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Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

A resistência no Porto, o verão quente de 2018, o vídeo no Youtube e o novo mundo da App: a campanha de Nuno Sousa às eleições do Sporting

A separação entre o ato de fé num técnico e o estado do clube. O papel de Inácio como assessor. A maioria da SAD (se possível a 100%). A digitalização que potencia receitas. O que defende Nuno Sousa.

– Olá, o meu nome é Nuno Sousa e há uma pergunta que tenho feito muitas vezes: o que farias pelo teu Sporting? Esta pergunta foi a que deixámos ao universo leonino e que estava na origem do Sou Sporting.

Já depois de ter anunciado nas redes sociais que seria candidato à presidência do clube, em maio de 2020 quando o país saía do primeiro confinamento devido a uma pandemia com dimensão mundial, Nuno Sousa lançou no Youtube um vídeo onde explicava alguns dos propósitos do movimento que liderava e que se tinha transformado em listas aos órgãos sociais. “No Sou Sporting sempre fomos abertos a todos os sportinguistas e às suas ideias, ideias para pensar o futuro que nos une, ideias que ligam todos os que pretendem servir o Sporting e não servir-se dele”, destacava numa espécie de apresentação com vários elementos gráficos que tinham ainda assim um contexto desportivo e institucional que mudou de forma radical em ano e meio.

[Ouça aqui a entrevista a Nuno Sousa no Sob Escuta da Rádio Observador]

“Ser presidente é mais do que vitórias no futebol”

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Até nos pormenores, a realidade mudou. E se hoje em Alvalade não existe ninguém que não fale do que é o seu Sporting em campo à luz do 3x4x3 de Rúben Amorim que só muitas raras vezes muda (e para um 3x5x2), Nuno Sousa apresentava alguns dos pilares do projeto à luz do 4x3x3, colocando na defesa Núcleos, votos por antiguidade, Mulheres e Crianças (aqui como “guarda-redes”), comunicação e App Sporting, mais à frente no meio-campo a informação, a maioria do capital social da SAD e a expansão e no ataque, à luz do que são os “jogadores”, o futebol, as modalidades e o clube de Portugal. “Um dia vai aparecer uma alternativa vinda da bancada. Ouvimos dizer isto várias vezes, demasiadas vezes, e é por sentirmos que esse dia não pode esperar mais que estamos aqui. Por nós, por ti, pelo Sporting”, completava o candidato nesse vídeo de três minutos e meio que marcava o arranque de uma candidatura em tempos difíceis para o clube.

[Veja aqui a entrevista de Nuno Sousa no Sob Escuta da Rádio Observador]

Ainda antes desse vídeo e de apresentar as listas com um Conselho Diretivo mais reduzido com apenas sete elementos em vez dos habituais 11, onde constam também o antigo deputado Hélder Amaral ou o líder da página “Tasca do Cherba” Pedro Lopes (sendo que nenhum dos candidatos passou antes pelo clube, outro dos pontos tomados em consideração), o “Ser Sporting” organizou também um Congresso para debater o estado do clube à semelhança do que aconteceu com o “Sporting com Rumo” que teve como co-organizador o outro candidato que avança contra Frederico Varandas, Ricardo Oliveira. Foi nesse momento, no ano de 2019 em Coimbra, que começou a germinar a semente de um avanço ao ato eleitoral do clube. E foi também aí que se discutiu o modelo estratégico para o futebol e modalidades, a sustentabilidade financeira e marca e o clube com sócios e adeptos. Confirmou-se depois a candidatura “fora de Lisboa” que há muito era falada.

Nuno Sousa formaliza candidatura com “o melhor e mais vasto programa alguma vez apresentado numa eleição aos órgãos do Sporting”

“A partir do momento em que nós começamos a fazer o caminho, não era qualquer percalço que aparecesse que iria travar, fosse a pandemia, fossem os resultados desportivos positivos. Sim, avançaria sempre porque o projeto vai muito além dos resultados e foi bastante ponderado, com uma massa crítica bastante grande e as pessoas que estão envolvidas. Portanto, como acreditávamos e acreditamos que o caminho é este que preconizamos em momento algum houve uma hesitação e cada vez nos sentimos com mais força e com mais vontade”, explica ao Observador Nuno Sousa, a propósito do contexto no clube que entretanto mudou em relação ao momento por exemplo em que Rúben Amorim foi contratado, em março de 2020, fazendo a estreia diante do Desp. Aves no último jogo antes da pandemia marcado por mais uma manifestação.

Um sportinguista no Porto que fez ginástica no Boavista e jogou basquetebol no Académico

Nascido no Porto, onde viveu até 1999, mas sócio do Sporting desde os cinco anos, Nuno Sousa recorda com nostalgia os tempos em que apanhava o autocarro quase de madrugada na Praça da Batalha para estacionar debaixo do viaduto do Campo Grande (hoje um parque de estacionamento, na altura um local onde ficavam as viaturas de quem vinha de longe) e chegar ao antigo Estádio José Alvalade para os jogos que se realizavam no domingo à tarde. É também esse ponto que valoriza: ser sportinguista numa cidade maioritariamente azul e branca do FC Porto e que tem como segundo clube o Benfica. “Consciente ou inconscientemente, foi uma decisão feita, implicando esforço e muita resiliência pois ver jogos no José Alvalade era raríssimo, dada a distância e as condições que havia nos idos anos 80 e princípios dos anos 90. Mas ser do Sporting era uma questão identitária, sentimental, de orgulho… de amor. Era impossível ser de outro clube”, diz.

Nuno Sousa e restantes elementos candidatos aos órgãos sociais entre os quais o antigo deputado Hélder Amaral formalizaram no dia 2 de fevereiro a entrega das listas

Entre os primeiros jogos de que tem memória, recorda-se de um FC Porto-Sporting nas Antas na 30.ª ronda de um Campeonato de 1981/82 que tinha sido conquistado uns dias antes pelos leões com uma goleada ao Rio Ave assinada pelos habituais António Oliveira, Manuel Fernandes e Jordão, nem tanto pelo jogo mas por ter subido da estação de Campanhã para o estádio com centenas de adeptos que tinham chegado de Lisboa de comboio, e, dois anos depois, de um Torneio Internacional realizado em Alvalade no Verão em que a equipa verde e branca venceu o Atl. Madrid por 2-0. Tinha então oito anos. Aí, praticava ginástica no Boavista, a partir dos 12 passou para o basquetebol do Académico do Porto, tendo sido ainda campeão distrital. Tirou depois Gestão de Empresas na Universidade Católica, passou pela antiga Telecel (hoje Vodafone) quando se mudou para Lisboa, trabalhou quatro anos na ONI e está desde 2003 na EDP Comercial, onde ocupou várias funções entre “gerir canais de venda externos, o segmento de pequenas empresas, liderar a entrada no gás residencial, lançar produtos e serviços, liderar operacionalmente a primeira grande campanha de descontos em parceria com o Continente, liderar projetos como, por exemplo, a Nova Fatura da EDP”.

Mais recentemente, no Sporting, “apareceu” pela primeira vez em 2018 nos meses conturbados que tiveram como gatilho a invasão à Academia. E foi o próprio Frederico Varandas que, a meio do único debate entre os três candidatos, recordou a sua presença no Multidespotivo de Alvalade no verão desse mesmo ano, após a destituição de Bruno de Carvalho, quando o clube estava a ser gerido por uma Comissão de Gestão e tinha também uma Comissão de Fiscalização nomeada pela Mesa da Assembleia Geral demissionária. “Dois sócios estavam a ser impedidos de ser candidatos e apresentar uma lista. Houve recolhas de assinaturas para que houvesse uma Assembleia Geral onde se pudesse clarificar quem podia ou não ir. Como nos lembramos houve suspensões feitas por um órgão que era transitório que era o Conselho de Fiscalização porque estavam vários órgãos demissionários. Achávamos que quem está de forma transitória nos cargos e toma decisões como impedir listas de irem para a frente merecia outra atenção e era nisso que estava envolvido”, explica.

Duas horas depois, a lista de Bruno de Carvalho ficou entregue (e pelo meio, um sócio foi retirado do hall VIP)

“Era um movimento de sócios que não estava preso a qualquer figura, fosse Bruno de Carvalho, fosse Carlos Vieira. Eram sócios que estavam a pedir, porque está previsto que com 1.000 votos pode-se pedir uma Assembleia Geral, e o que estávamos a fazer era apenas isso. Com isso houve também um reconhecimento por parte da lista que Bruno de Carvalho estava a defender naquele momento, fui o mandatário para entregar a lista que estava a pretender entregar, tão simples como isso. Não me arrependo de nada do que fiz, estava a tentar fazer uma pacificação do Sporting e acho que foi um erro estratégico de quem impediu que aquilo acontecesse porque se todos pudessem ir a eleições a clarificação seria total a nível das urnas. Muito do que é a clivagem que ainda existe e o machado de guerra que não está enterrado podia ter ficado clarificado com umas eleições que seriam livres com todos a poderem concorrer”, defende, antes de falar da Assembleia Geral destitutiva e da discordância pela expulsão de sócios incluindo ex-presidentes.

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“Votei na Assembleia Geral destitutiva, sim. Votei contra. A minha posição sempre foi muito clara e é de princípio: todos os mandatos devem chegar ao fim. Somos institucionalistas. Achava que não iria ser nada bom haver uma destituição assim como também não sou nada a favor de haver expulsões porque o Sporting deve resolver as coisas em termos institucionais. Isso é um problema estrutural, já vinha de trás. Parece que há quase uma obrigatoriedade de um presidente quando sai ser saneado. Isso não é nada bom para uma coletividade para o Sporting e para a pacificação que se quer porque se estão sempre a abrir feridas. Queremos fazer com que o Regulamento Disciplinar só permita expulsões no caso de haver uma sentença transitada em julgado que as pessoas prejudicaram dolosamente o Sporting. Nem Godinho Lopes, nem Bruno de Carvalho estão envolvidos em processos, seja de gestão danosa, seja de dolo contra o Sporting. Existe um ambiente propício para se fazerem vendettas. O Sporting é um clube desportivo e andamos sempre a falar de questões disciplinares, a lavar roupa suja, a fazer políticas de terra queimada e ajustes com o passado quando se deve discutir o presente e olhar principalmente para o futuro”, frisa.

O ato de fé em Amorim, o (mau) exemplo do Barcelona e o regresso de Inácio

A recolha de votos para a entrega de uma candidatura nem sempre é fácil mas o facto de ter uma máquina que começou a carburar muito antes facilitou a missão – embora tivesse depois de fazer uma correção nas listas, após análise dos serviços do clube. A equipa de apoio não ia apenas a um determinado local, por norma um estádio onde o futebol jogasse (como em Leiria, na Final Four da Taça da Liga), com folhas de papel e voluntários. Tinha adereços, tinha t-shirts, tinha até uma mascote, a Leoa, que simboliza o outro olhar que Nuno Sousa quer dar a todo o desporto feminino no clube e que contempla a possibilidade de a principal equipa passar a jogar em Alvalade. Entre muito trabalho nas redes sociais e disseminando entrevistas e/ou artigos de opinião de outros elementos das listas em sites ou blogues de adeptos do clube, o candidato foi também aquele que mais Núcleos visitou entre Alcântara, Quinta do Conde, Museu de Leiria, Seixal, Marinha Grande, Setúbal, Almada, antes de terminar a campanha em Matosinhos, na zona Norte e no Cacém (sexta-feira), sempre com parte da conversa a girar à volta do futebol e como a liderança deve ser mais do que isso.

Nuno Sousa começou cedo a campanha de recolha de assinaturas, em Alvalade e não só, acompanhado pela mascote da campanha, a Leoa

Define a sua candidatura como uma candidatura de bancada. Da bancada, como é que avalia a reação das bancadas nos últimos minutos ao resultado com o Manchester City? E considera que a última Assembleia Geral foi um primeiro passo para a total pacificação?
Acho que a reação que houve foi natural e que já tinha assistido noutras ocasiões. Frederico Varandas quis puxar para si isso, como se fosse uma manifestação para o seu mandato, mas lembro-me dentro do mandato de Godinho Lopes, com as pessoas insatisfeitas que fizeram com que saísse a meio, ver Alvalade ao intervalo ter a mesma reação com o Athl. Bilbao e sem nada preparado. Dentro do mandato de Bruno de Carvalho, ao intervalo de um jogo com o Sp. Braga, aconteceu a mesma coisa com o “Nós acreditamos em vocês”…

Sendo um clube desportivo, que vive dos resultados desportivos e de vitórias, não é também normal a Direção viver um pouco também à luz desses sucessos?
Sim, claro. Não posso criticar por estar sempre a puxar por isso mas o que queremos é fazer ver que ser presidente do Sporting é muito mais do que isso. Podia não ter ganho no ano passado e estar a fazer uma excelente gestão e a fazer tudo certo naquilo que é a sustentabilidade a médio/longo prazo…

Mas normalmente isso no Sporting não resulta, olhando para as últimas duas décadas…
Aquilo que temos de pensar é que se pode ter excelentes resultados e tudo o resto estar errado ou vice-versa. Uma coisa não tem ligação à outra e podemos ver o caso do Barcelona, que teve resultados desportivos excelentes mas que se viu agora que a gestão estava podre e estão agora a sofrer com isso. Temos de pensar que o âmbito do Conselho Diretivo vai muito para além dos resultados, muitas vezes os resultados até estão muito dependentes do que são outras variáveis externas, de como estão os rivais ou outros fatores. Devemos olhar para tudo e ver como é a gestão interna no Sporting.

"Aquilo que temos de pensar é que se pode ter excelentes resultados e tudo o resto estar errado ou vice-versa. Uma coisa não tem ligação à outra e podemos ver o caso do Barcelona, que teve resultados desportivos excelentes mas que se viu agora que a gestão estava podre e estão agora a sofrer com isso."

Disse que o Sporting não pode ser o clube da política de terra queimada, de quem entra mandar tudo abaixo e existem muitas variáveis. Olhando para os três anos e meio de mandato de Frederico Varandas, o que é que ficaria de bom se fosse presidente e o que gostaria de potenciar e que não foi feito?
Há uma parte que é evidente, depois de muitas tentativas acertou naquilo que é a condução da equipa principal, o treinador. Isso tem de ser para manter, tanto mais que Rúben Amorim tem dois anos e meio de contrato.

Como é que viu essa contratação em março de 2020? Hoje é quase jogar no Totobola à segunda-feira mas como viu naquela altura?
Naquele momento não havia qualquer tipo de racionalidade para pagar aquele valor por um treinador que tinha apenas 13 jogos na Liga portuguesa, venha quem vier… E ainda ficou por 12 milhões e qualquer coisa. Com aquela informação era impossível que estava ali o futuro treinador campeão.

Acha que foi um all in de Frederico Varandas?
Pois, deve ter sido um ato de fé para se segurar porque ele próprio tinha apresentado Marcel Keizer como o treinador do projeto e nem um ano aguentou, à primeira derrota com o rival Benfica por 5-0 em duas semanas despediu-o, embora no final desse jogo dissesse que estava tudo bem e que sabia qual era o projeto. Assim, era impossível mandar embora de novo um treinador. No primeiro ano levou a equipa ao quarto lugar, não cumpriu o objetivo, e no início da época seguinte falhou o acesso à Liga Europa. Em condições normais teria sido despedido mas como tinha feito uma aposta tão forte conseguiu conter-se e ainda bem. Naquele momento não tinha qualquer racionalidade ser a terceira transferência mais cara de um treinador.

Nuno Sousa foi o candidato que passou por mais Núcleos da campanha, entre Alcântara, Almada e Marinha Grande além da tradicional visita ao Museu de Leiria com Bernardes Dinis

Olhando para o mandato, a política desportiva não correu bem nos dois primeiros anos e também aí as coisas mudaram, consegue perceber-se que a maioria dos jogadores contratados têm valorizado enquanto ativo e com rendimento desportivo. É tudo efeito Amorim ou houve uma aprendizagem com o passar dos anos?
Eu sou de gestão e estava habituado na minha vida académica e profissional a olhar para modelos e quando estamos a olhar e vemos que há uma mudança de comportamento vamos tentar ver a variável que explica isso. É evidente que houve uma mudança muito forte com este treinador e não foi só na equipa profissional de futebol masculino, começou-se a ver Rúben Amorim, até por falta de comparência da estrutura, quase a assumir outros cargos. É quase um manager, entre sportinguistas diz-se na brincadeira que é quase o diretor de comunicação e o que vemos é que houve uma grande alteração. Foi isso que foi o ponto de inflexão.

Isso é apenas bom ou é bom agora e pode ser nocivo no futuro?
Se houver um retraimento tal da estrutura que faça com que Rúben Amorim seja quase o que Paulo Bento foi na primeira década deste século, com ausência de um diretor desportivo, de um administrador e de um presidente que se gabava de ir pouco tempo ao Sporting, como se fosse um part time, há um desgaste muito forte do treinador e isso tem reflexos depois no jogo, não pode estar focado em questões laterais. E não é por vontade de Rúben Amorim, é porque tudo à volta se retrai e vive à sombra da sua excelente ação.

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É por isso que defende a presença de um diretor e de um team manager, além de já ter anunciado Augusto Inácio como conselheiro ou assessor do presidente?
Defendo um diretor desportivo também para ter relações com o mercado…

Hugo Viana ou outra figura?
Não tenho nada contra o Hugo Viana e se as coisas estiverem a correr bem e depois de entrarmos falarmos e for isso que as pessoas toda da estrutura querem, para jogar tudo em equipa, não há nada contra isso…

E a figura do team manager, já tem nomes ou perfil?
O Sporting já tem mas não aparece… Por isso é que não queria falar muito dos membros atuais e das suas funções. Mas o Sporting tem um team manager, também tem um diretor desportivo e achamos que deve haver um general manager para tomar conta do futebol e de preferência se sentasse no Conselho de Administração. É essa figura que pretendemos procurar, começando sempre pelo que temos no clube…

Não está então a ver mais nenhum regresso de uma figura além de Inácio?
Não e não foi a nossa preocupação neste momento. O que nos preocupa, tal como o programa eleitoral, foi primeiro construir as ideias e depois procurar as pessoas. Sei que tipicamente se faz o contrário mas está errado. Primeiro pensámos na estrutura, nas funções de cada um e depois procurar esse perfil, com primazia para quem esteja.

Mostrou-se também crítico às contratações por 50% do passe que têm aumentado.
A questão do que está a passar a ser um paradigma das contratações é errado. Uma coisa é fazer uma contratação pontual nesse paradigma dos 50% porque é uma oportunidade de negócio, porque já tem um valor que o Sporting não consegue. Pedro Porro pode ser um bom exemplo, digo que foi um excelente negócio e por um preço razoável, com recompra de oito milhões de euros. Quando comparamos isso com os dez milhões por 50% de Rúben Vinagre, quando pomos este negócio comprado com Pedro Porro…

"Uma coisa é fazer uma contratação pontual nesse paradigma dos 50% porque é uma oportunidade de negócio, porque já tem um valor que o Sporting não consegue. Pedro Porro pode ser um bom exemplo, digo que foi um excelente negócio e por um preço razoável, com recompra de oito milhões de euros. Quando comparamos isso com os dez milhões por 50% de Rúben Vinagre, quando pomos este negócio comprado com Pedro Porro..."

Acha que é feito apenas numa ótica desportiva ou há algo mais?
A sua pergunta traz aquilo que é mais ou menos corrente na mente de muitos sportinguistas, que são acertos de negócios feitos anteriormente…

Também pode ter havido ajuda por negócios como Nuno Mendes, que sendo lateral pode render um valor total perto dos 50 milhões de euros…
Pois mas fica muito estranho anunciarmos grandes vendas e depois fazermos compras sem racionalidade, era melhor dizer a verdade. Marcus Edwards também veio por 7,5 milhões por 50% e fica desequilibrado em termos de decisão de gestão.

Como é que vê a formação, que nos últimos anos também tem sido alvo de aposta sobretudo a nível de reforço de infraestruturas na Academia e modelo funcional?
Vamos financiar a formação como uma prioridade. Quando se faz o processo de orçamento, há decisões onde se vê quanto se põe na formação e quanto vai para o futebol profissional. A nossa opção vai ser sempre quando houver uma disputa de um milhão entre o recrutamento de talentos e o recrutamento de um jogador para uma equipa que já tem 23 jogadores, a primazia vai para a formação. Investimento para o futuro, para a sustentabilidade a médio e longo prazo e não olhar tanto para o curto prazo que é o que tipicamente acontece no futebol por uma visão resultadista. As pessoas são inteligentes e se dissermos isto numa Assembleia Geral, se colocarmos à votação a nossa política desportiva, e nem é por isso termos em concreto, se dissermos que queremos aumentar 10% recrutamento e prospeção todos vão concordar…

E o que é que pode melhorar em relação ao que existe atualmente?
Em termos de organização só lá chegando mas ao longo do tempo sempre houve excelentes profissionais, não foi só no ano passado que o Sporting fez subir muitos jogadores. Em 2016 houve 11 jogadores presentes na Seleção que ganhou o Europeu formados no Sporting, mesmo que nem sempre tenha aproveitado da melhor forma. Houve sempre uma excelente equipa e uma excelente infraestrutura, foi feita quase uma guerra com isso quando é normal que uma estrutura de 2002 tenha a sua manutenção em 2020, temos de ir além disso… O investimento que dizia era nas redes de scouting, já o mestre Aurélio Pereira dizia que o recrutamento acontece cada vez mais cedo, ao nível dos oito anos. A base da pirâmide tem de ser bastante alargada para depois afunilar mas aos oito anos há uma grande incerteza. Quanto mais nos aproximamos da base, mais investimento tem de ser feito. Nas redes, nos técnicos qualificados para a seleção. Depois demora dez anos a colher os frutos mas vão ser colhidos, mesmo que seja apenas dez anos depois.

Mostrou-se também crítico face ao que aconteceu no Dragão após o jogo do Campeonato e face ao que considera ser o silêncio do Sporting perante temas como a “Operação Cartão Vermelho” que envolve Luís Filipe Vieira. O que faria de diferente?
No Dragão não teria ido àquela conferência, ali é para o treinador. Chamava os órgãos sociais e falava à parte, depois de Rúben Amorim. Depois, para ir dizer aquilo Frederico Varandas tinha de estar munido de propostas anteriores mas o que me parece é que o Sporting deixou de marcar presença naquilo que deve ser a transparência do futebol português. Assim é muito fácil, perante aquilo ver microfones e falar grosso. O que se pretende de um dirigismo responsável e por antecipação recordar o que foi proposto antes. Não me parece que o papel do Sporting tenha mudado, Frederico Varandas não marcou a agenda e não se conhece uma proposta para o futebol português. Recordo que antes Frederico Varandas era o diretor clínico e chegou a dizer que sabia o que tinha acontecido no Campeonato de 2015/16, deixando nas entrelinhas que o Sporting teria sido campeão, e depois de ser eleito não disse nada. Está a passar tanta coisa à frente e não diz nada, fala é dos acontecimentos que se passaram há 15 anos. Já foi dentro do mandato que o Sporting não recorreu no processo e-toupeira, não houve uma palavra… Vê muito mal ao perto mas vê muito bem ao longe…

“No futuro consigo assumir que o presidente da SAD seja outro que não o do clube”

No plano mais financeiro, e ao contrário do que acontece por exemplo com Ricardo Oliveira, Nuno Sousa defende que numa primeira instância o clube deve tentar recuperar ao máximo capital social, via VMOC e não só (abrindo depois a possibilidade de vender capital mas com a sociedade desportiva estabilizada e com outras condições), ao mesmo tempo que aponta para um modelo de gestão mais próximo do que acontece em clubes como o Bayern e que o faz mesmo admitir que a liderança do clube pode ser diferente da SAD.

“Idealmente gostaria que o Sporting tivesse 100% do capital social, recomprando aquilo que são as participações minoritárias. Isto seria o mundo ideal até porque me parece que as SAD não vieram em nada beneficiar aquilo que nos foi vendido nos anos 90, na base do capitalismo popular, parecia quase que não precisávamos trabalhar. Batemos logo no muro da realidade logo em 2003. Isto era o ideal. Neste próximo mandato o essencial é recomprar os VMOC e solidificar a situação financeira. Não tenho nenhum parceiro e seria populista dizer que tinha porque ninguém faz isso sem saber as demonstrações financeiras até ao mais ínfimo balancete…”, começa por dizer na entrevista ao Observador.

“Não pode ser a SAD a comprar os VMOC, tem de ser o clube ou a SGPS, por questões fiscais. Neste momento quem deve é o clube à SAD, no mandado de Frederico Varandas passou a ser assim. Há risco de perder maioria, sim. No prospeto do último empréstimo obrigacionista diz lá que o Sporting está em incumprimento de 16,7 milhões de euros com aquilo que é a reestruturação financeira assinada em 2014. Podemos intuir do silêncio que o Sporting continua em incumprimento. Chegou o dia e não havia dinheiro em caixa. John Textor anda com uma mala de dinheiro a ver se consegue comprar alguma coisa, se tiver boas relações com o Millenium BCP e com o Novo Banco, chegar lá e disser que bate porque estão em incumprimento, pode fazer isso. Falo dele por ser um nome recente mas há investidores que fazem muito isso, compram em baixa e vendem em alta. Primeiro devemos recuperar os VMOC e ficar com quase 90%, idealmente chegar aos 100%, depois equilibrar o Sporting e noutros mandatos pensar se faz ou não sentido abrir capital”, defende a propósito dos passos que entende serem os melhores sobre esse tema.

“A sustentabilidade e o futuro do clube estão ligados à reestruturação do passivo e à (re)compra dos VMOC. O Relatório e Contas agora tornado público, referente ao primeiro semestre do exercício 2021/2022, veio dar a resposta que o atual presidente do Sporting não deu: a dívida a fornecedores que, em 2018, se cifrava nos 40 milhões, caminha, hoje, para os 90 milhões. É fundamental que os sportinguistas percebam o que nos espera ao longo de 2022, ano em que teremos que pagar: 35 milhões a agentes, 24 milhões a clubes e 50 milhões relativos a dois financiamentos que vencem em junho e em dezembro. Se a estes números juntarmos o exercer de opção por Pedro Porro e Rúben Vinagre, que, em conjunto, rondará os 18 milhões, e ainda os já comunicados 7,5 milhões referentes a Edwards, constatamos que o Sporting precisa de muito dinheiro para pagar o que deve”, acrescentou depois de serem conhecidos os resultados do primeiro semestre.

“Aquilo que é o Conselho Diretivo pode ir até 11 pessoas em termos de estatutos. Não faz sentido. A nossa escolha foi ficar só com sete, para não parecer quase uma lista de nomes que parece os convites para um casamento. Devemos aproximarmo-nos do modelo associativo: são pessoas responsáveis pela parte política mas existe depois uma estrutura mais profissional que executa o que emana de cima. O Conselho Diretivo deve ser sobretudo uma espécie de conselho de supervisão. No futuro consigo assumir que o presidente da SAD seja outro que não o do clube. O presidente continua a ser o eleito dos sócios e quem está presente no dia a dia é a comissão executiva”, salienta a propósito da gestão.

Nuno Sousa e Hélder Amaral com um adepto que passou pelo Hall VIP de Alvalade no dia da formalização das listas

Leonardo Negrão

Em paralelo, e admitindo que terá de haver “cortes na parte do investimento”, Nuno Sousa apresenta ainda algumas soluções para potenciar as receitas colocando em cima da mesa o tema da App Sporting e explica também o porquê do novo modelo de votos por sócio que defende após um estudo feito pela sua equipa.

“Se queremos mais aposta na formação, temos de lançar mais talentos na formação e não contratar jogadores. O que está na conta dos fornecedores são as contratações feitas e os pagamentos por pagar aos clubes e aos agentes. Isso não é o grave, ter quase 90 milhões para pagar. O grave é não ter quase nada para receber. A dívida líquida e o fundo de maneio estão negativos. O Sporting tem gerido assim a sua tesouraria. A isso é preciso juntar uma reestruturação financeira porque o Sporting tem sempre exercícios negativos à exceção de um período de Bruno de Carvalho e outro de Soares Franco mas que vendeu todo o património, vendeu os anéis e não havia mais nada sendo que a operação continuou desequilibrada. Houve património, depois envolveu-se os VMOC, a seguir vai ser mais o quê?”, realça, falando de outros pontos que fazem parte do programa que define como “o mais completo que algum dia foi apresentado”.

“Tenho no meu programa a importância da recompra do Alvaláxia porque aquela zona com habitação e escritórios, como está agora a ser finalmente feito, vai potenciar o espaço e o próprio centro comercial. E terá de ser sempre com um parceiro porque o Sporting agora não tem capacidade”, recorda. Nem os pormenores foram descurados e, ao longo de 100 páginas de programa, até os menus de todos os estabelecimentos que “respeitarão o mesmo modelo, produtos e serviços”. “Esta uniformização, além da venda de produtos da marca Sporting, teria introdução de menus transversais a todos os Núcleos 2.0 e ao Estádio-Pavilhão-Academia, com o mesmo preço a nível nacional”, acrescenta. É aí que entram o hambúrguer leonino, a salada verde, a bifana leonina, a quiche da selva, os wraps e os menus leonino, verde, Jubas e Jubas Saudável.

"Basta ver todos os benchmarks que estudámos e os ecossistemas para ter bilhética, loja online etc. é investir 4.5 dos seus resultados. No caso do Sporting, em 100 milhões seriam 4,5 milhões. Pode parecer caro mas é algo para ir fazendo aos poucos, com pouco podemos ter uma App funcional e depois ir crescendo. As receitas de merchandising começam a aparecer 50% via App, sendo que os outros 50% vêm da loja física. O breakeven chegará rapidamente."

“Fomos nós que começámos a trazer a questão da App para cima da mesa porque estava nas promessas de Frederico Varandas em 2018, e bem. Em 2020 fez um papel que chamava Estratégia para o Futuro onde reafirmava isso mesmo e a App era um ponto importante, em janeiro foi a um canal privado dizer que afinal fazer uma App é caro mas no final de janeiro já tinha mudado de opinião outra vez inscrevendo isso no programa. Para nós sempre foi super importante. Basta ver todos os benchmarks que estudámos e os ecossistemas para ter bilhética, loja online etc. é investir 4.5 dos seus resultados. No caso do Sporting, em 100 milhões seriam 4,5 milhões. Pode parecer caro mas é algo para ir fazendo aos poucos, com pouco podemos ter uma App funcional e depois ir crescendo. As receitas de merchandising começam a aparecer 50% via App, sendo que os outros 50% vêm da loja física. O breakeven chegará rapidamente. Depois, há a questão da publicidade de uma App. O Sporting tem 2,5 milhões de seguidores no Facebook, que dão zero euros ao Sporting. Temos de trazer estas pessoas para a App para as conhecermos. Com centenas de milhares de pessoas que sabemos quem são, é mais fácil para a publicidade, que lá fora representa 40%”, diz.

“Em relação às alterações no número de votos por sócios, todos beneficiam, não são apenas aqueles que têm apenas quatro anos de sócio. Se queremos ir buscar mais sócios, esta é uma das medidas para isso. Os 11% dos sócios mais antigos, onde já me incluo, tem 30% do colégio eleitoral. Já os 60% dos sócios mais recentes têm os mesmos 30%. É uma diferença grande. Não queremos passar para a paridade de um sócio, um voto. Se calhar daqui a dez anos pode parecer uma coisa natural, a sociedade evolui. Na construção deste programa, havia quem defendesse outras coisas como um sócio, um voto pela democracia plena e quem achasse que isto era um clube. Com isso desenhámos algo que caminha mais para a equidade. A questão é que não é só antiguidade, é antiguidade e dinheiro pelas categorias de sócio. O que propomos é uma simplificação, haver só uma régua comum para evitar situações de duplas penalizações”, concluiu.

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