Índice

    Índice

Atrocidades e acontecimentos reais falsamente associados ao conflito Israel-Gaza

Gravação mostra jovens a fugir do festival de música atacado pelo Hamas?

Um dos focos da “Operação Tempestade Al-Aqsa”, lançada pelo Hamas a 7 de outubro, foi um festival de música trance perto do kibutz de Re’im, uma zona de deserto, em Israel. Os participantes que sobreviveram ao ataque relatam ter ouvido primeiro rockets, que para alguns se fundiram com a música que tocava. Depois, surgiram terroristas a disparar e seguiram-se momentos de aflição e terror para centenas de jovens — pelo menos 260 morreram e muitos foram capturados pelo grupo.

Vídeos do momento em que o festival é alvo do ataque, com dezenas de pessoas a correr, circulam nas redes sociais desde o primeiro dia do atual conflito, mas nem todos são verdadeiros. No TikTok, rede social onde vídeos curtos com escasso contexto invadem os algoritmos dos utilizadores, alega-se que uma gravação de 22 segundos mostra “pessoas a correr pelas suas vidas no festival de música de Israel”.

O vídeo até foi gravado em Israel, mas em Telavive e a 4 de outubro, antes da investida surpresa do Hamas. A multidão que se vê no vídeo corria para a entrada do palco onde Bruno Mars, cantor norte-americano, iria atuar nesse dia.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A Reuters verificou este vídeo e confirmou que foi gravado no HaYarkon Park. Através do Google Maps, é possível identificar um elemento visível nas imagens — um escorrega que faz parte um parque aquático próximo do local.

A Live Nation, organizadora do concerto do artista nacional garantiu à agência internacional que “não ocorreu qualquer incidente” no parque em que Bruno Mars atuou, a 4 de outubro. O artista tinha outro concerto agendado no mesmo local, na noite de 7 de outubro, que acabou cancelado por conta dos ataques do Hamas que já decorriam no país.

ERRADO

Vídeo mostra milhares de palestinianos a dormir ao relento na Faixa de Gaza? 

“Um cenário que só vais ver em Gaza.” A mensagem é dirigida aos utilizadores das redes sociais que se deparem com um vídeo que mostra uma multidão a perder de vista, com milhares de pessoas a dormir em sacos de cama. Numa publicação no Facebook alega-se que as pessoas a pernoitar ao relento são palestinianos e que, na última noite, “não tinham lugar para dormir”.

Ao fundo vê-se o nascer do sol, um rio e várias estruturas de palcos e focos de luz, elementos que já denunciam a descontextualização que está a ser feita das imagens. Na verdade, o momento foi registado há mais de dois meses, em Lisboa, no Parque Tejo, durante a Jornada Mundial da Juventude.

É possível localizar o vídeo original, partilhado no Instagram a 6 de agosto, com a seguinte descrição em espanhol: “Assim se passou a noite de um milhão e meio de jovens em Lisboa.” Também se conclui que o áudio original da gravação foi manipulado. Nas partilhas recentes, o vídeo surge com um som falso sobreposto — ouvem-se pessoas a falar árabe e música oriental. Na gravação original, quase só são audíveis os passos de quem está a captar o momento do evento religioso. Ou seja, trata-se de uma tentativa de dar credibilidade à narrativa de que este é o registo de uma noite na vida de palestinianos deslocados devido ao escalar do conflito.

Portugal não escapou à onda de desinformação relativa ao conflito entre Israel e a Palestina. Imagens captadas em território nacional foram falsamente associadas a palestinianos desalojados.

ERRADO

“As minhas irmãs morreram”. Vídeo mostra criança a chorar em Gaza depois de perder a família?

Mais de meio milhão de pessoas visualizaram no X, antigo Twitter, imagens que apelam ao sentimento — um menino a chorar e a lamentar a morte das irmãs. Na legenda da publicação, de 11 de outubro, alega-se, em tom de crítica, que a criança “não vê distinção entre um soldado israelita e um jornalista ocidental que faz propaganda”.

Mas o vídeo está a ser descontextualizado e não mostra uma criança palestiniana, mas sim síria. A CNN Árabe partilhou-o a 16 de fevereiro de 2014 e é a própria a admitir que não conseguiu verificar, na altura, a sua autenticidade, mas que era apresentado no YouTube como um relato dos efeitos do bombardeio em Alepo, no norte da Síria.

Mesmo sem uma confirmação taxativa da autenticidade da gravação, a certeza é que circula há nove anos, por isso nunca poderia mostrar uma criança em Gaza a reagir a um recente ataque israelita.

ERRADO

Imagens mostram jovem capturada no festival de música em Israel a ser queimada viva?

“Esta é a cara diabólica dos terroristas do Hamas enquanto torturam uma rapariga israelita no Festival em Re’im”, destaca-se num post que circula no X, antigo Twitter, desde 10 de outubro. As imagens são de uma violência extrema, em que uma rapariga é atirada ao chão e é-lhe ateado fogo.

Apesar das atrocidades que comprovadamente ocorreram no festival de música em Israel, esta não é uma delas. Esta gravação remonta a 2015 e foi captada na Guatemala, na América Central. Mostra uma jovem de 16 anos a ser espancada e queimada até à morte na aldeia de Rio Bravo e tornou-se viral nas redes sociais na altura. O caso foi noticiado em Portugal, com a TVI a citar o jornal local Tiempo, que garantia que a jovem era suspeita de ter matado a tiro um condutor de uma moto-táxi.

O ato foi levado a cabo por populares revoltados com o crime, que alegadamente tinha sido cometido pela mulher brutalmente atacada. Segundo a CNN, o caso ficou conhecido em todo o mundo e levantou um debate sobre justiça popular. Ou seja, não tem nada a ver com o conflito Israel-Hamas.

ERRADO

As falsas declarações de líderes mundiais sobre o conflito

Emir do Qatar ameaçou cortar o fornecimento mundial de gás natural se Israel não parasse de bombardear Gaza?

Nas redes sociais, alega-se que Tamim bin Hamad Al Thani, emir do Qatar, ameaçou “parar o fornecimento de gás ao mundo”. A condição para a não concretização do boicote seria o cessar, por parte de Israel, dos bombardeamentos em Gaza. Mas isto não é verdade.

Os utilizadores que sustentam esta teoria estão a partilhar um vídeo do governante do país do Golfo Pérsico, que fala em árabe, mas não refere o que está a ser citado nas redes sociais. Em 2017, o emir discursava no Fórum de Doha, quando estas imagens foram captadas.

O 17º encontro anual centrou-se no desenvolvimento, na estabilidade e nas questões dos refugiados, de acordo com uma reportagem da Al Jazeera. A Associated Press pediu uma tradução exata das palavras do governante. Ele afirma: “[Sobre] a questão da Palestina, começarei por dizer que se trata de um caso de um povo desenraizado das suas terras e deslocado da sua nação.” É conhecido publicamente o apoio financeiro do Qatar ao Hamas.

Para resolver qualquer dúvida em relação ao contexto e conteúdo das declarações do líder do Qatar, a agência contactou o governo do país, que situa o vídeo em 2017 e admite a atual descontxtualização. “Este é mais um caso de desinformação online contra o Qatar — tal declaração não foi proferida e nunca o será”, garantiu o gabinete de imprensa.

ERRADO

Joe Biden afirmou em discurso recente que nasceu em Israel?

No X, antigo Twitter, propaga-se que Joe Biden proferiu, enquanto discursava em Israel, a seguinte declaração: “O Estado de Israel nasceu para a segurança dos judeus do mundo, e eu também nasci lá”. A conclusão do autor da publicação é clara: “Joe Biden nasceu em Israel.” O vídeo com esta legenda já conta com mais de três milhões de visualizações na rede social recentemente adquirida por Elon Musk.

À primeira vista, o vídeo parece provar o que se defende, mas trata-se de uma interpretação errada do que Biden disse. A transcrição oficial do discurso publicada pela Casa Branca, ajuda a esclarecer potenciais dúvidas: “O Estado de Israel nasceu para ser um lugar seguro para os judeus no mundo”. E acrescentou: “Foi por isso que nasceu [Israel]”. E não “foi aqui que eu nasci”, trata-se de uma confusão criada a partir das palavras do presidente dos EUA.

Além disso, o registo público de Biden mostra que nasceu em Scranton, no estado norte-americano da Pensilvânia.

ERRADO

Ataques aéreos gravados em vídeo com alta resolução? Verifique se não é um videojogo

Vídeo gravado do ângulo atacante mostra ataque com rockets do Hamas a Israel?

“Última Hora – Militantes do Hamas iniciaram um novo ataque aéreo a Israel”, destaca-se na legenda de uma publicação no X, antigo Twitter, de 8 de outubro. Mais uma vez, basta uma pesquisa inversa da imagem para chegar à verdadeira origem das imagens. E não é a de um ataque real, mas sim de um videojogo.

O vídeo publicado em fevereiro de 2022 mostra um jogo de simulação de guerra em que é demonstrado um “sistema de artilharia de lançadores múltiplos de rockets“. Um representante do produtor do jogo, Bohemia Interactive, confirmou ao New York Times, que estas imagens foram recolhidas da apresentação do jogo.

Esta não é a primeira vez que cenas de videojogos são utilizadas para representar, de forma falsa, conflitos armados reais. Foram vários os casos de desinformação com base nestas simulações de guerra relativos à invasão da Ucrânia pela Rússia, por exemplo. Agora, no conflito Israel-Palestina, são já dezenas os vídeos apresentados como de rockets e bombas reais, mas não passam de clips de jogos que entretêm muitos.

ERRADO

Vídeo mostra combatentes do Hamas a abater helicóptero em Gaza?

A filmagem tem um ângulo privilegiado para um ataque que parte de um soldado, no solo, e que atinge vários helicópteros. No Instagram, garante-se que mostra membros do exército do Hamas a atingir helicópteros em Gaza.

Mais uma vez, trata-se de um ataque falso. As imagens fazem parte de uma simulação de vídeo e desde o início do ano estão publicadas no YouTube.

O vídeo, de fevereiro de 2023, é partilhado com o seguinte aviso: “Esta é apenas uma simulação militar. Não é a vida real”. Portanto, não restam dúvidas de que não estamos perante imagens reais do conflito no Médio Oriente.

ERRADO

Desinformação que funde duas guerras: Ucrânia-Rússia e Hamas-Israel

Há provas de que os militares do Hamas estão a utilizar armas fornecidas por Kiev?

Com dois conflitos militares em curso, existem tentativas de os correlacionar. Uma das narrativas a ser disseminada nas redes sociais é a de que a Ucrânia se coloca ao lado do grupo terrorista Hamas, fornecendo armas no atual conflito.

A mensagem está a ser disseminada por altos funcionários russos, mas não existem provas concretas que estabeleçam uma ligação entre o arsenal militar do Hamas e a Ucrânia.

“As armas entregues ao regime da Ucrânia estão a ser ativamente utilizadas em Israel”, afirmou Dmitry Medvedev, antigo Presidente russo e aliado de Vladimir Putin, na sua conta oficial do Telegram.

Para dar força à narrativa, começou a ser partilhado um vídeo a resumir uma reportagem falsa da BBC, que cita o Bellingcat, uma organização de jornalismo de investigação com sede nos Países Baixos, especializada em verificação de factos. Alega-se que os investigadores “encontraram evidência do tráfico de armas da Ucrânia para Gaza”.

“Estamos cientes de um vídeo falso da BBC que circula nas redes sociais, alegando falsamente que o Bellingcat verificou a entrega de armas ucranianas ao Hamas”, assinala o Bellingcat na sua página de X, antigo Twitter. Garante que não chegou a tais conclusões e sublinha que se trata de uma “falsificação e que deve ser tratada em conformidade”.

ERRADO

Putin anunciou publicamente apoio à Palestina?

Desde 10 de outubro que um vídeo do presidente russo Vladamir Putin começou a circular nas redes sociais. As legendas do vídeo traduzem e citam Putin, que fala em russo. Garante-se que o líder russo diz o seguinte: “Os EUA querem destruir Israel. Tal como destruímos a Ucrânia no passado. Estou a avisar os Estados Unidos. A Rússia vai ajudar a Palestina e a América não pode fazer nada”.

A mensagem alarmante foi disseminada no Facebook, X, Instagram e TikTok, com milhares de utilizadores a confiarem na tradução apresentada das palavras de Putin. Mas não é verdadeira.


Este vídeo foi gravado em 2022, facto comprovado através da pesquisa inversa destas imagens do presidente russo. Na ocasião, Putin referia-se ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia e não ao recente conflito no Médio Oriente. No canal de YouTube do USA Today, foi partilhado um excerto da declaração de Putin. Afirmou que o arsenal nuclear da Rússia é um “meio de proteção” e que a “ameaça [de guerra nuclear] está a aumentar” durante uma reunião com o Conselho dos Direitos Humanos.

Congratulou-se ainda pela anexação contestada de territórios ucranianos como uma vitória militar crucial, afirmando que transformou o “Mar de Azov num mar interior para a Rússia”.

O presidente russo criticou agora, a 11 de outubro, a decisão dos EUA de enviarem um porta-aviões para o Mediterrâneo para apoiar Israel na guerra contra o movimento islâmico Hamas, pedindo a Washington para não agravar a situação.

Putin pede aos EUA para não agravarem situação em Israel

“É claro que é uma tragédia e que há muitas queixas de ambos os lados. Mas, agora, o que devemos tentar é minimizar as perdas entre os idosos, mulheres e crianças”, argumentou Putin, acrescentando que esperava que “num futuro próximo a situação se acalme”. Putin, numa conversa com Netanyahu, já se ofereceu para mediar o conflito entre Israel e Hamas. E, de facto, nunca se referiu abertamente a um apoio à Palestina.

ERRADO