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Jeff Goldblum, o ator americano de 68 anos que agora é apresentador de televisão e que está quase sempre assim como vemos nesta foto: pasmado com a existência em geral
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Jeff Goldblum, o ator americano de 68 anos que agora é apresentador de televisão e que está quase sempre assim como vemos nesta foto: pasmado com a existência em geral

Jeff Goldblum, o ator americano de 68 anos que agora é apresentador de televisão e que está quase sempre assim como vemos nesta foto: pasmado com a existência em geral

"Talvez possamos ser amigos". E se Jeff Goldblum lhe ensinasse tudo o que precisa de saber sobre café, gelados ou bicicletas?

A série "O Mundo Segundo Jeff Goldblum" é uma investigação sobre coisas "banais, mas fundamentais". E foi o próprio ator americano que explicou ao Observador como tudo isto funciona.

Como acontece uma entrevista online com uma estrela de Hollywood ao mesmo tempo que uma pandemia toma conta do mundo? Primeiro: não há imagem, ninguém põe a vista em cima do astro. Segundo: há duas pessoas da agência de comunicação que produziu esta curta conversa incluídas na chamada. Porque sim, porque pode acontecer alguma coisa, nunca se sabe. Terceiro: mesmo a correr, com tempo mais que limitado e vigilância do patronato, Jeff Goldblum é exemplar. É tudo o que dele se espera: educado, divertido, inteligente, irónico, popstar e com aquele tom de voz de um programa de rádio noturno que salva vidas sem ficar com os créditos.

Temos à volta de dez minutos com o ator e o propósito é saber mais sobre “O Mundo Segundo Jeff Goldblum”, a série documental que o homem apresenta para a National Geographic e que em Portugal pode ser vista através do Disney+. E o que mais encanta nesta tarefa protagonizada pelo amigo Jeff (ele haverá de dizer, neste encontro áudio, que sente um laço de amizade com quem lhe fala, daí tomarmos esta liberdade) é a forma como se mostra sincero. Goldblum é um adulto sério, responsável e esclarecido. Está bem com ele próprio, ao nível de causar inveja. E é esse equilíbrio que lhe permite ter um lado eternamente infantil que acaba por ser o verdadeiro protagonista deste programa.

“O Mundo Segundo Jeff Goldblum” fala de sapatilhas, gelados, ganga, churrasco, bicicletas, café ou jogos de vídeo. Desmonta todas estas coisas boas através de curiosidades, histórias de colecionadores que julgávamos impossíveis, detalhes técnicos e históricos que só estão ao alcance de uns quantos especialistas (quase ao nível do patológico). Tudo isto, em princípio, é interessante. Mas o que faz a diferença é o apresentador.

[o trailer de “O Mundo Segundo Jeff Goldblum”:]

Goldblum quase não tem guião, mal se prepara, atira-se ao tema, faz perguntas, lança olhares curiosos e faz o que tem a fazer: é ele próprio. Um eterno garoto deslumbrado com a possibilidade de saber mais sobre as coisas que o fascinam. Um guloso intelectual, como os gulosos açucarados são quando se deparam frente a frente com o melhor dos sortidos de gomas. E com um entusiasmo raro de encontrar. Talvez este curto diálogo baste para dar uma ideia do gosto com que Jeff Goldblum trata tudo isto.

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Como é que descreveria este programa a quem nem o trailer viu?
Primeiro que tudo, diria “olá amigos portugueses”. 

Naturalmente.
Claro. Depois, explicaria que se trata de um programa em que falamos de coisas de que as pessoas gostam muito, coisas que despertam paixões. Coisas que, e por estes dias isto tem ainda mais interesse, nos aproximam. Coisas que geram grupos, comunidades… temos um episódio sobre sapatilhas e estivemos numa convenção só sobre sapatilhas, cheia de pessoas obcecadas com aquilo que podem usar nos pés. Ou tatuagens, neste caso para saber mais voltei à minha cidade natal, Pittsburgh, e vi alguém a tatuar a minha cara numa perna. Ou ganga. Metade das pessoas no mundo usa ganga, mas isso representa enormes desafios ambientais. Há gente muito interessante que está a usar a ciência e as novas tecnologias para tentar enfrentar este dilema. Temos um episódio dedicado ao churrasco, algo que existe para juntar pessoas. Há um momento em que vou visitar uma criação de grilos, gerida por pessoas que procuram alternativas para o consumo de proteína. E como grilos num churrasco, como mesmo. E bicicletas. Adoro bicicletas, sabemos que o planeta está em risco muito por culpa da forma como nos movemos, mas as bicicletas são uma ótima forma de o fazer. E são boas para o corpo. E juntam comunidades diferentes. Temos um episódio sobre café. Outro sobre auto-caravanas, que nunca foram vendidas como agora, porque as pessoas querem viajar em segurança. Água, também. Para saber mais sobre água visitámos instalações da Nasa e conhecemos uns astronautas. Há cosmética. Há joalharia. Enfim, é um potpourri, um pacote de variedades com uma curadoria muito cuidada. E em cada um tento ser o mais espontâneo possível com a câmara, falo com os espectadores e com os convidados sem grande preparação, é pouco convencional. Espero que tenho interesse. Eu diverti-me muito.

Nas regras do português escrito para leituras fáceis e sem ruído, um parágrafo como este aqui em cima está fora de questão. Mas é assim que Jeff Goldblum fala e foi assim que ele respondeu. Se o artista respirou entre as frases, ninguém deu por isso. É ele que tem a maior noção do tempo nesta curta entrevista: ele tem dez minutos, mais coisa menos coisa, e quer aproveitar todos, dando prioridade ao programa que tem para apresentar.

"Não queria fingir que sabia coisas sobre as quais na verdade não sabia absolutamente nada. Sou eu, tal e qual, verdadeiro. Quando estou interessado, estou mesmo interessado. Quando as perguntas parecem espontâneas, é porque são mesmo espontâneas."

Se ele fala de outros assuntos? Fala. Pouco, mas fala. À curiosidade natural de saber por onde pára e o que está a fazer por estes dias, responde com umas quantas curiosidades pelo meio. Faz parte do show Goldblum, dar sempre um pouco mais, sempre um docinho extra, porque tem graça, porque o ator provavelmente nem pensa muito nisso, porque é assim que tem de ser:

O que está a fazer neste momento, onde está?
Estou no meu quarto, num hotel em Inglaterra, perto dos estúdios onde estamos a rodar “Jurassic World: Dominion”, o novo filme de saga. Colin Trevorrow é o realizador e o argumentista, o Sam Neill faz parte do elenco, tal como Laura Dern, Chris Pratt, Bryce Dallas Howard… Estou muito entusiasmado com tudo isto. Os meus filhos estão aqui, o Charlie, que tem cinco anos, e o River, que tem 3. E estamos a passar dias incríveis aqui, enquanto o mundo inteiro passa por tamanhos desafios. Até ver, só posso estar agradecido por tudo o que me tem acontecido.

Já agora, e já que aqui estamos, recordemos também o que tem acontecido a Jeff Goldblum, que esta semana completou 68 anos: começou pelas coisas do cinema indie e conquistou espaço na lista de colaboradores habituais de realizadores como Lawrence Kasdan e Philip Kaufman. Com o primeiro foi um dos “Amigos de Alex” (1983) e um dos cowboys de “Silverado” (1985). Com o segundo, fez o remake de “A Invasão dos Violadores” (1978) e teve espaço no elenco de “Os Eleitos” (1983). Pelo caminho já tinha participado de forma generosamente secundária em “Annie Hall”, de Woody Allen. Mas em 1985 protagoniza “Pela Noite Adentro” de John Landis (1985), com Michelle Pfeifer, para no ano seguinte ter a reviravolta de uma vida, quando faz “A Mosca”, de David Cronenberg. Um sucesso imenso, um clássico da ficção científica e do terror e a definição total daquilo que era Goldblum: um ator versátil, disposto a manter-se distante de rótulos.

Porém, não ocupou a primeira linha de Hollywood, provavelmente porque não quis, ou porque essa não é vida fácil para quem tem 1,94m de altura. Transformou-se num dos mais fiáveis secundários dos blockbusters, entre a saga de “Parque Jurássico” ou patrões de bilheteira como “Independence Day”. Continuou a encantar cineastas e a encontrar lugares perfeitos nas histórias assinadas por Wes Anderson, por exemplo. Mas, para tornar aqui as contas simples, diga-se que Jeff Goldblum escolheu fazer apenas o que lhe apetece, quando lhe apetece. Até porque precisa de tempo: para as suas coisas do jazz, ao piano e na composição, ou para o seu cuidado com o estilo, o próprio estilo. Que tem de sobra, diga-se.

"Jeff Goldblum faz coisas" é uma legenda possível para este conjunto de imagens. E a verdade é que é isso que acontece na série da National Geographic: Goldblum faz coisas

Posto isto, e regressando ao programa disponível na Disney+, vamos ter oportunidade para saber mais sobre Jeff Goldblum?

Ao longo dos 12 episódios de “O Mundo Segundo Jeff Goldblum” acaba mesmo por misturar a sua história com a história dos temas de que fala.
“No meio de todo este processo e da gravação dos episódios tenho a certeza que revelei muito de mim e da minha história pessoal, talvez até de forma inconsciente. Os meus sonhos, a minha história, a minha infância, em vários momentos esses elementos estão presentes. Dei aos produtores os meus álbuns de fotografias, imagens de vídeos caseiros que a minha família fez. E quando falo de coisas como gelados, volta e meia estou a recordar episódios que guardo na memória. Os gelados, por exemplo, têm esse poder de evocar outros tempos. É curioso. Sim, é possível descobrir mais sobre mim. Não é que isso me pareça muito interessante, mas está lá. Ainda por cima não há grande guião nos episódios, é tudo muito autêntico e espontâneo. Não queria fingir que sabia coisas sobre as quais na verdade não sabia absolutamente nada. Sou eu, tal e qual, verdadeiro. Quando estou interessado, estou mesmo interessado. Quando as perguntas parecem espontâneas, é porque são mesmo espontâneas. 

Já agora, tem ideia de como é visto pelas pessoas? As pessoas que o veem nos filmes, que ideia têm de si?
As pessoas são muito simpáticas. Sou músico de jazz, toco piano, por isso estou regularmente junto das pessoas e à frente do público. Pelo menos antes de tudo o que está a acontecer ter acontecido. E parece-me que quem me encontra fica contente com isso. Eu sei, eu sei, fiz filmes muito populares, como os filmes dos dinossauros e outros. Sempre gostei de tirar fotos com quem me pede, por exemplo. Mas há tanta gente no mundo… é difícil saber, certamente há quem não me suporte. Mas talvez graças a este programa possamos ser amigos.

E Jeff diz isto enquanto solta gargalhadas daquelas bem espaçosas. Ao mesmo tempo, no ecrã surgem mensagens de ambas as assessoras que vão ouvindo tudo. “Estamos a chegar ao final do nosso tempo”; “podes fazer mais uma pergunta, ok?”. OK, claro. Até porque não há outra hipótese, certo?

"Há o perigo de [a televisão] se tornar uma distração de forma viciante e obsessiva. Algo que nos afasta das pessoas e da vida real, de uma certa maneira. São tempos muitos sofisticados, há coisas que provavelmente não nos fazem muito bem. Mas também há coisas muito interessantes."

Mr. Goldblum continua falar. Não houve nenhuma pergunta entretanto, mas este homem é um profissional da comunicação. Em “O Mundo Segundo Jeff Goldblum” vemo-lo tão assertivo nas perguntas como pasmado de curiosidade. Como se desse de caras com algo de tal forma exótico que é preciso parar tudo e concentrar os sentidos, sem distrações. Relembre-se o essencial: estamos a falar de gelados e bicicletas e calças de ganga. Mas isto é televisão, baby. É a magia da televisão. E a TV também sempre casou bem com Goldblum, de “Simpsons” a “Friends”, de “Rua Sésamo” a “Lei e Ordem” ou “Will & Grace”, como convidado ou com lugar permanente no elenco. Contas feitas, o que é que Jeff descobriu com esta nova aventura televisiva?

A sua relação com a TV mudou ao fazer isto? Descobriu uma nova paixão ou algo semelhante?
Aconteceu um pouco isso, sim. Estou neste momento a ler o “Piada Infinita”, [livro] do David Foster Wallace, que é muito sobre entretenimento. Há o perigo de se tornar uma distração de forma viciante e obsessiva. Algo que nos afasta das pessoas e da vida real, de uma certa maneira. Mas tenho apreciado muito, de forma disciplinada e regrada, sobretudo por causa das crianças. Temos tentado adiar o mais possível a relação deles com os ecrãs, não quero que fiquem viciados cedo de mais. Mas gosto muito de descobrir coisas na televisão, de forma apaixonada. São tempos muitos sofisticados, há coisas que provavelmente não nos fazem muito bem. Mas também há coisas muito interessantes. Sei que neste caso vale o que vale, porque é um programa meu, mas estes episódios que podem ver são boa televisão. Sinto que estamos a fazer algo que resulte com algo muito nutritivo para a mente. E, porque não, delicioso também. 

E pronto, chegamos ao fim desta curta conversa de esquina. Foi o pergunta-resposta possível. Certezas a anotar: Jeff Goldblum é um insaciável curioso, é demasiado simpático mesmo quando comunica apenas com áudio e assessorado de forma dupla e parecia genuinamente disponível para continuar a conversar sobre qualquer tema. Mas também é um profissional que respeita as regras e estava na hora. Agradecemos o tempo concedido, Goldblum agradeceu de volta e deixou um “diz ‘olá’ por mim a todos os meus amigos em Portugal”. Feito: olá amigos.

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