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Edgard Fortes assumiu o cargo de diretor interino a 5 de janeiro porque o diretor escolhido pela Escola Superior de Dança não pode tomar posse
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Edgard Fortes assumiu o cargo de diretor interino a 5 de janeiro porque o diretor escolhido pela Escola Superior de Dança não pode tomar posse

IPL

Edgard Fortes assumiu o cargo de diretor interino a 5 de janeiro porque o diretor escolhido pela Escola Superior de Dança não pode tomar posse

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Acusado de “machismo” e “assédio moral”, diretor da Escola Superior de Dança fala em “perfeito absurdo”

Alunos, funcionária e professor apontam atitudes e comentários impróprios a Edgard Fortes, que diz que sempre sentiu ostracismo "por não ser homossexual". Presidente do Politécnico não comenta.

Dizia nas aulas que as mulheres têm menos capacidades do que os homens, observava uma aluna a ponto de a fazer sentir-se desconfortável, desvalorizava opiniões de um aluno homossexual e nos últimos meses enviou e-mails a funcionárias e professoras a chamar-lhes incompetentes e mesquinhas. As acusações recaem sobre Edgard Fortes, um professor da Escola Superior de Dança que tomou posse como diretor interino a 5 de janeiro e dá aulas na instituição há mais de três décadas. Foi alvo, nas últimas semanas, de queixas formais por parte de docentes e não-docentes, duas delas por eventual assédio moral em contexto laboral.

“Tal não corresponde de todo à minha postura, que, admito, nem sempre usará as palavras mais politicamente corretas”, justifica Edgard Fortes ao Observador. “Não obstante, respeito absolutamente as pessoas, independentemente do género e das opções que a cada um dizem respeito. Não serei um professor consensual, admito, e nem busco sê-lo, mas sou, como sempre fui, uma pessoa respeitadora e sensível às diferenças, que na verdade nos individualizam e caracterizam como seres humanos”, acrescenta.

Três ex-alunos, uma funcionária e um professor têm versões totalmente opostas e contaram-nas ao Observador. Relatam “comentários machistas” e comportamentos considerados discriminatórios. João Carvalho, atual vice-presidente da associação de estudantes e ex-aluno de Edgard Fortes, diz que durante as aulas o visado “tentava diminuir as capacidades intelectuais das alunas e dava a entender que as mulheres presentes nas aulas não tinham as mesmas capacidades que os homens”. Numa ocasião, quando assistia a uma aula daquele professor, João Carvalho garante que o ouviu dizer “uma frase deste género: ‘Na dança, as mulheres só servem para serem bonitas no palco’”.

O professor considera tratar-se de “um perfeito absurdo”. “Se disse qualquer coisa sucedânea a isso, está completamente fora do contexto. Isso é de tal forma aberrante que não me imagino sequer a dizer isso”, reage Edgard Fortes.

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“A maneira de ele olhar fazia-me sentir desconfortável na aula, sentia-me apreciada, tanto que nem ia vestida normalmente para as aulas dele, mas sim com roupas largas para não ser observada.”

Uma aluna que não quer revelar o nome e que também há dois anos tinha aulas com o docente, afirma que se sentia “desconfortável” porque Edgard Fortes tinha “uma atitude machista perante as alunas, a atitude de quem manda são homens, e as mulheres têm um papel inferior”. Acrescenta, referindo-se ao ano letivo de 2018-2019: “A maneira de ele olhar fazia-me sentir desconfortável na aula, sentia-me apreciada, tanto que nem ia vestida normalmente para as aulas dele, mas sim com roupas largas para não ser observada.” Questionado sobre se reconhece este relato como verdadeiro, Edgard Fortes diz: “É o que ela sente, é o que está na cabeça dela. Não reconheço nada disso, é um perfeito absurdo.”

Um terceiro ex-aluno que também pede anonimato conta que “o professor Edgard desvalorizava a participação de alunos que considerava homossexuais”. “Inclusivamente fez isso comigo. Não valorizava a minha participação nas aulas por entender que eu era homossexual, era claramente esse o motivo”. Perante esta terceira alegação, o professor sustenta: “Se está na cabeça da pessoa pensar isso, não vou dizer à pessoa que não. Não tenho nada a ver com isso. As pessoas que não têm boas notas reclamam e até podem arranjar falsos pretextos para isto ou para aquilo.”

Samuel Rego (à esq.) pertenceu ao conselho de administração do Opart

DR

Impasse: diretor eleito não pode tomar posse porque o Governo não sabe que salário pagar

As acusações surgem num momento em que a Escola Superior de Dança (ESD) está num impasse de poder. A instituição é parte integrante do Instituto Politécnico de Lisboa (IPL) e tem um diretor eleito que não pode tomar posse por presumíveis motivos administrativos. Samuel Rego — antigo diretor-geral das artes e ex-vogal da administração do Opart, empresa pública que gere Teatro Nacional de São Carlos e da Companhia Nacional de Bailado — foi eleito por unanimidade por professores, funcionários e estudantes a 15 de julho do ano passado. Mas o resultado das eleições ainda não foi validado pelo presidente do IPL.

Sendo a primeira pessoa externa à administração pública a candidatar-se a um cargo como este (situação prevista no Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior), Samuel Rego não tem enquadramento legal em termos de vínculo e salário. Aguarda há quase nove meses uma portaria do Governo. O problema é reconhecido pelo Ministério do Ensino Superior, que já disse estar a trabalhar numa solução.

Edgard Fortes, de 64 anos, tem mestrado em Educação pela Arte, pela Universidade Moderna, e dá aulas de Anatomofisiologia e Cinesiologia, entre outras disciplinas. Sugere que as queixas estão a aparecer agora por ter ocupado o lugar destinado a Samuel Rego. Chegou a diretor interino depois da renúncia em abril do ano passado da anterior diretora, Vanda Nascimento. As regras internas da escola apontam para que, na ausência de diretor, suba ao cargo o professor mais antigo e de categoria profissional mais elevada. Quem primeiramente reunia essas condições era Maria José Fazenda, que recusou. Sem outra indicação do órgão máximo da ESD (o conselho de representantes), o presidente do IPL convidou um dos professores mais antigos, Edgard Fortes, e este aceitou.

No dia da tomada de posse Edgard Fortes criou polémica e afirmou perante os professores que assistiram ao ato: “Bem sei que não sou um professor consensual, porque não sou de dança, não dou aulas práticas e não sou homossexual.”

“Há um conjunto de pessoas que não gosta de mim dentro da escola, não tenho a unanimidade, nem pouco mais ou menos. Mas como é que estou há 30 e tal anos na ESD e nunca houve polémicas, e de repente, desde que tomei posse, começaram as coisas? Não será anormal, em termos estatísticos?”, questiona o diretor interino.

Em rigor, não é a primeira vez que o docente se envolve em polémicas. O próprio admite que há cerca de uma década teve “alguns problemas com alguns estudantes” por querer adotar novos métodos de ensino no quadro da reforma académica conhecida como Processo de Bolonha. Esses problemas diziam respeito a queixas de natureza pedagógica e, ao que apurou o Observador, levaram a que, à época, as sebentas e programas do professor fossem analisados por professores externos, da Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa, que não terão encontrado motivos de preocupação.

Mas recentemente, no dia da tomada de posse, a 5 de janeiro, foi Edgard Fortes quem decidiu criar uma polémica. Afirmou perante os professores que assistiram ao ato, e na presença do presidente do IPL: “Bem sei que não sou um professor consensual, porque não sou da dança, não dou aulas práticas e não sou homossexual.”

Comentário homofóbico? “Admito que foi uma piada de mau gosto face aos cânones atuais”, responde o diretor interino ao Observador. No entanto, mantém a mesma ideia: “Sou uma pessoa completamente fora do meio, que sempre se sentiu ostracizada na ESD por ser fora do meio, por não ser homossexual, não ser bailarino, não ser da dança e não dar aulas práticas. Ainda assim, tenho muitos antigos alunos que demonstram estima por mim como professor e que, sem terem nada como contrapartida, me mandaram palavras de apreço pelo Facebook quando tomei posse”. O docente mostrou ao Observador várias dessas mensagens privadas.

Questionado sobre que ligação faz entre dança e homossexualidade, afirma: “Não tenho dados científicos para responder, mas é voz corrente que, de facto, a percentagem é grande, dentro da escola a percentagem é grande. Tenho noção de que, por não pertencer à tribo, sou mal-aceite pela tribo. Estou a falar de tribo em termos sociológicos, obviamente”. Isso é dizer que os homossexuais se protegem uns aos outros e excluem quem não é como eles, pergunta o Observador. “Obviamente. Não tenho a menor dúvida. São como as maçonarias, as opus dei, como as tribos. Até na forma de vestir. Pode não ser politicamente correto dizer isto, mas não é mentira.”

Confrontado com a existência desde 2019 no IPL de um Código de Boa Conduta para a Prevenção e Combate ao Assédio no Trabalho — onde se lê que as pessoas abrangidas “devem promover a existência de relações cordiais e saudáveis”, “fomentar o respeito pelo próximo” e “agir com cortesia, bom senso e autodomínio” — o diretor interino garante: “Nunca prejudiquei ninguém pela sua orientação sexual, de forma alguma.”

Ao Observador exibiu documentos com resultados estatísticos de inquéritos do ano letivo 2019-2020, onde os estudantes o avaliaram de maneira positiva numa escala de 0 a 5. Na componente “relação do docente com os seus alunos”, a média das respostas dos alunos do primeiro ano correspondeu a 4,6 pontos. As acusações de alunos recolhidas pelo Observador dizem respeito ao ano letivo 2018-2019.

Alunos durante uma aula de dança na Escola Superior de Dança. Alunos e professores da Escola Superior de Dança, em Lisboa, procuram nesta expressão artística uma reflexão sobre a realidade que forneça as chaves para a compreender, 28 abril 2011. (ACOMPANHA TEXTO) ANDRE KOSTERS/LUSA

Edgard Fortes é “alguém que não percebe nada do funcionamento da ESD e está constantemente a ser confrontado com trapalhadas, incompetência e inoperância enquanto docente”, diz um professor da escola

Andre Kosters/LUSA

“Sei cumprir ordens mesmo quando me chegam de pessoas que me são hierarquicamente inferiores”

Neste momento há mais do que apenas relatos de alunos. Há também participações contra Edgard Fortes por parte de duas antigas funcionárias. Uma das queixosas é Marta Tavares, até há pouco tempo técnica superior na ESD. Queixou-se diretamente a Edgard Fortes, à presidência do IPL, à Inspeção-Geral da Educação (que depende do Ministério do Ensino Superior) e pediu a intervenção do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e Regiões Autónomas. O caso não está fechado.

Marta Tavares alega “assédio moral” e apresenta como provas vários e-mails que recebeu do diretor interino onde surge uma linguagem que ela descreve como “intimidatória” e “ameaçadora”. Ao Observador diz que os desentendimentos com o diretor interino quanto a procedimentos de trabalho levaram a que este se dirigisse por escrito aos serviços a que ela pertencia com expressões como “posso resolver as incompetências de quem deveria ser competente” ou “sei cumprir ordens mesmo quando me chegam de pessoas que me são hierarquicamente inferiores”.

Perante uma mensagem daquela mesma funcionária da ESD, que em 28 de janeiro de 2021 contestou por escrito, junto de Edgard Fortes, a “falta de respeito”, a “humilhação” e o “tom ameaçador e desestabilizador” deste, o visado respondeu-lhe por escrito com a fórmula “senhora dona técnica superiora” e disse que ela e outra funcionária “não são pagas para estarem constantemente a escrever” e-mails. “As suas ‘gentis’ palavras, das quais tomei boa nota, serão objeto de posterior análise, quando tiver tempo disponível e com os meios que eu entender”, escreveu Edgard Fortes, de acordo com e-mails a que o Observador teve acesso.

Perante estes factos, o diretor interino reage agora com a alegação de que a funcionária tinha um “pouco colaborante e ineficiente desempenho, referido pelas comissões científicas dos cursos e por docentes” e defende-se dizendo que a opinião de outras funcionárias abona a seu favor. Sustenta ainda que chegou a pensar “reunir material para fazer um processo disciplinar” contra a funcionária queixosa, mas “todos” o “aconselharam a não perder tempo”. Mas não analisa as palavras que ele próprio então escreveu.

O ambiente na ESD parece explosivo. Também esta semana, um professor da escola falou com o Observador sob anonimato para relatar tensões entre Edgard Fortes e vários docentes. Aponta uma suposta falta de urbanidade do diretor interino e “um comportamento abusivo e completamente machista, que procura diminuir os outros, muitas vezes através de piadas e ironias”. Edgard Fortes é “alguém que não percebe nada do funcionamento da ESD e está constantemente a ser confrontado com trapalhadas, incompetência e inoperância enquanto docente”, diz o professor, pelo que “usou a oportunidade de chegar à direção para se vingar”. “Chegou a dizer por escrito a uma colega que enquanto diretor interino ia limpar as nódoas da escola, ou seja, assumiu o cargo para agir com ressentimento”, interpreta.

Presidente do Instituto Politécnico de Lisboa, Elmano Margato, foi questionado pelo Observador por várias vezes. Respondeu sempre que se trata de um “assunto interno”. Perante a recusa, o Observador obteve respostas junto da Inspeção-Geral da Educação e Ciência.

Acrescenta este professor que recentemente Edgard Fortes “enviou um e-mail a 19 professores a acusar uma colega de ser mesquinha e de andar a destruir vidas profissionais dentro da escola”. O e-mail terá surgido no contexto de uma desavença sobre quem teria competência para inserir dados na plataforma Moodle (a partir da qual os alunos têm acesso ao ensino à distância). “Nesse mesmo e-mail, ele diz que está habituado a que as suas palavras sejam desvirtuadas e postas fora do contexto e lamenta perder tempo com problemas, porque poderia usar esse tempo para o seu próprio descanso. Está sempre a apoucar os outros para fugir às responsabilidades”, argumenta o docente.

O presidente do Instituto Politécnico de Lisboa, Elmano Margato, foi questionado pelo Observador por várias vezes nos últimos dias acerca das diligências que tomou perante as queixas formais que lhe chegaram. Respondeu sempre que se trata de um “assunto interno” e não quis comentar.

Perante a recusa, o Observador perguntou à Inspeção-Geral da Educação e Ciência se tinha registo de participações que visassem o diretor interino da ESD e obteve a confirmação: “No passado mês de fevereiro, duas trabalhadoras da Escola Superior de Dança do Instituto Politécnico de Lisboa remeteram duas participações de eventual assédio moral em contexto laboral.” Uma dessas participações é precisamente de Marta Tavares, que falou com o Observador.

A Inspeção-Geral acrescentou ter remetido as participações a Elmano Margato, porque assim determina a lei, e solicitado “informação sobre as decisões tomadas”, sugerindo que o presidente não agiu até agora.

Até ao momento da publicação desta notícia, o diretor interino, Edgard Fortes, mantinha a versão: “Não tenho qualquer tipo de informação por parte do Instituto Politécnico de Lisboa no sentido de eu ter qualquer queixa de estudantes, funcionários ou colegas”. Diz ainda que deu conhecimento por escrito ao presidente do IPL das alegações que lhe foram apresentadas pelo Observador. Mesmo assim, tanto Edgard Fortes como Elmano Margato continuam supostamente sem comunicar um com o outro acerca do assunto.

O professor que falou com o Observador sem revelar a identidade diz ter a convicção de que “as queixas estão a ser abafadas pelo presidente do IPL”. Questionado sobre o porquê disso, não encontrou uma resposta categórica. “Há uma cobertura por parte do presidente do IPL. Ele não é amigo próximo do diretor interino, mas acha-lhe alguma graça, têm um estilo parecido. Eventualmente, o presidente entende que nunca deveria ter havido uma candidatura externa para a direção da ESD e por isso não quer fazer nada que possa afastar o diretor interino.” Confrontado com esta opinião, Elamano Margato é lacónico: “Trata-se de um assunto interno da Escola Superior de Dança e encontra-se a ser tratado internamente.”

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