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O número de pessoas desaparecidas nas montanhas não é certo, mas inclui idosos e um recém-nascido
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O número de pessoas desaparecidas nas montanhas não é certo, mas inclui idosos e um recém-nascido

Getty Images/iStockphoto

O número de pessoas desaparecidas nas montanhas não é certo, mas inclui idosos e um recém-nascido

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"Falava do fim do mundo". O mistério das dezenas de homens, mulheres e crianças que desapareceram depois de um ritual religioso na Venezuela

Conhecida pelo fanatismo religioso, Rosa García dizia que o mundo acabava em setembro. Mais de 35 pessoas seguiram-na até uma zona montanhosa para um encontro com a Virgem Maria. Nunca mais voltaram.

Rosa Elvira García era descrita por todos — os que desapareceram e os que ficaram — pela sua extrema paixão religiosa. A padaria de que é dona na cidade venezuelana de La Grita, agora fechada há várias semanas, não era a sua principal ocupação nem aquela que a distinguia no seio da comunidade. A mulher de 57 anos era conhecida por ser a líder espiritual de um grupo religioso que criara e pelos rituais e encontros católicos para rezar que organizava. Durante anos, pertenceu a grupos de oração da Renovação Carismática Católica, um movimento que surgiu no seio na Igreja Católica nos Estados Unidos, em meados da década de 1960. Mais tarde, criou o seu próprio movimento eclesiástico: “Seguindo Jesus.” Agora, Rosa García surge ligada a um misterioso desaparecimento de cerca de 40 pessoas — entre as quais um recém-nascido — depois de um retiro que organizou na zona oeste da Venezuela, junto à fronteira com a Colômbia.

Até há pouco, a mulher era uma reconhecida devota da comunidade de La Grita. Só que, há aproximadamente quatro anos, estas práticas religiosas começaram a tornar-se “extremas” e “caíram no fanatismo religioso”, quando Rosa começou a dizer que era possuidora de revelações da Virgem Maria e tinha o poder de “remover espíritos”, segundo representantes da Igreja Católica em declarações ao jornal venezuelano Diario La Nácion. Apercebendo-se do que se passava e alertado por familiares preocupados, o pároco de uma das localidades do município de Jáuregui, onde está localizada a capital La Grita, conversou com a própria líder espiritual. Disse-lhe que todas aquelas práticas tinham de acabar e Rosa comprometeu-se a fazê-lo. O padre ficou convencido de que a mulher de 57 anos cumpriria com a sua promessa.

Rosa Elvira García, de 57 anos, está identificada como sendo a mulher que liderou o retiro religioso

Getty Images/iStockphoto

Mas não foi assim. “Falava do fim do mundo. Notámos que algo não estava bem”, contou um vizinho que falou com Rosa García no mês de junho. Familiares próximos admitem mesmo que a sua extrema paixão religiosa era fora do comum e que a mulher de 57 anos estaria obcecada: “Passou de uma prática religiosa para o fanatismo”, disse um deles ao Diario La Nación. Durante várias semanas, garantiu ser protagonista de uma revelação da Virgem Maria, que a teria avisado de que o mundo acabaria em meados de setembro e indicado “uma zona específica para se salvarem“, contou Wilman Rivera, chefe de Segurança Cidadã e diretor da Polícia de Táchira, estado no noroeste da Venezuela que faz fronteira com a Colômbia.

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Essa “zona específica” situa-se no parque nacional Juan Pablo Peñaloza, nas montanhas de La Grita, entre os estados Mérida e Táchira. Foi para lá um grupo de pessoas — cujo número ao certo não se conhece, mas ultrapassa as três dezenas — partiu a 22 de agosto, aparentemente sem que ninguém se questionasse sobre a situação. Ninguém sabe que caminho percorreram, nem qual era o destino final. Mais de duas semanas depois, esse grupo de pessoas ainda não regressou: estará algures num parque com mais de 750 quilómetros quadrados de dimensão.

No grupo, há vários idosos e um recém-nascido. Alguns dos desaparecidos são familiares da Rosa García

Os moradores de La Grita falam, com precisão, de duas famílias inteiras que estão desaparecidas: nove pessoas da família Luna Roa — cinco deles, menores de idade — e seis da família Peña García — incluindo um menino com um ano de idade. A estas famílias, juntaram-se outras pessoas. No grupo, há vários idosos e até um recém-nascido. “Falamos, hoje, de 35 a 40 pessoas, de distintas idades, incluindo um bebé com oito dias, que estiveram num retiro religioso de quatro dias e já passaram mais de 15”, disse o diretor da Proteção Civil do estado de Táchira, Yesnardo Canal, aos jornalistas.

“Falamos, hoje, de 35 a 40 pessoas, de distintas idades, incluindo um bebé com oito dias, que estiveram num retiro religioso de quatro dias e já passaram mais de 15”
Yesnardo Canal, diretor da Proteção Civil do estado de Táchira

Rosa García é familiar direta de algumas pessoas do grupo. Teresa García, uma de entre 14 irmãos, também está na lista de pessoas procuradas e, com ela, o marido, os dois filhos, o genro e o neto de um ano.

Familiares dos desaparecidos divulgaram, nas redes sociais, fotografias de alguns deles, com o alerta de que estariam a ser “enganados e manipulados por uma mulher que se faz passar por líder” de um “grupo de oração”, lê-se numa das publicações citadas pelo Diario La Nación.

Alguns habitantes de La Grita não entendem como é Rosa García conseguiu convencer e influenciar tanta gente, membros de várias famílias, incluindo pessoas com formação superior. O que os leva a especular: e se havia outra razão, algo secreto, que levou mais de 30 pessoas a aderir a este alegado ritual religioso? Certo é que Rosa García teve o poder de persuasão suficiente para que as pessoas saíssem com ela em direção às montanhas — seja qual for o motivo que as levou a ir. “Supostamente, eles estavam a ouvir a Virgem e colocaram por escrito as coisas que a Virgem lhes disse, entre elas, que o mundo iria acabar”, disse ainda o pároco ao Diario La Nación.

Nas suas práticas religiosas, Rosa García fazia-se acompanhar por um homem, Adolfo Rosales, que não fará parte do grupo de desaparecidos — algo que alguns habitantes da cidade descrevem à comunicação social como estranho. “O que aconteceu? Se eles são tão próximos, compartilham os mesmos ideais espirituais e sempre estiveram juntos, por que é que o homem não foi com eles? Será que ele descobriu algum propósito sombrio [do retiro]? Do qual não queria fazer parte?”, especulam alguns vizinhos.

Porém, a polícia já o chamou para prestar declarações — bem como familiares e vizinhos de Rosa. “Ele acompanhava-a sempre para todos os lugares. Por que ele não foi com ela se eles estavam sempre juntos?”, questionou um morador que pediu anonimato, acrescentando que a suposta líder espiritual dizia que “muitas coisas más estavam para vir, que Cristo tinha chorado lágrimas de sangue pelo que todos nós tínhamos feito e que o mundo ia acabar.”

Polícia já localizou local do encontro. Mas grupo já tinha saído — possivelmente em direção a um pântano

Viajaram em dois carros e alugaram uma casa, uma espécie de quinta, onde terão construído “um abrigo onde tinham uma série de alimentos não perecíveis, colchões e outros itens necessários, pois o fim estava a chegar”, acrescentou o padre. Tudo leva a crer que as pessoas que foram para o chamado retiro espiritual estejam bem alimentadas, já que investiram uma grande quantia de dinheiro para comprar muitos alimentos.

Nas suas práticas religiosas, Rosa García fazia-se acompanhar por um homem, Adolfo Rosales, que não está entre o grupo

Getty Images/iStockphoto

Uma comissão do Corpo de Investigações Científicas, Penais e Criminais do município de Jáuregui conseguiu localizar a quinta em questão e encontrou vestígios da presença de pessoas na área. Tudo indica que se trata do grupo em questão. No entanto, quando a polícia chegou ao local, já não se encontravam ali: os investigadores acreditam que tenham ido para uma zona mais alta da montanha, em direção a um pântano.

Um dos familiares informou a polícia de que nenhum dos adultos, agora dados como desaparecidos, podia levar telemóveis consigo — era uma exigências da líder espiritual. O que ainda torna mais difícil pedir ajuda, num cenário em que estas pessoas se tenham perdido. E também impossibilita os investigadores de tentarem localizar os desaparecidos através das antenas de telecomunicação.

“Supostamente, eles estavam a ouvir a Virgem e colocaram por escrito as coisas que a Virgem lhes disse, entre elas, que o mundo iria acabar. Construíram um refúgio, onde tinham uma grande quantidade de alimentos não perecíveis e outros artigos necessário, já que o fim se estava a aproximar"
Pároco de uma das localidades do município de Jáuregui

Na passada terça-feira, autoridades recorreram a drones para reforçar as operações terrestres perto de duas cidades montanhosas, em zonas de floresta onde alguns moradores disseram ter avistado um grupo de pessoas e onde o acesso é mais difícil. “Aparentemente foram obtidas informações dos moradores da área que viram um grupo de cidadãos nas áreas montanhosas do município de Jáuregui, que fazem fronteira com o município de Uribante. É lá que as autoridades começarão o monitoramento aéreo”, informou o diretor da Proteção Civil de Táchira ao jornal local Diario de Los Andes. Até agora, as buscas, que começaram logo na manhã seguinte ao desaparecimento, não tiveram sucesso e o mistério dos desaparecidos que participaram no retiro religioso de Rosa García continua por explicar.

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