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O ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos (D), ladeado pela nova coordenadora e deputada do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua (E), à chegada para a sua audição perante a Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação, sobre a "situação da TAP no período 2015-2023", na Assembleia da República, em Lisboa, 06 de junho de 2023. ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA
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PS diz que PSD não tem condições para governar, BE assegura que única forma de garantir estabilidade é maioria à esquerda

ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

PS diz que PSD não tem condições para governar, BE assegura que única forma de garantir estabilidade é maioria à esquerda

ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Esquerda afina estratégia depois de Açores: cola instabilidade à direita e fala a descontentes

Eleições nos Açores e sondagens do Chega levam PS, BE e PCP a fazerem afinações ao discurso. Ideia é provar que direita será instável, com ou sem acordos, mas também chamar a si os descontentes.

Mesmo que se afaste uma leitura nacional do que é regional, a verdade é que as eleições dos Açores apareceram a pouco mais de um mês das legislativas mais imprevisíveis dos últimos anos e é impossível ignorar o que vem do meio do Atlântico. O PSD (em modo AD) ultrapassou o PS, pela primeira vez desde 1996 e o Chega mais que duplicou o número de deputados. Más notícias para a esquerda, que tem estado a realinhar estratégia para aplicar ao plano nacional, tentado aprender com o primeiro domingo da leva eleitoral que aí vem.

Socialistas, bloquistas e comunistas aparecem alinhados na ideia de apostar na incapacidade da direita em produzir uma solução governativa estável, perante a incerteza do que acontecerá mesmo nos Açores. Mas a confirmação da tendência de crescimento do partido de André Ventura também fez pensar e pôs o PS a investir forte sobre os descontentes. Afinal, desta vez os socialistas já não estão tão certos de poder cingir-se à estratégia de António Costa em 2022 e sentar-se apenas à sombra do receio que os eleitores moderados podem ter de um PSD colado ao Chega.

Mostrar aos independentes que há alternativa ao protesto

A ultrapassagem do PSD nos Açores deixou os socialistas a reverem a estratégia e a fazerem contas sobre o futuro no palco nacional. Com a AD à frente, perde força o fantasma de um acordo de maioria com o Chega no dia a seguir às eleições legislativas de 10 de março? No fim de todas as reflexões e mesmo que PSD e Chega não tenham (ainda) consumado o casamento nos Açores, no PS mantém-se que o PSD não tem uma solução de governabilidade para oferecer aos eleitores e, sem maioria, irá sempre encostar-se ao Chega para manter o poder. E nenhuma das destas duas hipóteses é apontada como estável.

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Por outro lado, a aproximação de André Ventura do topo da tabela eleitoral, revelada pelas sondagens (e que os Açores confirmaram estar a crescer), deixou socialistas em alerta e apostados em virar-se para as “causas que levam os eleitores a votarem no Chega”.

Começando pelo princípio, já não é tão líquido assim, no topo do partido, que a estratégia de janeiro de 2022 — de pôr PSD e Chega no mesmo saco na tentativa de assustar eleitores moderados — traga vantagens seguras. “Há uma conjugação de fatores, casos judiciais, contexto de custo de vida, que aparentemente está a colocar muitos eleitores a considerar votar no Chega”, reconhece um dirigente do partido ao Observador. Embora possa repetir-se o receio de um Chega a crescer e com influência sobre o poder, há tanto que mudou entretanto que os “efeitos” de conquista ao centro podem não ser os mesmos que em 2022, adverte outro dirigente.

“Até pode repetir-se o cenário de incerteza sobre um acordo entre PSD e Chega, mas entretanto o PS mudou de líder e há todos os casos de corrupção na política…”. Ou seja: “Repete-se o cenário, mas o efeito pode não ser o mesmo“, diz o mesmo dirigente temendo que o argumento da incerteza sobre casamentos à direita com o Chega já não seja suficiente para juntar moderados à volta do PS como em janeiro de 2022 — nessa altura chegando mesmo à maioria absoluta, com que os socialistas já nem ousam sonhar agora.

Pedro Nuno fez campanha nos Açores. PS esperava que eleições deixassem PSD num dilema maior

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Já quanto à análise do disparo do Chega, no PS faz-se a média às sondagens que aponta para o valor de 17% e também para a “tendência de crescimento” do partido de André Ventura. E há um reconhecimento de que isso “coloca pressão no PS e no PSD e na capacidade de mostrar energia e mobilização” nesta fase. É por isso que Pedro Nuno Santos apareceu com propostas como o fim das portagens nas SCUT.

“O PS tem de continuar a mostrar abertura para a resolução de problemas não resolvidos. Construindo a ideia que há mais soluções políticas para os problemas que as pessoas estão a sentir”, diz um alto dirigente, apontando precisamente a medida das SCUT que, argumenta, “procura responder a zonas do país que se sentem esquecidas”.

É uma tentativa de pescar diretamente na massa de descontentes que tendem a encontrar conforto no voto num partido de protesto. “O PS tem de continuar a mostrar abertura para a resolução de problemas não resolvidos”, afirma o mesmo dirigente quando questionado sobre os riscos deste crescimento do partido de Ventura.

Aliás, o debate entre Pedro Nuno Santos e o líder do Chega é visto no partido como “importantíssimo” para o socialista. Um decisivo teste à resistência do líder, tendo em conta que será ali que muito naturalmente mais serão explorados os “casos e casinhos” que surgiram no tempo em que Pedro Nuno foi ministro. Um dirigente do partido ouvido pelo Observador acredita mesmo que não tem comparação com a importância que terá o debate com Luís Montenegro.

A colagem direta entre PSD e Chega, com críticas frequentes à semelhança na linguagem usada entre as duas partes, tem tido, aliás, uma moderação. Ainda esta quinta-feira, no Porto, Pedro Nuno Santos reconheceu que os dois não são exatamente a mesma coisa. Mas isto não quer dizer que exista qualquer aproximação face ao PSD, ou abertura para seguir a estratégia defendida por Francisco Assis na noite das eleições nos Açores. Numa mensagem enviada à SIC, o socialista disse claramente que o PS devia viabilizar o Governo da AD nos Açores e não deixar que o Chega seja uma alternativa.

Bolieiro segue estratégia de Montenegro e avança para governo sem o Chega. PS em dilema estratégico

Pedro Nuno Santos tem procurado não dizer publicamente ao PS-Açores o que deverá fazer, mas a sua posição ficou muito clara logo na noite de domingo quando disse que era contra uma confusão entre os dois partidos. “Seremos Governo ou oposição”, sublinha um socialista próximo de Pedro Nuno sobre este posicionamento: “Não viabilizaremos governos de direita nem o nosso eleitorado deseja isso.”

A posição de Assis sobre os Açores, acredita um socialista, “permite alargar o espaço estratégico do PS”. O que se passa entre PSD e Chega, “é entre eles”, atira um dirigente afastando o PS de qualquer obrigação de viabilização de governos da AD. Aliás, neste ponto, os socialistas vão continuar a explorar a ideia de “ingovernabilidade”, com um líder da coligação da direita a negar entender-se com outro líder da direita. Isto enquanto uma solução à esquerda está assumida por Pedro Nuno Santos e colocada como “estável”.

Uma aposta no bluff de Bolieiro e sondagens estagnadas

Mais à esquerda, entre as hostes bloquistas – que continuam a apostar tudo num acordo pós-eleitoral com o PS – surge uma narrativa clara: as garantias do PSD-Açores de que não conversará com o Chega, que no continente servem de balão de oxigénio a Montenegro, só vão aguentar até às eleições. “Isto é só para proteger e aliviar o Montenegro até lá. Quando vier o Orçamento, com quem será aprovado?”, dispara um dirigente do partido de Mariana Mortágua.

Entre bloquistas a tese vai correndo: José Manuel Bolieiro disse que vai governar sem precisar do Chega, mas este apressou-se a garantir (pela boca do vice-presidente Tânger Correia) que viabilizará o Executivo social-democrata e, daqui a semanas ou meses, começarão as dificuldades e a necessidade de aprovar propostas, Orçamento incluído. Por isso, o Bloco – tal como muitos no PS – acredita que o PSD está apenas a “empurrar”, por agora, conversas que inevitavelmente terá de ter para garantir que consegue governar.

O raciocínio vai, no PS – mesmo sem falar em novos acordos à esquerda – e no Bloco – onde as conversas sobre o assunto são mais do que muitas – dar, na verdade, ao mesmo lugar: mesmo que a Aliança Democrática até consiga uma maioria relativa, ou faz acordos com o Chega e fica dependente de um partido errático (que pôs fim aos acordos que assinou nos Açores) ou não tem “forma de governar”, como dizia Pedro Nuno Santos esta semana.

Bloco aposta tudo em pedir acordo com o PS

LUSA

“Luís Montenegro quer evitar, adiar. A declaração que resulta da noite eleitoral é formar um governo sem essa maioria [com o Chega]. Só que essa maioria vai ser precisa quando houver um Orçamento, e aí terá de fazer um acordo com o Chega ou esperar que o PS se abstenha”, aponta o fundador bloquista Francisco Louçã no seu podcast “Um pouco mais de azul”. Se o PSD insistisse nessa pressão ao PS para viabilizar o seu governo regional, cairia numa “armadilha”, sugere Louçã – a partir desse momento ficaria obrigado a fazer o mesmo com os socialistas a nível nacional.

A conclusão deste lado do espectro político é uma, mesmo que surja com menos força desde que Bolieiro surpreendeu nos Açores: “A única solução estável é um entendimento à esquerda”, ouve o Observador nos corredores do Bloco. “O PS não terá maioria absoluta. Não pode fugir à explicação sobre o que vai fazer depois das eleições, se vai procurar uma maioria que dê estabilidade parlamentar (…) ou se vai fazer um jogo político que conduziria a novas eleições e a um regime de instabilidade”, atira Louçã no mesmo podcast. Ou seja, a única forma de garantir que há estabilidade é apontar para um “acordo sólido”, tenta defender a esquerda. E o argumento de Bloco de Esquerda e Livre passa precisamente por recordar que há disponibilidade para esse acordo – há até convites para que o PS comece a negociá-lo com os outros partidos.

Mais: não só ambos os partidos fazem questão de que os acordos sejam escritos e tenham prazos concretos definidos, como Pedro Nuno Santos recentemente louvou os méritos dos acordos escritos, deixando antever que seria essa a sua preferência caso precise (e, como o próprio recordava esta semana, não é “credível” nesta altura supor que algum dos partidos venha a ter maioria absoluta).

O problema é que, para isso acontecer, seria preciso alcançar uma maioria à esquerda – e nem as sondagens que colocam Pedro Nuno Santos à frente de Luís Montenegro desenham um cenário animador para a esquerda como um todo. Como explicar essa falha, numa altura em que a esquerda à esquerda do PS poderia beneficiar com os pecados da maioria absoluta ou com indignação nas ruas a propósito do estado da Habitação?

O secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), Paulo Raimundo (D), cumprimenta participantes num almoço da Coligação Democrática Unitária (CDU) com reformados da vila de Pias, Serpa, 07 de fevereiro de 2024. NUNO VEIGA/LUSA

PCP continua a não descolar nas sondagens

NUNO VEIGA/LUSA

À esquerda, acredita-se que o contexto atual de ressentimento até pode ser favorável ao Chega, mas não necessariamente a partidos como o Bloco – protestos de agricultores e polícias até podem ser a praia do primeiro, mas não serão a do segundo, nem lhe dão espaço para falar do que quer e marcar a agenda com as suas bandeiras políticas. Ainda assim, há quem insista que Pedro Nuno Santos é o “homem da geringonça” e é assim que é visto pelo eleitorado quer queira quer não; se continuar focado em conquistar o eleitorado do centro, e em colar o PSD ao Chega, pode abrir espaço à esquerda para crescer.

Já o PCP continua a evitar responder diretamente a perguntas sobre possíveis acordos, embora as respostas de Paulo Raimundo vão sugerindo que o modelo ideal para o PCP passará por viabilizar um eventual governo de esquerda mas não se envolver em acordos escritos formais. A formulação que Raimundo usa passa por garantir que aprovará o que for “positivo”. E explicar que, pelo PCP, a direita – aliada à extrema-direita, como sublinha sempre – não poderá governar. Mas, para poder concretizar essas intenções, o bloco da esquerda precisa de votos, mais votos do que as sondagens lhe apontam neste momento – votos que lhe permitam ultrapassar o bloco da direita e mostrar que tem as tais soluções “estáveis” que faltam ao outro lado do espectro político.

 
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