Começou por sentir-se a espaços nas prateleiras dos supermercados. Primeiro no óleo de girassol e na farinha, impactados quase no imediato pela invasão da Ucrânia pela Rússia, a 24 de fevereiro do ano passado. Depois nas massas e no arroz. Mas não demorou muito até que as famílias começassem a sentir, numa ida às compras, o peso da inflação em praticamente todos os bens, essenciais e não só. No ano passado, o Índice de Preços no Consumidor (IPC) registou uma variação média anual de 7,8%. E em janeiro terá ficado nos 8,3%. Mas os preços dos alimentos subiram mais. Em alguns casos, muito mais.
Foi em abril do ano passado que o Observador começou a fazer a recolha mensal dos preços de um cabaz composto por um conjunto de bens considerados essenciais para uma família com filhos. São eles óleo alimentar, atum, farinha, arroz, massa, bolacha Maria, cereais Corn Flakes, leite, farinha láctea, maçãs, bacalhau, frango, feijão, ovos, açúcar, pão, papel higiénico e fraldas. As comparações têm por base os preços verificados no primeiro dia de cada mês nos sites de três hipermercados. O objetivo é acompanhar a evolução dos preços a cada mês, face à elevada inflação.
Entre janeiro e fevereiro, houve poucas discrepâncias significativas nos preços, como demonstra a tabela. Algumas variações mais acentuadas, como a do atum, da farinha ou do esparguete, devem-se a promoções que os supermercados têm em vigor. Apenas os ovos, que no mês passado mereceram destaque devido a aumentos entre 14% e 23%, registaram em fevereiro, passada a época das festas, uma quebra generalizada de preço, entre 12,58% e 18,57%.
É a diferença entre os preços registados em abril e os valores de fevereiro que permite concluir que o custo dos bens nos supermercados aumentou em menos de um ano muito mais do que a inflação. Entre os produtos analisados, apenas três baixaram de preço: o óleo, o atum e o quilo de maçãs. Quando a guerra eclodiu, o valor de uma garrafa de óleo de girassol disparou para uma média de 3,99 euros. A compra chegou a estar limitada a um certo número de garrafas por cliente em algumas superfícies. Face à crise, o setor adaptou-se e procurou outras fontes de matéria-prima, como a soja e a colza, o que fez o preço baixar. O atum, sendo em óleo, é diretamente influenciado pelo mesmo fator.
A crise do óleo continua, mas o preço no supermercado baixou. Como se explica?
Além destes produtos, houve apenas um que registou nos últimos meses um aumento médio inferior ao da inflação — o feijão branco — cujo preço subiu, em média, 6,63%. Todos os outros bens que compõem o cabaz registaram subidas superiores. Em alguns casos, os preços quase duplicaram. O arroz foi o produto cujo valor médio mais subiu no espaço de 11 meses: 77,78%. No início de abril, um quilo de arroz carolino podia ser adquirido por 1,09 ou 1,27 euros nos supermercados analisados. Ao primeiro dia de fevereiro, o mesmo quilo de arroz custa 2,14 euros nas três superfícies. A crise é global e, segundo analistas ouvidos pela Bloomberg, o aumento da procura está por trás da subida dos preços, com alguns importadores a trocarem o trigo, cujo preço disparou com a guerra, por arroz.
Cabaz Observador. Preço dos ovos continua a escaldar em início de ano com poucos aumentos
Outro produto que pesa hoje muito mais na carteira dos portugueses é o açúcar, que aumentou, em média, 70%. Custava entre 0,79 euros e 1,17 euros em abril e atualmente oscila entre 1,39 e 1,69 euros. Com subidas acima dos 30% constam ainda o leite (46,6%), os ovos (37,1%) e o esparguete (36,3%). Logo a seguir surge o frango (29,9%), a bolacha Maria (27,7%) e a farinha de trigo (19,7%). Com aumentos menos acentuados, entre 10% e 14%, surgem o pão, o bacalhau, os corn flakes, a Cerelac e o papel higiénico.
Em janeiro, e pelo terceiro mês consecutivo, a inflação deu mostras de algum alívio. Mas não na alimentação. O índice de preços ao consumidor subiu 8,3% em janeiro, face ao mesmo mês do ano passado. Representa uma quebra de 1,3 pontos percentuais face à inflação de dezembro e deveu-se, sobretudo, aos preços da energia.
De acordo com os dados preliminares divulgados esta terça-feira pelo INE, a alimentação (produtos não transformados) continuou a empurrar os preços para cima, com uma variação de 18,5% face a janeiro de 2022, um valor superior à taxa de crescimento de 17,5% registada em dezembro. Já os preços dos alimentos não transformados subiram 1,37% em janeiro em relação ao mês anterior.