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O General já tinha sido condecorado por Mário Soares, com a Grã Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito
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Spínola: o livro, a oposição e o monóculo de um general que falou antes da revolução

"O General que Começou o 25 de Abril Dois Meses Antes dos Capitães" é o livro de João Céu e Silva que conta a história do livro "Portugal e o Futuro". O Observador faz a publicação de dois excertos.

Qual foi o papel do livro do general António de Spínola na preparação do golpe militar do 25 de Abril de 1974? A resposta está no livro “O General que Começou o 25 de Abril Dois Meses Antes dos Capitães”, no qual o autor, João Céu e Silva, refaz o terramoto político que o livro “Portugal e o Futuro” provocou no regime no dia em que foi publicado, a 22 de fevereiro de 1974, e até à queda da ditadura, dois meses depois. O militar mais prestigiado de então destruía a política ultramarina em apenas seis palavras: “A vitória exclusivamente militar é inviável”, e exigia uma solução política para o conflito armado em Angola, Moçambique e Guiné.

Após ler o livro de Spínola, Marcelo Caetano pressentiu que a revolta militar estava a caminho e pediu de imediato a demissão do Governo, que o Presidente Américo Tomás recusou com a justificação de que “se for ao fundo, vamos todos”. Entre as reações a “Portugal e o Futuro” seguiu-se a exoneração dos chefes de Estado Maior das Forças Armadas, Spínola e Costa Gomes, um ato de vassalagem dos oficiais fieis que ficaram conhecidos pela Brigada do Reumático, o levantamento militar frustrado das Caldas da Rainha a 16 de março, que exigiu uma reorganização total do golpe do 25 de Abril em preparação, e uma remodelação do Governo.

Para os capitães do Movimento das Forças Armadas, o livro de Spínola foi a bíblia que seduziu os militares hesitantes em aderir ao Movimento. As teses defendidas por Spínola não eram, no entanto, coincidentes com as dos militares revoltosos e, apesar de os capitães vitoriosos autorizarem Spínola a receber o poder das mãos de Caetano e o terem nomeado presidente da Junta de Salvação Nacional, rapidamente se uniram contra o militar que deixara com o seu livro o regime amorfo e incapaz de reagir ao golpe militar. Daí que “Portugal e o Futuro” tenha sido “enclausurado” até hoje, como refere Ramalho Eanes num dos muitos depoimentos recolhidos em “O General que Começou o 25 de Abril Dois Meses Antes dos Capitães”, testemunhos que revelam a importância de um livro que vendeu 230 mil exemplares nos dois meses após a sua edição e que os capitães fizeram questão de apagar da História nos últimos cinquenta anos.

O Observador publica dois excertos do livro: um retirado do primeiro capitulo, que faz o equadramento político da altura em que o livro foi editado; e outro mais particular, focado num dos detalhes mais característicos de António Spínola: o monóculo.

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"O General que Começou o 25 de Abril Dois Meses Antes dos Capitães", de João Céu e Silva; Editora Contrapont; 312 páginas

A operação Portugal e o Futuro

Esta é a história da maior operação editorial jamais concebida em Portugal, a do livro Portugal e o Futuro, lançado no dia 22 de fevereiro de 1974 e que no mês que se seguiu fez rodar as rotativas a alta velocidade em sucessivas reimpressões, com vendas nunca vistas e uma repercussão social e política inédita. O autor era o general António de Spínola (1910-1996), que, com a sua reflexão sobre a guerra colonial e a contestação à política ultramarina em curso, derrubou de imediato a total credibilidade do Governo de Marcello Caetano e obrigou-o a pedir a demissão – que lhe foi recusada pelo presidente da República com o argumento de que não era «altura de abandonar o barco e ninguém sai. Se for ao fundo, vai tudo, vamos todos» – e em poucos dias alterou a perceção dos muitos milhares de portugueses que compraram ou leram o livro após terem conhecimento das propostas do prestigiado militar.

Esta é também a história de um país cansado de uma guerra em África desde 1961 e que nesse dia descobriu com Portugal e o Futuro que o Estado Novo era incapaz de apresentar soluções para o grave impasse político e militar em que o país estava mergulhado em três frentes dos territórios ultramarinos, tendo o livro convencido também os militares renitentes em apoiar o Movimento dos Capitães, que pretendia protagonizar uma revolta que apeasse o Governo. Bastou-lhes ler o que o mais respeitado general das Forças Armadas portuguesas e o derradeiro e poderoso cabo de guerra europeu sentenciara para mudarem de opinião. Spínola decretara para sempre e da forma mais inesperada ser impossível uma vitória militar que mantivesse um império ultramarino português de vários séculos. O efeito nacional de Portugal e o Futuro foi tão devastador para o regime, abalando-o de alto a baixo e unindo militares desunidos, que deixou o sistema político feito à medida de Salazar e que Marcello Caetano herdara totalmente exposto ao golpe militar do 25 de Abril de 1974, sem capacidade de reagir ao cerco a Lisboa.

O general Spínola não estava só na «operação» que ludibriou o ministro da Defesa e o presidente do Conselho para que Portugal e o Futuro chegasse às livrarias de todo o país sem que os seus superiores hierárquicos, bem como a ativa censura da polícia política, tivessem aprovado a publicação de um livro que era um verdadeiro golpe de Estado em 248 páginas. Primeiro, escondeu o conteúdo do livro de todos os que o poderiam impedir de ser publicado, com a grande cumplicidade de um parecer do chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, o general Costa Gomes; em seguida, assegurou, num contrato milionário, a colaboração de um editor que teve a coragem de desafiar o regime, bem como de imprimir uma quantidade de exemplares nunca antes vista, cinquenta mil, numa primeira edição que inundaria o país como a vaga gigante de um tsunami, impossível de ser travada. Fruto de uma estratégia planeada ao milímetro, própria de um general que se destacara no feroz campo de batalha da Guiné até há bem poucos meses, o lançamento do livro correu ainda melhor do que seria o seu desejo e o impacto foi, como confirmam cinquenta anos depois várias testemunhas, o de uma verdadeira «bomba». A enorme explosão que provocou, concordam também, iria ser o «detonador» da Revolução de Abril.

"Portugal e o Futuro" foi nesses dias o tema que dominou de norte a sul, e nas províncias ultramarinas, todas as conversas de café, o debate político e as intrigas políticas internas e da oposição realizadas sempre às escondidas, durante as várias semanas até ao golpe militar do 25 de Abril, provocando uma quebra de confiança nunca vista durante o regime criado por Salazar.

Se Spínola conseguira que o livro ultrapassasse em toda a linha o crivo censório do Estado Novo através de uma teia de enganos com que iludira as altas autoridades de que dependia, sem o segundo estratego da operação Portugal e o Futuro, a «bomba» poderia não ter chegado às várias gráficas onde foi impresso em simultâneo – se fosse apreendido, seriam vendidos clandestinamente os livros que se salvassem –, nem ter-se evitado a apreensão do manuscrito. O autor-general teve no editor da Arcádia, Paradela de Abreu, o parceiro ideal e capaz de levar a bom termo um desafio editorial inédito durante todo o Estado Novo, concretizado à vista de todos e imparável. O seu perfeito plano de ação fez algo impossível à época e os milhares de exemplares impressos chegaram às livrarias naquele dia 22 de fevereiro. Não foi por acaso que o editor se empenhou na aventura de publicar o conjunto de cinco propostas que, justifica Spínola na introdução ao livro, resultavam de um «imperativo moral de quem não pode conter-se». Paradela de Abreu estava ciente de que o ensaio do vice-chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas não seria apenas o imenso sucesso comercial por que tanto lutara, e para o que utilizara todo o género de expedientes de forma a seduzir o general a confiar-lhe o original, mas que o livro tinha um outro importante significado: o fim do regime.

Portugal e o Futuro foi nesses dias o tema que dominou de norte a sul, e nas províncias ultramarinas, todas as conversas de café, o debate político e as intrigas políticas internas e da oposição realizadas sempre às escondidas, durante as várias semanas até ao golpe militar do 25 de Abril, provocando uma quebra de confiança nunca vista durante o regime criado por Salazar quase cinco décadas antes. Apesar das várias crises a que o longo reinado do Estado Novo não escapara, jamais o Governo se confrontara com um terramoto de tal dimensão, nem com as réplicas sucessivas que o livro continuou a provocar nas semanas seguintes. E a principal causa deste abalo era a afirmação que se sobrepunha a todas as outras existentes no livro e que colocava em causa a manutenção a todo o custo da guerra colonial: «Podemos assim chegar à conclusão de que, em qualquer guerra deste tipo, a vitória exclusivamente militar é inviável.» E ainda se ia na página 45!

A capa da edição original de "Portugal e o Futuro", de António de Spínola (edição Arcádia)

Na ausência de um travão à publicação do livro por parte da polícia política, sucederam-se os ajustes de contas internos no Governo, o despertar de novas opiniões nas Forças Armadas, a reação agreste do Presidente da República e da sua corte de ultras que defendiam o império, além de um debate sobre a inviabilidade do regime em grandes franjas da população. Um turbilhão político e social que resultava da incredulidade de Portugal e o Futuro ter visto a luz do dia e de ser um ataque direto à autoridade de Marcello Caetano – apesar de alguns o acusarem de cumplicidade na audácia de Spínola. Que viu no livro um ataque flagrante à sua governação e ao ideário político que construía desde a década de 1940 como sucessor de Salazar. Para uns, jamais se deveria ter deixado chegar à praça pública um livro destes, nem numa quantidade tão exorbitante de exemplares, que questionava em várias áreas a ação política do Governo; para outros, era a descoberta de uma nova etapa para o país; para todos, estava legitimada a contestação ao Estado Novo. Ainda por cima, assinada pelo general em que os portugueses mais reconheciam prestígio e liderança. Sem dúvida, a machadada final na Primavera Marcelista que a indecisão de Caetano fizera entretanto murchar.

[…]

O falso monóculo e a atração pelo hipnotismo

A vaidade de Spínola é constantemente assinalada por todos os que conviveram com o general. O que se pode comprovar, por exemplo, em duas das fotografias que a revista brasileira Manchete escolheu para a reportagem de várias páginas sobre o 25 de Abril de 1974, com o general em grande destaque na capa, e que têm como legenda: «Horas antes de tomar posse como presidente da Junta de Salvação Nacional, o general Spínola foi ao barbeiro para ficar bem apessoado.» O cuidado com a imagem pública era habitual em Spínola e desde cedo podia ver-se o seu aprumo, como na fotografia em adolescente no Colégio Militar, tendo ao longo da vida construído a sua personagem como se fosse um ator de teatro preocupado em compô-la com todos os acessórios necessários para ser identificado no papel que pretendia representar. Daí o uso de luvas de pelica em circunstâncias inesperadas, como nas visitas de inspeção ao mato, apoiar-se sem necessidade no pingalim e, principalmente, o uso do famoso monóculo. Esta peça está sempre na memória de quem o conheceu e nas imagens que correram mundo, como foi o caso da ilustração de capa da revista Time dedicada à Revolução em Portugal.

O capitão Jorge Golias faz esta descrição do general: «Spínola cultivava uma figura que ficou célebre e lhe marcou um forte carisma. Para isso usava botas altas, de cavaleiro, uma boina farta e descaída, luvas de pele, pingalim e a inevitável luneta de um só vidro, que lhe granjearia [na Guiné] a alcunha de Caco, ou com a marca local de Caco Baldé». A alcunha Caco Baldé não surge por acaso, antes tem muito que ver com a realidade guineense, como explicam vários militares que se confrontaram com Spínola no território e, décadas depois, relembram essas memórias – e os receios – que o general e o seu monóculo lhes provocaram.

«Atrasei-me três vezes e nessas três vezes cruzei-me com ele. Ouvia-se um toque militar quando chegava e via aquele homem passar para a mão esquerda o pingalim, encher o peito de ar, o ventre liso, o braço direito na mais perfeita continência que jamais vi, só o monóculo coruscava.»

Entre os mais de cento e cinquenta testemunhos no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, foi selecionada uma súmula – a seguir resumidos – publicada a 29/01/2013, entre os quais está o do próprio Luís Graça, que escreve na introdução ao post o seguinte: «Caco Baldé… Caco referia-se ao vidrinho ou monóculo que ele usava e Baldé era um dos apelidos mais vulgares entre os fulas, aliados de Spínola. Caco era a alcunha mais usada entre os seus soldados; O Velho era como o tratavam no Estado-Maior e Bispo o nome de código das Forças Armadas.» Relata a seguir a sua memória: «De visita aos trabalhos da estrada Bambadinca-Xime [em 1970], cumprimentou-me mecanicamente. Eu devia ter um aspeto miserável, eu e os meus nharros, vivendo como bichos em valas protegidas por bidões de areia e chapas de zinco. A visita surpresa do Deus ­Todo­Poderoso foi o meu único momento de glória em toda a guerra ao fim de vinte meses. O coronel que vinha atrás do general chamou-me depois à parte e ordenou-me que cortasse o cabelo e a barba.»

Um ano depois, Jorge Cabral foi despertado da sesta por um dos soldados locais: «“Alfero, Alfero, é Spínola.” Estou tramado, o quartel está uma merda. Estava nu e enfiei uns calções e uma boina para poder fazer a devida continência. O Caco nada me pergunta, quis testar o plano de defesa. Como não encontrei nenhuma granada ofensiva, peguei numa defensiva e zás, tudo tremeu. Manteve-se de pé o general mas o caco caiu. Recomposto, olhou-me e disse: “Já vi tudo!” Ao encaminhar-se para o helicóptero ainda o ouvi comentar para a comitiva: “Porra, que não é só o Alferes. Estão todos apanhados!”»

Cristina Allen fazia tudo para evitar encontrar-se com Spínola quando este ia ao Hospital Militar visitar «os seus doentes» e apressava-se na saída para não se encontrarem: «Atrasei-me três vezes e nessas três vezes cruzei-me com ele. Ouvia-se um toque militar quando chegava e via aquele homem passar para a mão esquerda o pingalim, encher o peito de ar, o ventre liso, o braço direito na mais perfeita continência que jamais vi, só o monóculo coruscava. Mas este era o primeiro ato, o segundo era “passas tu ou passo eu?”. No terceiro, resolvia eu recuar e só então ele passava e, perfeito cavalheiro, cumprimentava: “Muito boas tardes, minha senhora”, e eu respondia “Muito boas tardes, Senhor Governador”.»

Spínola (à direita) com Mário Soares (à esquerda), à chegada deste a Lisboa, em Abril de 1974

Casa Comum - Fundação Mário Soares

Também passada no hospital é a memória de Mário Bravo: «Ele usava de modo constante um monóculo. Um dia teve necessidade de consulta de Estomatologia e lá foi ao Hospital Militar – era sempre um momento de confusão. Como eu estava lá a aprender a tirar dentes, quem o tratou foi o chefe. Mas era preciso que alguém tomasse conta do monóculo e logo me tocou a mim. Senti aquele receio de ser o fiel depositário de tão solene objeto, mas consegui não o deixar cair!»

O último post é de Cherno Baldé, que também explica a provável origem da alcunha: «Caco quer dizer cor castanha na língua fula e servia para designar a cor da farda das autoridades administrativas e da tropa colonial. Mais tarde, o termo seria utilizado para designar, de forma disfarçada e caricatural, as autoridades coloniais ou os seus representantes.»

Há mais histórias sobre Spínola e o seu monóculo, como a do capitão Carlos Matos Gomes ao tomar conhecimento sobre uma particularidade do famoso artefacto com que o general filtrava o olhar e descobriu o inesperado: «Não tinha graduação!» Conta o que soube sobre esta peça decorativa por outro conhecido: «Um dia, Spínola pediu a alguém que veio a Portugal de férias para ir a um oculista que lhe fornecia os monóculos e levar de volta à Guiné uma caixa com vários que tinha encomendado. Esse oficial fez-lhe o favor, mas não resistiu à curiosidade e experimentou um deles, apercebendo-se logo de que não tinha graduação. Era um monóculo verdadeiro em todos os seus aspetos, redondo e com umas saliências dentadas para ajustar ao olho, mas sem préstimo para ver. Quando precisava mesmo de ajuda usava uns óculos graduados. Ou seja, tinha essas coisas que o faziam sentir-se importante.»

Outra das facetas de Spínola, esta muito desconhecida, é revelada no livro António de Spínola – O Homem, de Carlos Alexandre Morais, e contada pelo militar João Henriques Domingues: «Desde bastante novo, Spínola sentiu-se atraído por assuntos ligados ao hipnotismo, transmissão de pensamento e reencarnação. Lia bastante sobre essas matérias».

Também a mulher tinha as suas «coisas», continua Matos Gomes: «A dona Maria Helena proporcionava-lhe ligações importantes com a alta sociedade portuguesa; era filha de um general muito importante, no entanto a antítese da mulher tradicional de um general. Assisti a uma situação na Guiné em que se compreendia bem que ela era casada com o senhor António Ribeiro de Spínola e não com o governador ou o comandante-chefe; assim sendo, cumpria as obrigações da esposa do senhor António de Spínola. Como de vez em quando eu tinha de ir falar com Spínola, num desses dias foi ela quem me recebeu no palácio. Fez a conversa de circunstância e em seguida encaminhou-me por um corredor. Por coincidência, há uma sanefa de uma janela que cai ao chão com grande estrondo. Ao contrário de qualquer dona de casa, nem ligou. Rapidamente viria um funcionário reparar o estrago. Não era a casa dela! Também vi esse comportamento em jantares em que estive presente; sentávamo-nos em volta de uma mesa comprida e só quando entrava na sala é que tinha conhecimento de que havia convidados. Sentava-se e o seu comportamento era como o da rainha de Inglaterra, falava um pouco com quem estava ao seu lado, mesmo sem saber com quem, e, rigorosamente, às 22h00, a dona Maria Helena olhava para o fundo da mesa onde estava Spínola e mostrava-lhe que a sua parte terminara. Ao primeiro silêncio entre os convidados, levantava-se e era o sinal para que todos se fossem embora. Não se preocupava com quem lá estava nem com a sua importância. O jantar acabara.»

Houve outro jantar, que correu mal, que confirma como o acaso pode alterar um processo político. Sem se identificar o autor do relato, pode dizer-se que decorreu de uma intermediação do general Silvério Marques, que pretendia após o regresso de Spínola à metrópole promover um encontro entre os generais Kaúlza de Arriaga e Spínola, de quem era amigo. Tudo acertado entre os três, o anfitrião foi obrigado a cancelar à última hora o encontro devido ao facto de a empregada que iria confecionar a refeição se ter despedido intempestivamente nessa tarde e a tentativa de entendimento adiada.

Outra das facetas de Spínola, esta muito desconhecida, é revelada no livro António de Spínola – O Homem, de Carlos Alexandre Morais, e contada pelo militar João Henriques Domingues: «Desde bastante novo, Spínola sentiu-se atraído por assuntos ligados ao hipnotismo, transmissão de pensamento e reencarnação. Lia bastante sobre essas matérias. Quando capitão, comandante do 4.o Esquadrão da GNR, falava-se discretamente das suas capacidades para o hipnotismo. […] Nessa época, as casas de espectáculo dispunham de um camarote reservado à GNR. Numa noite, já o espectáculo ia adiantado quando entrou no camarote o capitão Spínola. Decorria uma sessão de transmissão de pensamento em que o público participava. A certa altura, Spínola disse: “Vou tramar este tipo!” A partir daí o indivíduo não foi capaz de levar a cabo o número. Passados uns momentos, dirigiu-se à plateia e declarou bem alto: “Há alguém que está a interferir no meu trabalho. Por favor, deixe-me continuar.” Spínola resolveu sair e o espectáculo passou a decorrer com toda a normalidade. O capitão Domingues associou o ocorrido com o que então se falava acerca do poder de concentração e força mental de Spínola. Muitos anos depois falei-lhe neste episódio, sorriu significativamente mas não entrou em pormenores.» O autor refere ainda sobre o assunto que «nos últimos anos da sua vida, quando ia de férias para Lagos, contactava diariamente o seu amigo coronel Rocha de Abreu, muito ligado à Sociedade Teosófica e ao espiritismo, que lhe fornecia imensa literatura ligada à reencarnação».

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