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Miguel Pereira / Global Imagens

Miguel Pereira / Global Imagens

Bruno de Carvalho: "Na única vez que falei com o Carrillo, cheguei a acordo em cinco minutos"

Esteve só uma vez com Carrillo sobre a renovação: concordaram, deram um aperto de mão e abraçaram-se. O presidente do Sporting diz que fez, pelo menos, oito propostas. A última em "meados de dezembro"

A bomba do mercado de transferências foi uma que só vai explodir no verão. Um peruano que não joga há cinco meses no Sporting vai, em julho, passar a jogar no Benfica. Até lá, o presidente que vai ficar sem ele “não acha viável” a hipótese de André Carrillo voltar a jogar pelos leões. Mas Bruno de Carvalho diz ao Observador que bem tentou que as coisas não chegassem ao ponto de o jogador não aparecer em campo desde 13 de setembro de 2015 e de o clube, entretanto, lhe ter aplicado um processo disciplinar. “Comecei a querer renovar quando o jogador era totalmente inconsistente e os adeptos estavam insatisfeitos com o rendimento dele. Mas tinha uma forte convicção que ia explodir”, garante, revelando que a primeira vez que o tentou foi há três anos, pouco depois de chegar à presidência do Sporting. E foi tentando até ao certo dia em que Carrillo lhe apresentou num hotel o homem que Bruno de Carvalho acha que nunca quis renovar o que fosse: Élio Casareto.

Foi o agente do peruano, diz o presidente leonino, que estragou um acordo que demorou segundos a ser feito na primeira — e única — vez que Bruno de Carvalho se reuniu com André Carrillo para falarem sobre a renovação. “Passados cinco minutos, eu e o jogador estávamos a apertar a mão e a dar um abraço. O Sporting nem regateou, quase não foi uma negociação”, resume. Aconteceu por altura da pré-eliminatória da Liga dos Campeões com o CSKA. Depois, houve telefonemas de Casareto (e três ou quatro dias de espera por ele), advogados a terem que ler minutas, contratos à espera de serem enviados e uma proposta do Leicester City (que hoje lidera a Premier League inglesa) que cheirou a esturro a Bruno de Carvalho por ser rejeitada pelo jogador e pelo agente: “Acreditará quem quiser acreditar. Mas uma proposta trazida pelo agente do Carrillo, a partir da qual ambos os clubes concordaram, a meia hora do fecho do mercado, foi depois recusada pelo próprio agente e pelo jogador. Essa história aconteceu”.

Por isto e por muito mais é que o presidente do Sporting hoje diz que “quando fazemos asneiras na vida, temos de as assumir”. E Bruno de Carvalho assegura que “não foi” por André Carrillo “ter ido para o clube A, B, C ou D”, ou para o Benfica, que os leões “vão tomar atitudes”.

A parte financeira

E as negociações com o jogador e o empresário

O empresário do Carrillo disse que o presidente do Sporting tinha de explicar aos sócios o porquê de o jogador não ter renovado. É verdade que uma das propostas previa que parte do salário, ou de uma comissão, fosse paga através de uma off-shore?

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Um negócio de futebol pode ter quatro componentes: a comissão de intermediação, a comissão sobre salário, o salário e os direitos de imagem. São coisas normais e legais, que têm regras muito bem definidas. Isto significa que, num processo de negociação, alguns ou todos estes elementos estejam em cima da mesa. Onde são recebidas essas comissões depende do agente e da sua empresa. Se é numa off-shore, se é numa empresa em Portugal, se é na Holanda, no Azerbaijão…

Ou em Malta.

Por acaso, durante a negociação, o agente falou de uma empresa em Malta. Não sou um expert, mas, pelo que sei e me disseram, Malta até nem é uma off-shore. Foi muito falado, porque o empresário tem uma empresa em Malta. Mas isso é tudo perfeitamente normal. Ainda hoje li um artigo absurdo do Camilo Lourenço, muito indignado com esta situação, em que ele achava que este assunto das off-shores devia ser investigado. Também acho que sim. Mas não será propriamente o Sporting a ter receio, salvo seja, disso. O Sporting não tem problema absolutamente nenhum. As pessoas não podem é ser ludibriadas.

Acha que têm sido?

Ficou claro no nosso extenso comunicado que este processo teve várias etapas. Na sua fase final, na tal em que o jogador aceitou renovar pelo Sporting, para meu espanto, quando voltamos do jogo do CSKA, ele já aparece a dizer que não quer renovar e quer sair a custo zero do Sporting. Que o empresário tinha que vir e estar presente. Portanto, isto teve várias versões, a pedido do jogador e do agente.

O que ia mudando entre as propostas de renovação?

As comissões eram de um valor, depois tinham que ser de outro, depois já havia comissões sobre o salário. As documentações existem. Qualquer dia, quem sabe, se não aparece tudo no Football Leaks. Pelo menos vai aparecer no local certo e no momento exato. Já dissemos que estamos a estudar hipóteses e isso não tem nada a ver com o facto de ele ter ido para o Benfica. Não vamos fazer um filme onde ele não existe. Os negócios são mesmo assim: cabe aos agentes darem-nos as empresas para se poder fazer os pagamentos e colocar-se os contratos. Essas empresas são da responsabilidade dos agentes, não do clube. Está-se a querer passar a imagem de ter existido algo estranho.

Pedro Rocha/Global Imagens

Todas as condições das propostas, portanto, eram normais?

O processo negocial, esse sim, todo ele foi conduzido pelo agente do jogador de uma forma muito estranha. Mas não por questões de off-shores ou pagamentos. Isso não faz sentido nenhum.

Por isso é que já disse que o Carrillo planeou prejudicar o Sporting?

Quando temos um processo de negociação não é fácil passarmos mensagens às pessoas, que estão formatadas para frases curtas. As pessoas não leem jornais, leem as [letras] gordas. É mais fácil vivermos de chavões ou soundbytes. É verdade que qualquer pessoa pode decidir não renovar um contrato. Mas há coisas, às quais se chamam leis, que implicam perder um bocado mais de tempo a pensar. Não somos livres para prejudicar propositadamente a nossa entidade patronal. Não o somos. É isso que está em questão e não o facto de a pessoa não chegar a acordo no final do contrato. Aí pronto, cada um segue a sua vida. Mas a forma como conduzimos a nossa vida, às vezes, traz-nos consequências. Sobretudo quando infringimos algumas regras.

Está a dizer que o jogador foi quebrando regras ao longo do processo?

Quando se pergunta quanto é que o jogador quer para assinar, o jogador diz “x” e o clube diz “aceito”. Quanto queres de ordenado? O jogador diz “x” e o clube diz “aceito”. Quantos anos de contrato? O jogador diz “x” e o clube aceita. Como é que, a partir daqui, posso pedir que o clube explique porque é que a pessoa não renovou? Onde é que aqui há fator de falta de compreensão? Quando clube diz que sim a tudo, sim senhor, aperta-se a mão e diz-se: “Vou renovar”. Vamos para a Rússia e, quando voltamos, acontece aquilo. Que explicação posso dar?

O empresário de André Carrillo está a residir em Lisboa desde outubro. O contrato que liga o peruano ao Sporting termina a 30 de junho. O extremo, alegadamente, recebe um salário mensal a rondar os 35 mil euros.

Falou-se que depois do jogo em Moscovo, contra o CSKA, o empresário Élio Casareto interrompeu a reunião em que o jogador e o clube estavam prestes a assinar a renovação. É verdade?

O que aconteceu foi que o empresário, enfurecido, falou com o Sporting aos gritos, via telefone, a perguntar quem é que autorizara o clube a falar com o jogador. Bem, peço desculpa, mas o jogador é do Sporting e sou livre de falar com ele, ponto final. Estou uma série de anos a tentar fazer a renovação e, na única vez que falo diretamente com o jogador, chego a acordo em cinco minutos. Às vezes perguntam-me se tenho uma malapata com agentes. Não tenho problema nenhum. Mas, de facto, eles têm de ser elementos facilitadores.

E, neste caso, foi um complicador?

Se a única vez em que falo com o jogador chego a acordo com ele em cinco minutos, o que tenho de explicar mais às pessoas? O que há de off-shore nisto? A única coisa que ficou a faltar, naquele encontro, foi passar o acordo para papel. Bem, para mim, homem que é homem tem, a partir desse momento, um acordo firmado. Foi assim que me educaram. Mas vivemos numa sociedade de papéis. Não sei se sabe, mas, em termos de lei, e fora do futebol, não é obrigatório que os contratos sejam colocados em forma escrita. Não estou a dizer que o Carrillo tem contrato com o Sporting, nem isto se cinge apenas ao futebol. Para mim, a palavra é muito importante.

O que aconteceu quando chegou à parte de passar tudo para o papel?

Verificou-se o que aconteceu durante anos: que não havia vontade de haver qualquer renovação. Foi evidente. Não há nada para explicar. O Sporting nem regateou, foram cinco minutos, quase nem foi uma negociação.

Mas quem não quis renovar: o jogador ou o empresário?

Perante factos tão concretos, essa pergunta não vale a pena. Já lhe disse que, passados cinco minutos, eu e o jogador estávamos a apertar a mão e a dar um abraço. Sim senhor, vamos fazer a assinatura do contrato. Depois, se o agente que demorava meses a vir cá, era sempre um drama, liga aos gritos a dizer que dali a dois ou três dias chega a Lisboa, e o desfecho foi este, acho que não é preciso explicar mais nada. O Carrillo e o Sporting foram claros quando falaram um com o outro durante cinco minutos.

Esse telefonema foi feito para si?

Não me lembro se até fui eu que fiz para o agente, a pedido do jogador, ou se foi o agente que ligou para mim ou para um administrador da SAD. Mas sim, fui eu que falei com ele. Já não me lembro quem ligou a quem. Disse-me que não tinha direito nenhum de falar com o jogador nem de fazer qualquer acordo com ele. Ou seja, quem paga o ordenado está impossibilitado de falar com os seus trabalhadores. Julgava que vivia numa democracia, mas se calhar não vivo. Era o mesmo que, numa empresa normal, um empregador ter que falar com o sindicato cada vez que quisesse falar com um trabalhador sindicalizado. Isto não faz sentido nenhum. A partir daí, nunca mais o clube teve oportunidade de falar com o jogador.

"Estou uma série de anos a tentar fazer a renovação e, na única vez que falo diretamente com o jogador, chego a acordo em cinco minutos."

Mas as propostas de renovação continuaram a ser apresentadas pelo Sporting ao jogador, ou não?

Sim, houve éne, éne, éne propostas, até se chegar a uma situação de rutura total. As coisas foram bem delineadas. Negociou-se muito, foi um bocadinho telenovela, fazia parte de um esquema para se chegar a um momento de litígio. Como acabou por acontecer.

Está a dizer que foi propositado?

Foi até às últimas consequências. Costuma-se falar na paciência do chinês, mas nem um chinês teria a paciência que o Sporting teve ao longo de todo este processo. Tentámos de tudo e de todas as formas. Posso-lhe dizer que a última conversa do agente, que ouvi pessoalmente, era ele a dizer a um administrador da SAD, que estava ao meu lado: “Calma, calma, porque vou resolver isto, a proposta é excelente”.

Isso foi quando?

Em meados de dezembro.

E o que aconteceu depois?

No dia seguinte, quando o administrador lhe liga, e eu estava ao lado dele outra vez, o empresário atende a dizer que não pode falar porque estava em Inglaterra. Disse que não podia voltar porque tinha adoecido. Foi nesse momento em que a minha esperança, enquanto presidente do Sporting, terminou. Mas o Sporting continuou a tentar.

Ao todo, quantas propostas de renovação apresentou o clube após o jogo contra o CSKA, na Rússia?

Inúmeras [repete esta palavras por várias vezes] tentativas. Tempos infinitos com os advogados a responderem às minutas de contrato. Depois, quando mandavam as minutas, eles diziam que não concordavam. Mas pronto, isso era algo negocial, bastava alguém sentar-se com a pessoa e perceber o que faltava. Mas não, essa pessoa não podia, por estar fora, por estar doente ou por ter problemas com vistos. E nisto o tempo sempre a passar. Depois daquela última conversa do “isto é excelente” e de, no dia seguinte, estar em Inglaterra, deixei de me envolver pessoalmente no processo. Mas fui sempre acompanhando. Andou-se sempre a brincar com documentos e o jogador dizia que a culpa era nossa por não respondermos aos advogados. E andámos nisto até ao fecho do mercado [de verão].

Mas, em concreto, quantas versões diferentes foram apresentadas pelo Sporting ao André Carrillo?

Depois da conversa de cinco minutos, o agente veio e houve uma segunda versão. Depois apareceu uma terceira… [interrompe a fala, por uns segundos, para pensar] Até dezembro, devem ter havido mais umas cinco versões.

Foram oito, portanto.

Para aí, sim. No mínimo.

Miguel Pereira / Global Imagens

Pelo meio, o Leicester foi o único clube a fazer uma proposta pelo jogador?

Não, também surgiu a do Bournemouth. Em primeiro lugar surgiu a do Leicester. A proposta apareceu do próprio agente. A versão que circula pela comunicação social é que isto só não se concretizou porque, a certa altura, quisemos tirar o empresário do negócio. Só um louco varrido é que tiraria o agente de um jogador do negócio. Uma coisa é aparecer um agente qualquer com uma possibilidade de negócio. Existem clubes, que não o Sporting, que depois fazem um bypass aos agentes. Deixam-no de fora para falarem diretamente com o clube.

O Sporting não o faz, primeiro, porque tem honra e, em segundo lugar, porque queima a imagem dos dirigentes do clube no mercado. Além de que não se pode tirar do negócio a pessoa que trouxe a proposta. É o argumento mais estúpido que já ouvi na vida, não tem ponta por onde se lhe pegue.

Porque não se concretizou o negócio então?

O acordo estava concretizado, até autorizámos o jogador a deslocar-se a Inglaterra, se bem que acho que ele até já lá estava. Não precisamos de ser muito inteligentes para saber que o acordo entre o clube e o jogador já existiria. Nenhum agente traz uma proposta sem que já esteja tudo fechado com o jogador. É normal que assim o seja, apesar de não ser como ditam as regras da FIFA. Mas para nosso espanto, ou não, a meia hora do fecho do mercado, o agente liga a dizer que não chegaram a acordo. Ou seja, o empresário quis-nos fazer acreditar que trouxe a proposta de um clube e, à última hora, o jogador não chegou a acordo com o clube.

O que acha que aconteceu realmente?

Não precisa de fazer essa pergunta. É factual. As pessoas que tirem as suas ilações. Estou-lhe a dar factos. As considerações serão feitas em local próprio e analisadas pelas pessoas corretas. Nunca tinha visto um agente trazer uma proposta sem que o acordo entre jogador e clube já estivesse fechado e esperar pela última meia hora do mercado para fazer aquilo. Ainda por cima quando, após essa meia hora, o jogador ficava a um passinho de poder assinar livremente na seguinte janela de transferências. É premonitório da vontade das pessoas.

Desde que chegou à presidência do Sporting, em março de 2013, Bruno de Carvalho diz que apenas recebeu três propostas por André Carrillo: uma do Leicester, outra do Bournemouth e uma de um clube francês.

E o Bournemouth?

Por coincidência, nessa última meia hora, surge o Bournemouth. Mas dissemos: “Olhem, o que é que podemos fazer? Estamos a 20 minutos do fecho do mercado, não vale a pena fazer nada”. Ao que o Bournemouth nos responde que em Inglaterra é diferente: “Se tivermos, hoje, num processo de negociação, podemos concluir a negociação amanhã e isto é aceite”. Ora, isto para nós era uma novidade. Houve, de facto, um documento redigido à pressa, que tinha cinco minutos para chegar a Inglaterra. Fez-se um papel, carimbou-se e tal, porque diziam que servia. Há uma historieta qualquer de que o Bournemouth ofereceu não sei quanto e que o Sporting pediu mais.

Quanto valiam essas duas propostas?

A do Leicester, 12 milhões de euros. Do Bournemouth veio uma de 9 milhões. Achámos, dentro da nossa boa-fé, mesmo sabendo que ela não existia do outro lado — e isto não tem nada a ver com o Leicester e o Bournemouth –, que possivelmente a pessoa não estaria disponível para perder dinheiro. Não tinha a ver com a aceitação de qualquer proposta. Ao Bournemouth não respondemos que sim ou que não, respondemos que estávamos disponíveis para negociar o jogador. O que acabou por não dar em nada. O Sporting tem uma excelente relação com os dois clubes e isso é significativo de como foi o comportamento do Sporting em ambos os processos.

Não apareceram mais propostas nesse verão?

Não. Pelo Carrillo, desde que eu cá estou [março de 2013], apareceram três propostas formais. A outra foi quase no início. Três anos já parecem trinta, nem me lembro bem quando foi. Era um clube francês e, na altura, respondi pessoalmente que não. Tinha fé de que, mais cedo ou mais tarde, o jogador fosse explodir. Ele até estava a ter um rendimento que não era, nem pouco mais ou menos, condizente com um jogador do Sporting. Mas tinha uma forte convicção. Disse ao empresário que não tinha interesse em fazer a venda, que tinha interesse em fazer a renovação. Foi aí que nos conhecemos.

O Carrillo apresentou-me o agente num hotel, quando estávamos em estágio para jogo, que me vinha falar da proposta de um clube francês. E falei-lhe de renovação quando os associados do Sporting não estavam propriamente satisfeitos com o rendimento do jogador.

Ou seja, isto já vem de trás.

Sim, não quis renovar com o Carrillo só quando ele começou a dar algum sinal que podia começar num processo de consistência. E ainda nem sequer passou disso. Foi desde o início.

A parte desportiva

E a questão se Carrillo ainda jogará no Sporting antes de ir para o Benfica

Quando soube que o Benfica andava a falar com o André Carrillo?

Havia aqueles zum-zuns, aqueles rumores que todos fomos ouvindo. Mas saber, saber, não sabia. Aquelas fotos, os gabinetes de advogados, onde era, onde não era… Fui sabendo pelo que foi saindo por aí. Colocámos o comunicado exatamente no dia em que recebemos a informação do Benfica.

Nem ficou preocupado quando Pinto da Costa disse o que disse?

Hmm, não. Acho que era muito evidente, por vários motivos, que o Carrillo pudesse ir para um ou para outro [FC Porto ou Benfica]. Eu próprio já o tinha dito, várias vezes. Mas sempre pensei que um jogador de dimensão mundial, como ele, e a custo zero, tivesse tido a possibilidade de enveredar por outros caminhos. Mas já percebi que só deixou saudades em Portugal.

Já falou com o jogador, entretanto?

Não. Ele está em processo disciplinar, não temos estado juntos. O lado da defesa do Carrillo fez um pedido de diligências, várias e enormes, uma série de pessoas para serem ouvidas. Isto para fazer com que o processo dure, e dure, e dure, e dure. É uma maneira como outra qualquer.

E quanto tempo pode durar?

É isso. Continuamos na fase das diligências e de ouvir pessoas. No que me diz respeito, quanto mais depressa se resolver, melhor. Mas pronto, foi pedida tanta coisa, que o departamento jurídico está a tratar disso.

"Sempre pensei que um jogador de dimensão mundial, como ele, e a custo zero, tivesse tido a possibilidade de enveredar por outros caminhos. Mas já percebi que só deixou saudades em Portugal."

Porque continua o Carrillo a estar na lista de jogadores inscritos na Liga Europa?

Já estava. Seja como for ele é jogador do Sporting. Não podemos tomar decisões precipitadas. Precipitadas são as pessoas que comentam os assuntos sem os saberem.

Mas é possível o peruano jogar pelo Sporting caso o processo disciplinar termine até ao final da época?

O que lhe estou a dizer é que ele é jogador do Sporting. Portanto, o Sporting é que tomará as suas decisões e não pode ser precipitado.

Não põe isso de parte?

No futebol, o que é hoje já não o é amanhã. Vou ser muito sincero. Um jogador que é alvo de um processo disciplinar grave da parte do Sporting. Um processo que é alvo de um estudo para processo jurídico cível, por parte do Sporting. Estes não são os melhores indicadores para que isso volte a acontecer. Na vida temos que ter cautela com o que possamos vir a fazer. Mas não me parece que seja uma hipótese viável.

E se o Jorge Jesus lhe disser que ainda o quer utilizar?

Oiça, só estou a falar do Carrillo por causa de todas as histórias que têm vindo a lume e de todos os pseudo-especialistas que têm vindo falar, a levantarem suspeita e insinuações. Porque, desportivamente, quer eu, quer o treinador, estamos perfeitamente conscientes do plantel do Sporting. Dos últimos retoques que tínhamos que dar neste mercado para esta última parte do campeonato. O presidente, a estrutura e o treinador estão esclarecidos sobre o assunto Carrillo. Essa questão não existe. O que é necessário é as pessoas perceberem toda a manipulação que está a acontecer à volta de um assunto. Eu, nesta entrevista que já dura há largos minutos, não fiz qualquer comentário ofensivo a A, B ou C.

Álvaro Isidoro / Global Imagens

Mas preferia que o Carrillo tivesse chegado a acordo com outro clube que não o Benfica?

Não quero fomentar nada sobre para onde foi o jogador ou deixou de ir. Sei que houve uma altura em que o agente dizia muita coisa e que mal tinha referência na comunicação social. Não é este tipo de coisas que me preocupa. Não são estas situações que nos criam qualquer tipo de desequilíbrio. Não padecemos desses males. Era perfeitamente normal que ele tivesse assinado pelo FC Porto ou pelo Real Madrid. A partir do momento em que fizemos o processo disciplinar era claro que isto podia acontecer. Esse é um procedimento normal, não me choca.

O que me desagrada são os comentários dos agentes e dos presidentes dos sindicatos do Peru. Então quando o Joaquim Evangelista entrou nisto, isso não faz sentido nenhum. Já sou amigo do Joaquim há tempo suficiente para o desincentivar a entrar nos últimos episódios de uma novela.

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O número de jogos que André Carrillo fez no Sporting. O peruano chegou ao clube em 2011, vindo do Allianza Lima, e nunca esteve em menos de 30 partidas por época. O extremo marcou 16 golos e conquistou dois títulos: uma Taça de Portugal e uma Super Taça Cândido de Oliveira.

Por isso é que vai reagindo através do Facebook?

Reajo porque chega a um ponto em que todos temos de ter bom senso. Não é assim que se defende um atleta. Sei que é uma situação complicada. Foi uma saída de um jogador, de forma não pacífica, para um rival que fica a 100 metros ou a um quilómetro, nunca contei, mas para mim é que como se estivessem noutra galáxia. Não me interessa. Mas pronto, as pessoas deviam remeter-se ao silêncio. O Benfica comunicou ao Sporting, o Sporting comunicou publicamente, e pronto. Para quê este filme e toda esta palhaçada? Faz-me perder tempo porque tenho de ir cinco minutos ao Facebook ou dar entrevistas para esclarecer os sportinguistas. Não gosto que me chamem mentiroso e homem das cavernas, por isso, respondo. Não fui educado a ser hipócrita e a estar calado.

Mas imagino que não tenha gostado da decisão do Carrillo.

Não. Ele chegou aqui um gaiato, era um puto de 18 anos, mas já não é. Se me perguntar se gostei da atitude dele como homem, claro que não. Ele hoje é um homem. Bem, comparado comigo é um miúdo, mas já tem noção das suas atitudes. Se gostei dele ter dito que sim e de me ter dado um aperto de mão para, dois dias depois, fazer o que fez? Não gostei. Se gostei de como foi conduzido o processo? Não. Se me sinto enganado por alguém que eu confortei, no relvado, depois de inúmeras exibições em que ele acabava desalentado? Sinto. Acreditei nele e quis renovar. Isto tem a ver com princípios, educação e valores. A nível desportivo esta novela acabou, não tem mais capítulos. O Carrillo assinou um contrato com outro clube.

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