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NgKhanhVuKhoa/iStockphoto

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Como recusar o convite de um amigo ou receber familiares em casa. Regras de etiqueta em tempos de pandemia

Devo tirar fotografias na praia? Posso recusar ver amigos e/ou familiares? Aviso alguém de que está a usar mal a máscara? A pandemia trouxe-nos um novo contexto social e, com ele, novas condutas.

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A pandemia trouxe-nos situações inesperadas. De repente, ir a casa de um amigo jantar ou visitar os pais ou os avós deixou de ser assim tão simples. O conflito de agendas é, agora, dos últimos problemas porque primeiro está a segurança de todos. Numa altura em que os portugueses assistem ao desconfinar progressivo das suas vidas, há novas dúvidas que surgem: afinal, é indelicado recusar um convite de um familiar ou de um amigo por receio de contágio? Que regras de boa conduta se aplicam neste contexto?

Essas e outras questões — que derivam de um novo contexto social que surgiu com a Covid-19 e que tanto remetem para regras de etiqueta, como para questões elementares de saúde pública — são respondidas com a ajuda de três nomes: Eunice Gaspar, jornalista e autora do “Livro de Etiqueta” (Guerra e Paz), lançado no mercado dias antes da declaração do estado de emergência, Vasco Ribeiro, especialista em etiqueta e autor do livro “Etiqueta Moderna” (Contraponto), e Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública.

Com a família

É deselegante falhar um compromisso para proteger um familiar idoso?

Eunice Gaspar (EG): Os compromissos devem ser combinados com alguma antecedência, de forma a possibilitar os convidados a avaliarem se podem estar presentes ou não. Nesta altura, em que o desconfinamento ainda está a ser feito de forma gradual, os compromissos devem ser reduzidos ou evitados. Não é deselegante recusar um compromisso para proteger um familiar que possa ser de risco, pelo contrário. Basta que justifique que a ausência é por esse motivo. Como exemplo: o meu pai fez anos a 15 de abril, e não estive com ele.

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Vasco Ribeiro (VR): Apenas é considerado deselegante caso não avise a não comparência. Procure explicar o motivo, mesmo que seja um pouco em cima da hora.

Ricardo Mexia (RM): A justificação é simples, pois de facto estamos a querer proteger uma pessoa de quem gostamos. Podemos tentar encontrar soluções alternativas, que permitam manter o distanciamento físico, mas assegurando proximidade social (como sejam os meios eletrónicos, por exemplo).

Como explico aos meus pais/avós que não quero estar com eles por receio de os contagiar?

EG: Usando essa justificação. É por amor, respeito e sentido de responsabilidade. Muitas pessoas têm optado por fazer visitas desde a rua não entrando em casa dos familiares, é uma opção. Algumas pessoas podem sentir-se um pouco melindradas, mas, na verdade, está a agir da forma mais correta. Por certo que vão entender a sua decisão.

VR: O ideal é que explique que tal se deve apenas a uma questão de proteção familiar, derivado da pandemia que, como se sabe, coloca em causa a saúde pública.

RM: Por vezes pode ser difícil fazer passar essa mensagem, mas de facto é notório que as pessoas com idades mais avançadas são mais vulneráveis a desenvolver a doença e a ter desfechos mais negativos (incluindo a morte).

O que devo ter em conta antes de receber alguém em casa?

EG: Nesta altura em que o contágio parece estar a diminuir, depende de quem está a convidar. É uma pessoa que lida com muita gente? É alguém que está a cumprir as regras sugeridas pela DGS? Se vai receber alguém em casa sabe que está sempre presente o risco de contágio. Algumas coisas que não deve deixar de fazer é sugerir ao convidado que deixe o calçado no exterior de casa e que antes de entrar lave/desinfete as mãos. Não sendo prático nem elegante que peça ao seu convidado que assim que entre vá tomar banho e use uma roupa lavada, pelos menos estas duas ações seu convidado deve acatar.

VR: Para que possa receber pessoas em casa, é recomendado ter disponível álcool em gel e proteções descartáveis para os sapatos.

RM: Devemos preservar sempre os diversos cuidados, e talvez não seja ainda o momento de retomar todas as atividades que impliquem maior proximidade. Mas se avançarmos nesse sentido, devemos assegurar que implementamos medidas que permitam reduzir o risco de disseminação da doença. Principalmente as questões do distanciamento físico, etiqueta respiratória, higienização das mãos e uso de máscara.

Tenho um filho pequeno e tenho receio de o expor a outras pessoas, mesmo em família. Como devo reagir?

EG: Uma das regras de etiqueta que as pessoas, sem saberem ou por excesso de confiança, quebram frequentemente é a “imposição” que fazem em visitar recém-nascidos nas maternidades ou nos primeiros dias em casa com a criança. Esses dias são cansativos e novos para os pais. Esses momentos devem ser íntimos e privados. Nesta altura, sendo um bebé ou uma criança, os familiares devem sempre respeitar a vontade dos pais. É uma escolha que os pais fazem. Do que sabemos, as crianças não são de risco caso apanhem o vírus, mas se os pais querem precaver que isso não aconteça a escolha é deles. Deve explicar aos familiares (que não vivem na sua casa) que não quer correr o risco de o seu filho adoecer e que quando for seguro terá muito gosto em que estejam com o menor sem restrições ou receios.

VR: Evite expô-lo a outras pessoas — caso o possa deixar com o pai ou mãe, essa será uma boa solução. Se não tiver alternativa, coloque-lhe uma máscara de proteção. O cumprimento deve ser apenas gestual, sem contacto físico.

RM: Socializar deve ser uma atividade em que toda gente se sinta confortável e, portanto, não deve gerar tensão nem preocupação. Sabemos que os mais novos têm tipicamente menor propensão para desenvolver a doença e apresentam também quadros mais benignos, mas, sem prejuízo disso, devemos ter as cautelas necessárias para os proteger.

Um grupo de amigos janta fora em Amesterdão

ROBIN VAN LONKHUIJSEN/ANP/AFP via Getty Images

Com os amigos

Convidaram-me para uma festa e não me sinto confortável/seguro para ir. O que respondo?

EG: Que enquanto o risco de contrair Covid-19 for uma ameaça diária prefere resguardar-se. Pode também justificar, com a verdade, que não sabe o comportamento que os outros convidados têm tido durante a pandemia e que prefere não arriscar a sua saúde. A palavra “não” é muitas vezes difícil de dizer, mas se for credível e educada quando declina um convite não há razão para este não ser aceite com graciosidade. Se ainda assim o anfitrião mostrar ficar chateado… é ele quem está a quebrar as regras da etiqueta.

VR: Diga que, por uma questão de segurança mútua, prefere não ir, sob pena de não estar à vontade na festa. Relembre que haverá outras oportunidades ainda mais adequadas.

RM: Socializar deve ser uma atividade em que toda gente se sinta confortável e, portanto, não deve gerar tensão nem preocupação. Atendendo ao momento que ainda vivemos, é absolutamente compreensível que as pessoas se queiram proteger, evitando situações que impliquem uma maior proximidade.

Vou a casa de alguém, chego lá e ninguém tem máscara. É mau usar a minha? E o oposto?

EG: Deve ir de máscara. Quando lhe abrirem a porta verá logo se o anfitrião tem a dele colocada. É raríssimo, da pouca experiência que tenho neste assunto nesta altura, alguém estar dentro da sua própria casa de máscara, por ser o seu ambiente seguro. Mas podem fazê-lo se vão receber alguém de fora. Se vão comer ou beber acabam sempre por tirar as máscaras a certa altura. Se quer usar a sua, questione diretamente os presentes se ficam incomodados com isso, ninguém vai ser capaz de lhe dizer que sim, visto que estamos a falar de uma questão de saúde.

VR: Cada um de nós faz o que entende. Por isso, não se iniba de usar a sua máscara. Não será alvo de exclusão, antes pelo contrário, demonstra que está a salvaguardar a saúde de todos. No caso oposto, em que chega a casa de alguém e todos têm máscara à exceção de si, deve colocar a máscara perante os restantes que já a têm.

RM: O uso de máscara em contexto social é um sinal de preocupação com os outros. A minha máscara protege-os e eles usarem máscara protege-me. O seu uso não deve ser alvo de qualquer estigma. Se num passado recente isso era uma situação muito rara, neste momento faz parte das nossas rotinas e deverá passar a ser encarado com normalidade.

É errado não querer estar com amigos que passam mais tempo na rua ou que estiveram com mais pessoas? Como recuso educadamente?

EG: Da mesma forma que com familiares ou convites para festas, as situações já descritas. Perante o risco de abalar a sua saúde é você quem escolhe. Seja honesto e diga exatamente isso. Que tem feito o esforço de estar isolado a par com o sacrifício de não estar com a família e que, como tal, vai manter esta postura até se sentir seguro em estar com pessoas de fora do seu lar. O que não pode é apontar o dedo ao amigo como se a culpa de não estar com ele seja do próprio por andar muito na rua. Dizer “não vou estar contigo porque vejo o teu Instagram e cada dia partilhas stories com amigos diferentes” ou algo do género não, aí será você o indelicado.

VR: Não é considerado errado fazê-lo. Demonstra uma atitude consciente da sua parte. Recuse argumentando que tem evitado ao máximo o distanciamento social e físico. Por certo, os seus amigos compreenderão.

RM: Mais uma vez, socializar deve ser uma atividade em que toda gente se sinta confortável e, portanto, não deve gerar tensão nem preocupação. Atendendo ao momento que ainda vivemos, é absolutamente compreensível que as pessoas se queiram proteger, evitando situações que impliquem uma maior proximidade.

Posso emprestar o meu álcool em gel?

EG: Sim, claro. Antes de o entregar de volta peça, por favor, a quem o emprestou que desinfete o frasco. Se este o usou para desinfetar as mãos e limpar o frasco, estará tudo bem. Recusar seria mesquinho nesta situação.

VR: Evite ao máximo mas, não tendo outra embalagem disponível, opte por colocá-la nas mãos da outra pessoa, para que esta não lhe toque.

RM: O uso de solução desinfetante pode desempenhar um papel importante na redução da disseminação da doença e portanto a sua partilha não só é possível, como ajuda a reduzir a transmissão comunitária. Ao usar a solução alcoólica estamos a reduzir a disseminação da doença, até porque mesmo que a embalagem estivesse contaminada, ao usar o álcool em gel acabamos por eliminar o vírus.

Como lidar com uma pessoa mais ansiosa, que esteja continuamente preocupada com o novo coronavírus e a desinfeção das mãos e das superfícies?

EG: Se a ansiedade e preocupação da pessoa não interferir com a sua vida de forma direta… não há nada para lidar. Estas pessoas provavelmente já eram ansiosas em relação a muitas coisas antes da pandemia e você já lidava com elas sem problema. Se é alguém de quem gosta muito e se está preocupada/o com a possibilidade da pessoa poder estar a desenvolver alguma “paranóia”, tente ter em conta que à partida esta situação de medo será temporária. Seja gentil e empático com todos, principalmente nesta fase crítica que estamos a viver.

VR: Deve tranquilizá-la, dizendo-lhe que, se tem tomado todas as indicações, cuidados e precauções das entidades de saúde, por princípio não terá necessidade de se sentir sistematicamente ansiosa.

RM: Devemos respeitar as opções e preocupações dos outros, desde que isso não implique um aumento do risco, como parece não ser o caso.

Um homem trabalha de máscara num escritório em Espanha

Samuel de Roman/Getty Images

No trabalho

Devo usar máscara no trabalho mesmo não sendo obrigatório? E quando estou em áreas comuns, como o refeitório?

EG: Se o seu local de trabalho não for encostado ao do colega, pode optar por tirar a máscara. Se o é, use. Se andar pelos corredores da empresa ou for a outros departamentos, deve usar. Por si e também para não deixar ninguém desconfortável caso se aproxime. No refeitório, para poder comer, vai ter mesmo que a tirar, mas deve manter a distância recomendada entre as pessoas, deixando por exemplo dois assentos entre cada pessoa à mesa.

VR: Use na mesma, pois todos os cuidados são poucos e mais vale prevenir do que remediar. O mesmo sucede no refeitório: além do distanciamento à mesa, enquanto não está a tomar a refeição, não descure o uso da máscara.

RM: Sim, o seu uso deve ser feito sempre que não seja possível manter uma distância de segurança adequada. Isso é particularmente verdade nas áreas comuns. O problema é que quando estamos a consumir alimentos (como ocorre no refeitório) não conseguimos usar a máscara, devendo portanto assegurar que as distâncias são respeitadas.

Um colega toca na maçaneta e não desinfeta a mão a seguir, digo algo?

EG: Não. Livre-se de se armar em polícia do comportamento dos outros. Você vai dar a mão ao seu colega a seguir? Desinfete você as superfícies antes de lhes tocar, como neste caso a maçaneta onde o seu colega tocou.

VR: Pergunte-lhe se, porventura, já desinfetou a mão. É uma forma subtil de o informar que está em falta.

RM: Devemos ter cautelas, mas sem entrar em exageros. A responsabilidade de higienização das estruturas e superfícies deve estar acautelada pelas equipas de limpeza, que o deverão fazer com regularidade.

Uma pessoa mostra sinais de uma possível infeção, como mantenho a distância sem a ofender? Devo alertar os meus superiores?

EG: Deve manter a distância mesmo sem que a pessoa apresente sinais da doença, é isso que a DGS nos recomenda, este gesto não será ofensivo, é necessário. Os sinais são parecidos com os de outras doenças, não se esqueça. Pode, educadamente, questionar o colega se se sente bem e ouvi-lo, ao invés de correr o risco de criar uma situação embaraçosa para si, para o colega e todos os que envolver. Se ficar certo na resposta do colega em como ele está a ser irresponsável e a desvalorizar a grande possibilidade de estar infetado, aí sim.

VR: Deve, em primeira instância, comunicar ao seu superior hierárquico tão brevemente quanto possível, pois é a essa pessoa que deve tomar as devidas diligências.

RM: Neste momento é importante que os casos sejam rapidamente identificados, e passem a estar em isolamento. Deve imperar o bom senso e quem apresente sintomatologia deverá procurar cuidados de saúde, para ver a situação rapidamente esclarecida e resolvida.

Três mulheres passeiam no Chiado

Hugo Amaral/SOPA Images/LightRocket via Getty Images

Na rua

Vou almoçar com um colega. Como devo caminhar para guardar a distância apropriada? Vai um à frente outro atrás?

EG: Dependendo do espaço, pode ir lado a lado ou um à frente do outro, com a máscara colocada e mantendo alguma distância, mas não serão necessários os dois metros. Na rua é mais importante conseguir manter a distância com os estranhos com quem se cruza do que com o seu colega. Isto porque você já decidiu ir almoçar com um colega e que vai sentar-se na mesma mesa que ele e tirar a máscara para comer na companhia dele.

VR: Idealmente, sim. É preferível um ir à frente e o outro atrás do que irem ambos lado a lado, dado que manter uma conversa propicia um contacto mais próximo.

RM: Deveremos usar máscara neste contexto e preservar as distâncias de cerca de dois metros. Não há nenhuma indicação formal neste sentido, mas havendo espaço poderemos caminhar lado a lado, mantendo os dois metros de distância.

Passam-me à frente na fila do supermercado porque não guardaram a distância, digo algo?

EG: Sim, se isso o incomodar. Fale com a pessoa, com um tom de voz normal fazendo-lhe o reparo. Se a pessoa for educada, vai pedir desculpa e ocupar o devido lugar. Se isso não acontecer, não discuta com que não tem educação.

VR: Talvez seja mais prudente não dizer nada do que chamar a pessoa à atenção, evitando estabelecer diálogo e proximidade física com ela.

RM: Isto é mais uma questão de cortesia do que de saúde, mas diria que sim, na medida em que só por desatenção alguém faria algo deste género.

Devo dizer a alguém que tem a máscara mal posta?

EG: Esta pergunta é difícil. Pelas regras da etiqueta, não. Mas estamos a falar de saúde. A pessoa é da sua confiança? Diga. Não conhece a pessoa de lado nenhum e você tem a sua colocada, estando assim protegida? Não diga. Estamos a falar de um idoso sozinho a quem provavelmente ninguém ensinou a colocar a máscara? Seja bondosa/o e ensine-o, sem sublinhar negativamente esse facto de forma a não o melindrar.

VR: Sim, mas dependerá de como o faz. Nesse caso, poderá dizer o seguinte: “Permita-me que lhe diga que tem a máscara mal colocada, e possivelmente não deu conta”. É uma questão de advertência “amigável”.

RM: Sim, devemos sinalizar más práticas, de forma assertiva e pedagógica. A máscara deve estar bem ajustada à cara, cobrindo o nariz e o queixo, e apertando o arame superior de forma a que se ajuste à forma do nosso nariz.

Alguém tosse para a mão ou, então, tosse sem proteger terceiros. Digo alguma coisa?

EG: Se é na rua, você está de máscara. Você é que tem que se proteger. A pessoa pode estar a ser irresponsável, mas não lhe cabe a si, nesta situação, fazer alarme disso. Diferente seria se fosse com alguém da sua confiança.

VR: Para evitar o risco de a pessoa voltar a tossir caso a aborde, para além de ficar de frente para si para lhe responder, opte por se afastar ainda mais.

RM: Sim, devemos sinalizar más práticas, de forma assertiva e pedagógica.

Vizinhos à varanda, durante o confinamento, em Lisboa

Horacio Villalobos#Corbis/Corbis via Getty Images

No prédio

Podemos e/ou devemos negar um convite para entrar em casa de um vizinho? É errado falar com eles e manter a distância? 

EG: A mesma resposta que qualquer tipo de convite. E deve manter a distância como faz com as outras pessoas nesta altura, que é a ação recomendada. Não é errado.

VR: Poderá negar um convite com a desculpa de que ainda é um pouco cedo a partilha de casa. E não é errado manter a distância enquanto fala com o vizinho.

RM: Socializar deve ser uma atividade em que toda gente se sinta confortável e, portanto, não deve gerar tensão nem preocupação. Atendendo ao momento que ainda vivemos, é absolutamente compreensível que as pessoas se queiram proteger, evitando situações que impliquem uma maior proximidade.

Que tipo de cuidados devemos ter para o bem comum do prédio?

EG: Duas coisas muito importantes são a manutenção da limpeza e desinfeção nas áreas comuns. Use luvas ou desinfete os botões dos elevadores antes de os premir. O lixo nunca se deixa à porta. Nem sem uma pandemia mundial. Nunca. Não deve deixar lixo numa área (depois da sua porta) que não seja só sua. Mantenha o lixo dentro de casa até ir à rua, ou vá logo. Se o lixo estiver com cheiro intenso não use o elevador, vá de escadas. Se o andar for muito alto e tiver alguma condição de mobilidade que não lhe permita ir pelas escadas, escolha um horário com pouco movimento no prédio para o fazer.

Muito importante: alguns, ou muitos, dos seus vizinhos estão em teletrabalho com as crianças a terem aulas online. Como tal, mesmo sabendo que pode fazer barulho e ouvir música alta, ou ter a televisão no máximo, não o faça por respeito a eles. Numa altura que muitos ainda estão confinados em casa, não seja o vizinho que passa horas à janela ou na varanda a tentar ver o que se passa na casa dos outros. O princípio de Janela Indiscreta está vedado pelas regras da educação e respeito pela privacidade dos outros que vivem, consigo, em sociedade.

VR: Não abrir a porta de entrada do prédio com as mãos nuas (use um lenço de papel para evitar o contacto direto); não deixar o lixo à porta; opte por usar as escadas, por serem um espaço menos fechado, mas evite contacto direto com o corrimão (use um lenço de papel para evitar o contacto direto); deixe o elevador para os idosos e grupos considerados de risco; não toque diretamente na campainha (use um lenço de papel para evitar o contacto direto); não toque diretamente na caixa de correio (use um lenço de papel para evitar o contacto direto).

RM: Reduzir a manipulação de superfícies ao mínimo essencial, usar o elevador de forma individual (ou apenas com pessoas do nosso agregado familiar), usar máscara, acondicionar adequadamente os resíduos, entre muitas outras medidas genéricas.

Devo alertar um vizinho menos cuidadoso da sua higiene?

EG: A higiene pessoal dele não. Se estivermos a falar do caso do lixo deixado fora da porta numa área que você use, sim. Com educação e voz serena. Ou pode deixar-lhe um bilhete, solicitando que não o faça e o porquê (não devia ser preciso) na porta. Ou na entrada do prédio, assim serve para todos.

VR: Se tiver um grau de confiança que lhe permita essa advertência, sem o seu vizinho levar a mal, faz bem em fazê-lo com alguma delicadeza.

RM: Sim, devemos sinalizar más práticas, de forma assertiva e pedagógica.

Pessoas numa praia em Cascais, a 26 de maio

PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP via Getty Images

Na praia

Devo partilhar fotografias na praia?

EG: É-lhe permitido ir à praia? Está a respeitar as regras de segurança? Noutra altura partilharia a foto? Se sim, pode. No entanto, e sem ter que ver com a pandemia, antes de publicar frequentemente fotos em biquíni nas redes sociais ou em poses sexy, pense na imagem que vai passar. As redes sociais são montras e não podemos impedir que quem as vê não faça juízos de valor.

VR: Resguarde-se ao partilhar fotografias na praia. Em alternativa, partilhe fotografias da praia mas sem aparecer, dado que o nosso entendimento pode ser diferente do dos outros. Podemos estar com a devida distância, mas a ideia que passa pode não ser a correta.

RM: A ida à praia pode ser feita desde que sejam cumpridas as recomendações, portanto não há nada de errado em partilhar essas fotografias.

Quando duas pessoas se cruzam em sentidos opostos nas passadeiras de madeira que vão dar à praia, como se faz? Uma das pessoas deve desviar-se para o areal? Qual delas?

EG: Uma deve, sim, desviar-se. Pelo bom senso, a mais nova dá prioridade à mais velha. O homem à mulher. No caso de ser uma família e de você estar sozinho, desvie-se você. Se alguém estiver com uma criança de colo, dê prioridade — mais ou menos como é o correto fazermos nos corredores do supermercado.

VR: O mais correto é uma delas desviar-se para o areal e, nesta circunstância, deve ser a última a chegar, pois não goza da precedência.

RM: Devemos preservar as distância de segurança sempre que possível e usar máscara quando haja possibilidade de nos cruzarmos com outras pessoas. Mas sem entrar em exageros.

Há pessoas a fazer círculos grandes na areia à volta dos seus chapéus — que vão até aos chapéus vizinhos. Se não tiver feito um círculo e fizerem um círculo até ao meu chapéu ou à minha toalha, devo protestar? Se tiver feito um círculo e alguém o atravessar, devo chamar a atenção?

EG: Há pessoas a fazerem círculos à volta dos chapéus? Se isso acontecer, significaria que a pessoa estava a tentar obrigá-la a si a mudar de lugar, o que seria incorreto. Pode ignorar que a pessoa fez isso desde que se mantenham na distância sugerida. Se alguém invadir o circulo que você fez, chame à atenção da pessoa para o facto de a distância de segurança assim não ser garantida. Ela pode nem ter dado conta, ou estar distraída. Se ambos falarem de forma educada, corre tudo bem. Receio que nas praias estas novas regras sejam muito difíceis de fazer cumprir. Principalmente em relação às crianças, que querem correr e brincar. Vai ter que haver muito bom senso.

VR: Em ambos os casos deverá relembrar essa(s) pessoa(s) que não estão a cumprir o distanciamento ditado pelas autoridades de saúde. Portanto, peça-lhes o favor de se manterem afastadas, respeitando o perímetro de segurança.

Uma criança sem idade para ter consciência disto tudo aproxima-se na praia do meu filho igualmente pequeno. O pai não a chama. O que devo fazer? 

EG: Confesso que não sei responder. Vamos mesmo ter coração para impedir uma criança de ir ter com outra na areia? Se todos os pais optarem por não deixarem os filhos afastarem-se, sim, mas não vai acontecer. Deve fazer esta escolha você mesma/o. Talvez localizar o pai da criança e fazer algum sinal para vir buscar o filho seja correto. Pegar no seu filho ao colo afastando-o da outra criança de forma súbita pode ter um impacto neles mais prejudicial e assustador do que o risco de apanhar Covid-19. Em relação a regras de etiqueta, a regra aqui é que você não pode nunca chamar à atenção da criança que não é sua para um comportamento errado que ela esteja a ter. São os pais os responsáveis e eles é que devem ser alertados por si, caso não tenham dado conta do comportamento dos filhos.

VR: A melhor forma de atuar perante esta situação é pegar no seu filho ao colo e afastar-se discretamente, evitando contacto direto entre as crianças.

RM: Devemos sinalizar más práticas, de forma assertiva e pedagógica. E proteger também as crianças pequenas, que têm seguramente menos propensão para cumprir as recomendações.

O gerente do bar da praia reconhece-me de anos anteriores e aproxima-se da minha mesa sem máscara e dá-me uma palmada nas costas. Digo-lhe alguma coisa e arrisco não voltar a ter mesa ali ou deixo passar?  

EG: O gerente do bar, qualquer empregado ou cliente, estão impedidos de circular entre mesas ou no espaço sem máscara. O cliente para ir à casa de banho, por exemplo, deve colocar a máscara, podendo voltar a tirá-la quando se volta a sentar na mesa, para retomar a refeição ou bebida. Nesta altura todos temos uma responsabilidade cívica acrescida, por isso, se numa hipótese em mil, isso acontecer, sim, reprove o comportamento. E se se aperceber que aquele espaço não está a cumprir as regras que foram decretados, denuncie. Por si e pelos outros.

VR: Relembre-o que ainda não é conveniente que o gerente do bar o cumprimente com contacto físico e, em princípio, ele tomará consciência que não o deveria ter feito daquela forma.

RM: Devemos sinalizar más práticas, de forma assertiva e pedagógica. Podemos simpaticamente pedir a quem nos rodeia que adote comportamentos mais seguros e saudáveis. No contexto da restauração o uso de máscara é recomendado.

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