidência científica disponível”, defende o especialista. O objetivo, explica, é garantir “os melhores resultados e uma maior sustentabilidade dos recursos do SNS”, isto é, de modo a que não se desperdicem recursos com a duplicação de exames. Filipe Froes salienta que falta “uma melhor quantificação do impacto do Long Covid e falta dar voz aos doentes”, dois fatores que se verificam noutros países, diz. Questionado sobre a possibilidade de ser implementado um Plano Nacional para estes doentes, a tutela mantém o silêncio.

Também os hospitais privados responderam às necessidades e abriram as suas próprias consultas. O grupo CUF tem uma consulta nos seus hospitais, desde 2021, bem como o grupo Lusíadas. Só pela unidade de Alcântara, a CUF Tejo, passaram já “milhares de doentes”, assegura, ao Observador, a médica Vanessa Mendes, coordenadora de Medicina Geral e Familiar do grupo privado de saúde. Também aqui os sintomas mais frequentes, e que persistem, são o cansaço e a fadiga, avança a especialista, sendo que a média de idade dos doentes ronda os 40 anos.

“Em 2022, recebi na Consulta Pós-Covid uma jovem de 25 anos com infeção registada em 2021”, que, um ano após ter tido Covid, “apresentava uma perda completa do olfato”, conta a médica, salientando que este tipo de queixa, apesar de ser “comum entre os doentes com Covid-19 na fase aguda”, “não é habitual” perdurar durante tanto tempo. A jovem acabou por ser encaminhada para a Otorringolaringologia, para uma avaliação mais pormenorizada.

Apesar da resposta hospitalar, direcionada para os casos mais graves, é nos cuidados de saúde primários (vulgo centros de saúde) que mais doentes são acompanhados. No entanto, não se sabe quantos são considerados doentes com Covid Longa, uma vez que essa contabilização não é feita.

Uma realidade que pode estar prestes a mudar, avança o Ministério da Saúde em resposta ao Observador. “A grande maioria dos utentes com esta condição terá sido e estará a ser seguida nos Cuidados de Saúde Primários, estando a ser ponderada a forma de codificação dos casos acompanhados neste nível de cuidados”, realça a tutela.

De acordo com um levantamento feito pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), “a globalidade das consultas externas nos hospitais do SNS com a indicação Covid-19 na sua designação acompanharam, em 2022, um total de 107.446 utentes” com uma idade média de idades de 45 anos, refere o Ministério liderado por Manuel Pizarro.

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