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Os três primos Saide Amade 16 anos, Samito Abdaka, 12, e Mustafa Buraime, 10, fotografados pelo Observador em casa da tia-avó que os foi buscar a Pemba, três semanas depois de terem fugido de Palma
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Os três primos Saide Amade 16 anos, Samito Abdaka, 12, e Mustafa Buraime, 10, fotografados pelo Observador em casa da tia-avó que os foi buscar a Pemba, três semanas depois de terem fugido de Palma

RICARDO FRANCO/OBSERVADOR

Os três primos Saide Amade 16 anos, Samito Abdaka, 12, e Mustafa Buraime, 10, fotografados pelo Observador em casa da tia-avó que os foi buscar a Pemba, três semanas depois de terem fugido de Palma

RICARDO FRANCO/OBSERVADOR

Cabo Delgado. A saga dos miúdos que fogem sozinhos, sem saberem se os pais estão vivos

Alguns têm apenas 6 anos. Depois de correrem para escapar aos tiros, ficam semanas num lar sem saberem se algum dos pais está vivo. E desenham helicópteros de resgate. O Observador em Cabo Delgado.

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(Alguns destes relatos podem chocar uma parte dos leitores. O Observador não falou com as crianças que ainda estão no lar sem saberem se têm algum familiar vivo nem as fotografou, para não agravar o seu trauma, para preservar as suas identidades e para evitar que possam aparecer outros adultos a reclamá-las como pertencendo às suas famílias.)

Uma destas histórias acaba com a mãe aos gritos ao telefone. Para variar, no meio de tanta desgraça em Cabo Delgado, os gritos não serão de dor, nem de raiva, nem do gigantesco vazio que se seguirá à perda da vida de um filho. Serão gritos de descompressão, alívio e mesmo alegria, depois de três semanas de angústia, ansiedade e profundo desespero, em que já preparava as cerimónias fúnebres para o filho e dois sobrinhos, que julgava que tinham sido apanhados pelos insurgentes — mas afinal estavam a salvo.

O ataque do dia 24 de março a Palma começou às três da tarde, em plena luz do dia, com uma parte significativa das crianças nas aulas. Algumas ouviram os tiros; outras só perceberam a agitação súbita quando viram alguns pais a ir buscar os filhos à escola. Já não tiveram forma de ir a casa — ou foram e já não encontraram lá a família, pelo que se juntaram aos vizinhos e outros adultos que corriam para o mato.

Há ainda histórias de miúdos que começaram a corrida ao mesmo tempo que os familiares, mas se desencontraram ou separaram a meio: uma menina de 6 anos chegou a Pemba esta quarta-feira sozinha, depois de a mãe lhe ter dito que já não tinha mais forças para continuar a fuga — mas pediu à menina para não parar de correr, para ter mais hipóteses de se salvar. Além de todo o trauma, e da angústia de não saber se a mãe teria sobrevivido e estaria bem, a criança carregava ainda um sentimento de culpa por ter deixado a mãe para trás.

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“Veio muito triste, muito abalada, quase não falava, só ficava a chorar”, conta ao Observador a técnica de ação social que a recebeu, Albertina Bonifácio, especialmente impressionada, por também ter uma filha de 6 anos e imaginar o que seria se ela estivesse nessa situação.

“Vêm a chorar e a perguntar: ‘Onde está o papá? Onde está a mamã?'”

Foram identificados dezenas de miúdos com idades entre 6 e 16 anos que, depois de longas caminhadas, foram resgatados de helicóptero ou de barco, e chegaram à capital de Cabo Delgado, 400 km a sul de Palma, sozinhos, sem mais ninguém da família.

Estas crianças acabam por ser detetadas à chegada pelas técnicas de ação social, numa missão difícil porque muitas vezes os adultos que tomaram conta dos menores no caminho assumem a responsabilidade por eles e apresentam-nos como seus familiares. Já houve até casos de crianças reclamadas por pessoas diferentes, uma amiga da família e um avô que não reconhece a amiga. “Cabe-nos apurar a veracidade”, explica Albertina Bonifácio.

Ainda esta quarta-feira a técnica de ação social recebeu a criança mais nova desde o início do conflito: um rapaz de 4 anos que veio sozinho no navio de Palma. Um vizinho pediu a outro passageiro que o trouxesse para Pemba: “Talvez lá possam encontrar alguém da família. Aqui os familiares morreram todos”. Em Pemba o menino tem de facto um avô, que já foi localizado.

Uma caneta de feltro verde regista os números diários de entradas e saídas de deslocados no pavilhão gimnodesportivo de Pemba e tem um item para “Crianças desacompanhadas” (“C. desacompanhadas”, para caber na folha manuscrita). Parte destes menores são enviados para o Lar da Esperança — ligado a uma fundação católica espanhola —, que acolhe órfãos e crianças vulneráveis. Desde o ataque de Palma deram aqui entrada 32 crianças com idades entre 4 e 17 anos, disse ao Observador o coordenador, Almerante Damião (Almerante é mesmo o nome, foi escolhido pelo pai por corresponder a uma alta patente militar).

“Nota-se a tristeza. Sofreram muito, também fisicamente, para conseguirem escapar e chegar a este lugar. Precisam muito de ser amparados. Dói-me muito. Sofro também: o sofrimento deles é o meu sofrimento”.
Quisito Eusébio Tagiro, educador do Lar da Esperança, que acolhe crianças que chegam sozinhas a Pemba

Não caberiam mais do que estas 32 crianças. Por isso mesmo, em articulação com a Unicef, o lar libertou já uma sala de aulas para poder instalar beliches e assim poder acolher mais menores, se a situação se agravar. “Há mais crianças desamparadas. Podem estar ainda no mato, numa situação caótica”, admite Almerante Damião.

Chegam com traumas, com fome e muitas vezes com ferimentos provocados pela fuga. “Vêm em condições péssimas, pensativos ou a chorar, e a perguntar: ‘Onde está o papá? Onde está a mamã?’ Falamos muito com elas e acabam por contar o que viveram e como fugiram, que viram armas ou ouviram disparos”, descreve o coordenador do lar, que vai mantendo nas crianças a esperança de que os familiares estejam vivos e possa haver um reencontro em breve.

Almerante Damião, coordenador do lar que acolhe os miúdos que fogem sozinhos, e Quisito Eusébio, educador

PEDRO JORGE CASTRO/OBSERVADOR

O educador do lar, Quisito Eusébio Tagiro, também fica angustiado quando os recebe: “Nota-se a tristeza. Sofreram muito, também fisicamente, para conseguirem escapar e chegar a este lugar. Precisam muito de ser amparados. Dói-me muito. Sofro também: o sofrimento deles é o meu sofrimento”.

Recebem acompanhamento psicológico, são levados a um centro de saúde e depois, se não for localizada a família, são inscritos numa escola ali perto. No lar, há uma camarata com beliches para rapazes e raparigas, um parque infantil com escorregas e baloiços, ladeado por duas grandes girafas decorativas, dois recreios onde correm, brincam e dançam, uma biblioteca e uma sala onde recebem acompanhamento ao estudo, aprendem ou melhoram a escrita de português, e fazem desenhos.

Crianças resgatadas por meios aéreos “desenham sempre o helicóptero”

Estes desenhos são apenas uma atividade para se distraírem, não têm objetivos terapêuticos, mas revelam muito sobre o que os marcou nos últimos dias. O que vários destes miúdos mais desenham são helicópteros ou aviões. Muitos deles foram precisamente resgatados por via aérea quando se encontravam numa situação difícil, depois da longa fuga. Voaram pela primeira vez numa circunstância extrema, o que torna irresistível este seu fascínio pelo poder mágico dos meios aéreos, que os salvam das balas dos insurgentes e os deixam perto das nuvens. “Nota-se o trauma nos desenhos, são uma forma de expressão da criança. Nos primeiros dias desenham sempre o helicóptero”, confirma Almerante.

Os desenhos dos miúdos que estão no lar: aviões, helicópteros e a "african story" da rapariga grávida de 16 anos

PEDRO JORGE CASTRO/OBSERVADOR

Entre os dramas do lar, há uma rapariga de 8 anos que já tinha fugido dos ataques de Mocimboa da Praia para procurar proteção em Palma, para afinal ter de fugir dali novamente poucos meses depois, sozinha, sem a mãe, que permanece em paradeiro desconhecido: pode estar algures e ainda não ter conseguido estabelecer contacto para procurar a filha, pode ter sido sequestrada pelos “machababos” (como a população chama aos insurgentes) ou, no limite, pode já não estar viva.

Outra criança, um rapaz de 15 anos, viu a mãe ser degolada quando tentava esconder-se na machamba (uma pequena horta), no dia do segundo ataque em Mocimboa da Praia. Depois de ter estado no funeral da mãe, quando os insurgentes voltaram à sua terra para o terceiro ataque e passaram a controlar a vila, o rapaz estava na praia, ouviu os sons de tiros e correu a fugir sozinho para o mato, primeiro até Mueda, depois até Montepuez. Aqui, a quase 300 quilómetros do ponto de partida, um homem encontrou-o e levou-o ao comando provincial.

Está a viver no Lar da Esperança desde agosto. Passou os primeiros tempos muito fechado, sem se relacionar com os outros, mas entretanto já se percebeu que é “muito alegre, vai à escola sozinho e aprendeu a falar português”. O coordenador do lar tem indicações de que o pai deste rapaz se encontra em Nagade, com os seus três irmãos. Ainda não conseguiu estabelecer contacto, para reunir a família, mas não desiste: “Em breve espero conseguir concretizar o sonho do menino”.

Awa ficou em Palma, por não conseguir sair, e temeu ter perdido o filho e dois sobrinhos para sempre. Estava mesmo a pensar em preparar cerimónias fúnebres, quando a rede móvel foi reativada e o seu telefone tocou. Almerante estava há quase três semanas a tentar aquele número, sem conseguir estabelecer comunicação. Neste dia, ouviu finalmente o sinal de chamada. Disse-lhe que tinha acolhido três crianças, perguntou os nomes e a senhora respondeu acertadamente, apesar da agitação natural. “Eu dizia: ‘Tenha muita calma, os seus filhos estão neste grupo em Pemba’. Mas a senhora só gritava, com tanta emoção. Foi bonita a alegria”.

A mais velha residente do lar é uma rapariga de 16 anos grávida de sete meses, filha de um militar das Forças de Defesa e Segurança que permanece em combate no norte da província. A mãe ficou em Afungi, frente ao acampamento da Total, onde ainda se encontravam centenas de deslocados que não conseguem lugar nos aviões de resgate e continuam a enfrentar diariamente a fome enquanto esperam. O pai do bebé está em paradeiro desconhecido. “Ela estava na escola quando começaram os disparos. Fugiu para Afungi com uma amiga, mas a amiga teve de ficar a tomar conta de uma avó, que não conseguia andar”, conta a técnica Albertina Bonifácio.

Num desenho recente que esta futura mãe fez numa atividade no lar, escreveu em cinco linhas aquilo a que chamou uma “african story”:

“Sofrimento das mamãs africanas
Lenha na cabeça, bebé no colo,
Grávida de 7 meses, epá que chato!
Apenas o marido carrega a catana na mão e rádio nos ombros.”

A menina já foi levada ao hospital de Pemba para uma ecografia e confirmou-se que o bebé estava bem.

O dia em que a mãe atendeu o telefone e soube que afinal as crianças estavam vivas

Das 32 crianças que vieram de Palma, 26 foram entretanto resgatadas por familiares que só conseguiram chegar mais tarde, ou outros elementos da família residentes nos arredores de Pemba. Os que ficaram juntam-se a mais quatro sobreviventes dos ataques a Mocimboa da Praia no ano passado (também chegaram a acolher 30 menores desacompanhados nos dias seguintes) e a quatro órfãos de Pemba (que não são deslocados). “Este grupo que veio de Palma parece ter sofrido ainda mais do que os primeiros, que vieram depois dos ataques de Mocimboa da Praia. Chegaram ainda com mais medo. Como se em Palma os estragos do grupo tivessem sido ainda maiores”, compara o educador do lar.

Enquanto houver esperança, o lar e os serviços de ação social não param de tentar localizar os familiares dos menores, o que pode tornar-se uma tarefa ciclópica: muitas crianças não só não têm documentos como não sabem dar dados de identificação dos familiares, nem o contacto. Sempre que há algum desses elementos, é preciso cruzar com as listas de deslocados acolhidos noutros locais de Cabo Delgado, para tentar reunir as famílias. Muitas vezes as situações só se resolvem quando os próprios pais conseguem ir ao lar à procura dos filhos.

Mesmo nos casos em que os menores se lembram do contacto dos pais, alguns perderam os telefones ou simplesmente não têm rede, por as antenas terem sido destruídas pelos rebeldes. Em Palma, só três semanas depois do ataque é que voltou a haver comunicações. Três semanas é muito tempo sem saber nada de um filho e dois sobrinhos órfãos.

Saide, Samito e Mustafa brincam já em frente à casa da tia-avó. Albertina Bonifácio levou o Observador ao bairro de Pemba onde os meninos passaram a dormir, depois de terem saído do lar da esperança

RICARDO FRANCO/OBSERVADOR

Awa ficou em Palma, por não conseguir sair, e temeu ter perdido os três rapazes para sempre. Estava mesmo a pensar em preparar cerimónias fúnebres, quando a rede móvel foi reativada e o seu telefone tocou. Almerante estava há quase três semanas a tentar aquele número, sem conseguir estabelecer comunicação. Neste dia, ouviu finalmente o sinal de chamada. Quando atenderam, identificou-se como coordenador do Lar da Esperança e perguntou o nome, que batia certo com o que as crianças lhe tinham dado. Depois disse que tinha acolhido três menores, perguntou os nomes e Awa respondeu acertadamente, apesar da agitação natural. “Eu dizia: ‘Tenha muita calma, os seus filhos estão neste grupo em Pemba’. Mas a senhora só gritava, com tanta emoção. Foi bonita a alegria”.

A seguir, o coordenador passou o telefone às crianças, que explicaram à mãe (e tia) tudo o que lhes aconteceu desde que fugiram de Palma até chegarem ao lar onde agora jogavam à bola. “É uma grande alegria conseguir ajudar a localizar os pais dos meninos, fazê-los rirem-se e sentirem-se felizes um dia”, afirma o coordenador.

Awa, a mãe de um dos rapazes que fugiram e tia dos outros dois, continua em Palma, mas não dorme em casa com medo dos insurgentes, que já viu passar perto do bairro. Prefere procurar refúgio no mato com outros vizinhos durante a noite. “Já encontrámos um corpo no nosso bairro e enterrámo-lo. Tenho medo. Se tivesse transporte, ia [para Pemba], mas fui ao aeroporto [de Afungi] e não consegui. Não tenho como fugir. ”

Uma tia-avó das crianças recolheu-as em Pemba e levou-as para casa, num bairro dos arredores, onde têm mais de 30 vizinhos da mesma idade para brincar num descampado. Foi aí que o Observador as visitou, na companhia da técnica de ação social. O mais velho, Saide Amade 16 anos, recordou a fuga. Como tem dificuldade em expressar-se em português, Albertina ajudou a traduzir: diz que ouviram tiros e saíram de casa a correr, com vizinhos, durante cerca de duas horas até chegarem à praia. Daí, subiram para norte em direção à Tanzânia, sempre a caminhar. Dormiram cinco dias no mato, a alimentarem-se da mandioca que apanhavam do chão.

Não conseguiram passar na fronteira e foram resgatados por um helicóptero militar, que os levou até Afungi, de onde voaram depois para Pemba. Durante estas três semanas, não souberam se o resto da família tinha ficado em Palma, se estava bem, ou se algo lhes teria acontecido. Agora não querem voltar a casa, por terem medo de voltar a passar pelo mesmo. Ainda seria arriscado.

Ao telefone, a mãe de um dos meninos (Samito) e tia dos outros dois, que são órfãos, recordou ao Observador a partir de Palma o seu desespero por não saber nada das três crianças durante tanto tempo: “Procurei, procurei e não os vimos. Andei, andei e fiquei mesmo preocupada a pensar: será que eles foram apanhados e estão mortos?”

Toda essa angústia terminou quando voltou a rede móvel a Palma e recebeu a notícia de que estavam os três vivos. Mas não sabe quando vai conseguir revê-los. Awa continua em Palma, mas não dorme em casa com medo dos insurgentes, que já viu passar perto do bairro. Prefere procurar refúgio no mato com outros vizinhos durante a noite. “Já encontrámos um corpo no nosso bairro e enterrámo-lo. Tenho medo. Se tivesse transporte, ia [para Pemba], mas fui ao aeroporto [de Afungi] e não consegui. Não tenho como fugir. ”

20 crianças a dormir no chão à volta de uma casa

Ao contrário de alguns meninos acolhidos no Lar da Esperança, Ali, de 10 anos, não foi resgatado por meios aéreos, mas tem um avião na camisola: “Let your dreams take flight” (“deixa os teus sonhos voarem”). Veio de Macomia em Fevereiro, com a mãe e os dois irmãos, depois de o pai ter sido baleado pelos insurgentes, conta a mãe, Maincha Issa. Chegaram a Pemba de barco e foram acolhidos pela família, juntamente com outros irmãos, cunhados e sobrinhos que tinham chegado dos ataques a Mocimboa da Praia.

13 fotos

Não estão propriamente a dormir numa casa — estão todos à volta de uma pequena habitação, no bairro de Ingonane: colocaram lonas para proteger da chuva e dormem no chão ou num parapeito a meio metro de altura. São ao todo duas dezenas de crianças, mais oito adultos, todos famintos.

São deslocados que não ficam no gimnodesportivo de Pemba para serem acolhidos pelas famílias, em redor de casas onde se amontoam no chão 20, 30, 40 pessoas, mas em condições muito piores do que as que teriam se ficassem a receber assistência das ONG, onde pelo menos teriam três refeições por dia e poderiam dormir nas bancadas, onde não cai chuva.

A longa caminhada de um pai com nove crianças. E um bebé nascido neste caos

À volta de outra casa no bairro de Natiti estão instalados mais oito adultos e 20 crianças. Assane Momad, 44 anos, está aqui com os nove filhos, com idades entre 1 e 12 anos, e com a mulher, Sharifa, mãe dos quatro mais novos. Fugiram de Palma via Mueda e Montepuez, numa caminhada que durou dez dias, sempre a contar as nove cabeças dos filhos para ver se não perdia nenhum. Ao longo desta violenta viagem a pé, dormiu apenas uma noite, na mata.

Assane Momad fugiu a pé com a mulher e os 9 filhos: que têm entre 1 e 12 anos. Demoraram dez dias a chegar a Pemba

RICARDO FRANCO/OBSERVADOR

O primeiro elemento da família a conseguir chegar a Pemba foi a cunhada Monassa, 28 anos, que estava grávida de 8 meses e por isso teve prioridade para conseguir lugar nos aviões de resgate em Afungi, junto ao complexo da Total, para onde fugiu quando soaram os disparos. Veio apenas com o filho de 4 anos, Niro.

Às 3 da manhã desta quinta, dia 15, Monassa sentiu que estava na hora de dar à luz e a irmã levou-a para o centro de saúde de Natite, em Pemba. Pouco depois, pelas 4h30, nasceu o bebé, de parto natural, sem grandes sobressaltos, tendo em conta as circunstâncias e o stress da fuga no fim da gravidez.

O bebé, que já teve alta do hospital esta sexta-feira, ainda não tem nome: a mãe está à espera de conseguir falar com o pai, que continua retido em Palma, sem maneira de sair para se juntar à família. Vai ser mais uma boca para alimentar, num contexto muito difícil, com crianças e adultos a queixarem-se da fome, pelo pouco que têm para ir comendo. E onde vai dormir o bebé nas primeiras noites da sua vida? “Não temos colchões”, lamenta uma das tias. “Vamos aconchegá-lo aqui numa esteira no chão, como nós”.

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