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PRODIARIO/ Global Imagens

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O Sá Carneiro que eu conheci e não esqueço

Francisco Sá Carneiro faria este mês 86 anos. Quantos portugueses se lembrarão hoje dele? Ninguém saberá, mas este é um político raro, que faz parte de nós. Ensaio de Maria João Avillez

1 Já me interroguei mais do que uma vez: quantos portugueses se lembram hoje de Francisco Sá Carneiro? Ninguém saberá. A contabilidade é, porém, irrelevante face ao que se sabe e o que se sabe é que vale a pena lembrá-lo. A História fá-lo-á, estou certa. A marca que imprimiu, o exemplo que inspira e o legado que deixa se encarregarão de fornecer matéria para memória futura.

Sá Carneiro faz parte de nós. Honra o país mas, caso muitíssimo interessante, honra as elites de onde vem, o que é merecedor de registo e até talvez vénia: as elites portuguesas, com as honrosas excepções que se conhecem, não costumam, desde tempos imemoriais, proporcionar-nos o embaraço da escolha entre os seus vultos. Contam-se por poucas mãos a coragem, a visão, a vontade, a cultura, as escolhas que das elites nacionais queiramos lembrar. (Coisa muito diferente se diria do povo português que tanto escreveu a nossa História, mas essa é outra história.)

Hoje trata-se de Sá Carneiro.

Não, porém, de forma enganadora ou laudatória. Francisco Sá Carneiro não quis ser um santo, não foi um herói, não é um mito. Não foi um político consensual, um chefe permanentemente amado, nem era um homem livre de controvérsia. Esteve muitas vezes cercado, foi muitas vezes incompreendido fora e dentro e fora da sua família partidária. Ao longo da sua curta vida (morreu com quarenta e seis anos), mesmo se seguido, foi sempre vivamente hostilizado pelos diversos poderes: o antigo regime, no tempo do “caetanismo”; e, depois de 1974, pelas esquerdas radicais, o PS, o núcleo duro do Movimento das Forças Armadas, o Conselho da Revolução, a rua. Todos, reflectindo o ar do tempo revolucionário, lhe recusavam o direito de cidade. E mesmo alguns dos seus próprios pares, em surdina, ou na praça pública, desdenhavam de si. Valerá a pena recordar — por exemplo — que raros foram os comunicados emitidos pelo então PPD (o partido só trocaria a sigla “PPD” pela de “PSD” em 13 Outubro 1976) que traduzissem na integra a opinião do líder: espelhavam antes a divisão que já grassava — nunca deixaria de grassar… — nas fileiras daquele turbulento agregado familiar. Sobretudo, convém lembrar que várias foram as ocasiões que opuseram o líder aos seus altos quadros dirigentes, vindo o partido a ser alvo de duas memoráveis cisões: as elites saíram, o líder e as bases ficaram.

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Eu lembro-me.

Tardou até que encontrasse eco para o que pretendia no PSD e quorum, colaboracão e aplauso para o que defendia para Portugal. Talvez porque não hesitasse em romper: antes de Abril de 1974, rompeu com um país asfixiado, uma Igreja complacente com o poder, a agonia da Ala Liberal. Após a revolução, rompeu com a configuração e o teor do I Governo Provisório (chefiado pelo advogado Palma Carlos) que integrou para logo abandonar; com a revolução comunista; a tutela militar, os abraços terceiro-mundistas; as tentativas para descaracterizar o partido que fundara, o que o levou mais de uma vez a abandonar o leme da barca; com a Constituição da República, datada de Abril de 76, que começara por assinar para depois rejeitar, apresentando em 1979 um outro texto de sua autoria. E veio a romper de forma quase obsessiva com o “eanismo” e os seus “malefícios” num combate duríssimo a que só a morte poria termo. Levaria para a política um carisma indefinível e uma personalidade intensa que o levaram a cortar a direito, eleger uma rota e segui-la. Se possível sem desvios. Umas vezes foi “possível”, outras não, mas o que se retém é que ele agiu sempre como se fosse.

Na política, Francisco Sá Carneiro saiu, entrou, partiu, incomodou. Dizia-se que era “contraditório” — e pode tê-lo sido. Nem sempre coerente — e não sempre o foi. Mas só veio a ser popular porque nos momentos cruciais fora capaz de ser impopular, seguido porque antes dividira, amado porque antes repudiara.

Saiu, entrou, partiu, incomodou. Dizia-se que era “ contraditório” — e pode tê-lo sido. Nem sempre coerente — e não sempre o foi. Capaz do compromisso por conveniência e tal sucedeu uma ou outra vez. (Desmentindo a lenda.)

Separando águas e campos, respondia com a pátria e repetia o que vinha dizendo desde o final dos anos sessenta do século passado: queria viver num Estado de direito e numa democracia de modelo ocidental, pluripartidária e reformista. Foi ajustando ou retocando o modelo ao longo dos anos, conforme o que as circunstâncias lhe exigiam ou a sua capacidade de acção lhe recomendava. Agindo com frequência como um homem de pensamento e pensando como um homem de acção, foi muitas vezes inspirado pela premonição com que previu ou captou os eventos para neles depois intervir por antecipação. Uma coisa, porém, é certa: só veio a ser popular porque nos momentos cruciais fora capaz de ser impopular, seguido porque antes dividira, amado porque antes repudiara.

2 Francisco Manuel Lumbrales Sá Carneiro nasceu no Porto a 19 de Julho de 1934, na rua da Picaria, numa casa austera onde se amava a ordem e a vida assentava naturalmente no tríptico Deus, Pátria e Família. O pai, José Gualberto, um advogado de renome, era o patriarca à volta do qual tudo girava. Quantas vezes os filhos ouviam a mãe dizer-lhes “Hoje ninguém fala à mesa, o pai tem julgamento a seguir ao almoço”?

Maria Francisca Costa Leite (Lumbrales) neta de um dos bravos do Mindelo, era a guardiã e a educadora. Nunca gostara de política, nem no tempo do marido, deputado na Assembleia Nacional durante vinte anos, nem no do irmão, João Lumbrales, ministro das Finanças de Salazar; nem —ainda menos — do filho, que a revolução de Abril de 74 levara para Lisboa e ela vira, com mais receio que orgulho, governar o país a partir da sua gelada solidão da Rua da Picaria.

Francisco Manuel era o quarto de sete irmãos e fazia dupla com Ricardo Luís (o “Rico”), quatro anos mais novo. O “Chico”, “estudioso e cumpridor”, o “único que tinha a prateleira dos brinquedos arrumada”, em tudo destoava do “Rico”, aparatoso e indisciplinado, embora também bom aluno.

Muito cedo Francisco revelou um gosto invulgar pela leitura e adolescente tímido e reservado, era nela que se refugiava, preferindo-a às brincadeiras infantis. Após os estudos liceais inscreveu-se na Faculdade de Direito de Lisboa, continuando assim a tradição de uma família de advogados. Em 1956, termina o seu curso, regressa ao Norte, começa a trabalhar no escritório do pai.

Pouco tempo depois, casa, constitui família. E vão nascendo os cinco filhos que o casal Isabel e Francisco viriam a ter.

Praticando uma fé comprometida, participa activamente em diversos movimentos de inspiração cristã. Aprecia o Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, com quem por vezes se avista e com quem conversa. Segue com olhos atentos e esperançados os trabalhos do Concílio Vaticano II. A doutrina social da Igreja abre-lhe os horizontes, Francisco ganha gosto pela intervenção cívica, centrada no compromisso do cristão com o mundo. Lia e relia Mounier, falava dele aos amigos. Descobre-se um caminho, iluminado pelas teses deste pensador personalista, embora os seus imperativos tivessem sido, desde o início desta caminhada, de ordem moral muito mais que espiritual. E onde a razão pesou sempre mais.

“Era claramente inspirado pela doutrina social da Igreja e apoiava a iniciativa criadora dos cidadãos como meio de promover a liberdade, o bem-estar e a realização de todos no ensino, na economia, na cultura em todas as áreas”, escreveu um dia Pedro Roseta, que conheceu bem o falecido líder, relembrando porém como Sá Carneiro considerara “importante” que “após o Concílio Vaticano II a Igreja Católica tenha deixado de privilegiar os partidos confessionais”.

Movendo-se animado pelo seu espírito social cristão e temperado pelo seu liberalismo político, Francisco Sá Carneiro acreditava na política ao serviço do homem.

3 Desgostoso e inconformado com a letargia que no país impedia as grandes e as pequenas expectativas e as grandes e pequenas ilusões; agindo pela ambição do combate político, e bafejado pelo gosto da intervenção, alimentou o enleio da primavera política de que — supostamente — Marcelo Caetano, sucessor de Salazar, era portador. Decidiu-se. Arriscaria. Não era um revolucionário, lutaria por dentro, a partir do “caetanismo”. A porta de entrada chamou-se Ala Liberal e abriu-se em 1970: Francisco Sá Carneiro estava a um passo de se comprometer também com a política.

Este movimento, fundado pela iniciativa enérgica de José Pedro Pinto Leite e “consentido” pelo regime, acolheu-se nas listas da União Nacional, através de candidaturas individuais independentes.

As ilusões da chegada de Marcello Caetano ao poder desvaneciam-se, uma a uma. Após intensa actividade parlamentar, sentindo-se inútil e sabendo-se manietado, Sá Carneiro lê um veemente (e impiedoso) discurso diante de toda a Câmara, e renuncia ao cargo de deputado: afinal não era possível abrir a estrada para a democracia por dentro da propriedade do regime.

Ao lado de outros esperançosos jovens liberais como Francisco Pinto Balsemão, Joaquim Magalhães Mota, Miller Guerra, Francisco Sá Carneiro é eleito deputado pela Ala Liberal. Era um personalista cristão, tinha trinta e cinco anos e iniciava um sonho: contribuir para um Portugal livre, virado para a Europa e nela inscrito. Relembre-se a propósito que nesse início da década de setenta do século passado, Portugal já estava de certo modo a caminho da Europa ocidental (à época havia que a distinguir da sombria Europa oriental que vivia para lá da “cortina de ferro” sob a bota comunista). Estava-o por via da NATO e da EFTA, às quais pertencia mas também por motivos internos: a industrialização iniciada na década anterior começara lentamente a arrancar o país da pobreza, Marcelo Caetano abrira o Estado social, Portugal modernizava-se. Um quadro que tornava verosímil a Sá Carneiro falar de Europa e apetecível fornecê-la politicamente como destino. Na Assembleia Nacional ia desenvolvendo vasta actividade parlamentar em estreita colaboração com outro Francisco (Balsemão) ao lado do qual se sentava no parlamento e que viria a fundar o Expresso, um forte e belo desafio em letra de imprensa que seduziu e surpreendeu meio país. Nascia assim uma sólida amizade entre os dois Franciscos, tecida pelos fios de uma vivíssima cumplicidade política e cultural entre ambos.

Nada disto correu bem: o Presidente do Conselho, Marcelo Caetano, perdia para os intransigentes fiéis do regime. A questão de África permanecia imutável e parecia insolúvel, a guerra continuava, a censura também, a crise do petróleo suscitava graves preocupações. As ilusões da chegada de Caetano ao poder desvaneciam-se, uma a uma: o país, num impasse, esmorecia. Perdia o viço — ou a aparência de viço — que lograra exibir, poucos anos antes, depois da morte de Salazar. Após intensa actividade parlamentar, sentindo-se inútil e sabendo-se manietado, Sá Carneiro abandona o hemiciclo de S. Bento. Sempre em prol da defesa da liberdade, dos direitos e das suas garantias, lê um veemente (e impiedoso) discurso diante de toda a Câmara, e renuncia ao cargo de deputado: afinal não era possível abrir a estrada para a democracia por dentro da propriedade do regime.

4 Havia-se tornado notado, a seguir conhecido, depois, incómodo: saiu. Mas os reformistas da Sedes, da Cooperativa Confronto, da JUC e do Expresso tomaram boa nota. Era uma considerável amálgama de gente que em Lisboa, no Porto, pelo país fora, ampliara a sua consciência cívica, cimentara — ou descobrira — através do exemplo da Ala Liberal uma vontade de intervenção ou participação política. E foi com eles que Francisco Sá Carneiro também contou para, com Francisco Balsemão e Joaquim Magalhães Mota, fundar meses depois o PPD.

Após a sua desalentada saída de cena, deixa Lisboa e volta ao berço natal do Porto. No escritório do pai, retoma a advocacia, que depressa se torna absorvente, reaviva amizades, convive mais demoradamente com a sua família. Os dias adquiriam um ritmo mais rotineiro. Mal nasce o Expresso (a 6 de Janeiro de 1973), assinará cada sábado uma coluna (“Visto”) no jornal do seu amigo. Sá Carneiro construíra entretanto uma ampla casa em Barcelos emoldurada pelo inconfundível verde minhoto. O terreno onde a erguera pertencera ao seu avô e chegara-lhe por antecipação da herança. É na natureza que encontra lenitivo para a desilusão e a impaciência; é lá que se refugia em férias alegres ou sempre que pode com Isabel e os filhos. E com os seus livros, a pintura, a faiança, os amigos próximos. E é também nesse Alto Minho que, sempre que pode, espreita os antiquários e os “ferro-velhos” das redondezas, um “hobby” que desde cedo cultivava com gosto e saber, muitas vezes com o irmão Ricardo. Apenas um ano os separava, tinham crescido inseparáveis um do outro, formaram-se ambos em Direito, tinham gostos comuns. A advocacia no escritório do pai; a subdirecção “a meias” da Revista dos Tribunais; um leque partilhado de interesses; e o casamento com as irmãs Nunes de Matos — Ricardo com Margarida, Francisco com Isabel — manteve-os, vida fora, irmãos inseparáveis mas sobretudo amigos íntimos.

A vida continuava. Mas tal como estava, não por muito mais tempo.

5 A liberdade conquistada na primavera de 1974 recupera-o para o combate. Na manhã do dia 25 de Abril recebe com um júbilo ainda algo incrédulo a notícia do que estava em curso. A primeira pessoa com quem fala é com Frei Bento Domingues, seu amigo dilecto. É ele o eleito para a primeira troca de impressões e informações desse dia singular.

Guilherme d’Oliveira Martins, que conheceu bem o primeiro e é próximo do segundo, também se lembra: “Francisco manteve sempre um contacto próximo com Frei Bento Domingues, com quem partilhava reflexões e leituras. Falavam em especial sobre a democracia, a renovação da Igreja, as consequências do Concílio ou as novas perspectivas sobre os direitos fundamentais e liberdades de consciência e religiosa. Eram muitíssimo amigos”.

Não por acaso, poucos dias após a madrugada libertadora de Abril, alguns membros da Ala Liberal eram “convidados” a formar um partido por responsáveis das Forças Armadas a quem convinha a formação de famílias partidárias ao centro e à direita (o mesmo convite seria formulado a Diogo Freitas do Amaral). A sociedade civil acode à chamada: a política, após longa espera, passara a ser uma ocupação e uma prioridade. O PPD, Partido Popular Democrático, nasce a 6 de Maio. Se Francisco Sá Carneiro nunca esquecera o infortúnio político da Ala Liberal, seria sobretudo nesse chão que começara a germinar o futuro PPD: a sua matriz e o seu ideário foram também colhidos nas sementes deitadas pela Ala Liberal no solo já inteiramente infértil da Assembleia Nacional. Cá fora havia, repita-se, uma boa parte de Portugal que também esperara com ânimo que essas — e outras — sementes viessem a frutificar. O novo líder partidário contou com essa gente mais marcada pela necessidade imperiosa de “mudança” do que porventura interpelada — de início, pelo menos — pela importância ou a necessidade da ideologia.

No 25 de Abril começou uma tumultuosa saga e uma formidável aventura. Sá Carneiro (na foto, com António Patrício Gouveia) tinha determinação, visão, convicção. Enquanto outros se entretinham com uma revolução — que iria parecer não ter fim —, ele preocupava-se com a pátria. Durante muito tempo foi uma espécie de estorvo: “Quem se julgava aquele desmancha prazeres da festa da revolução?”

Uns, como Sá Carneiro e os seus amigos da Ala Liberal, mais atentos à indispensabilidade da criação de um Estado de direito, dotado de uma sociedade civil forte, onde ficasse clara a responsabilidade do Estado no bem comum; outros (que com Freitas do Amaral viriam a formar o CDS), mais preocupados com o sucesso nas questões económicas e a arquitectura económica e social. Ou seja, havia nuances, diferenças, até divergências. Sobre elas, porém, uma comum, forte, vontade de mudança que se acolhia naquilo que no ainda muito titubiante dia que nascia, viria a ser conhecido como o “centro” e a “direita”.

Começava então uma tumultuosa saga e uma formidável aventura. Francisco Sá Carneiro tinha determinação, visão, convicção. E o facto é que, enquanto outros se entretinham com uma revolução — que iria parecer não ter fim —, ele preocupava-se com a pátria. Durante muito tempo foi uma espécie de estorvo: “Quem se julgava aquele desmancha prazeres da festa da revolução?”. Depois passou a ser o director infeliz de uma peça que nunca era levada a cena. Recordo como se fosse hoje as palavras ressentidas e os sussurros indignados que ao longo daqueles intensos anos, iam sendo disparados de muito lado: dos outros partidos, das bancadas parlamentares (a começar pela sua), de Belém, dos jornais, dos bem-pensantes, do país. Em suma: não se sabia bem como lidar com ele… Ou essa eterna e nunca resolvida questão de ter razão antes do tempo.

E no entanto, sim, era preciso — foi preciso — fazer caso. Fazer caso daquele portuense civilizado e arguto, de baixa estatura e boas maneiras, olhar prescrutante e riso por vezes sardónico. Talvez porque tivesse também um infinito sentido de humor.

A fundação do PPD, nessa primavera de 1974, levara de novo Francisco Sá Carneiro a trocar o Porto por Lisboa e a sua pacata vida familiar pela solidão de uma capital que o seduzia e ele queria seduzir. Entra para o primeiro Governo Provisório, do advogado Palma Carlos, instalando-se em S. Bento, na residência oficial do primeiro-ministro. Fê-lo a convite do próprio chefe do governo, dado não ter morada em Lisboa. Abandona, porém, o Executivo pouco tempo depois de ter entrado, na companhia de mais três ministros. Rompe com um governo provisório que não era civil, rompendo sobretudo com o prenúncio do domínio militar contra a promessa do 25 de Abril. Fá-lo, aliás, de acordo com o chefe do governo (e seu velho professor, por quem sempre nutrira respeito e consideração).

6 Com o país a arder, embora ainda em fogo brando, hostilizado por radicais, comunistas ou socialistas e alvo de surda irritação das cúpulas do seu partido, que não lhe perdoaram a repentina saída do Executivo, Sá Carneiro sofre um revés: a frustrante saída de cena do general Spínola, um dos escassos apoios com que desde o início pudera contar (acalentando com pressa a vontade de o ver ocupar o Palácio de Belém como chefe de Estado).

Como um revés nunca vem só, quase logo a seguir é lhe imposta uma pausa inesperada: por motivos graves de saúde, viverá no Porto e depois em Londres, entre a vida e a morte. A convalescença de uma cirurgia delicada e dolorosa leva-o para o sul de Espanha por conselho médico que lhe recomenda um clima amável. Mal regressa, apercebe-se de nuvens e sombras sobre o PPD e do risco, real, de descaracterização que o ameaça. Recomeça a luta: primeiro no interior da sua desavinda família política, vindo a vencer o seu (tempestuoso) congresso extraordinário ocorrido em Aveiro, no final desse ano de 1975. (Vale a pena recordar que tal conclave fora antecedido, semanas antes, de um Conselho Nacional na Via Norte que duraria… três dias quase em regime de “non-stop”e em que, num deles, Sá Carneiro usaria da palavra durante cinco horas seguidas!). Aveiro seria assim o palco da primeira grande cisão do PPD, com a saída do partido em aceso litígio com a estratégia do líder de nomes sonantes da sociedade civil e da intelectualidade portuguesa.

O líder, com o país já em chamas, a revolução ao rubro e uma desordem generalizada, vê-se ainda confrontado com a influência e total ascendência política e popular de Mário Soares, o líder socialista, herói da rua como o fora nas urnas, nas eleições de Abril de 1975. E apoiado pela social-democracia europeia, que desde o primeiro minuto fora, sem sombra de dúvida, nele que apostaria. Naquele estado de coisas, e apesar da vitória em Aveiro e do seu regresso à liderança (durante a sua doença a chefia do PPD pertencera interinamente a Emídio Guerreiro), Sá Carneiro estava em plano muito secundário, valendo-lhe apenas o inequívoco apoio das suas bases. Para sobreviver politicamente, para que o “seu” PPD não permanecesse um “enteado” do novo regime ou mesmo soçobrasse nas constantes acusações de “fascismo, contra-revolucionarismo, reacionarismo”, o recém-regressado líder escolhe o mal menor: após o golpe militar de 25 de Novembro de 1975, que poria (quase) fim à revolução, assina com mais seis partidos políticos o célebre Pacto-MFA partidos. Ou seja, um documento que certificava que o poder civil se mantinha tutelado pelo poder militar.

Era, porém, uma questão de sobrevivência. O que tinha de ser tinha muita força.

7 Daí em diante, penosa foi ainda a caminhada. O PS saíra gloriosamente da “resistência” ao comunismo de Álvaro Cunhal e dos seus amigos do MFA; os militares continuavam a estigmatizar as direitas; e o próprio Francisco Sá Carneiro abandonara entretanto a liderança do PSD. Se a primeira vez fora por grave doença, desta feita fizera-o por “desacordos” insanáveis com as elites do seu partido que o afligiam — e crispavam! — por se mostrarem demasiado “contemporizadoras” (enquanto elas o consideravam a ele um “caprichoso instável”). Pior: o general Eanes, entretanto eleito Presidente da República — com o apoio e a fé do PSD, relembre-se — continuava a não ver nenhum bom motivo para fazer qualquer caso nem dos social-democratas nem dos votos que deles recebera.

Em 1979 começou a namorar Mário Soares, por quem politicamente nutria sentimentos ambíguos: os estragos da revolução reclamavam poder político e autoridade democrática para serem removidos de vez. Nem o PSD sozinho teria força para tal — e os resultados eleitorais mostravam-no; nem o PS. Sá Carneiro convidava assim Soares a construir consigo uma aliança. Sem apelo nem agravo, o líder do PS recusou.

Era, enfim, preciso lidar com tudo isto. Mas quem observasse “isto” com atenção logo notaria que em liceus e faculdades as listas para as associações de estudantes continuavam a ser maioritariamente ganhas pelas juventudes partidárias de Sá Carneiro e de Freitas do Amaral. E notava sobretudo que justamente à revelia, ou à margem, das elites urbanas do PSD — mais citadinas, mais sofisticadas intelectualmente e mais dispostas ao compromisso com a ala moderada do MFA — Sá Carneiro era no seu partido muito mais popular do que elas. E fora dele começava também a sê-lo o que, se virmos bem, tornava o seu combate contra Eanes aparentemente ainda mais inverosímil, ou talvez mesmo difícil de alcançar aos olhos dos portugueses: se o país se revia tão satisfatoriamente no seu Presidente, como compreender que um líder partidário que, agora sim, começava a ser mais reconhecido, mais amado e mais seguido o detestasse politicamente de modo tão assanhado?

8 Instalado em Lisboa, absorvido pela complexidade das tarefas político-partidárias, Francisco começa a espaçar as idas ao Porto. Mas não apenas por imperativo de trabalho político: em Lisboa fizera entretanto novas amizades, conhecera outros ambientes, descobrira uma vida “diferente”. O seu mundo ampliara-se, feito agora de novas relações humanas, dos meios intelectuais que por vezes frequenta, na gente com quem se dá, nas pessoas que descobre. Um dia alguém lhe apresenta Snu Abecassis, uma editora sueca alta e loura, bela e inteligente, a viver e a trabalhar em Portugal há muito tempo. A paixão, quase instantânea — e recíproca —, torna-se fulgurante, embora mantida em segredo. Muito poucos a conheciam. Cerca de um ano depois, estava-se em 1978, Francisco Sá Carneiro sai do seu apartamento lisboeta (o segundo em que habitara na capital) e junta-se a Snu Abecassis. Tinham decidido viver juntos. Sá Carneiro “corta” de vez com a sua ex-mulher, a vida mudara: Snu passou a companheira de todos os momentos, inclusivamente, mais tarde, também dos “oficiais”. E com isso vindo a gerar alguns equívocos inter-muros e causando embaraços fora de portas. (Não consta que Francisco Sá Carneiro tenha alguma vez ponderado mudar esta atitude. Ou sequer que a tenha revisto.)

Fui-o conhecendo melhor. Ao princípio, em 1974, houve meros e curtos encontros profissionais na Avenida Duque de Loulé, primeira sede do PPD em Lisboa; depois, na Rua de Buenos Aires, para onde o partido, já PSD, se mudou. No seu regresso a Portugal, após a difícil cirurgia sofrida, começaram as nossas conversas mais vivas ou mais frequentes nos Passos Perdidos da Assembleia da República, ou na sede do partido. Não me fora difícil aperceber-me que também eu tinha de fazer profissionalmente caso de Sá Carneiro. De início, porém — é preciso ser-se sério –, também eu, pessoal e profissionalmente, me deixara enlevar por aquela “intelectualidade” desavinda com Sá Carneiro, também eu segui o ar contaminado do tempo que fazia de Sá Carneiro a má moeda… Depois, não. Muito pelo contrário. Fosse como fosse, segui-o em campanhas eleitorais, frequentei as suas conferências de imprensa, fiz-lhe várias entrevistas. Excelentes e seguindo um modelo que pouco variava: era preciso expurgar de vez a tutela militar sobre o país, civilizando a democracia portuguesa, reconstruindo o Estado, repondo a autoridade, reorganizando o moribundo tecido económico… Era isto, foi isto e foi-o desde o princípio. Mais tarde foram surgindo conversas e encontros já fora do perímetro do meu ofício: em casa de amigos, na minha própria casa, uma ou outra vez na sua própria morada. Passei decisiva e definitivamente a olhá-lo de outro modo.

Um dia alguém lhe apresenta Snu Abecassis, uma editora sueca alta e loura, bela e inteligente, a viver e a trabalhar em Portugal há muito tempo. A paixão, quase instantânea — e recíproca —, torna-se fulgurante, embora mantida em segredo. Muito poucos a conheciam. Cerca de um ano depois, estava-se em 1978, Sá Carneiro sai do seu apartamento lisboeta e junta-se a Snu.

9 No dealbar de 1979 começou a namorar Mário Soares, por quem politicamente nutria sentimentos ambíguos: os estragos da revolução reclamavam poder político e autoridade democrática para serem removidos de vez. Nem o PSD sozinho teria força para tal — e os resultados eleitorais mostravam-no; nem o PS por si levaria esta carta a Garcia. Sá Carneiro convidava assim Mário Soares a construir consigo uma aliança, constituída pelo PS e pelo PSD, que ampliasse e fortalecesse a área da influência de ambos. “Porque não transferir para o plano político o que se passava no plano sindical com a UGT?”, perguntava Sá Carneiro numa entrevista que me deu na altura. (Referia-se à União Geral de Trabalhadores, a central sindical onde socialistas e social-democratas operavam de comum acordo e que era por isso impiedosamente combatida e violentamente desprezada pelo PC & compagnons de route.) Convicto da bondade e utilidade desta estratégia, propôs então ao PS um “compromisso pré-eleitoral” de governo, advogando que ele fosse abençoado… pelo Presidente da República, general Eanes. Sem apelo, nem agravo, Soares e Eanes recusaram ambos.

Fora um novo dissabor. Após semanas de polcas políticas, entradas, saídas, propostas, conversações, ofertas de alianças partidárias sempre com o país em mente, perdera aquela aposta.

Mas que dizer então desse facto político absolutamente memorável que foi a segunda cisão ocorrida no PSD, com o abandono do partido por parte de algumas dezenas de deputados? Dizer dissabor será pouco, mesmo para um resiliente como ele era.

Enrolados num documento intitulado “Opções Inadiáveis” — cujo primeiro subscritor era o próprio Francisco Pinto Balsemão, co-fundador do partido — partiam como outros tinham partido antes: divergência com o líder.

“Nunca estive tão sozinho e nunca tive tanto a certeza de que tenho razão”, ouviriam no dia seguinte, na sede do PSD, a Sá Carneiro, dois dos seus mais fiéis de sempre, o jovem político Pedro Santana Lopes e Conceição Monteiro — a sua secretária, amiga para quem nunca houve segredos. A frase é certamente a melhor assinatura de Francisco Sá Carneiro: define um carácter, expõe uma integridade, retrata uma coragem.

E, sim, ele teve razão: apesar de enxotado por Soares e de abandonado pelos seus, Francisco Sá Carneiro, que nunca desistia, virou-se para a direita. Sem perda de tempo, negociou um outro acordo político. Deu-lhe um nome, Aliança Democrática; um fermento — um novo bloco político, sólido, forte e coeso; e um desígnio — dar outro rumo ao país. Da certidão de nascimento da AD, redigida no dia 5 de Junho de 1979, constavam os nomes de Diogo Freitas do Amaral, líder do CDS, e o de Gonçalo Ribeiro Telles, dirigente número um do Partido Popular Monárquico (PPM), uma pequena e muito interessante formação partidária de raiz monárquica. Mas, por entre muitas assinaturas de muita outra gente do centro e da direita, havia nomes mais à esquerda: os de António Barreto, José Medeiros Ferreira e Francisco Sousa Tavares, fundadores e cabeças de cartaz de um novo movimento político, baptizado de Reformadores. Recém-chegados à ribalta nacional, os Reformadores haviam decidido, após laboriosas conversações, comprometer-se com esta aventura, acorrendo à chamada da “plena democracia” proposta por Sá Carneiro. Como habitualmente, nada fora fora fácil ao líder do PSD: o seu partido não queria a AD — foram precisas várias “rodadas” de votações internas até o próprio líder ser autorizado a poder concretizar a sua estratégia; as exigências do CDS foram objecto de laboriosas escolhas, compromissos e negociações; o processo foi complexo e sobressaltado. Tudo aquilo era novo e por isso inquietava: uma aliança política entre as direitas? Sim, isso. A ousadia, o ineditismo do gesto e o risco que ele pressupunha não eram senão a marca de água de Sá Carneiro. As oposições reagiram sulfuricamente, a media destruiu quanto pôde, o país desconfiou. Soares, porém, intuindo o perigo, fazia contas. Percebeu tudo antes dos outros.

“Politicamente é a minha maior aposta de sempre!”, garantia-me na altura Sá Carneiro nessa mesma entrevista: “Ou somos capazes de dar respostas ou não. E se não somos, acabamos como o Carlos da Maia, a comer paio com ervilhas…”

Uma “aposta” feita contra os ventos do tempo. Como a Ala Liberal, como o PPD: Francisco Sá Carneiro reeditava-se.

Apesar de enxotado por Soares e de abandonado pelos seus, Francisco Sá Carneiro, que nunca desistia, virou-se para a direita. Sem perda de tempo, negociou um outro acordo político. Deu-lhe um nome, Aliança Democrática; um fermento — um novo bloco político, sólido, forte e coeso; e um desígnio — dar outro rumo ao país.

Vi-o bater-se como um general que fosse ao mesmo tempo um soldado. Vi-o convicto: era preciso que o país alcançasse a dimensão e a importância daquele desafio. Vi-o distendido, de braço dado com Snu, vi-o feliz e afectuoso para com os seus companheiros, Diogo e Gonçalo, que andaram com ele de lés a lés, país fora. Vi-o parar para ouvir o que lhe queria dizer o Portugal profundo; vi-o oferecer-se pequenos intervalos diante de queijos e enchidos em tascas recônditas; vi-o partilhar, de carro para carro, as iguarias oferecidas ao triunvirato da AD, nas terras — que eram todas — por onde passava a caravana eleitoral. Parecia uma festa e era uma festa, havia multidões, alegria, fé: era a “mudança” e a sua formidável expectativa. Se o PREC chegara ao fim, muitos eram ainda os seus escombros: tratava-se de arredar de vez a dimensão pretoriana da era pós-revolucionária. Revigorando e tonificando a qualidade democrática do regime constitucional e com isso iniciando um novo ciclo. Onde coubessem, por exemplo, objectivos como a legitimidade da empresa privada ou a autonomia da sociedade civil, que tão cara lhe era. Agindo contra tudo e todos, mas com meio Portugal atrás dele. Sei do que falo quando digo que vi a felicidade e a esperança estampada na paisagem portuguesa e o maior tributo que posso — e quero — prestar a Francisco Sá Carneiro é contar o que testemunhei. Visto de hoje, a normalização da democracia parecerá trivial. Enfrentado a partir do “ontem” de um país estatizado, desmembrado e ainda semi-manietado, era o principio de outra vida. Também me lembro.

Cinco anos depois dos alvores de Abril e da sua escaldante sequência, Sá Carneiro e a sua AD ofereciam ao centro e à direita a sua primeira vitória. Mudavam-se os tempos, mudavam-se os combates: o sucesso ocorreu nas eleições intercalares de Dezembro desse ano de 1979, convocadas na sequência dos fracassos dos três governo de iniciativa presidencial, promovidos pelo general Ramalho Eanes, a partir de Belém.

10 Francisco Sá Carneiro era um esteta, que vivia os dias com sentido lúdico. Uma vez disse-me que fosse a sua casa pelas sete da tarde. Era primeiro-ministro, eu espantei-me: “Ah, estou sempre em casa a essa hora, não dispenso o meu chá ao fim da tarde…”.

Amava a vida e as suas coisas, praticava o humor, sabia o que era um bom vinho, escolher um charuto, comprar um quadro, tinha a paixão da pintura. Um dia perguntou-me “se eu sabia onde poderia ele arranjar um óleo de Amadeu”? Semanas depois tinha em casa uma tela de Sousa Cardoso: o galerista Manuel Brito, amigo a quem eu falara deste enlevo pictórico, concretizara rapidamente a operação.

Escasso tempo após as legislativas, soaram as trombetas para novas eleições. Desta feita as presidenciais, opondo Ramalho Eanes e Soares Carneiro (na foto), um militar com excelente folha de serviço mas desmunido de qualquer carisma e a quem parte do PSD virava a cara. O combate era desigual, mas o líder da AD, igual a ele próprio, empenhara-se como se o não fosse. Voltou a correr. Enérgico, hirto, por vezes impiedoso.

Visitava antiquários onde se atardava nos pratos de faiança de que tanto gostava, nos estanhos de que tinha o segredo, em alguns móveis de que tinha o gosto. E apreciava o recato: fora das tarefas governativas cultivava a privacidade, pouco aparecia em público, rareava as entrevistas. Tinha bom gosto

Meses depois, em Outubro de 1980, o líder da AD voltou a ganhar.

Primeiro-ministro de um executivo de cariz moderado partilhado entre centristas e social-democratas, Sá Carneiro governava há escassos meses. A marca do seu governo era porém ainda indefinida, o saldo mediano. Faltava tempo, claro, mas para o primeiro-ministro faltava sobretudo “a derrota presidencial de Eanes” para que — assegurava ele — a sua acção governativa cumprisse em pleno os propósitos e os objectivos da AD: as reformas para desenvolver, libertar, civilizar, europeizar Portugal.

Escasso tempo após as legislativas onde a Aliança bisou a sua vitória eleitoral, soaram as trombetas da campanha para novas eleições. Desta feita tratava-se das presidenciais, opondo dois generais: Ramalho Eanes, que se recandidatava com o apoio de toda a esquerda — mas não de Mário Soares — e o general Soares Carneiro, um militar com excelente folha de serviço mas que o país inteiramente desconhecia, desmunido de qualquer carisma e a quem parte do PSD virava a cara e recusava o voto. O combate era desigual, mas o líder da AD, igual a ele próprio, empenhara-se como se o não fosse. Voltou a correr. Enérgico, hirto, por vezes impiedoso. Tinha a pele e a alma neste combate, que é outro modo de dizer que corria como um patriota. Rejeitara a revolução preferindo-lhe a via reformista, tinha separado águas. Colaborara na transição democrática, no erguer do Estado de direito, na civilização da democracia, no “enjeu” europeu. Normalizara o país. Mas sabia que faltava um round e que era crucialíssimo ganhá-lo. Em nome do país. Era a ultima corrida. Foi o derradeiro combate.

Epílogo

1 — Francisco Sá Carneiro morreu num desastre de aviação na noite de 4 de Dezembro de 1980. Ia a caminho do Porto. Tinha quarenta e seis anos. Percebera melhor que ninguém aquela máxima de D. João II que nos ensina que “há tempos de coruja e tempos de falcão”. O último quadro que comprara esse ano, uma tela do pintor D’Assumpção, chamava-se “Destino”.

2 — O seu irmão Ricardo Sá Carneiro nunca mais foi o mesmo homem. Conversei com ele horas sem fim, não me esqueci de nenhuma.

3 — Voltei à casa da Picaria. Maria Francisca perdera o seu quinto filho. Fina e dura como um cipreste, muito direita na cadeira, ouvi-a dizer-me: “O Chico era o mais bonito dos meus filhos, com aqueles caracóis louros…” Silêncio. “É preciso abraçar as cruzes que Deus nos manda e não arrastá-las”. Um cipreste sem lágrimas.

Este artigo foi publicado originalmente no número de Julho/Agosto de 2020 da Revista Brotéria.

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