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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Entrevista ao líder do Opus Dei em Portugal. "Cada mulher tem em si a capacidade de ser quem cuida da casa"

A influência nos negócios e na política, o papel das mulheres na organização, as mortificações corporais. José Rafael Espírito Santo fala dos mitos e verdades sobre o Opus Dei, que lidera em Portugal.

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É, seguramente, a organização mais controversa e criticada da Igreja Católica. Fundado em 1928 pelo padre espanhol Josemaria Escrivá, o Opus Dei foi comparado desde cedo a uma espécie de maçonaria cristã — a expressão foi mesmo usada pelo superior geral dos jesuítas, o polaco Vladimir Ledochowski, em 1942, num relatório remetido ao Vaticano sobre o movimento que, naquela altura, ia crescendo numa Espanha dilacerada pela guerra civil. Os críticos da Obra de Deus (tradução da expressão latina Opus Dei) condenam as técnicas agressivas de recrutamento junto das elites com o objetivo de garantir influência sobre o poder político e económico, o secretismo, a ocultação do património, as práticas de mortificação corporal e, enfim, o tradicionalismo e conservadorismo no seio da própria Igreja.

Em entrevista ao Observador, o padre José Rafael Espírito Santo, vigário regional do Opus Dei em Portugal, garante que essas críticas à organização são “superficiais” e resultam do desconhecimento da realidade da Obra de Deus. O sacerdote, de 59 anos, garante que “ninguém esconde que pertence ao Opus Dei” e rejeita uma aura de secretismo apenas pelo facto de os membros não andarem com “nenhuma identificação” na rua. Respondendo a quem acusa o Opus Dei de ocultar o património por não o ter em nome da organização, mas sim de fundações e de alguns dos seus membros mais destacados, José Rafael Espírito Santo destaca que “toda a gente sabe” que os colégios, clubes e outras obras ligadas à organização “têm uma finalidade apostólica que é o Opus Dei que garante”, admitindo que é património que está ligado à Obra de Deus — sem deixar de pertencer aos leigos que são responsáveis por cada uma das iniciativas.

[Veja o vídeo da entrevista: Cuidar da casa “valoriza” a mulher]

O caso mais polémico de alegada influência do Opus Dei em Portugal será o do BCP, fundado na década de 80 por Jardim Gonçalves, que é supranumerário (designação dada aos membros da organização que não aderem ao celibato e que constituem cerca de 70% do Opus Dei). Em 2005, Jardim Gonçalves deixou a liderança do banco, colocando no lugar Paulo Teixeira Pinto, igualmente supranumerário do Opus Dei. Para muitos, a escolha de Teixeira Pinto — e mais tarde a saída, que também coincidiu com o abandono do Opus Dei — foi a prova da influência do organização no banco. Mas o padre que está à frente da organização em Portugal diz que aquela foi “uma decisão daquele que era na altura o presidente, que decidiu em consciência” e assegura: “Não houve nenhuma interferência”. Mais: afirma mesmo que “se o Opus Dei interferisse, seria um erro grave e que não se pode tolerar”.

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José Rafael Espírito Santo fala ainda de outro dos temas quentes à volta do Opus Dei, que completa este ano 90 anos de existência: o facto de a Obra de Deus apenas atribuir as tarefas domésticas dos seus centros às mulheres e não aos homens, o que tem levado a organização a ser classificada como machista. O Opus Dei apenas admite a existência de numerárias auxiliares (numerário é o nome dado aos membros da Obra de Deus que optam pelo celibato e vivem em comunidade em centros do Opus Dei). O vigário regional, porém, recusa que esta realidade seja um sinal de machismo e afirma que é, na verdade, uma forma de “valorizar a mulher”, lembrando o “génio feminino”, de que falava João Paulo II, “que faz com que cada mulher tenha em si esta capacidade de ser quem cuida da casa”. “São aquelas que veem que a sua vocação profissional é ser mãe de família. Portanto, cuidam das casas do Opus Dei como uma mãe”, diz.

O padre José Rafael Espírito Santo na sede do governo do Opus Dei em Portugal, no Lumiar, em Lisboa (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“As críticas surgem da incompreensão e são clichés que se vão repetindo”

Muitos católicos portugueses fazem, provavelmente, esta pergunta: o que é o Opus Dei?
Podemos usar uma expressão de S. Josemaria: é uma mobilização de cristãos para que vivam aquilo que é próprio da fé cristã — a vocação à santidade — nas circunstâncias correntes da vida e em concreto através do trabalho. D. Manuel Clemente, que celebrou a missa no 90.º aniversário do Opus Dei, referia exatamente o espírito do Opus Dei, que é dar o testemunho cristão no trabalho, na família, nas circunstâncias correntes. O Opus Dei ajuda as pessoas a aprofundarem a vida de oração, a aprofundar o conhecimento do Evangelho, a ver como os sacramentos têm um reflexo na sua vida e que, quando vão à missa, isso ajuda-as a trabalhar melhor e a pensar mais nos outros, a cuidar mais da sua vida familiar.

O Opus Dei

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O Opus Dei (Obra de Deus) é uma prelatura pessoal da Igreja Católica, o que significa que é um conjunto de fiéis, leigos e padres, sob a autoridade de um bispo — uma espécie de diocese sem território. Fundado em 1928, em Espanha, pelo padre Josemaria Escrivá de Balaguer, o Opus Dei conta hoje com cerca de 90 mil membros em todo o mundo, dos quais mais de 2 mil são padres. Em Portugal são cerca de 1.600 fiéis (dos quais 70% são casados) e aproximadamente 100 sacerdotes. O ideal de vida dos membros do Opus Dei é o alcançar da santidade através do trabalho quotidiano.

O Opus Dei não é uma ordem monástica, o que significa que os seus membros não fazem votos nem usam hábito como acontece nas congregações religiosas. Há várias formas de pertença no Opus Dei. Os numerários são os membros que optam pelo celibato e que vivem em centros da prelatura, estando disponíveis para o trabalho da Obra. Os agregados são elementos que também optam pelo celibato, mas que vivem com as suas famílias. Os supranumerários (que compõem cerca de 70% da prelatura) são homens e mulheres casados que aderem ao ideal da santidade através do trabalho quotidiano.

À frente do Opus Dei está o bispo espanhol Fernando Ocáriz, o quarto homem a assumir a liderança da organização. Em Portugal, a organização tem como líder o vigário regional o padre José Rafael Espírito Santo.

Há aí uma mudança de paradigma, em que o Opus Dei coloca a ênfase nos leigos em vez de nos clérigos?
Sim. O Opus Dei recorda algo que é uma verdade do Evangelho, que tinha sido, pelas circunstâncias históricas, um bocadinho esquecida, e mostra como todos formamos parte da Igreja.

S. Josemaria antecipou o Concílio Vaticano II?
Em algum aspeto, sim, pela iluminação que recebeu de Deus. O próprio Papa João Paulo II reconheceu isso, que ele foi um dos percursores desta mensagem do Concílio, a vocação universal à santidade. E aí sim, mostra a importância dos leigos. Significa que a Igreja somos todos e os sacerdotes estão em função dos leigos. Chama-se sacerdócio ministerial, significa que os padres estão a servir, para que os leigos realizem a missão da Igreja, que é levar o mundo para Deus e tornar Deus presente no mundo.

Em 1942, poucos anos depois da fundação do Opus Dei em Espanha, um superior geral dos jesuítas comparou, num relatório que enviou ao Vaticano, o Opus Dei a uma espécie de maçonaria cristã, pelas técnicas agressivas de recrutamento que usaria. Ainda existe, hoje, alguma rivalidade com os jesuítas?
Não. Tudo isso, naquela época, foram incompreensões por falta de conhecimento e por mal-entendidos. Há um artigo sobre a narrativa sobre o Opus Dei que explica muito bem como é que essas incompreensões surgiram. Mas, graças a Deus, e porque todos temos muito boa vontade, tudo isso já foi superado.

Diria, portanto, que estas críticas surgem da incompreensão?
As críticas agora surgem de uma incompreensão e são clichés que se vão repetindo. E, infelizmente, pode haver pessoas que não as queiram esclarecer e que fiquem simplesmente com aquilo que ouviram.

Como responde às críticas sobre os métodos de recrutamento agressivo do Opus Dei, nomeadamente nas universidades?
São análises superficiais e que não aprofundam a realidade. O que se pretende é ajudar todas as pessoas a que aprofundem a sua fé. Ao aprofundarem a sua fé, isso leva-as a ver o que é que Deus quer para elas. O que é que o Papa pretende com o Sínodo dos Jovens? Pretende mobilizar toda a juventude, ajudando-a a ter um discernimento vocacional, a ver a sua vida não como um desfrutar, mas como algo que é uma resposta a uma vocação. É Deus que chama a uma missão. O Papa escreveu a mensagem para o dia mundial das missões em que fala disso: cada homem e cada mulher são uma missão e nós temos de descobrir essa missão. No Opus Dei, o que se pretende é ajudar as pessoas a que, ao aprofundarem a sua relação com Deus, descubram a sua missão. E aí alguns poderão ver: o que Deus me pede é que seja do Opus Dei. E outros não. Cada um segue o seu caminho. Graças a Deus, vemos como muitas pessoas que frequentaram os meios de formação do Opus Dei depois seguem os seus caminhos. Há vários jesuítas que estiveram nos meios de formação do Opus Dei, noutras realidades eclesiais, carmelitas… E pessoas que aproveitam toda aquela formação para depois viverem a sua fé até às últimas consequências.

Na capela da prelatura, onde celebra a missa diariamente com os numerários do Opus Dei que residem no centro do Lumiar (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

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Porque é que acha que o Opus Dei foi comparado a uma maçonaria cristã? O que é que no Opus Dei levou a essa comparação?
O que pode haver é, como eu dizia há bocado, não entender a naturalidade. Portanto, confundir uma coisa que é a naturalidade com que vivem a sua relação com Deus e a sua inserção na sociedade com algo que se esconde, com uma estratégia de poder, de influência. O Opus Dei, a única coisa que pretende é realizar a missão da Igreja, aquilo que a Igreja quer fazer. O Opus Dei é um instrumento da missão da Igreja.

“Não houve nenhuma interferência” no BCP

Uma das grandes críticas apontadas à organização é o secretismo em torno da pertença, porque os membros da prelatura não andam com identificação. Mas há outras organizações nas quais os membros não fazem questão de anunciar a sua pertença, embora não o escondam. Porque é que há, então, esta aura de obscurantismo no Opus Dei?
O que eu acho, francamente, é que são essas incompreensões que surgiram nos anos 40, que foram mais intensas aí e que se prolongaram nos anos 50, muito a ver com a realidade espanhola, que se vão transmitindo sem as pessoas confrontarem com a realidade. A realidade é totalmente diferente. Ninguém esconde que pertence ao Opus Dei.

O facto de o Opus Dei, oficialmente, quase não ter património, mas na verdade ter indiretamente muitos bens e edifícios que são dos membros da prelatura e onde funcionam as atividades da organização, não pode ser visto como uma forma de ocultar os bens da obra?
O primeiro ponto que é preciso ter em conta é o seguinte: o próprio do Opus Dei não é ter iniciativas e ter grandes organizações, é o que cada um dos fiéis do Opus Dei faz à sua volta, como procura ajudar os seus amigos, como procura dar testemunho cristão no seu trabalho, na família. Isto é que é a essência. Depois, há alguns membros, que têm alguma preocupação do ponto de vista da intervenção social e de alguma necessidade formativa, que se organizam para pôr em marcha, seja uma instituição de formação, de ensino, de assistência social. Como procuram também que essa iniciativa tenha uma finalidade apostólica — portanto, que nos princípios dessa iniciativa esteja presente o espírito de Cristo —, pedem que o Opus Dei dê a garantia dessa finalidade apostólica. Não há nada que se esconda. Toda a gente sabe que essas iniciativas têm uma finalidade apostólica que é o Opus Dei que garante.

Ou seja, é património que gira à volta do Opus Dei.
Sim, mas com uma característica, que é própria do espírito do Opus Dei, que é a responsabilidade dos leigos. São os leigos que são responsáveis por levar para a frente essas iniciativas. Portanto, o património é deles.

"O Opus Dei não interfere em nada nas decisões que as pessoas tenham do ponto de vista profissional, das opções que tenham. As pessoas que, por vocação profissional, trabalham num banco, são responsáveis por isso. Se o Opus Dei interferisse, seria um erro grave e que não se pode tolerar"

Mas com o controlo da estrutura do Opus Dei, ou não?
Como digo, o Opus Dei, em relação a essas iniciativas, a única coisa que garante é a finalidade apostólica. Ou seja, que ali se vive o espírito cristão. Depois, do ponto de vista económico, do ponto de vista organizacional, tudo isso é algo que é da responsabilidade das pessoas que promovem — e são elas que têm o património que é necessário para pôr essas iniciativas a funcionar.

Ao mesmo tempo, o Opus Dei é habitualmente considerado uma organização na qual se estabelecem teias de influência para obter poder político e económico, porque há membros da prelatura em lugares de destaque na banca, nos negócios e no poder político. O Opus Dei tem interesse em colocar pessoas em lugares estratégicos?
Não. O Opus Dei funciona de uma maneira totalmente diferente. Ajuda-se as pessoas, como dizia, a que aprofundem a sua fé, a sua relação com Cristo e a sua responsabilidade, e que cada um procure fazer o melhor possível. Aí, cada um decide, e o Opus Dei não interfere em nada nas decisões que as pessoas tenham do ponto de vista profissional, das opções que tenham. As pessoas que, por vocação profissional, trabalham num banco, são elas que são responsáveis por isso. Se o Opus Dei interferisse, seria um erro grave e que não se pode tolerar. Qualquer membro do Opus Dei não aceitaria que algum diretor do Opus Dei lhe dissesse alguma coisa sobre o modo como ele organiza o seu trabalho. Ou para lá pôr outras pessoas do Opus Dei. Não. Nunca se diz: “Olha, esta pessoa precisa de trabalho, mete-a lá”. Nunca (risos). Isso vai contra a própria essência do Opus Dei.

O caso do BCP — fundado por Jardim Gonçalves, membro do Opus Dei — é o exemplo mais evidente, com uma pessoa — Paulo Teixeira Pinto — que também era do Opus Dei a ser colocada por ele na liderança do banco. Diria que é uma coincidência?
Há uma decisão daquele que era na altura o presidente, que decidiu em consciência. Não houve nenhuma interferência.

Também houve um relatório que envolvia o Opus Dei numa teia de interesses à volta da gestão do Hospital de Santa Maria. O que é que o relatório queria dizer?
(Risos) Quando li a notícia deu-me vontade de rir, como me estou a rir agora. Nunca cheguei a perceber.

O padre José Rafael Espírito Santo recebeu o Observador na sede do governo do Opus Dei em Portugal, em Lisboa (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

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Mesmo não tendo o Opus Dei nenhum plano para interferir na política ou nos negócios, admite que as casas e as estruturas do Opus Dei possam servir, muitas vezes, de atmosfera onde estas relações se estabelecem e se exteriorizam para fora do Opus Dei?
As atividades do Opus Dei estão abertas a todo o tipo de pessoas. Admito que alguma pessoa se aproxime procurando obter algum favor por outras vias, pelos conhecimentos que possa travar aí. Mas uma pessoa que vá com essa intenção rapidamente se apercebe de que aí não vai tirar nada.

Não se fala de política ou economia nos encontros de formação do Opus Dei?
Não.

Calculo que nas casas onde vivem os numerários se discutam estes assuntos.
Aí, fala-se com naturalidade, como num grupo de amigos. Cada um expõe a sua opinião e aí respeita-se sempre as opiniões. E é muito bom que haja opiniões contrárias sobre as diversas matérias.

O Opus Dei tenta dirigir o seu trabalho de evangelização sobretudo para membros das elites?
Não. A mensagem do Opus Dei é para todos. Mas procura-se, sim, ter uma evangelização da cultura, dos intelectuais, para chegar a todos. Os pensadores, os criadores de ideias, são aqueles que depois mais facilmente chegam a todos. Mas não há uma preferência ou uma exclusividade.

"Admito que alguma pessoa se aproxime procurando obter algum favor por outras vias, pelos conhecimentos que possa travar aí. Mas uma pessoa que vá com essa intenção rapidamente se apercebe de que aí não vai tirar nada"

Ou seja, chegando às elites, chega-se a todos.
O objetivo é chegar a todos, sabendo que, do ponto de vista intelectual, se as ideias forem impregnadas do espírito de Cristo mais facilmente transformam o espírito da sociedade.

“A mulher tem em si a capacidade de ser quem cuida da casa”

Onde é que está o Opus Dei em Portugal?
Centros do Opus Dei há em Lisboa, Coimbra, Porto, Viseu, Braga e Montemor-o-Novo. Pessoas do Opus Dei há em todo o país e em muitos desses sítios há atividades de formação. As atividades de formação, quando são encontros de oração orientados por algum sacerdote, começam sempre com o visto bom do bispo da diocese, que vê que é uma coisa boa e que quer que ali haja essa formação.

O Opus Dei é muitas vezes visto como uma Igreja paralela dentro da Igreja.
Não, não. O Opus Dei está para servir a Igreja, cada diocese e as paróquias. As pessoas do Opus Dei que vivem na paróquia estão ali para estar metidas na paróquia e para fazerem com que a paróquia esteja viva. O que é que procuram fazer as pessoas do Opus Dei? Ajudar os seus amigos a que sejam bons cristãos e que, portanto, vão à missa, procurem ajudar na paróquia, e também estejam metidos nas iniciativas dos bispos. Ou seja, não é nada em paralelo. Antes pelo contrário.

Quando me falava de pessoas do Opus Dei em todo o país, estamos a falar, sobretudo, de intelectuais?
Não. Podemos dizer que a franja de pessoas do Opus Dei é muito parecida, a outra escala, com a franja nacional. Há pessoas de muito poucos recursos, a maioria é de classe média, e depois algum pode ter mais recursos.

O padre José Rafael Espírito Santo está à frente do Opus Dei em Portugal desde 2002 (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

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Vou ler um excerto que retirei do site do Opus Dei relativamente à organização interna: “Algumas numerárias — denominadas numerárias auxiliares — dedicam-se — de modo prioritário (não exclusivo) e habitual (não necessariamente sempre) — como seu trabalho profissional à atenção doméstica dos centros do Opus Dei”. Também há numerários auxiliares?
Não. Repare. As mães de família são mães. S. João Paulo II falava do génio feminino, que faz com que cada mulher tenha em si esta capacidade de ser quem cuida da casa. Há muitas mulheres que tomam a opção, na sua vida profissional, de cuidar da casa, de cuidar da família. As numerárias auxiliares — e também há outras que as ajudam — são aquelas que veem que a sua vocação profissional é ser mãe de família. Portanto, cuidam das casas do Opus Dei como uma mãe.

Mas também há pais de família na sociedade, que também tratam das casas.
Sim. Claro que o pai de família também colabora. Mas o génio feminino — e isto é algo que nós não podemos perder, porque é um valor humano que ajuda a que a sociedade seja mais humana — faz com que a mulher tenha esta capacidade para estar atenta aos pormenores, para saber, por exemplo, do bom gosto para arranjar as coisas, de ter iniciativas que surpreendem. Claro que os homens também têm, mas a mulher tem uma capacidade que é inultrapassável.

No Opus Dei não pode haver homens que se queiram dedicar a essas tarefas, então.
Não está previsto. Mas muitos numerários, claro, colaboram nas coisas da casa, porque é necessário. Muitas vezes até fazer comida, arranjar as coisas.

Acha que isso faz parte de uma cultura machista na Igreja Católica?
Não, nem pensar. Isto é valorizar a mulher. Uma discriminação positiva. Ver um valor que tem a mulher. Quando se tem uma linguagem igualitária, às vezes o que se faz é perder esse valor. É um valor que tem.

Afinal, porque não podem as mulheres ser padres?

As mulheres não podem ser ordenadas sacerdotes, não podem ocupar cargos de liderança na Igreja…
Quanto a isso, a questão do acesso ao sacerdócio é algo que está perfeitamente esclarecido. Ainda agora, recentemente, foi esclarecido, porque é algo que vem da vontade de Cristo. A Igreja foi aprofundando esta realidade do que é que significa o sacerdócio de Cristo, como identificação com Cristo homem. Daí, vê-se que as mulheres não têm acesso ao sacerdócio. Mas uma das coisas nas quais a Igreja está a caminhar é a descobrir o que é que os leigos podem fazer e que, muitas vezes por razões históricas, há tarefas que os sacerdotes assumem que podiam ser assumidas por leigos.

Como por exemplo?
Na organização da Igreja, muitas coisas do ponto de vista administrativo, na organização da formação, da catequese… Coisas que muitas vezes, por razões históricas, estão centradas nos sacerdotes. Por exemplo, dirigir o centro social. Há um caminho a percorrer para descobrir o papel dos leigos. Homens e mulheres. A mulher aí contribui com este aspeto positivo do génio feminino.

Mas nos cargos de liderança…
Nos cargos de liderança também é um desafio perceber o que é que corresponde ao sacerdócio ministerial. O sacerdócio ministerial é essencialmente distinto do sacerdócio comum. Quando somos batizados, identificamo-nos com Cristo, que é sacerdote, profeta e rei. Todos os batizados participam do sacerdócio de Cristo, da missão profética de Cristo e do reinado de Cristo. Depois, o sacerdócio ministerial, essencialmente diferente, dá uma identificação com Cristo cabeça, que tem uma função, como sacerdote, na celebração dos sacramentos, de santificar o povo de Deus; como profeta, de ensinar em nome de Deus, e como rei, no governo da Igreja em nome de Deus. A organização da Igreja tem coisas que são reservadas aos sacerdotes e há outras, muitas outras, que podem ser desempenhadas por leigos. Isto é uma descoberta que estamos a fazer. Para que os sacerdotes possam dedicar-se àquilo que é exclusivo e assim potenciar muito mais a ação da Igreja.

"As mães de família são mães. S. João Paulo II falava do génio feminino, que faz com que cada mulher tenha em si esta capacidade de ser quem cuida da casa. Há muitas mulheres que tomam a opção, na sua vida profissional, de cuidar da casa, de cuidar da família"

Muitas críticas ao Opus Dei têm na sua origem relatos de antigos membros da prelatura que saíram com experiências negativas. Como olha para esses relatos que, muitas vezes, atacam os próprios fundamentos do Opus Dei?
Olho com pena, porque é uma pena ver que houve pessoas que também partilharam deste mesmo ideal que não se soube ajudar e que ficaram feridas. É uma pena. O que eu gostaria era de ajudar todas essas pessoas a sarar as suas feridas. Há incompreensões.

E a voltar ao Opus Dei?
Se quisessem, sim. Há incompreensões, pode haver perspetivas diferentes, mas há um respeito por essas perspetivas. É muito importante perceber o que as pessoas sofreram e compreendê-las, ajudá-las e pedir perdão. Pedir perdão porque houve coisas que foram mal feitas. Todos nós somos seres humanos e todos nós, às vezes, com a melhor das boas vontades, podemos fazer coisas que são barbaridades. E aí, sim, temos o desejo de retificar.

Portanto, o Opus Dei cometeu erros com muitas dessas pessoas.
O Opus Dei, como instituição, não. Mas muitas pessoas do Opus Dei sim. E por isso é que há este desejo de pedir perdão.

As mortificações corporais têm alguma coisa a ver com o que vimos no Código da Vinci?
Não, não têm nada a ver (risos).

Ainda se praticam?
A chamada mortificação é algo que faz parte do património cristão. No fundo, é ver como a nossa identificação com Cristo também é com Cristo sofredor, Cristo que sofre voluntariamente, porque Jesus não morre fruto de umas circunstâncias das quais não pôde escapar. Morre, dá a sua vida, exatamente porque quer, porque quer redimir-nos. O sacrifício vem daí, desta identificação com Jesus. Perceber como é que o sofrimento unido à cruz como manifestação de amor é algo que contribui para o tesouro da humanidade. O Papa Bento XVI, quando refere o sofrimento, diz que aí estamos a contribuir para a compaixão, porque, no fundo, é perceber como é sofrer, estar ao lado de quem sofre, estar ao lado de Cristo.

"A chamada mortificação é algo que faz parte do património cristão. (...) O Papa Francisco referiu há pouco tempo que houve alturas em que ele também usava o cilício"

Usa-se o cilício [cinto, corrente ou cordão com farpas, usado sobre a pele como penitência] e as disciplinas [um objeto semelhante a um chicote]?
As pessoas que querem sim. Mas o Papa Francisco referiu há pouco tempo que houve alturas em que ele também usava o cilício.

Isso pode ser, de alguma forma, incompreensível aos olhos de hoje?
Sim, completamente. Assim como é incompreensível que tenha havido um Deus que encarnou e que nos salvou a todos e que há todo um sentido para a história. Isso, para um mundo que recusa o transcendente, é incompreensível.

Acha que o Código da Vinci contribuiu para criar muitas das imagens que existem hoje à volta do Opus Dei?
Sem dúvida. Recolheu muitos destes fantasmas que corriam e divulgou-os de uma maneira mais mediática. Por exemplo, a mortificação que aparece ali é uma caricatura. É como estar a dizer que quando um macaco emite um som é parecido a um homem que fala. Não tem nada a ver (risos).

Pedofilia. “Unidade com o Papa é algo que é fundamental na Igreja”

A Igreja está a fazer o suficiente para lidar com o problema da pedofilia?
Este problema, podemos dizer, é uma coisa tremenda, que quase produz revolta. Temos de evitar cair na revolta, porque sabemos que temos de confiar em Deus. Mas eu vejo em tudo isto uma bênção de Deus. O pior que há é uma gangrena que não se conhece, que está a destruir. Estes erros estavam a destruir a missão da Igreja, a imagem da Igreja. Quantas vítimas ficaram com a sua vida completamente destruída? Pessoas, crianças, que esperavam encontrar Deus e foram completamente enxovalhadas?

A Igreja traiu-as.
Essas pessoas da Igreja traíram-nas. E isto é tremendo. Por isso, é bom conhecer este mal, porque é isso que nos salva. Bento XVI, quando começaram a aparecer estes casos, disse: “Só a verdade salva”. Digo que é uma bênção de Deus porque Deus está a purificar a Igreja daquele mal que existe nos seus membros.

Chega pedir desculpa?
Não, não chega. Têm-se feito muitas coisas. Há uma progressiva consciência do que significam esses erros graves e do modo como é preciso sarar as feridas. Não basta pedir desculpa, é preciso acompanhar as vítimas, compreender a sua dor e a sua revolta — essas pessoas, sim, estão revoltadas — e procurar ajudá-las a que voltem a encontrar Deus, sabendo que Deus não se esquece delas. Depois, sim, é preciso tomar medidas, que se estão a tomar, para que nunca mais se repitam estes casos.

Como viu a carta do arcebispo Carlo Maria Viganò a denunciar que o Papa Francisco, alegadamente, teria tido conhecimento dos abusos do cardeal norte-americano Theodore McCarrick?
É bom olhar para tudo o que a Igreja está a fazer e, ao mesmo tempo, como alguns bispos dos Estados Unidos pediram, precisamos de saber a verdade.

"Há uma progressiva consciência do que significam esses erros graves e do modo como é preciso sarar as feridas. Não basta pedir desculpa, é preciso acompanhar as vítimas, compreender a sua dor e a sua revolta e procurar ajudá-las a que voltem a encontrar Deus, sabendo que Deus não se esquece delas"

A carta tem credibilidade, na sua opinião?
O que é preciso é investigar e o Papa já fez isso, já ordenou que se investigasse tudo o que está relacionado com este caso do cardeal McCarrick. É por aí que é preciso ir, para esclarecer. Se se levanta uma suspeita, é preciso esclarecer. Não podem ficar dúvidas.

E se se concluir que o Papa sabia mesmo, o que é que devia acontecer?
É o Papa que tem de tomar a decisão, mas eu confio totalmente no Santo Padre.

Os bispos portugueses…
manifestaram a sua unidade! E é muito bom. A unidade com o Papa é algo que é fundamental na Igreja. O Santo Padre é o fundamento da unidade da Igreja. Poderíamos até dizer que o ministério do Santo Padre é possibilitar que a Igreja esteja unida. Estando unidos ao Papa, então estamos unidos entre nós e estamos unidos a Cristo. Por isso, é um valor que é preciso defender sempre.

O cardeal D. António Marto chegou a dizer, também numa entrevista ao Observador, que aquela carta fazia parte de uma campanha organizada pelos ultraconservadores.
Isso é uma análise da situação.

“Há uma campanha organizada pelos ultraconservadores para ferirem de morte o Papa Francisco”

O Opus Dei é muitas vezes associado a esta ala mais conservadora da Igreja.
Isso são clichés. Não é verdade. No Opus Dei, e o prelado sempre o tem dito, temos de estar sempre unidos ao Santo Padre, rezar pelo Santo Padre, e ajudar a contribuir para a unidade, para que todos estejam unidos ao Santo Padre.

Mas podemos colocar o Opus Dei nesta ala mais conservadora?
Não. Mesmo até dizer que o Opus Dei é da ala mais conservadora, isso é uma visão completamente superficial e errada. A realidade é totalmente diferente. O Opus Dei pretende, sim, ajudar a que todos sejam fiéis à doutrina da Igreja, ao Magistério, estejam unidos ao Papa. S. Josemaria dizia que uma das finalidades do Opus Dei é levar todos, com Pedro, a Jesus por Maria. Todos com Pedro. Todos unidos a Pedro. Com o Papa.

O engenheiro guitarrista que perdeu as eleições para a associação de estudantes

Quando entrou para a organização, tinha seguramente noção de todas estas críticas à atuação do Opus Dei. Como as interpretava?
Conhecia. Um exemplo: quando estava no liceu, tinha um colega cujo pai também tinha lido desses livros. Este meu amigo, que também alguma vez tinha ido a algum dos meios de formação do Opus Dei, falou-me disso, do que o pai lhe tinha dito. E eu disse-lhe: “Olha, a realidade é outra. O que eu conheço não é nada disso”. Esse mito é algo que se tem vindo a desfazer com o conhecimento da realidade. O Opus Dei surge como algo que é novo, inédito, e às vezes há dificuldade para compreender o que é a naturalidade de viver a vida cristã com empenho, sendo um engenheiro, um advogado, um médico, um trabalhador da construção civil… Essa dificuldade de compreender levou, às vezes, a procurar preencher aquilo que não se percebia com outros parâmetros.

Porque é que não se percebia? Porque os membros não divulgam a pertença, este secretismo de que se fala?
Pela naturalidade com que viviam a sua relação com o Opus Dei. Uma das coisas que são próprias do espírito do Opus Dei é que as pessoas são cidadãos normais e correntes e que não ocultam a sua relação com o Opus Dei. Mas que não andam nenhuma identificação. Essa naturalidade, que hoje em dia as pessoas já aceitam e compreendem, na altura era estranha.

José Rafael Espírito Santo, de 59 anos, natural de Lisboa, estudou engenharia em Coimbra e filosofia em Roma (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Quando entrou no Opus Dei também levava algumas destas dúvidas?
Não, porque eu conhecia a realidade do Opus Dei pelo meu pai e pela minha mãe. Depois, pelas pessoas que eu conhecia, via que tudo isso era um desconhecimento da naturalidade com que as pessoas viviam.

O que é que surgiu primeiro? A vocação para ser padre ou a vocação para entrar no Opus Dei?
Primeiro, surgiu a vocação para o Opus Dei, que descobri quando era muito novo.

Quantos anos tinha?
Descobri quando tinha 14 anos, porque já o meu pai era do Opus Dei e sempre me foi ajudando a crescer na fé, sempre com grande respeito pela liberdade. Foi-me ajudando a amadurecer na fé e, aí sim, fui descobrindo essa possibilidade de ter a mesma vocação.

Quando é que entrou, efetivamente, na prelatura?
Fiz o chamado pedido de admissão quando tinha 14 anos e meio. Mas, depois, há todo o processo, e só aos 21 é que fiz o chamado compromisso definitivo.

Nessa altura, qual era a ideia que tinha do Opus Dei? Calculo que fosse a perspetiva do interior da organização.
Sim, e também pelas pessoas que ia conhecendo. Por exemplo, o meu irmão, que não é do Opus Dei, é um dos iniciadores de um clube de rapazes chamado Clube Xénon. Portanto, eu já conhecia quais eram as atividades que se desenvolviam. Depois, com naturalidade, comecei a frequentar e fui amadurecendo na minha relação com Deus, vendo o que Deus me ia pedindo e o que é que queria fazer da minha vida.

Já na altura, com 14 anos, tinha noção do compromisso que pretendia assumir?
Sim. Aquilo que me perguntaram incluía tudo o que significava esse compromisso.

O que é que queria ser dentro do Opus Dei?
Uma pessoa normal, corrente. Sou engenheiro civil e o que pensava era em dedicar-me à engenharia civil. O meu irmão é engenheiro civil, tem um gabinete de engenharia. E eu também pensava que a minha vida iria por aí. Depois, acabei o meu curso em Coimbra e fiquei como assistente e também tinha a perspetiva de ter a minha carreira universitária, como assistente e depois como professor.

"Em casa dos meus pais, sempre tínhamos uma vivência política. O meu pai, na altura, era Governador Civil em Vila Real. (...) Depois do 25 de Abril, logo em 1974, fiz uma lista para a associação de estudantes do Liceu Camões. Não ganhei, fiquei em segundo lugar"

Mas queria ser numerário ou supranumerário? Ou seja, queria casar?
Nessa altura, aquilo que me propuseram era já ser numerário, com a consciência de que Deus me pedia o dom do celibato. Foi assim que correspondi.

Estudou primeiro em Lisboa e depois em Coimbra…
Fiz o primeiro ano no Técnico, sou o número 23.166 do Técnico (risos).

O 25 de Abril tinha sido há pouco tempo.
Apanhei-o no liceu, estava no correspondente ao nono ano de agora.

Na altura, os jovens estavam muito próximos da intervenção política. Como foi a sua intervenção?
Desse ponto de vista, em casa dos meus pais, sempre tínhamos uma vivência política. O meu pai, na altura, era Governador Civil em Vila Real. Portanto, havia uma consciência da realidade política e era natural ter esse desejo de intervir. Depois do 25 de Abril, logo em 1974, fiz uma lista para a associação de estudantes do Liceu Camões. Não ganhei, fiquei em segundo lugar (risos).

Nessa altura, já estava a fazer o seu percurso dentro do Opus Dei. O que é que o levou à Engenharia Civil?
Sempre tive claro que ia ser engenheiro. Pelo modo de ser, pelo modo de ver as coisas. Depois, fui amadurecendo essa realidade. Quando acabei o que corresponde ao décimo primeiro ano, apanhei o Serviço Cívico. Durante o Serviço Cívico, estive a trabalhar numa empresa de relógios, levava as encomendas para as lojas, e isso ajudou-me muito a conhecer o mundo do trabalho, ter um trabalho e estar ali a receber um ordenado, que era uma coisa ridícula na altura. Foi o primeiro ano em que houve exames de acesso à universidade e eu estava em dúvida entre engenharia mecânica e engenharia civil. Mas depois vi claramente: engenharia civil. O meu irmão já estudava no Técnico.

Já conhecia a história do beato Álvaro del Portillo [1914 — 1994, sucessor de Josemaria Escrivà à frente do Opus Dei]?
Que era engenheiro civil, também.

Inspirou-o a seguir essa área?
Não foi propriamente uma inspiração. Eu conhecia o beato Álvaro porque o conheci aqui em 1972, quando veio o S. Josemaria cá. Mas conheci-o no sentido em que ele acompanhava S. Josemaria, porque passava sempre muito despercebido. Sabia que ele era engenheiro civil, mas não foi isso que me influenciou.

José Rafael Espírito Santo quis ser engenheiro civil e chegou a dar aulas em Coimbra, mas aceitou o desafio do sacerdócio e seguiu para Roma estudar (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Como é que um estudante de Engenharia Civil em Coimbra salta, depois, para os estudos eclesiásticos em Roma?
Eu queria seguir a minha carreira de engenheiro civil e, depois, ao mesmo tempo, sabia que havia necessidade de padres, que são necessários para todo o trabalho do Opus Dei. Quando era assistente, perguntaram-me se eu estava disponível para ser sacerdote. Com toda a liberdade, porque podia dizer que não e continuar a minha vida.

Quem é que lhe perguntou?
Uma pessoa daqui do Opus Dei. Para dizer a verdade, foi um raciocínio quase de engenheiro, pragmático. Fazem falta sacerdotes. Eu tenho alguma dificuldade? Grande, grande, não tenho. Portanto, vou (risos).

O celibato já estava, portanto um dos maiores desafios já estava cumprido, não é?
Sim. Depois fui para Roma. Na altura ainda não havia a Universidade da Santa Cruz. Tinha começado aquilo que foi o gérmen da Universidade da Santa Cruz, que era o Centro Académico Romano da Santa Cruz, que depois passou a Ateneu. Fiz a licenciatura em Filosofia Eclesiástica.

Foi lá que teve uma banda de rock?
É verdade (risos). Entre as pessoas que estavam lá no seminário da prelatura havia muitos que gostavam de música e que tocavam, e ali havia a tradição de constituir um grupo de rock. Então eu, como tocava guitarra e também gostava, também participei nesse conjunto. Não tocávamos músicas próprias.

Eram uma banda de covers.
Exatamente. Tocávamos, por exemplo, dos Eagles, o Hotel California. Foi a primeira vez que me lancei a tocar o solo daquilo… Agora tenho vergonha do que toquei, da forma como toquei. A música é fora de série. Houve uma vez que fizemos uma sequência de músicas dos Beatles, nunca tocávamos uma só.

Tocavam para quem?
Para as pessoas que estavam lá, algum festejo especial. Dependia muito dos gostos das pessoas.

Hoje ainda toca?
Toco sim, por gosto.

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