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epa11378598 Presidential candidate of the Morena Party, Claudia Sheinbaum, speaks during a campaign event in the Zocalo of Mexico City, Mexico, 29 May 2024. Mexico is scheduled to hold general elections on 02 June 2024.  EPA/Isaac Esquivel
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Resultados preliminares dão cerca de 60% da votação à candidata pelo partido Morena que se apresenta como anti-neoliberal

Isaac Esquivel/EPA

Resultados preliminares dão cerca de 60% da votação à candidata pelo partido Morena que se apresenta como anti-neoliberal

Isaac Esquivel/EPA

Cientista, humanista e de origem judaica. Quem é Claudia Sheinbaum, a primeira mulher eleita Presidente do México?

Cresceu rodeada de política, ativismo e ciência e não deixou nenhum dos caminhos para trás. Aos 61 anos, a candidata do Morena estreia a liderança presidencial feminina no México.

“Cientista, humanista e com um profundo amor pelo México e pelo seu povo”. A curta apresentação na rede social X traça as linhas gerais do quadro do percurso profissional e pessoal de Claudia Sheinbaum. Aos 61 anos, torna-se a primeira mulher a chegar ao cargo de Presidente do México. “Chegou o momento das mulheres transformadoras”, repetiu durante a campanha. Com cerca de metade dos votos da eleição presidencial deste domingo apurados, Sheinbaum recolheu, segundo dados preliminares, 57,81% do sufrágio.

A mexicana, de origem judia, declarou vitória perante milhares de apoiantes, num discurso emocionado, este domingo à noite, anunciando que o seu partido, o Movimento para a Regeneração Nacional (Morena), obteve uma “maioria qualificada” no Congresso. Prometeu ainda “que não vai falhar” aos mexicanos que lhe depositaram a confiança de guiar o destino do país. Os seus principais adversários — Xochitl Gálvez e Jorge Álvarez Máynez — já reconheceram igualmente a vitória da adversária.

O Morena, o partido de esquerda anti-neoliberal e populista é, atualmente, aquele que maior representatividade tem no México. Alcançou o poder em 2018 e a sua confiança acaba de ser renovada por mais seis anos.

Favorita à presidência desde o momento em que apresentou a candidatura, Sheinbaum representa o empoderamento feminino na vida política, mas também a continuidade do projeto de esquerda iniciado há seis anos por Andrés Manuel López Obrador, seu antecessor e mentor, que esgotou a possibilidade de se recandidatar ao cargo após ter cumprido o mandato completo.

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Primeira mulher a liderar a Cidade do México, torna-se a primeira mulher a liderar o país

É pioneira enquanto mulher a chegar à liderança do México, mas já o tinha sido quando em dezembro de 2018 foi eleita, pelo Morena, para liderar a prefeitura (órgão de poder local) da Cidade do México. Por lá já conhecia os cantos à casa, entre 2000 e 2006 tinha ocupado o cargo de secretária-geral do gabinete ambiental da Cidade do México, na época em que Andrés Manuel López Obrador era prefeito da capital do país.

Ainda enquanto estudante, o reconhecimento político chegou através do ativismo e protesto estudantil. A política e os ideais de esquerda correm-lhe no sangue e foi enquanto estudante de ciências, no México, que começou a ser politicamente ativa. Em 1987, como recorda a Globo, Sheinbaum organizou uma greve contra o aumento das propinas. Seguia as pisadas do pai e mãe, que vinte anos antes se uniram aos protestos estudantis dos quais resultaram 3oo mortes após uma violenta reação policial.

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Bloomberg via Getty Images

Do envolvimento na política estudantil até à filiação no Morena, foi um passo. Antes e a par da política, Claudia Sheinbaum vingou no percurso académico. Formou-se em física pela Unam, uma das maiores universidades no país, e pós-graduou-se em engenharia ambiental. Estudou fora, nos EUA, para concluir um pós-doutoramento na Universidade da Califórnia em Berkley. Na mesma altura, participou no Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU que ganhou um Prémio Nobel da Paz em 2007.

Judia, cientista e humanista. Como as suas raízes moldaram a nova presidente mexicana

Num país em que a esmagadora maioria dos habitantes professa a fé cristã, a nova Presidente do México cresceu numa família de origem judaica. O apelido — Sheinbaum — denuncia as raízes vindas da Europa de Leste. O seu avô paterno viajou da Lituânia para o México, em 1920. Já a família materna escolheu o mesmo refúgio para fugir ao nazismo, saindo da Bulgária para rumar ao país da América do Norte.

“Na minha casa falávamos de política no pequeno-almoço, almoço e jantar”, conta a agora Presidente mexicana na biografia escrita por Arturo Cano, citada pela BBC. Descreve a dualidade entre “fazer política para transformar o mundo e, ao mesmo tempo, o ambiente académico e científico”, onde cresceu. Os seus pais, além de a introduzirem ao ativismo político desde tenra idade eram ambos cientistas.

Junto do eleitorado, a sua formação técnica e carreira política é vista com bons olhos, mas, acima de tudo, é tida em boa conta a sua proximidade ao seu antecessor. Muitos consideram-na a solução de continuidade do Governo de López Obrador. No seu programa, Sheinbaum promete concentrar o seu mandato em prosseguir o modelo económico “humanista” do atual governo, baseado em programas sociais que contribuíram para reduzir a taxa de pobreza e melhorar as condições de vida no país.

Se herdar as políticas, popularidade e sucesso do anterior líder do Governo lhe permitiu uma vitória confortável, a oposição utilizou, durante toda a campanha, esse mesmo argumento para a acusar de falta de criticismo em relação aos problemas do atual governo mexicano e de não trazer ideias novas para cima da mesa.

A festa “seca” para os milhares de cidadãos mexicanos que saíram à rua

A noite de domingo foi de festa para milhares de eleitores mexicanos que desejavam a solução de continuidade do partido Morena no Governo, que há seis anos acena a bandeira do combate à pobreza em várias regiões do México. Mesmo que vários economistas entendam que outros fatores — como o envio de dinheiro por emigrantes que trabalham no estrangeiro aos seus familiares — pesem no sucesso das políticas sociais aplicadas pelo último Governo.

Foi uma noite de festa, mas não foi de álcool, já que, segundo a “lei seca”, que entrou em vigor em 2014 no México, nos dias em que decorram atos eleitorais, existe uma suspensão que estabelece “medidas para limitar o horário de atendimento dos estabelecimentos onde são servidas bebidas intoxicantes”. É igualmente vedado o porte de armas, exceto para forças de autoridade, segundo descreve o El Espanol. Num país com uma elevada taxa de criminalidade e violência, o intuito da inscrição legislativa para uma medida tão restritiva é o de evitar desacatos no espaço público ou mesmo o de impedir influências indevidas na hora de votar.

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Bloomberg via Getty Images

A aplicação da medida fica a cargo de cada Estado e afeta estabelecimentos comerciais de venda, cafés, bares e restaurantes. Tanto o Estado do México quanto a Cidade do México suspenderam a venda de bebidas alcoólicas a partir das 00h01 do dia 1 de junho até 23h59 do dia 2 de junho.

Mesmo que sem álcool, mas intoxicados pela vitória do Morena, a festa reuniu milhares na Praça da Constituição, zona emblemática do México, com festejos que louvaram a continuidade da esquerda no governo mexicano.

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