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Wally Skalij

Wally Skalij

Um jogador, uma estrela, um recordista: LeBron James, o primeiro bilionário que nunca perdeu a consciência social

Não tinha chegado e já fazia história, 20 anos depois continua a fazer história: como LeBron gere contas com preocupação pela comunidade e mudou a forma como se joga, vê, analisa e "consome" NBA.

Magic Johnson recebeu a bola para lá da linha de três pontos, a exatos 180 graus da tabela, o que é uma forma pomposa de dizer que estava de frente para a mesma. Tinha um adversário em cima, infletiu para a direita tentando tirar proveito de um bloqueio para arranjar espaço, mas o defesa permaneceu em cima dele, sempre na parte de fora do perímetro. Magic segurou, levantou a cabeça à procura do passe e viu o homem no pintado, com o 33 nas costas. Magic usou a sua altura para passar a bola por cima do defesa e fazê-la chegar ao homem no pintado com o 33 nas costas – e quando a bola chegou às mãos deste, o homem no pintado, de costas para o aro, fingiu que ia para a direita, rodou para a esquerda e, com o braço direito esticado para fora, aplicou o gancho, o gesto técnico que o tornou famoso – e ali, a 5 de abril de 1984, caía o recorde de pontos marcados por um jogador na história da NBA, que pertencia a Wilt Chamberlain.

O novo recordista, o homem com o 33 nas costas, era Kareem Abdul-Jabbar.

Trinta e nove anos depois, Kareem Abdul-Jabbar estava sentado na Crypto.com Arena, o novo nome do pavilhão dos Lakers (que foi a equipa pela qual Kareem bateu o recorde), envergando um blusão negro com um 33 nas costas quando Lebron James fez um jumper à entrada do garrafão e com esses dois pontos quebrou o recorde. É caricato que nos dias seguintes a internet se tenha perguntado qual o significado daquele 33 – mas talvez tenha sido proveitoso, porque o casaco faz parte de uma nova linha de moda que Kareem vai lançar. A América é isto: podes perder o teu recorde de maior número de pontos marcado numa competição mas aproveitas para fazer dinheiro.

Kareem Abdul-Jabbar "entregou" a LeBron James o recorde máximo de pontos da NBA com um casaco preto que fez furor nos adeptos dos Lakers

Getty Images

Fazer dinheiro é coisa que Lebron sabe: o seu contrato com a Nike não tem data de expiração e, apesar de os números reais nunca terem sido revelados, especula-se que tenha sido bem acima do que os americanos chamam bilião, e nós europeus apelidamos de milhar de milhão, o que se presume ser o maior contrato de patrocínio alguma vez assinado por um atleta, embora estas coisas sejam sempre difíceis de calcular – Jordan, por exemplo, teve a esperteza de colocar no seu contrato com a Nike uma cláusula em que recebia uma percentagem por cada produto da linha Nike Air, o que lhe rende muitos (mas mesmo muitos) milhões de dólares por ano.

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Quebrar recordes não é novidade para Lebron, um jogador que (amem-no ou odeiem-no) se não mudou a forma de encarar o jogo, pelo menos fê-lo evoluir também fora do court. Se Jordan mostrou que um atleta podia ser comercialmente astuto, se Kareem mostrou que um atleta podia ser a consciência social de um país, Lebron tem sido ambos, aliando à destreza com que gere o seu balanço e contas uma preocupação constante com a comunidade.

Ele estava, aliás, a quebrar recordes quando ainda nem tinha chegado à NBA, o que conseguiu anos antes de poder comprar legalmente álcool – nos EUA ninguém pode adquirir uma cervejinha antes dos 21 mas em fevereiro de 2002, quando ainda tinha 17 anos e jogava no liceu, Lebron foi capa da Sports Illustrated – o atleta mais novo a conseguir tal feito. O que teve o efeito (passe a aliteração) de criar enorme expectativa ao seu redor – muitos na mesma posição sucumbiriam, mas cinco anéis depois não podemos deixar de admitir que esteve à altura das expectativas e que se colocou naquela lista diminuta de candidatos ao título de melhor jogador de sempre.

Em fevereiro de 2002, quando ainda tinha 17 anos e jogava no liceu, Lebron foi capa da Sports Illustrated – e foi o atleta mais novo a conseguir tal feito.

Os recordes continuaram: foi o primeiro jogador da história a conseguir pelo menos 35 pontos e 15 assistências sem nunca perder a bola (isto num só jogo), números absolutamente extraordinários, mais ainda se pensarmos que a 23 de janeiro de 2018, ao serviço dos Cleveland Cavaliers e contra os San Antonio Spurs, tornou-se o jogador mais jovem de sempre a atingir os 30.000 pontos na carreira, batendo Kobe por um ano – Lebron tinha então 33 anos e, como Kareem disse recentemente, é preciso um enorme talento e uma capacidade de sacrifício e perseverança estonteantes para continuar a produzir ano após ano números tão estonteantes como estes.

James é também o jogador da NBA com mais pontos nos playoffs, com mais triplos-duplos nas Finais, o que mais vezes foi selecionado para o All-Star Game, o único a ser o MVP das Finais por três equipas diferentes e uma lista completa dos seus feitos seria exaustiva o suficiente para se cair para o lado de cansaço só a lê-la (quanto mais a escrevê-la, pelo que vamos poupar-nos a todos a isso).

Mas não foi só dentro do pavilhão que ele mudou o jogo: se os Lakers de Magic e Kareem introduziram o Showtime, se Magic e Bird foram a primeira rivalidade global, se Jordan se tornou a primeira verdadeira super-estrela mundial do basquetebol, que era, até então, um desporto de equipa, em que as individualidades não eram tão destacadas, Lebron mudou a parada (ou o alcance da parada) quando decidiu que iria sair de Cleveland para vestir a camisola dos Miami Heat.

epa10453846 Fans take photos as Los Angeles Lakers forward LeBron James (C) throws chalk dust up in the air before the first half of the NBA basketball game between the Los Angeles Lakers and Oklahoma City Thunder at the Crypto.com Arena in Los Angeles, California, USA, 07 February 2023.  EPA/ALLISON DINNER SHUTTERSTOCK OUT

As rotinas de LeBron James antes de entrar em campo fazem as delícias dos adeptos da NBA

ALLISON DINNER/EPA

Não foi apenas uma decisão desportiva ou de negócio – foi tudo um evento à escala global, o que, na altura, ainda significava televisão e não redes sociais ou streaming. Sendo então um free agent (ou seja, tendo deixado o seu contrato com Cleveland chegar ao fim, estando portanto livre de assinar por quem quisesse), Lebron não se limitou a comunicar a sua decisão através do seu agente ou do seu novo clube – não, ele criou todo um drama, que deixou a humanidade presa ao ecrã.

Passou-se assim: algures no fim junho de 2010 foi anunciado que a decisão de Lebron quanto à próxima equipa em que jogaria (Cleveland ou outra) seria emitida em direto a 8 de julho desse ano pelo canal televisivo de desporto ESPN. Até então Lebron nunca fora campeão – sendo natural de Akron, Cleveland, a esperança era que ficasse e ganhasse as Finais com a equipa da sua terra natal. O normal nestas situações é que se tome uma decisão e se a comunique. Mas ao ficar em silêncio e remeter o seu futuro para um evento televisivo em direto, Lebron criou um thriller e chegou a muito mais gente do que aquela que por norma segue a NBA.

Lebron tornou-se uma espécie de síntese do apuro comercial de Michael Jordan e da consciência social de Kareem Abdul-Jabbar.

O especial televisivo durou 75 minutos, contando com anúncios. Isto é um grau de exposição inusitado para um desportista (muito antes de Ronaldo dar entrevistas explosivas). O anúncio só feito ao fim de 30 minutos de um programa que foi visto por 13 milhões de pessoas  e que serviu também para angariar 2,5 milhões de dólares para beneficência. E é assim que se cria uma marca.

Quando nos preparamos, hoje em dia, para ver um jogo da NBA, sabemos que os primeiros minutos da emissão serão passados com imagens da chegada dos jogadores ao pavilhão, invariavelmente usando peças de roupa de marcas conhecidas de moda – os jogadores de basquetebol tornaram-se estrelas de rock, mas ao mesmo tempo e pelo seu serviço comunitário (algo em que Lebron é um exemplo) são ouvidos acerca de assuntos sociais, são figuras respeitáveis.

Milhares de adeptos da NBA juntaram-se perto da ESPN antes do anúncio da decisão de LeBron James em 2010

Getty Images

Muito disso deve-se a Lebron, que se tornou – como dizíamos acima – uma espécie de síntese do apuro comercial de Jordan e da consciência social de Kareem. Com menos um título do que Jordan, Lebron nunca será considerado o melhor jogador de sempre em absoluto e mesmo que o igualasse não era certo que o fosse, mas ninguém lhe tira o lugar na história como um dos jogadores mais influentes a alguma vez ter pegado numa bola de basquetebol e fletir o braço para a lançar ao cesto.

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