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Os maiores festejos foram do Vox, que se tornou imprescindível a uma maioria de direita
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Os maiores festejos foram do Vox, que se tornou imprescindível a uma maioria de direita

Os maiores festejos foram do Vox, que se tornou imprescindível a uma maioria de direita

Maioria de direita, mas governo com o Vox ou PSOE. A região de Espanha que está no impasse político que podia ter acontecido em Portugal

PP venceu eleições em Castela e Leão, mas precisa do Vox (ou de uma difícil ajuda do PSOE) para governar. Cenário parecido ao que as sondagens chegaram a prever em Portugal. E agora?

A comunidade autónoma de Castela e Leão, no noroeste de Espanha, vive por estes dias um impasse político em tudo semelhante àquele que se poderia ter verificado em Portugal depois das legislativas de 30 de janeiro se algumas sondagens tivessem acertado. O Partido Popular (centro-direita) ganhou as eleições regionais deste domingo, mas longe da maioria absoluta, elegendo apenas 31 deputados. Em segundo lugar, os socialistas do PSOE (centro-esquerda), ainda mais longe da governação, com 28. A solução óbvia parece surgir do Vox: o partido de extrema-direita elegeu 13 deputados, que somados aos 31 do PP dariam origem a uma maioria de 44 deputados — suficiente para superar o limiar da maioria absoluta num parlamento regional com 81 assentos.

Contudo, a solução só é óbvia do ponto de vista estritamente matemático. Politicamente falando, a comunidade autónoma espanhola vê a sua dinâmica política mergulhada num imbróglio difícil de resolver. O líder do Vox, Santiago Abascal (que participou na campanha eleitoral autárquica do Chega, ao lado de André Ventura, em 2021), já exigiu ao PP aquilo que Ventura havia exigido a Rui Rio quando as sondagens em Portugal falavam da possibilidade de uma maioria de direita: a entrada do Vox no governo regional, concretamente assumindo a vice-presidência do executivo castelhano.

Do lado do PP, porém, há grande resistência à ideia de uma união com a extrema-direita. Inicialmente, o atual presidente do governo regional, Alfonso Fernández Mañueco, recandidato pelo PP afirmou que não descartava qualquer opção, nem mesmo uma coligação com o Vox, dependendo do programa comum em que fosse possível chegar a acordo. A nível nacional, contudo, a liderança do PP já se veio opor a essa possibilidade, assinalando que o melhor caminho para o partido na região será chegar a acordos com as forças políticas regionais, de modo a ter um apoio mais amplo no parlamento e poder exigir ao Vox que se abstenha e permita a aprovação do governo.

O Partido Popular quer a todo o custo evitar ter de formar um governo em coligação com o Vox — e esta segunda-feira Mañueco disse que não descarta nem mesmo um entendimento com o PSOE, dando origem a um bloco central ou, pelo menos, a um apoio permanente para quatro anos dos socialistas aos populares que a imprensa espanhola descreve como praticamente “uma quimera”. Um cenário parecido à hipótese que em Portugal é descrita como uma possibilidade de último recurso — e que nas eleições legislativas de janeiro chegou a ser aventada como solução para deixar o Chega de fora de uma solução governativa.

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Também esta segunda-feira, o Vox voltou a insistir que deve fazer parte do próximo governo, usando argumentos muito próximos dos que Ventura usou em Portugal para a mesma exigência. “Vamos fazer valer os nossos votos. Um eleitor do Vox não vale menos que um eleitor de outro partido qualquer”, disse o candidato do Vox, Juan García-Gallardo, numa conferência de imprensa. “Temos o direito e o dever de integrar o próximo governo de Castela e Leão.” Se em Portugal o impasse nunca saiu do reino das hipóteses, uma vez que a maioria absoluta do PS apanhou o país de surpresa e acabou com todas as dúvidas sobre a governabilidade, em Castela e Leão os resultados eleitorais lançaram a instabilidade sobre a região — o Vox tornou-se impossível de ignorar e a matemática parlamentar necessária para o evitar é profundamente complexa.

PP só quer abstenção parlamentar do Vox, mas partido de Abascal quer ser governo

Tal como sucedeu na campanha eleitoral portuguesa com o PSD de Rui Rio, é sobre o partido clássico do centro-direita espanhol, o PP, que recai a maior dificuldade na gestão de um clima político marcado pela ascensão da extrema-direita. Quando um partido como o Chega ou o Vox se torna indispensável na construção de uma maioria parlamentar de direita (para a qual os partidos da direita clássica são insuficientes), qual a melhor opção? Alinhar com esses partidos? Ou buscar alternativas em pontos distintos do espectro político? E, tal como Rui Rio tentou fechar a porta a uma coligação com o Chega sem, contudo, rejeitar entendimentos parlamentares (e sem às vezes se demarcar realmente do partido de Ventura, como aconteceu em temas como a prisão perpétua, nos debates televisivos), também o PP está a ter dificuldades em dizer um não com todas as letras ao Vox.

No final da noite de domingo, os votos ainda estavam a ser contados, mas o cenário final já se começava a desenhar: o Vox seria mesmo a terceira força política da região e uma maioria de direita só poderia ser formada entre eles e o partido de Santiago Abascal. O PP conseguiria aumentar a sua representação parlamentar de 29 para 31 deputados, mas a queda abrupta do Ciudadanos (como já tinha acontecido nas últimas eleições nacionais, o C’s está a desaparecer) de 12 para apenas um deputado impossibilitaria a repetição da coligação de direita de há quatro anos. Em sentido contrário, o Vox subiria de um para 13 deputados, tornando-se indispensável à formação dessa maioria de direita.

“Os castelhanos e os leoneses falaram e nós exigimos respeito pelo veredicto do povo soberano”, disse Santiago Abascal no discurso de vitória do partido, tomando a palavra ao lado do candidato do partido pela região, Juan García-Gallardo, que Abascal disse logo estar com “cara de vice-presidente”. O líder nacional do Vox não teve dúvidas de que o partido tem “o direito e o dever de formar governo em Castela e Leão” — e garantiu que o partido, depois de “salvar esta região da ameaça de comunistas e socialistas”, será, em breve, “a alternativa política, a de maior utilidade para expulsar Sánchez do poder” “Não exigiremos nem mais nem menos do que aquilo que nos corresponde“, disse ainda Abascal na primeira reação, a quente, aos resultados, que colocam o Vox a caminho da sua primeira experiência governativa (a nível regional), que poderá catapultá-los em breve para um papel executivo a nível nacional.

Elections In Castilla Y Leon 13f 2022. Vox Results Monitoring In Valladolid.

Santiago Abascal, líder do Vox, discursa ao lado de Juan García-Gallardo, candidato do partido ao governo regional

Europa Press via Getty Images

Nessa primeira intervenção, Abascal não mencionou diretamente as condições concretas do Vox para apoiar um governo regional do PP (embora a piada da “cara de vice-presidente” deixasse antever uma das exigências possíveis). O líder do Vox disse que agora seria o tempo de negociar, assegurou que o partido levaria para a mesa das negociações as propostas do programa eleitoral do Vox e atirou a bola para o lado do PP.

Por seu turno, o PP vê-se agora profundamente dividido entre manter-se no poder e rejeitar alianças com a extrema-direita. O partido conseguiu assegurar a vitória pretendida, mas o resultado foi amargo e as fraturas internas demoraram pouco a fazer-se sentir. No domingo à noite, Alfonso Fernández Mañueco fez um discurso de vitória cauteloso. “O PP ganhou as eleições em Castela e Leão. O futuro de Castela e Leão ganhou as eleições”, exclamou, para logo depois colocar água na fervura: “Vou dialogar com todos para formar um governo de todos e para todos. Quero alcançar acordos para formar um governo eficaz e estável, sem a ameaça constante e permanente de moções de censura.”

A ideia de conversar com todos desagrada especialmente à liderança nacional do PP, partido presidido por Pablo Casado, que vê a sua posição em risco ao deixar o partido cada vez mais condicionado pela extrema-direita. A nível nacional, a ordem do PP é para que a delegação do partido em Castela e Leão não negoceie a formação do novo executivo com o Vox.

Isso mesmo foi deixado claro pelo secretário-geral do partido, Teodoro García Egea. “Os governos de coligação não trouxeram mais estabilidade e prosperidade a Espanha, mas o contrário”, disse Egea. Como conta o jornal espanhol El País, na manhã desta segunda-feira Teodoro García Egea (o número dois do partido a nível nacional) e Alfonso Fernández Mañueco (o líder do PP de Castela e Leão) multiplicaram-se em entrevistas em que ficou claro que o PP está a pensar a duas velocidades: a partir de Madrid, a ordem é para afastar do Vox; em Castela e Leão, não se descarta a possibilidade de falar com o partido de Abascal. “Não descarto nada. Já o disse de forma bem clara: não há linhas vermelhas, temos de falar do programa“, disse esta manhã Mañueco.

Em Madrid, o pensamento já está nas próximas eleições regionais, em Andaluzia, ainda durante o ano de 2022. Lá, o PP governa em coligação com o Ciudadanos — e o partido não quer arriscar perder as eleições ao ver o eleitorado de centro fugir para o PSOE com medo de uma possível coligação do PP com o Vox. Por isso, Pablo Casado não quer que o precedente seja aberto em Castela e Leão. “Quem quer um governo [do PP] em coligação com o Vox é o PSOE, já a pensar na Andaluzia”, disse uma fonte do Partido Popular ao El País.

A solução proposta a partir de Madrid é precária: chegar a acordo com as forças políticas regionais (Soria Ya!, Unión del Pueblo Leonés e Por Ávila), que somam sete deputados, para garantir o seu apoio, e depois pedir ao Vox uma abstenção na investidura do governo regional, na qual tudo indica que o PSOE virá a votar contra. Esta opção deixa o PP dependente da abstenção dos extremistas e, mesmo que a investidura vá em frente, o partido ficaria a governar em minoria no parlamento regional, o que deixa antever eleições antecipadas num futuro próximo — e, por isso, não agrada à delegação regional do PP. O argumento da direção nacional do partido é o de que será o Vox a ter de responder perante os eleitores caso chumbe um governo de direita, uma troca de argumentos em tudo semelhante à tida entre PSD e Chega em janeiro.

Elections In Castilla Y Leon 13f 2022. Follow-up Of Pp Results In Salamanca

Alfonso Fernández Mañueco, recandidato pelo PP, durante o discurso de vitória

Europa Press via Getty Images

Tal como a possibilidade de um mero entendimento parlamentar entre PSD e Chega desagradava a Ventura (Rui Rio chegou a dizer que conversas com o Chega só “à vista de todos”, no Parlamento, e Ventura exigiu entrar no Governo se o partido conseguisse, pelo menos, 7% dos votos), também no caso de Castela e Leão a possibilidade de um mero entendimento com vista à investidura do governo regional do PP será insuficiente para o Vox, que já veio reiterar, esta segunda-feira, a exigência de integrar o executivo. Numa conferência de imprensa sobre os resultados da eleição, o candidato do Vox, Juan García-Gallardo, rejeitou a hipótese de uma abstenção para facilitar o governo do PP.

“Tenho de dizer de forma categórica que o resultado das eleições nos dá o direito e o dever de integrar o próximo governo de Castela e Leão. Não é uma surpresa. Quem queria que oferecêssemos os nossos votos ao PP que tivesse votado no PP”, disse, exigindo o mesmo tratamento que o Ciudadanos teve na última legislatura. “Não viemos para facilitar um governo solitário do PP.

Juan García-Gallardo apresentou já duas das suas exigências centrais para vir a aprovar um governo do PP: a reversão da Lei da Violência de Género (que contempla um conjunto de proteções para mulheres vítimas de violência cometida por homens) e da Lei da Memória Histórica (que prevê que o Estado apoie os herdeiros das vítimas da ditadura e da guerra civil na busca dos restos mortais dos familiares). Gallardo classificou estas leis como políticas “de esquerda”, que devem ser revertidas por um governo de direita.

Esta segunda-feira, Alfonso Fernández Mañueco afirmou que vai tentar governar a solo, mas que isso dependerá do diálogo com todas as forças políticas. Voltando a não rejeitar um entendimento com o Vox, Mañueco aproxima-se da posição central do partido e diz que o partido de Santiago Abascal será a última opção. Ainda assim, o líder do PP de Castela e Leão voltou a sublinhar que não é o PP nacional quem toma a decisão. “Quem vai fazer as negociações é o PP de Castela e Leão“, disse, deixando Pablo Casado fora da equação. A solução pode, inclusivamente, passar por um acordo com o PSOE, ainda que o bloco central seja uma opção difícil de concretizar.

Apoiar ou não o PP para evitar Vox no governo? Fraturas também no PSOE

Numa entrevista esta segunda-feira à rádio Onda Cero, Alfonso Fernández Mañueco garantiu que iria tentar perceber “qual é a vontade do PSOE e a capacidade de poder chegar a um acordo“. Mañueco disse mesmo que contempla “um acordo com o PSOE”, mas isso parece difícil de ocorrer. A lista dos socialistas, liderada por Luis Tudanca, ficou em segundo lugar e não consegue liderar uma maioria de esquerda suficientemente ampla que permita destronar o PP.

Oscar Puente, o presidente da câmara de Valladolid, a maior cidade de Castela e Leão, e influente figura do PSOE, já veio dizer que considera que os socialistas deviam permitir a investidura de um governo do PP, através de uma abstenção parlamentar, para evitar a chegada da extrema-direita ao poder. “Creio que o PSOE tem uma possibilidade, que é oferecer-lhe [ao PP] uma alternativa. Se o PP cair nos braços do Vox, que não seja porque não tem outra oportunidade“, disse esta segunda-feira Oscar Puente.

“Seria positiva a possibilidade de explorar um acordo que evitasse que a extrema-direita condicionasse algo tão importante como a recuperação económica. É importante que, neste momento, o PSOE tenha um papel responsável, de Estado, e ofereça ao PP uma possibilidade para evitar que essas coisas aconteçam”, disse Puente. “Se a extrema-direita é tão perigosa, o normal é não permitir que aceda aos governos. Se há possibilidade de o fazer, temos de o tentar.

Elections In Castilla Y Leon 13f 2022. Follow-up Of Psoe Results In Valladolid.

Luis Tudanca, candidato do PSOE ao governo regional de Castela e Leão

Europa Press via Getty Images

Mas essa não é a visão do PSOE a nível nacional, segundo disse esta segunda-feira o porta-voz do partido, Felipe Sicilia, depois de uma reunião da cúpula do partido. “Não vamos possibilitar um governo manchado pela corrupção e com um calendário de julgamentos nos próximos meses. Este cenário foi propiciado pelo PP com o único objetivo de reforçar Casado e fazer passar a ideia de uma mudança de ciclo político que não existe”, afirmou o porta-voz, salientando que o plano do partido não é abster-se na votação — mas também que ainda não recebeu qualquer pedido nesse sentido da parte do PP.

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