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António Zambujo no Teatro Aveirense, no último sábado. Foi o primeiro concerto na sala municipal de Aveiro desde o confinamento provocado pela pandemia
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António Zambujo no Teatro Aveirense, no último sábado. Foi o primeiro concerto na sala municipal de Aveiro desde o confinamento provocado pela pandemia

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

António Zambujo no Teatro Aveirense, no último sábado. Foi o primeiro concerto na sala municipal de Aveiro desde o confinamento provocado pela pandemia

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

António Zambujo no palco, técnicos de máscara e alguma ansiedade: nos bastidores da reabertura do Teatro Aveirense

Os teatros municipais vão sustentar as digressões de artistas. Fomos ao Teatro Aveirense no dia de recomeço e vimos o que muda: do palco aos bastidores, dos camarins ao soundcheck e à plateia.

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O cenário era muito diferente de um soundcheck pré-pandemia — e de um soundcheck de António Zambujo antes da pandemia. Em vez de estar acompanhado por banda, estava sozinho, não só por causa do “novo normal” mas também. E pelo palco e corredores, enquanto o cantor ensaiava de guitarra acústica nos braços e microfone à frente, circulavam poucas pessoas, uma meia dúzia de técnicos ao todo. Todos a aproximarem-se do músico apenas quando necessário e todos de máscaras na cara à exceção de Zambujo, que tinha a sua pousada pelo pescoço, pronta para ser colocada mal se levantasse e o ensaio de som terminasse.

Na tarde do último sábado, por volta das 18h, era isto o que se via no interior do Teatro Aveirense, encerrado ao público há quase três meses devido à pandemia do novo coronavírus e que três horas depois voltaria a abrir portas para receber espectadores e um concerto. Uma rotina que se repetiria no dia seguinte, já que o concerto de Zambujo no sábado esgotou em pouco mais de 48 horas e levou à marcação de nova data de atuação para o dia seguinte, domingo.

A alguns metros do cantor que estava no centro do palco, um pequeno grupo de técnicos, de máscara colocada na cara, ia esvaziando o dispensador de álcool gel, à vez e bocadinho a bocadinho, desinfetando-se regularmente. A mais curta distância de António Zambujo estavam apenas três pessoas, a verem detalhes da amplificação e da qualidade de som e a garantir que tudo estava preparado para o concerto.

O teatro municipal de Aveiro pede aos artistas que não viajem com comitivas grandes. Só circulam nos bastidores do teatro as pessoas estritamente necessárias.

As regras são agora mais restritivas. O teatro municipal de Aveiro, um dos primeiros a anunciar que reabriria bilheteira a 1 de junho e que trabalhava já na programação para as semanas seguintes — só até ao fim da próxima semana estão agendadas duas sessões de cinema e um concerto de Filipe Sambado — pede aos artistas que não viajem com comitivas grandes nesta época que é já de desconfinamento mas é ainda de cautelas. É uma questão de bom senso: nesta fase de retoma dos espectáculos, não só a lotação de espectadores é reduzida como só circulam nos bastidores do teatro as pessoas estritamente necessárias.

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O músico atuou desta vez a solo e admite que tal possa acontecer mais vezes por motivos práticos: com as restrições, as salas de espectáculos vendem menos bilhetes

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Para este primeiro concerto nem foi preciso grande sensibilização ao artista, que confirma que foi ainda assim pedido que perto do palco só estivessem “operacionais” antes, durante e depois do concerto. “A minha estrutura é muito prática”, garante António Zambujo ao Observador, detalhando: “Não tem pessoas a mais nem a menos. Vai o técnico de som, técnico de luz e tour manager”.

O facto do concerto de António Zambujo no Teatro Aveirense ser a solo foi “uma opção de programação” e um modelo de concerto diferente, explicava ao Observador fonte do dispositivo cultural. Mas a programação “vai ter de se adaptar” e não haverá espectáculos “com muita gente em palco e nos bastidores”. Já António Zambujo dava mais alguns pormenores: vai gravar um álbum novo a solo sucessor de Do Avesso, só guitarra e voz, e depois de editar o disco fará concertos sozinho, pelo que em Aveiro pôde já “experimentar” o formato. Mas até lá a ideia vai ser atuar com banda, só que nem sempre será possível: “Pontualmente podem surgir concertos a solo, por causa das condições financeiras dos espaços, [resultantes] das limitações que as salas têm”.

Plateia, desinfetada antes e desinfetada depois, é terreno proibido no soundcheck

O regresso dos concertos no Teatro Aveirense, que curiosamente aconteceu no mesmo dia em que o Teatro José Lúcio da Silva em Leiria também voltou a receber um espectáculo (de Sean Riley), acontece numa altura em que os teatros municipais ganham ainda mais peso na programação cultural e musical do país. Se já eram, para muitos artistas e bandas, um importante ganha-pão e o modo de contornar a dificuldade de realizar espectáculos ao ar livre no inverno, tornam-se agora um circuito ao vivo ainda mais fulcral. O adiamento de festivais de verão e a dificuldade de promotores privados em programarem concertos com as medidas de contenção definidas pela DGS — menos lotação implica menos receita em venda de bilhetes — para isso contribuem.

Assim que o ensaio de som terminou, António Zambujo colocou a máscara para se levantar e circular no teatro, como a imagem atesta

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No teatro municipal de Aveiro, onde o Observador esteve no último sábado a acompanhar os preparativos para o regresso dos concertos no país, há uma regra de ouro no novo normal: tudo aquilo em que os técnicos tocarem deve ser desinfetado logo de seguida. Um técnico de luz, por exemplo, deve desinfetar os sítios onde tocou mal termine o trabalho de preparação da iluminação. Na mesa de som ou nos microfones, os cuidados têm de ser os mesmos e com a mesma periodicidade: constantes. E só o artista se escapa de usar a máscara e apenas enquanto está em palco.

À chegada, Zambujo e a sua equipa foram recebidos com boas-vindas diferentes das comuns até à Covid-19: foi medida a temperatura de todos, houve um pedido para que desinfetassem as mãos à entrada e foi-lhes lembrado que tinham de usar máscara sempre que se deslocassem no interior.

O teatro é desinfetado exaustivamente antes e depois de cada espectáculo — e durante as limpezas nenhum funcionário pode estar no interior. E em tudo o que antecede o espectáculo há mais cuidados redobrados.

À chegada, por exemplo, Zambujo e a sua pequena comitiva foram recebidos pela equipa de produção com boas-vindas diferentes das comuns até à Covid-19: foi medida a temperatura de todos, houve um pedido para que desinfetassem as mãos à entrada e foi-lhes lembrado que tinham de usar máscara sempre que se deslocassem no interior. “Só a tirei quando estava no meu camarim ou quando entrei no palco, mesmo até chegar à boca de cena fui de máscara”, conta Zambujo, acrescentando: “Mal me levantava da cadeira para me deslocar tinha o impulso de colocar a máscara no rosto. É algo mecânico, mas é importante que todos cumpram para não darmos passos atrás”.

Por cada cadeira possível de ocupar há um lugar que tem de estar vazio, para respeitar o distanciamento. Os assistentes de sala usam máscara e viseira e comunicam entre si via rádio

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Já no soundcheck, o músico e cantor notou diferenças. Não só a equipa que o rodeava, pequena, nunca retirava a máscara, como os técnicos tinham um caminho único para circular entre a régie (onde é possível perceber a iluminação e qualidade do som) e o palco. Ninguém podia andar na plateia, que tinha sido desinfetada para o espectáculo e que tinha de continuar desinfetada até à entrada do público.

Seguia-se a hora de jantar e um intervalo que António Zambujo e comitiva aproveitavam para ir jantar — num restaurante ali próximo mas com os cuidados já obrigatórios, como usar máscara até se estar sentado para a refeição. “E se tínhamos de ir à casa de banho tirávamos logo a máscara e colocávamos, para nos deslocarmos”. No interior do Teatro Aveirense ficava a equipa que garantiria que as entradas seriam ordeiras e que não haveriam “entupimentos” na procura de lugar.

"Bastou entrar no palco e sentir o aplauso do público para acender a chama cá dentro. É muito tempo, é a minha vida, é aquilo que mais gosto de fazer, aquilo que quero fazer e é muito angustiante não o poder fazer, não poder partilhar aquilo que faço com as outras pessoas."
António Zambujo

O novo normal também se reflete nas estadias dos artistas: “No hotel pediram para fazermos o check-in logo online e fomos diretos para o quarto. O pequeno-almoço também foi servido no quarto para evitar concentração de pessoas nas salas comuns, como a dos pequenos-almoços”, contou ainda António Zambujo. Sobre o regresso dos concertos, diria mais tarde: “Bastou entrar no palco e sentir o aplauso do público para acender a chama cá dentro. É muito tempo, é a minha vida, é aquilo que mais gosto de fazer, aquilo que quero fazer e é muito angustiante não o poder fazer, não poder partilhar aquilo que faço com as outras pessoas. Isto é o que me permite ter a vida que tenho e viver da forma que vivo. Sentir o calor do público, sentir a interação que existe entre artista e público, partilha de emoções, porque partilhar a nossa arte é partilhar a nossa vida com as pessoas… Sentir essa receptividade por parte do público é óptimo”.

“Vamos preparar-nos, às 21h temos de abrir”

Como outras salas que reabriram por todo o país, por recomendações — e seguindo recomendações específicas — das autoridades, o Teatro Aveirense elaborou um plano de contingência interno e todos, inclusivamente os artistas, têm de o respeitar. A lotação poderia ter sido reduzida para metade, mas foi-o ainda mais: de um pouco mais de 600 lugares (603 segundo fonte de comunicação do teatro) passaram a estar disponíveis apenas 250.

No interior da sala era isso que se percebia, enquanto nos avisavam para não nos encostarmos a lado nenhum e enquanto a frente de sala, Mafalda, ia explicando aos dez assistentes que trabalhariam nessa noite como se iria gerir a entrada e circulação de pessoas no interior do teatro. “Este briefing existe sempre, mas agora foi reforçado com uma introdução para relembrar os procedimentos. Há um início em que se recorda o que prevê plano de contingência e uma segunda parte mais prática e com distribuição de algum material”, explicavam-nos. Foi à segunda que assistimos.

O briefing aos assistentes de sala (à esquerda) preparou-os para a reabertura de portas e para a entrada de espectadores (à direita)

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Na plateia, por cada fila que teria público seguia-se uma outra onde não era possível ninguém estar sentado. “Funciona de forma simples: fila A ocupada, fila B desocupada”, explicava às assistentes a frente de sala. Nas filas que teriam público era obrigatório uma cadeira de distância entre espectadores. A ideia era que fossem ocupados “lugar sim, lugar não”, mas era possível retirar o velcro com a indicação de lugar proibido e movê-lo de sítio. Isto porque era permitido haver duas, três, quatro ou até mais pessoas sentadas lado a lado, sem cadeiras de intervalo, caso se tratassem de coabitantes. Por exemplo: se numa cadeira estivesse alguém que tivesse a duas cadeiras de distância um coabitante, poderiam juntar-se, assegurando ao lado já dois — e não um — assentos de intervalo para a pessoa seguinte.

O relógio começava a aproximar-se das 21h, hora de abertura de portas ao público, e era preciso acelerar. "Vamos concentrar-nos e preparar-nos, às 21h temos de abrir", dizia a frente de sala aos assistentes de sala. Era altura de distribuição de material: um frasquinho de desinfetante para cada, auriculares e rádios para poderem estar sempre em contacto e viseiras para juntar às máscaras.

O relógio começava a aproximar-se das 21h, hora de abertura de portas ao público, e era preciso acelerar. “Vamos concentrar-nos e preparar-nos, às 21h temos de abrir”, dizia a frente de sala aos assistentes de sala. Era altura de distribuição de material: um frasquinho de desinfetante para cada, auriculares e rádios para poderem estar sempre em contacto e viseiras para juntar às máscaras. A dada altura a frente de sala retirou uma caixa e explicou: “Se alguém precisar, se alguma pessoa do público chegar e disser que precisa, estão aqui máscaras. Dissemos que íamos oferecer a quem não tivesse e estão aqui”. E luvas, “quem quer?” Bom, “levem pelo sim pelo não, depois podem querer”.

A colocação da viseira exigia mais engenho do que a máscaras, de uma das assistentes ouvimos as dificuldades habituais de alguém estreante — “como é que isto se põe, é tipo bandolete?” —, mas nada que não ficasse resolvido com rapidez. “Vamos preparar-nos, são 21h e temos de abrir a porta”, dizia  Mafalda, deixando as últimas indicações: “Maria, fica nessa porta onde estás. Marisa, ficas na porta 5. Sofia, ficas na porta 6. Leonor, porta 3. Maria Galã, porta 4. Não se esqueçam: têm de encaminhar as pessoas, mas devem manter alguma distância física”. Estava quase, quase, se calhar só não se roíam as unhas por causa das máscaras, mas deixavam-se ainda algumas ordens: “Quero o João Neto na porta 10 e quero o Diogo lá fora a fazer acesso e filtragem, de quem é para este lado e de quem é para o lado da bilheteira”.

Ao cimo, entrada de espectadores (à esquerda) e preparação de funcionários (à direita) antes da abertura de portas. Em baixo, o briefing que antecedeu a abertura e a entrada de espectadores

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Abriam-se finalmente as portas: primeiro as duas interiores — que permitem um posto de controlo de encaminhamento de espectadores —, depois as exteriores, com um funcionário a validar os bilhetes. Ouviam-se agradecimentos aos espectadores que já esperavam para entrar, “obrigado por terem aguardado”, mas eis um compasso de espera, porque entrava um (ou um grupo) de cada vez e ia-se formando uma fila no exterior. Um elemento do teatro confessava: “Estávamos ansiosos”.

Quem chegasse perto do Teatro era isto que via: uma porta central, ao meio, aberta, mas sem que ninguém circulasse, apenas para saída de pessoas — no chão liam-se aliás as inscrições “saída – exit”. À esquerda e direita estavam duas portas laterais abertas, com inscrições “entradas – entry”: o corredor da esquerda, pouco concorrido, para quem quisesse ir à bilheteira, o corredor da direita mais movimentado e para quem quisesse entrar. Os bilhetes eram vistos e confirmados e era recomendado a quem entrava que desinfetasse as mãos, usando um dispensador de álcool em gel colocado mesmo à entrada no teatro — “higienização aqui à direita, se quiserem”. Lá dentro, a ideia era ter em todo o circuito pessoas a encaminhar os espectadores.

“Disseram-me que estava esgotado, afinal estão 3 ou 4 gatos pingados…”

O silêncio, nos bastidores, era sepulcral, enquanto na sala se ouvia já uma voz no altifalante a pedir para o público “manter telemóveis e outros dispositivos eletrónicos desligados”, a ordenar  que “para segurança de todos, mantenha a sua máscara respeitando o seu lugar” e a solicitar que no final “aguarde indicações dos assistentes de sala para que a saída aconteça de forma ordenada”.

De pé, atrás das cortinas, imóvel, António Zambujo aguardava o momento de um regresso àquilo que nos diz ser “a sua vida”, que esteve suspensa três meses. Bastou dar os primeiros passos, entrar e aparecer no campo de visão das pessoas para se ouvir a primeira ovação pujante. O momento era simbólico, a demora no regresso deixou os espectadores com saudades e isso notou-se, como aliás se tinha notado a 1 de junho, no espectáculo Deixem o Pimba em Paz, em Lisboa, onde dois momentos tão simples quanto a entrada em palco e um cumprimento — “Boa noite”, proferido por Bruno Nogueira — tinham originado também salvas de palmas valentes.

"Não quero que ninguém me tire daqui. Não esperava que as salas abrissem tão rápido", confessou Zambujo, feliz pelo regresso

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O músico sentava-se, preparava a guitarra, cumprimentava o público com uma brincadeira motivada pelos muitos lugares vazios obrigatórios por lei: “Boa noite. Disseram-me que a sala estava esgotada, afinal estão três ou quatro gatos pingados…”.

Poderiam haver dúvidas sobre como seria um concerto de António Zambujo sem banda, mas rapidamente se desfizeram. O passado e o jeito fadista deram-lhe traquejo para ambientes íntimos, só voz e guitarra, e o começo fez-se ao som do velhinho “Apelo”, tema que gravou há uma década, resgatado ao disco Guia. E daí seguiu para o excelente “Do Avesso”, que deu ao título ao seu último álbum, guitarra tocada baixinho, com acordes aveludados, de alguém que “acordou no lado errado” e gosta de cantar o amor e desamor, com aquele tom meio brasileiro e de romântico incurável.

Nos concertos com banda a voz de Zambujo, capaz de cantar com sussurros e de se elevar, sempre no tom certo, lidera, mas ouve-se também como resposta a uma grande banda, que sabe tocar com ele mais do que para ele. Aqui tudo é diferente. É a voz o âmago de tudo, nada prende mais a atenção do que os trejeitos vocais, as ligeiras inflexões, as subidas e descidas de tom sempre certeiras. E é logo de seguida, em “Valsa de um Pavão Ciumento”, de Rua da Emenda (disco de 2014), que quem tivesse chapéu o deveria ter tirado pela primeira vez à voz do alentejano, de tão melhor ficou a canção — despida, a realçar inteiramente a voz — face à versão gravada.

Continuava-se em Rua da Emenda, seguia-se então para “Flintons,” a declaração confessada que só pode provocar sorrisos, “juro que hoje não pus o pé na argola”. E voltava-se mais atrás, para uma “Zorro” já com dez anos de vida mas que não se esqueceu, Zambujo assobiava, o público marcava compasso com palmas, cantava parte da letra com o músico já em silêncio.

Os coabitantes podem estar sentados lado a lado e por isso as clareiras com lugares vazios são maiores. "Disseram-me que estava esgotado, estão 3 ou 4 gatos pingados", brincou o cantor

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“Menina estás à janela”, porque não? E porque não “Para Que Quero Eu Olhos”, mais antiga ainda (2009), logo de seguida, naquele modo de quem há-de ter derretido corações com fartura a cantar “és tão linda” nos seus tempos boémios. Tempo para pausa e discurso, para coçar a barba, para nos confessar a todos: “Estou num estado assim… já passou da euforia, agora estou numa fase mais introspetiva em que me apetece ficar aqui neste palco até aguentar, 48 horas, o que for. Não quero que ninguém me tire daqui. Não esperava que as salas abrissem tão rápido, ainda bem que abriram e que podemos estar todos aqui a desfrutar”.

Daí em diante sucedeu um fenómeno engraçado, o dos discos pedidos. António Zambujo disse as palavras mágicas, “se quiserem pedir alguma coisa…”, as gentes sedentas de concertos e de conversa não o pouparam. O primeiro? “Chamateia”, gritava alguém. “Era essa que eu ia tocar agora”, respondia Zambujo. Verdade ou mentira lá tocou, já sem os coros da versão de estúdio (fica melhor assim, arriscamos nós).

Voltava-se aos clássicos antes do segundo disco pedido, “Rosinha dos Limões” primeiro, outra “mais ou menos da mesma época, vamos ver se vocês conhecem” a seguir (era “Moda das Tranças Pretas”), até que outro espectador tentou a sorte: “Retrato de Bolso” pediu uma voz já menos segura mas expectante. E Zambujo lá acedeu, cantando uma das melhores cantigas da sua já longa carreira, com uma elegância no arranjo e no tom de bela elegia que não se ouve por aí todos os dias, um retrato que se guarda num “bolso que é só teu”. Mais tarde faria a ponte com a pandemia: “Espero que as coisas continuem a melhorar. A ‘Retrato de Bolso’ é uma música que tinha feito com a Aldina quando o meu pai morreu e estava a cantá-la a lembrar-me das pessoas que perderam familiares e amigos com esta pandemia”.

Ainda se ouviu “Amapola” e a incontornável “Pica do 7” para ovação da noite — “isto é o que se chama ter muita pinta”, declarava alguém, alto e bom som, sentado na plateia; “muito obrigado” respondia o artista —, antes de Zambujo trocar a guitarra acústica pela elétrica para tocar “Canção de Brazzaville” e a cómica “Flagrante”. O fim ilusório foi ao som de “Lambreta”, mas houve palmas, pediu-se o regresso e houve mesmo encore, com “Foi Deus” e com “Fui Colher Uma Romã”. Estava feito: em Aveiro voltaram os concertos, suspirou-se com Zambujo, ensaiou-se o regresso dos teatros e cineteatros municipais que, um pouco por todo o país, este ano antecipam o inverno e hão-de alavancar o setor nos meses que aí vêm.

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