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Há cada vez mais empresas a ter em conta a necessidade de ter data centers resilientes às alterações climáticas.
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Há cada vez mais empresas a ter em conta a necessidade de ter data centers resilientes às alterações climáticas.

JONATHAN NACKSTRAND/AFP/Getty Images

Há cada vez mais empresas a ter em conta a necessidade de ter data centers resilientes às alterações climáticas.

JONATHAN NACKSTRAND/AFP/Getty Images

Podem as alterações climáticas afetar os data centers? Empresas já incluem esta crise nos planos de resiliência

As temperaturas extremas já causaram instabilidade a data centers da Google e da Oracle em Londres. Podem episódios deste género repetir-se e que medidas estão as empresas a adotar para se precaverem?

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Os avisos não são novos. A Terra está cada vez mais quente e, ao longo dos próximos 20 anos, deverá continuar a aquecer, com a possibilidade de serem ultrapassados os 1,5 graus de aumento previstos, de acordo com um relatório das Nações Unidas do ano passado.

As notícias sobre ondas de calor e fenómenos climáticos extremos sucedem-se até este ponto do ano. Em julho, por exemplo, o verão ainda ia a meio e já eram registados recordes de temperaturas, em alguns casos surpreendendo países menos habituados a lidar com números tão altos nos termómetros. Em Inglaterra, por exemplo, foram atingidos os 40,2 graus, superando o anterior recorde de 2019, de 38,7 graus. As elevadas temperaturas levaram os governantes do país a lançar um alerta vermelho e a fazer algumas reuniões Cobra, habitualmente feitas em situações de emergência.

Num país com temperaturas mais amenas no verão, a vaga de calor gerou avisos sobre transtornos nos transportes públicos, principalmente na área de Londres, e pedidos aos britânicos para trabalharem a partir de casa, com o intuito de evitar constrangimentos nos transportes. Mas estas acabaram por não ser as únicas consequências da vaga de calor. No panorama tecnológico, empresas como a Google ou a Oracle registaram incidentes nos centros de dados instalados no país devido às temperaturas anormais.

Nos data centers, espaços de dimensões consideráveis onde estão armazenadas enormes quantidades de dados e que nos garantem o acesso a uma série de serviços, manter uma temperatura estável é um dos principais imperativos para ter um funcionamento normal. Os equipamentos tecnológicos respondem mal a temperaturas altas, fazendo um esforço maior para tentar arrefecer – e também consumindo mais energia. Por isso, há alguns parâmetros na indústria para a temperatura e humidade a que os data centers devem ser mantidos.

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Dada a importância crítica dos centros de dados, a resiliência é um tema-chave. Assim, os centros de dados são classificados de 1 a 4, onde um data center de classe 1 tem um menor resiliência do que um data center de classe 4. Um data center de classe 4 é concebido para ter vários sistemas de redundância que permitam não ter praticamente tempos de inoperação. De acordo com o relatório da American Society of Heating, Refrigerating and Air Conditioning Engineers (ASHRAE), a temperatura possível de um data center deve estar entre 15 a 32 graus – embora habitualmente a indústria rejeite temperaturas que se aproximem do valor mais elevado do intervalo. Assim, são infraestruturas que precisam de uma elevada quantidade de energia para manter as temperaturas em intervalos confortáveis – o que tem levado alguns dos principais “players” dos centros de dados a recorrer a técnicas de arrefecimento líquido, mais eficiente energeticamente, ou a usar energias renováveis para ter um consumo energético mais sustentável e reduzir a pegada ecológica.

Nos incidentes registados pela Google e Oracle em Londres, em julho, ambas as empresas foram pondo os clientes a par das razões ligadas à indisponibilidade de serviços. A Google, por exemplo, explicou que a 20 de julho “um dos centros de dados que aloja a zona europe-west-2-a não conseguiu manter uma temperatura operacional segura devido a falhas simultâneas de vários sistemas de arrefecimento redundantes combinados com a extraordinariamente elevada temperatura exterior”. Na mesma nota, a empresa indicou que “reduziu as funções desta parte da zona para prevenir possíveis tempos mais longos de indisponibilidade ou danos nas máquinas”. Assim, o incidente “causou uma falha parcial na capacidade desta zona”, que se traduziu em “degradação de serviço e questões de rede para uma parte dos clientes”.

Na altura, a gigante de internet relatou que, entre a disrupção inicial e a recuperação total dos serviços passaram “14 horas e 15 minutos”. A empresa prometeu ainda que iria trabalhar na “prevenção de futuras reincidências e na melhoria dos tempos de recuperação”. As promessas foram amparadas em ações como “reparação e teste cuidadoso da automação para garantir uma resiliência mais forte” durante eventos deste tipo e auditorias ao equipamento de sistemas de arrefecimento.

A instabilidade na infraestrutura da Oracle, também em Londres, começou no dia 19 de julho. A empresa confirmou que, “na sequência de altas temperaturas na região sul do Reino Unido (Londres), duas unidades de arrefecimento no data center falharam quando foi preciso operar acima dos seus limites”. “Como resultado, as temperaturas no data center começaram a escalar, levando a que um subset da infraestrutura de computação encerrasse como forma de proteção.”

Os exemplos dos incidentes causados pela temperatura nos centros de dados da Google e da Oracle, duas empresas relevantes nesta área de negócio, dá que pensar sobre o que poderá acontecer caso os fenómenos extremos continuem a acontecer, gerando possíveis indisponibilidades de acesso. Ainda para mais quando, devido à transformação digital, uma quantidade cada vez maior de serviços está a ser digitalizada, dos serviços públicos até à saúde.

O que estão as empresas a fazer para garantir a resiliência dos data center?

Um pouco por todo o mundo, estão a ser visíveis os fenómenos das alterações climáticas: seca, subida do nível médio da água do mar, cheias ou vagas de calor. Tendo em conta que são infraestruturas vistas como críticas para muitos negócios, é importante que os data centers sejam resilientes à grande maioria dos episódios associados às alterações climáticas.

Joana Pinto Santos, diretora da unidade de negócio da Azure da Microsoft Portugal, sublinha que a empresa tem consciência de que os clientes “dependem de que os nossos serviços estejam disponíveis sempre que precisam”. A gigante norte-americana tem, no total, uma infraestrutura global de serviços de nuvem que compreende mais de 60 regiões de data center em 34 países, constituídas por “mais de 200 data centers a nível mundial”.

“Cada região de data center da Microsoft é constituída por várias instalações de data center com energia, refrigeração e rede redundantes, com controlo e gestão constante da temperatura para assegurar que o hardware dos servidores e componentes não sobreaquece”, explica esta responsável da subsidiária portuguesa da Microsoft. A tecnológica refere que, através destas zonas de disponibilidade Azure, é possível para os clientes “distribuir a sua infraestrutura por data centers discretos e dispersos, para uma maior resiliência e alta disponibilidade, com com refrigeração e alimentação em rede separadas”. “As zonas de disponibilidade proporcionam tolerância adicional a falhas localizadas, desde questões mecânicas e ou elétricas, incêndios, inundações ou desastres naturais”, completa Joana Pinto Santos.

A Microsoft indica que já teve alguns incidentes com data centers, com Joana Pinto Santos a destacar que “os desastres naturais são imprevisíveis”, mas que as equipas “estão preparadas para assegurar a continuidade das operações, minimizando o efeito das perturbações que, de uma forma geral, se traduzem em menos de cinco minutos por ano”.

Para manter as temperaturas baixas nos vários data centers, a empresa está a recorrer a diferentes métodos de refrigeração – incluindo a submersão de servidores em líquido. Nesta técnica, “que é mais eficiente energeticamente” é ainda possível “aumentar a performance dos discos em 20%”. Um dos exemplos de refrigeração partilhada no blog de inovação da empresa refere o recurso a um líquido que não danifica os equipamentos tecnológicos e que, ao contrário da água, ferve a 50 graus. O líquido transforma-se em vapor e encontra um condensador frio no tanque, permitindo que o vapor se transforme em líquido e haja uma espécie de “chuva” nos servidores, um ciclo fechado que ajuda a arrefecer os sistemas.

A Microsoft indica que já teve alguns incidentes com data centers, com Joana Pinto Santos a destacar que “os desastres naturais são imprevisíveis”, mas que as equipas “estão preparadas para assegurar a continuidade das operações, minimizando o efeito das perturbações que, de uma forma geral, se traduzem em menos de cinco minutos por ano”. “Uma arquitetura resistente e planos de continuidade atualizados e testados mitigam potenciais danos e promovem uma rápida recuperação das operações dos data centers.” A responsável da Microsoft Portugal sublinha ainda que a companhia dispõe de “planos de gestão de crises para uma clareza sobre os papéis, responsabilidades e atividades de mitigação antes, durante e depois de potenciais eventos.”

Esta responsável da Microsoft Portugal nota que as preocupações dos clientes empresariais com os data centers não estão “necessariamente ligadas às alterações climáticas”, mas sim à procura por garantias de estabilidade de serviço que acompanhe a “maior sofisticação no volume e diversidade de serviços cloud usados pelas empresas”.

No caso da IBM, a empresa conta com mais de 60 centros de dados em seis regiões e 19 zonas disponíveis a nível global. Inês Santos, senior project manager da IBM Consulting, explica que as “regiões multi-zona da IBM são compostas por três ou mais centros de dados, sendo cada um uma zona de disponibilidade individual”. Esta questão é projetada para que “um único evento de falha possa afetar apenas um único centro de dados em vez de todas as zonas – permitindo serviços de cloud consistentes e maior resiliência para ajudar os clientes a executar continuamente cargas de trabalho de missão crítica”.

PETER STEFFEN/EPA

Embora não abra o jogo sobre os requisitos dos clientes na hora de escolher um fornecedor de serviços, a IBM Portugal adianta que “todos os clientes, quando procuram um prestador de serviços, tomam em consideração e procuram os mais altos níveis de estabilidade e disponibilidade de serviços em todos os cenários possíveis, incluindo as alterações climáticas.” Inês Santos esclarece que a empresa “não sofreu nenhum incidente relevante relacionado com alterações climáticas ou desastres naturais, mas vinca que “nunca houve um momento mais vital para os CEO abraçarem a sustentabilidade como um aspeto central da empresa”.

Já Carlos Paulino, managing director da Equinix em Portugal, empresa especializada em infraestruturas de serviços e centros de dados, sublinha que a capacidade de “resposta a eventos naturais críticos” anda de mãos dadas com “a prossecução de melhores práticas e inovações em termos de sustentabilidade”. Com 240 data centers em todo o mundo, a companhia tem “experiência global” e o facto de operar “também em locais bastante quentes” dá à companhia “confiança no design robusto dos nossos sistemas de refrigeração e nos programas de manutenção e monitorização dos data centers”.

“Estamos habituados a gerir altos níveis de temperatura em muitas partes do globo.”
Carlos Paulino, managing director da Equinix Portugal.

Assim, a possibilidade de incidentes devido a vagas de calor não é algo que assuste a tecnológica. “Estamos habituados a gerir altos níveis de temperatura em muitas partes do globo.” O managing director da Equinix em Portugal destaca que “a localização e a densidade da infraestrutura devem ser consideradas” na hora de projetar um data center. Ainda assim, também destaca que “os data centers atuais conseguem funcionar a temperaturas mais altas do que anteriormente, o que contribui para reduzir o uso de refrigeração e o risco de quebras durante ondas de calor.”

Carlos Paulino acredita que a Equinix “proporciona uma infraestrutura digital compatível com as necessidades da inovação tecnológica, projetando data centers capazes de responder aos desafios do futuro”. E puxa dos galões. “Temos um intenso programa de manutenção, que nos permite antecipar eventos naturais não comuns, preparando as nossas infraestruturas para mitigar o possível impacto por eles causado. Para além desta supervisão e adaptação contínuas, outras soluções, como a redundância, distribuição flexível de capacidade ou barreiras físicas para conter a temperatura, conferem às nossas instalações um elevado grau de resiliência e um recorde de uptime [tempo operacional] superior a 99,9999%.”

O responsável da Equinix em Portugal tem a certeza de que “a procura por serviços digitais irá aumentar”, sendo por isso necessário que haja “sites e serviços preparados para os desafios do futuro e dos ambientes em contínua evolução”. “A nossa dependência diária em relação às aplicações é uma constante da nossa vida”, nota Carlos Paulino, dando como exemplo o uso em trabalho, viagens, entretenimento ou saúde. “Por isso, a Equinix trabalha para fornecer aos seus clientes a estabilidade de serviço que eles precisam e para garantir que a infraestrutura digital crítica permaneça operacional durante quaisquer eventos extremos, sejam ondas de calor, furacões, pandemias ou guerras.”

O que se pesa mais na escolha de uma localização de data center? 

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Se as temperaturas estão a aumentar em vários pontos do globo, basta escolher zonas com temperaturas médias mais baixas para ter um data center mais resiliente às alterações climáticas? A questão não é assim tão simples. O que pesa mais na escolha da localização de um data center não é necessariamente a temperatura exterior, mas sim a capacidade de estar mais próximo de possíveis clientes. Afinal, quanto mais distante estiver um data center dos clientes que precisam de aceder a informação, maior será a latência (o tempo passado entre um pedido e uma resposta).

Resiliência é “prioridade número um” mas custos da energia trazem “desafio crítico”

Pablo Ruiz-Escribano, vice-presidente da área de secure power e field services da Schneider Electric Iberia, vinca que a indústria dos centros de dados foi construída “sobre uma reputação de fiabilidade”. Este responsável da companhia que fornece soluções de gestão energética, inclusive para centros de dados, refere que a “resiliência foi e continua a ser a prioridade número um para muitos operadores”. Mas estar sempre operacional já não é o único fator relevante para o negócio.

“Tendo em conta as ondas de calor de que os países em toda a Europa têm sido alvo nos últimos meses, tem sido amplamente reportado que, no geral, os fornecedores de serviços de cloud e colocation têm sido afetados por altas temperaturas. As falhas em partes dos equipamentos de refrigeração, por exemplo, levaram os operadores a registar interrupções no funcionamento, o que impactou os clientes em todo o mundo”, recorda Pablo Ruiz-Escribano. Nesse sentido, ainda para mais tendo em conta a prevalência do tema das alterações climáticas, este responsável da Schneider Electric reforça que é “essencial que os proprietários e operadores de data centers contem com planos antecipados para mitigar os impactos futuros dos eventos climáticos extremos.”

Mas há ainda outra questão. “A infraestrutura de refrigeração – que protege os data centers de temperaturas extremas – é possivelmente quem consome mais energia depois da carga de tecnologias de informação e os operadores enfrentam agora um desafio crítico: têm de garantir a resiliência para as cargas de trabalho de missão crítica, apesar dos custos crescentes da energia”. Desta forma, a eficiência energética é agora “considerada como outra prioridade estratégica fundamental”.

Afinal, para as empresas que recorrem a soluções de data center, a poupança de energia não é a única motivação. “Muitos operadores de data center ainda consideram a resiliência uma prioridade-chave, especialmente sob temperaturas extremas. Contudo, uma vez que todos temos de atingir os objetivos de ser net-zero [neutros em emissões] até daqui a menos de uma década, reduzir o consumo de energia e as emissões também é essencial neste momento.”

“O que é vital, acima de tudo, é poder fazer uma gestão integral de todo o data center – refrigeração, alimentação, gestão energética e espaço branco [corredores de acesso e áreas livres de serviço] –, porque sem esta visibilidade não poderemos conseguir resiliência contra qualquer tipo de eventualidade”. Nesse sentido a Schneider Electric nota que tem registado “uma procura cada vez maior por software que permita dispor deste controlo completo, que permite ter visibilidade sobre todos os pontos, reagir mais rápido e, em última instância, ser mais resiliente.”

Nos articula-se com o IPMA, Altice também tem em conta as condições ambientais

Por cá, os operadores de telecomunicações Nos e Altice também têm data centers. Ambas as empresas contextualizam que não têm registo de incidentes devido a altas temperaturas ou condições climatéricas mais adversas que tenham tido reflexo na disponibilidade de serviços. Ainda assim, já têm em conta diferentes cenários para testar a resiliência da infraestrutura dos centros de dados.

“Sim, testamos diferentes cenários de resiliência para avaliar a capacidade de resposta da nossa infraestrutura técnica, incluindo data centers, e as soluções implementadas são já desenhadas tendo em conta os impactos previsíveis das alterações climáticas em Portugal, designadamente o aumento de episódios de calor extremo e também o aumento da temperatura média”, indica fonte da Nos. A empresa contextualiza que, no ano passado, os dois principais data centers da companhia já foram “dotados de sistemas de climatização de última geração, aumentando a resiliência destas instalações em situações de calor extremo e melhorando a sua eficiência energética”.

A empresa liderada por Miguel Almeida detalha também que tem um programa de gestão e continuidade de negócio e processos de supervisão de redes e serviços que incluem “medidas específicas para redução dos riscos das alterações climáticas, entre os quais o aumento de dias de calor extremo (risco agudo) e o aumento da temperatura média (risco crónico)”.

As várias medidas inscritas neste programa incluem “procedimentos de contingência em situações meteorológicas excecionais, em articulação com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera”, o IPMA, o “reforço da autonomia energética de instalações críticas, a otimização da alarmística de sistemas de apoio”, como energia e climatização, para “permitir uma deteção antecipada de eventuais problemas” ou ainda o recurso a “critérios de manutenção mais exigentes e adaptados aos impactos previsíveis das alterações climáticas em Portugal”. A operadora refere também que, ao abrigo deste programa, também são tomadas “medidas dedicadas de redução de consumo bem como substituição de equipamentos por modelos com elevados níveis de eficiência”.

Com cinco data centers em Portugal, onde se destaca o centro de dados da Covilhã, a Altice Portugal vinca que as condições ambientais são “uma premissa considerada”, tanto na “seleção física dos locais onde se encontram localizados os data centers” como na “gestão e manutenção dos seus edifícios, nomeadamente das salas técnicas onde se encontram alojados”. Fonte da empresa recorda ainda que a “manutenção dos intervalos de temperatura e humidade constituem parâmetros obrigatórios”.

A Altice Portugal vinca que as condições ambientais são “uma premissa considerada”, tanto na “seleção física dos locais onde se encontram localizados os data centers” como na “gestão e manutenção dos seus edifícios, nomeadamente das salas técnicas onde se encontram alojados”.

A Altice explica que tem “delineada uma estratégia e um plano de disaster recovery [recuperação de incidentes] e business continuity [continuidade de negócio] no sentido de mitigar o impacto de possíveis eventos”, cenário que inclui já desastres naturais, que “possam afetar as plataformas de serviços internas e externas”. A companhia recorda também que estes centros de dados são edifícios concebidos e operados “com base numa gestão orientada para a performance, eficiência e segurança dos sistemas alojados nos mesmos”, que “potencia a redundância em ambientes alternativos de recuperação de desastre”.

Projeto Sines 4.0 vai recorrer a água do mar para arrefecer estruturas

Em abril de 2021, foi anunciado com pompa o projeto Sines 4.0, desenvolvido pela empresa Start Campus, com a previsão de um investimento de 3,5 mil milhões para instalar um megacentro de dados em Sines. Na altura do anúncio, eram destacadas as potencialidades da região, incluindo a proximidade da água do mar na ajuda ao arrefecimento das estruturas.

Consórcio anglo-americano investe 3,5 mil milhões de euros para criar centro de dados em Sines

Passado mais de um ano do anúncio do data center, que ficará num terreno adjacente à central termoelétrica de Sines, a empresa recorda que uma mão cheia de fatores determinaram a escolha do local. Na ótica da Start Campus, o projeto tem “potencial para se tornar num dos principais campus de centros de dados da Europa”. São enumeradas vantagens como “a energia a baixo preço proveniente de fontes renováveis”, a “escala com terrenos disponíveis e potencial de expansão significativo até 495 MW, podendo assim abrir perspetivas de crescimento futuro” ou ainda a “proximidade de conectividade através de cabos submarinos intercontinentais atualmente em construção e a excelente conetividade com o interior do resto da Europa”.

As notícias mais recentes neste campo estão ligadas ao cabo submarino Medusa, que deverá ficar amarrado também em Sines, estabelecendo a ligação entre Carcavelos e Port Said, no Egito. Ainda no tema dos cabos submarinos,  a empresa destaca como vantagem o leito marinho da plataforma continental que existe em Sines, que garante oportunidades para “aterrar novos cabos submarinos, de forma segura e rentável”.

Questionada sobre se este megaprojeto já teve em conta a resiliência a desastres naturais ou cenários de vagas de calor, a Start Campus explica que o local foi analisado a fundo. “O site foi estudado extensivamente para assegurar o máximo nível de resiliência em situações de desastres naturais, o que nos é exigido pelos nossos clientes”, diz Afonso Salema, CEO da Start Campus. Além disso, “as temperaturas amenas” da região também terão ajudado. A nível de resiliência, o projeto é “um mission critical project, ou seja, está preparado para qualquer tipo de desastre (terramotos, tsunamis, etc) ou condições extremas (aumento súbito de temperaturas, etc)”, acrescenta Afonso Salema.

A Start Campus tem o objetivo de atingir a neutralidade carbónica em operações até 2025. Nesse sentido, a eficiência energética assume um papel preponderante. Para manter as estruturas na temperatura ideal, o Sines 4.0 recorrerá à água do mar para arrefecer os servidores. Mas a empresa ressalva que “o data center vai arrefecer os servidores com água do mar, mas não a vai consumir”. Ou seja, a “água entra no campus, passa pelo sistema de refrigeração e é devolvida ao oceano”.

Esta diferenciação por parte da Start Campus é feita num momento em que, nos Estados Unidos, a situação de seca já levanta preocupações sobre como é que as hyperscalers vão continuar a arrefecer os data centers com água, de acordo com a NPR. Em Londres, a Thames Water, que garante o abastecimento de água a 15 milhões de pessoas, deixou alertas em agosto para o facto de os data centers estarem a consumir grandes quantidades de água potável num momento de seca para o país. De acordo com o jornal inglês Telegraph, a prática vai ser revista. “Não é necessário que os data centers estejam a usar água potável de boa qualidade para arrefecimento. Queremos analisar quanta água não potável é que está a ser usada e reutilizada”, avançou John Hernon, da Thames Water, em declarações ao Financial Times.

O aproveitamento da água do mar no projeto Sines 4.0 vai ser feito “através de duas estruturas de acesso à água”. “A primeira será através da reutilização da água do mar utilizada pelo Terminal de LNG que se situa ao lado do data center.” A água que é rejeitada durante os processos no terminal vizinho será captada pela Start Campus, que a utilizará nos sistemas, devolvendo a água “a uma temperatura não superior a 3 graus à da temperatura do mar”. “O segundo recurso é a captação da água por uma bacia de adução existente perto do centro de dados, onde a água do mar entrará no sistema primário (aberto) para trocar calor com o sistema secundário.” Neste sistema secundário, que é fechado, a empresa indica que “não há perdas de água”, para tentar consumir o mínimo de água possível. Também neste caso a água rejeitada é devolvida ao mar.

Um ano depois do anúncio, está em curso a construção do primeiro edifício do Sines 4.0. “Este primeiro edifício do Campus do Mega Data Center terá cinco mil metros quadrados”, explica fonte da Start Campus ao Observador. A empresa diz que está “neste momento a iniciar a fase de estruturas externas”, sendo que “em breve poderá começar a ver-se a forma do edifício”. Esta estrutura será um modelo de novos e potenciais clientes e terá uma capacidade de 15 MW, sendo também 100% verde e com disponibilidade para ter entre um a seis clientes. “Representa, por si só, um primeiro investimento de 130 milhões de euros num projeto que, quando estiver concluído, chegará a um investimento total de 3,5 mil milhões de euros.”

A Start Campus antecipa que este primeiro edifício esteja preparado para começar a funcionar “no terceiro trimestre de 2023 e totalmente finalizado no quarto trimestre de 2023”. Os trabalhos de construção, diz a empresa, “estão a decorrer dentro do estipulado”.

Nesta fase, já foram criados “30 postos de trabalho diretos altamente qualificados, que deverão aumentar para 100 em 2023”. Estes serão os primeiros de um “total de 700 a 1.200 postos de trabalho diretos altamente qualificados” que a empresa prevê criar com o projeto Sines 4.0, aos quais ainda se poderão juntar “8 mil postos de trabalho indiretos na região até 2027”.

O teste concluído com sucesso do data center aquático

Os principais “players” a operar na indústria de data centers estão de forma constante a tentar trabalhar em soluções para tornar os data centers mais eficientes a nível energético. Para manter as temperaturas baixas e garantir que não há contratempos que possam prejudicar o acesso a dados e a disponibilização de serviços, estas empresas estão constantemente à procura de soluções que sejam também mais sustentáveis.

A Microsoft, por exemplo, quis perceber através da sua área dedicada à investigação e inovação, a Microsoft Research, como é que um centro de dados se poderia comportar debaixo de água. Batizado de Project Natick, a tecnológica colocou debaixo de água um cilindro de dados — e já é possível tirar várias conclusões.

Ben Cutler, diretor da Microsoft Research e gestor de projeto desta iniciativa, explica em declarações por email que tudo começou “como um trabalho de investigação em 2013”, que “representa a procura contínua da Microsoft por soluções de data centers em cloud que oferecem opções menos elevadas em recursos, rápido fornecimento, custos mais baixos e alta agilidade na satisfação dos cliente”. A premissa inicial do projeto era simples – se metade da população vive em zonas costeiras, por que razão é que o mesmo não acontece com os dados? Afinal, isto seria uma forma de deixar os dados mais perto dos utilizadores, reduzindo questões como a latência, o tempo que existe entre um pedido e a resposta.

Microsoft Research Project Natick

O aspeto do data center aquático da Microsoft precisou de uma lavagem à pressão.

Microsoft

A primeira fase do Natick decorreu em 2015, quando foi testado o conceito de um data center debaixo de água ao longo de 105 dias, no Oceano Pacífico. Em 2018, a empresa avançou para a segunda fase, desta feita no Mar do Norte, submergindo este data center ao largo das Ilhas Orkney, na Escócia. Dois anos depois, fez o data center regressar à superfície para perceber se os dados estavam em condições, considerando a experiência “um sucesso”. O enorme cilindro branco tinha um aspeto bastante diferente quando foi retirado da água – de branco tinha passado a castanho, coberto por algas e outros organismos marítimos. A mudança de aspeto era tão significativa que o The Economist até lhe chamou o data center “Davy Jones”, numa alusão a um dos antagonistas da saga Piratas das Caraíbas, que no filme tinha uma barba feita de tentáculos.

Para Ben Cutler, da Microsoft Research, o projeto “foca-se num futuro da cloud que pode ajudar a apoiar melhor os clientes em áreas que estão próximas de grandes massas de água.” “A visão de operar data centers em contentores offshore, perto dos grandes centros populacionais, antecipa um futuro altamente interativo que requer recursos de dados localizados perto dos utilizadores”, acredita este responsável.

A investigação da tecnológica norte-americana concluiu que “a fiabilidade dos componentes dos data centers subaquáticos é mais elevada do que a dos equivalentes em terra.” Este investigador refere que a equipa do projeto, que é composta por quatro pessoas, continua “a utilizar os resultados da fase 2 do Natick para investigar melhorias na eficiência e fiabilidade” dos centros de dados da empresa em terra. Este responsável refere que, além do facto de estar debaixo de água, não há assim tantas diferenças em relação às opções mais convencionais. “Utiliza os mesmos computadores e corre o mesmo software que um data center terrestre. Os utilizadores estão a par de que os seus dados estão a ser processados sob as ondas, mas os dados não conseguem distinguir”, explica este responsável.

Além de estar mais perto da faixa costeira, o projeto tinha também a vantagem de poder usar água do mar para ajudar a arrefecer a infraestrutura. Ben Cutler explica que o Natick utilizava “água do mar ‘em bruto’ para arrefecimento, com a água devolvida ao oceano uma fração de grau mais quente do que o ambiente”. Mas, “devido à rápida mistura nas correntes marítimas, o impacto da temperatura a apenas alguns metros a jusante do data center é indetectável.”

A equipa utilizou câmaras no exterior do navio para observar a vida selvagem durante a sua utilização. Descobrimos que o data center proporcionava um local atraente para a vida marinha e foi rapidamente colonizado por múltiplas espécies de peixes e outros seres vivos.”

Ben Cutler aponta que, esta segunda fase do projeto, “demonstrou que estes tipos de data centers podem ser construídos em escala”. “Embora o Projeto Natick seja puramente um esforço de investigação, estes resultados fornecem blocos de construção-chave para utilizarmos na conceção e desenvolvimento de data centers localizados mais perto dos nossos clientes, independentemente de onde estiverem.”

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