A guerra na Ucrânia e a posição face à Rússia voltaram a marcar mais um debate televisivo entre quatro cabeças de lista às eleições europeias, desta vez na RTP. Sebastião Bugalho, Marta Temido, António Tânger Corrêa e João Oliveira falaram também do crescimento da extrema direita na Europa, do investimento na Defesa, das propostas para a Migração e das posições sobre o problema da Habitação.

Quem esteve melhor? Ao longo destes dias, um painel de avaliadores do Observador tem dado notas de 1 a 10 a cada um dos candidatos, explicando porquê. A soma surge a cada dia, no gráfico inicial, onde pode ver a classificação geral e saber quem lidera.

[Já saiu o segundo episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui o primeiro episódio.]

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Já nesta quarta-feira começam os frente-a-frente na Rádio Observador, os únicos nestas europeias: às 12h00 pode ouvir o cabeça de lista do Chega, António Tânger Corrêa, debater com o cabeça de lista do Livre, Francisco Paupério; e às 19h00, a cabeça de lista do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, debate com o candidato do PAN, Pedro Fidalgo Marques.

O próximo debate televisivo com quatro candidatos será na sexta-feira, dia 24, na TVI, entre Marta Temido (PS), Sebastião Bugalho (AD), Catarina Martins (PS) e Fidalgo Marques (PAN). Nas televisões ficará depois a faltar o debate a oito, que se repetirá nas rádios. Pode ver esse o calendário aqui.

Quem ganhou o debate: Marta Temido, Sebastião Bugalho, Tânger Corrêa ou João Oliveira?

Ana Sanlez — Acredito que muitos espetadores ainda estarão a tentar recuperar a audição que perderam nos minutos finais do debate. Marta Temido e Sebastião Bugalho vieram para o ataque mútuo e tentaram jogadas semelhantes, tentando apontar incongruências às famílias políticas de cada um, tema que dirá muito pouco ao cidadão comum que está a tentar decidir em quem votar. Marta Temido teve pouca capacidade de resposta e de argumentação neste confronto direto, Sebastião Bugalho não esteve melhor, mas conseguiu disfarçar. Tânger Corrêa continua a ser nulo na argumentação sobre temas difíceis. Por vezes, a sua sinceridade é desarmante, mas, sobretudo, muito confusa. João Oliveira conseguiu ter algum protagonismo, ou pelo menos conseguiu fazer-se perceber na segunda metade do confronto a quatro, o que, num debate que terminou numa cacofonia, já não é mau. Já percebemos que Oliveira nunca apoiaria a guerra/a guerra não é vencedora. Teve a sua graça ouvir o candidato da CDU a fazer um apelo para que se ouçam as propostas do Papa. Conseguiu destacar-se no confronto com Sebastião Bugalho sobre a guerra e a defesa da Europa, que tem sido, aliás, o tema em que João Oliveira tem conseguido bater-se melhor, apesar do discurso Miss Mundo, e nas provocações ao PS e ao PSD, provando que não precisa de Cotrim de Figueiredo para aparecer.

Filomena Martins — Parecia um ringue de boxe, a dois, em que de vez em quando entravam mais duas figuras secundárias, diziam umas coisas — algumas bastante tontas, convenhamos —, e levavam também uns socos. Marta Temido e Sebastião Bugalho foram com tudo para este seu segundo debate, não pouparam nem nos argumentos nem nos ataques, mas, no final, ele acabou a ganhar. Não foi por KO, mas foi por mais um pontinho (pelo menos). A cabeça de lista do PS foi claramente muito mais bem preparada para este frente-a-frente (foi o que foi) e com uma estratégia bem mais agressiva, mas o escolhido surpresa de Montenegro domina muito melhor os temas europeus do que ela e isso fica evidente. Assim, a cada golpe de Temido, Bugalho contrariava-a, contra-argumentava e ela confundia-se. Foi assim quando atacou sobre o posicionamento de convivência de Von der Leyen com a extrema-direita, com a conivência da AD, e levou com o contragolpe das votações socialistas a que nem soube responder, e voltou a acontecer sobre as políticas da Habitação. Mas, faça-se justiça, Temido esteve longe da desgraça do debate inicial: por ter ido a jogo, nunca ter desistido e ter mostrado espírito combativo. Quanto aos outros dois intervenientes, o que se pode dizer é que André Ventura deve ter respirado de alívio por ter sido a despedida de Tânger Corrêa dos debates a quatro (o senhor se tiver um bom resultado fica bem, e se não tiver também). Já quanto a João Oliveira, é verdade que todos sabemos o que defende, mas Marta Temido (a quem alguém devia ter lembrado que o PS já esteve coligado com este PCP anti europeísta quando atirou essa acusação à AD) resumiu o essencial: é indefensável a posição que mantém sobre a Ucrânia. E, por isso, também é impensável dar-lhe uma melhor pontuação.

Pedro Raínho — Foi um debate vivo e, na maior parte do tempo, de verdadeira troca de ideias sobre o futuro da Europa. E isso — numas eleições a que os eleitores se habituaram a ligar pouco — é o maior serviço público que alguém que se apresenta votos pode oferecer. Era, também, o debate em que os dois principais cabeças de lista voltavam a estar frente a frente. E, nesse embate direto, Sebastião Bugalho sai a ganhar. Não porque tenha sido sempre o mais esclarecido e esclarecedor, mas porque soube responder a Marta Temido quando a candidata do PS sugeriu (vamos ficar-nos por este termo) que a presidente da Comissão Europeia não saberia de que lado se colocar entre os “amigos de Putin” e os defensores da integridade europeia. Voltou a estar bem quando se desviou de um ataque em que Temido tentou passar a ideia de que Partido Popular Europeu e PSD/CDS são uma e a mesma coisa. Válida, a posição de João Oliveira quando defende com unhas a dentes a ideia de que a resposta para a guerra só pode ser a paz. Mas — e porque “indefensável” é dizer muito pouco — absolutamente incompreensível a posição do candidato comunista quando insiste em dizer que “tem de ser Putin a responder” quais os argumentos para pousar as armas. Ah, e Tânger Corrêa, sim. Só não nos esquecemos de que também participava no debate porque, logo no início, nos atirou à cara que os resultados das eleições de 9 de junho podem, com elevado grau de probabilidade, significar uma mudança profunda na configuração do Parlamento Europeu.

Rui Pedro Antunes — Sebastião Bugalho teve uma sondagem que lhe insuflou o ego e isso legitimou o estilo que criou como comentador televisivo. Fanfarrão (“não sabe do que fala”), mandão (às vezes tentou substituir-se ao moderador ou deu ordens aos adversários: “Mostre”, “responda”), mas ao mesmo tempo demonstrou conhecimento dos dossiês. E tem ideias próprias. Conseguiu que o debate fosse sebastianocêntrico, girando em torno das suas ideias ou provocações. Esteve bem na defesa de Von der Leyen e mal ao não assumir os votos de anteriores mandatos da delegação do PSD. Já Marta Temido, provavelmente influenciada pela mesma sondagem, decidiu ir a jogo de forma mais ativa. Subiu o tom, enfrentou Bugalho e até conseguiu menorizar a proposta da AD de colocar a Habitação na Carta dos Direitos Fundamentais da UE, com uma cruel e fria tirada: “O que é que isso resolve? Quantas casas isso cria?” Bugalho sabe que Temido tem razão na dupla interrogativa. A candidata socialista nem sempre o fez, porém, com acerto. O ataque a Von der Leyen — quando a presidente da Comissão aplicou praticamente o programa de Timmermans e esteve muitas vezes mais próxima dos S&D do que do PPE — foi forçado. A defesa de cortes nos fundos a países como a Hungria também vai (e mal) contra o que o Costa, o seu pai político, sempre defendeu. Quem sofreria era o povo húngaro e não Orbán, o que contrasta com a Europa solidária que defende. João Oliveira também entrou no pódio dos nervosinhos. Mais uma vez, não se conseguiu libertar do tema da Ucrânia, que é veneno para as aspirações eleitorais dos comunistas. O cabeça de lista da CDU também esteve mal quando vestiu a pele de queixinhas para acusar Bugalho de “terrorismo verbal”. Isto porque estava num debate e a utilizar mais ou menos o mesmo tom e agressividade semântica. Continua a ser sofrível ver Tânger Corrêa em alguns momentos, mas safou-se bem quando respondeu a Bugalho que o Chega no ID não é uma inevitabilidade. O candidato sempre fez parte da ala do Chega que prefere integrar os conservadores do ECR ao ID e aproveitou a cisão entre Le Pen e a AfD a seu favor. Depois, não deu para mais. Nem soube explicar que o Chega tem liberdade de optar por uma das duas famílias, já que ainda não faz formalmente parte do ID. A certa altura, defendeu que as duas famílias (ECR e ID) se podiam juntar, o que não está, nem nunca esteve, em cima da mesa.

Quem ganhou o debate: João Oliveira, Fidalgo Marques, Tânger Corrêa ou Cotrim de Figueiredo? Veja as notas

Quem ganhou o debate: João Oliveira, Catarina Martins, Cotrim de Figueiredo ou Francisco Paupério? Veja as notas

Quem ganhou o debate: Catarina Martins, Fidalgo Marques, Tânger Corrêa ou Francisco Paupério? Veja as notas

Quem ganhou o primeiro debate das europeias? Temido, Bugalho, Cotrim ou Paupério? Veja as notas