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A Apple voltou a fazer crescer a sua família de produtos. Esta quarta-feira foi dia de novidades no Apple Park, o quartel-general da empresa na Califórnia, num evento intitulado “Far Out”. Há três anos que não havia uma apresentação de produto no anfiteatro Steve Jobs, devido à pandemia de Covid-19.

Ainda assim, o modelo de apresentações das várias funcionalidades e produtos a chegar aos equipamentos da Apple manteve-se, com pequenos segmentos mostrados por diferentes responsáveis da marca em alguns dos espaços da sede.

Tim Cook deu, como sempre, as boas-vindas, para logo a seguir passar o testemunho. Como sempre, as novidades na linha iPhone são as mais antecipadas neste evento – mas não foram as únicas.

iPhone 14 sem processador novo mas com ajustes na câmara. Modelos Pro têm uma “ilha dinâmica”

Na área dos smartphones, ficaram confirmados os rumores da indústria, com a Apple a apostar novamente no lançamento de quatro equipamentos iPhone 14. Como aconteceu no ano passado, a linha divide-se entre os iPhone 14, modelos que sofrem poucas alterações visuais, e os modelos Pro, onde aí sim há diferenças.

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Pela primeira vez em vários anos, o modelo base não tem direito a um novo processador. Visto como o iPhone “normal”, este telefone vai incluir o processador A15, que já tinha sido apresentado nos modelos 13 Pro, no ano passado. Apesar desta questão, a empresa refere que o processador foi “afinado”, prometendo mais algumas capacidades de desempenho.

Haverá então dois modelos 14, o iPhone 14 e o iPhone 14 Plus. O primeiro tem um ecrã de 6,1 polegadas, enquanto o último conta com um ecrã ainda maior, de 6,7 polegadas. No ano passado a Apple apostou num 13 mini, para os clientes que preferem telefones mais pequenos. Tendo em conta o afastamento do conceito no evento deste ano, a aposta poderá não ter tido o sucesso esperado.

Os iPhone 14 e 14 Plus não têm direito ao novo processador A16. Ficam com o modelo do ano passado

Nos Estados Unidos, há um ponto curioso: ambos os equipamentos vão ser vendidos sem ranhura para cartão SIM, o que mostra que a Apple está a apontar as fichas na área de eSIM (SIM digital, que dispensa um cartão físico). Em Portugal as principais operadoras já disponibilizam esta opção, mas é necessário ter um equipamento compatível. No mercado europeu, os iPhone novos continuarão a ter ranhura para SIM.

Ben Wood, analista-chefe da consultora CSS Insight, antecipa nos primeiros comentários após o evento que “a transição da Apple para apenas eSIM vai provocar um debate intenso”. “Os operadores de redes globais vão estar a acompanhar de perto como é que esta movimentação poderá trazer uma mudança ao balanço de poder da Apple sobre os operadores americanos”, antecipa. A consultora prevê ainda que “se os iPhone com apenas eSIM for bem sucedido nos Estados Unidos, a Apple poderá levar essa abordagem para mercados mais avançados na Europa e mais além com o iPhone 15, em 2023”.

Na área de câmaras, também há a promessa de melhorias nestes modelos base. É usado um sistema de câmara dupla: uma câmara principal de 12 MP, com abertura de 1.5, e uma ultra grande angular de 12 MP. Aqui a Apple defende que há uma “melhoria de 49%” na qualidade de imagens captadas com pouca luz e promete um modo noturno duas vezes mais rápido. A câmara frontal, a TrueDepth, tem 12 MP e uma focagem automática com Focus Pixels.

Passando para a linha Pro, onde estão o iPhone 14 Pro e o Pro 14 Max, é que se encontram as maiores diferenças visuais. As alterações estão principalmente no “notch”, a área do ecrã onde ficam a câmara frontal e o sensor de reconhecimento facial. É usado um recorte em forma de comprimido, que ficará no topo do ecrã. A Apple decidiu dar um nome ao aproveitamento desta área do recorte do ecrã: “Dynamic Island”.

O que é que esta “ilha” vai fazer? Aproveitando aquele espaço negro, a empresa decidiu dar-lhe algum uso, recorrendo a software. A ideia é que o utilizador possa interagir com esta área – ver há quanto tempo está em chamada, receber alertas ou até a acompanhar resultados de jogos. E poderá assumir diferentes dimensões, dependendo do que está a acontecer. Uma vez que só os modelos Pro é que têm esta área no ecrã, a “ilha” só estará presente nestes equipamentos.

A “Dynamic Island” está no topo do ecrã, ao centro. Na imagem que está ao centro, com a indicação de chamada, é possível ver como pode assumir diferentes indicações

Haverá dois tamanhos, tal como no outro segmento dos iPhone 14, de 6,1 e 6,7 polegadas. Nos Pro há ainda um novo processador, o A16 Bionic, que promete ser até 18% mais rápido do que o antecessor.

Este equipamento tem um ecrã “always-on” que, embora seja uma novidade na Apple, já é uma realidade em vários equipamentos de outras marcas. Como diz o nome desta tecnologia, há sempre informação apresentada no ecrã, mas é ajustada a luminosidade do fundo para garantir que não é consumida demasiada bateria. Vai ser compatível com funcionalidades como lembretes, eventos ou ainda o estado do tempo.

A câmara foi igualmente alvo de avanços nos modelos Pro. O destaque está na inclusão de uma câmara principal de 48 MP, com abertura de 1.78, que promete melhorias nas fotografias em ambientes pouco luminosos. Também o modo Pro de vídeo foi ligeiramente afinado, já que permite resolução 4K a 30 frames por segundo e 4K a 24 frames por segundo.

Nos Estados Unidos, a Apple conseguiu manter os mesmos preços que praticou no lançamento do ano passado, com o modelo mais barato a continuar a arrancar nos 799 dólares. Em Portugal, a faixa de preços é bastante diferente, já que um iPhone 14 custará 1.039 euros. No ano passado, por exemplo, um iPhone 13 arrancava nos 929 euros, uma diferença de 110 euros.

“É impressionante que a Apple tenha mantido a paridade de preços nos novos equipamentos iPhone 14 nos Estados Unidos. Antecipávamos que a inflação, os aumentos dos custos com produção e componentes e outras despesas, como as entregas mais caras, pudessem levar a Apple a aumentar os preços”, partilha o analista Ben Wood, que esteve na Califórnia para acompanhar o lançamento. Mas, embora reconheça a manutenção de preços nos EUA, este analista aponta que noutros mercados a Apple terá de aumentar os preços devido à “força do dólar norte-americano”.

A questão que fica por agora por responder é se as tais mudanças incrementais na gama iPhone são suficientes para levar os utilizadores a fazer um “upgrade”. “Embora algumas pessoas estejam a lamentar a natureza incremental das atualizações entre o iPhone 13 e 14, acreditamos que a maioria dos clientes vai fazer um upgrade de um modelo que já tenha vários anos”, diz Ben Wood, da CSS Insight. “Nessa base, o iPhone 14 será praticamente incomparável com o atual modelo que têm, fazendo com que [a troca] seja um substancial avanço.”

Novos iPhone 14 chegam a Portugal acima de 1.000 euros. Pré-venda arranca a 9 de setembro

A área de serviços da Apple tem crescido bastante ao longo dos últimos anos – é, de acordo com as contas mais recentes, a segunda área que mais receitas gera à tecnológica, apenas ultrapassada pelo iPhone. Não houve muito espaço para serviços neste evento, é certo, mas houve tempo para incluir uma novidade sobre o Fitness+.

Este é o serviço da Apple dedicado à área do exercício físico, com uma série de treinos disponíveis. A partir do outono, estará disponível para subscrição para todos os utilizadores de iPhone nos 21 mercados onde está disponível (Portugal está incluído), mesmo que não se tenha um Apple Watch. A partir do iOS 16, a Apple indica que o Fitness+ estará totalmente integrado na aplicação Fitness.

Uma forte aposta nas funcionalidades de emergência, incluindo comunicação com satélites

“Em vez de ‘Far Out’, a Apple bem podia ter chamado ao evento ‘We’ve got your back’”, partilha Ben Wood, da CSS Insight. O trocadilho é feito devido à apresentação de duas funcionalidades ligadas mais à área de segurança em situações de emergência, desde a capacidade de detetar acidentes de viação até comunicação com satélites.

Há alguns anos que corria o rumor de que a Apple estaria a trabalhar numa forma de os iPhone conseguirem comunicar com satélites em situações de emergência, quando não existe rede móvel. A funcionalidade foi oficializada esta quarta-feira, com a própria Apple a admitir que demorou vários anos a ser desenvolvida. Chama-se Emergency SOS e, por enquanto, só chegará aos Estados Unidos e Canadá.

Sempre que não houver rede e o utilizador estiver numa situação de emergência, o iPhone vai conseguir comunicar com satélites para alertar que precisa de ajuda. A Apple diz que, se o céu estiver limpo e o telefone na direção correta, poderá conseguir enviar uma mensagem em 15 segundos. A interface vai guiar o utilizador durante este processo e também fazer algumas das perguntas mais habituais nestas condições. Só será possível enviar mensagens curtas. O serviço será gratuito durante dois anos com a compra dos novos iPhone 14.

Outra funcionalidade de segurança é a Crash Detection, que estará presente no Apple Watch e também no iPhone. Aqui a ideia é que, através dos sensores e microfone dos equipamentos, seja possível perceber se o utilizador esteve envolvido num acidente. Caso esteja a usar o Apple Watch, também o sensor que permite medir os batimentos cardíacos será usado. Quando o utilizador recebe um alerta destes, vai surgir no ecrã a indicação para ligar rapidamente aos serviços de emergência.

Apple Watch Ultra também vai ser um computador de mergulho. Em Portugal custa mais de mil euros

O iPhone foi o destaque, mas o “desfile” de novidades da Apple não começou por aí, mas sim pela linha Apple Watch. As funcionalidades de saúde têm sido uma das bandeiras desta gama, em parte até eclipsando as ferramentas mais ligadas à prática desportiva. Mas já lá vamos.

O Apple Watch Series 8 é uma das novidades nesta linha, embora visualmente seja bastante parecido com o antecessor. Além do Crash Detection, vai ter um sensor de temperatura melhorado e mais funcionalidades na área da saúde feminina.

Já era possível fazer a monitorização do ciclo menstrual nestes relógios, mas usando o sensor de temperatura vai ser possível ter alertas sobre ovulação. A Apple promete atenção à privacidade no uso destas funcionalidades, especialmente numa altura em que os dados de saúde recolhidos pelas tecnológicas estão na berlinda. Nos Estados unidos, com o fim da decisão “Roe vs Wade”, datada dos anos 70, que garantia o direito ao aborto, o acesso a estes dados tem sido fortemente escrutinado e debatido. Houve inclusive um movimento que aconselhava as mulheres a desinstalar aplicações para acompanhar o ciclo menstrual, já que em estados conservadores estes dados podiam ser usados para fundamentar acusações a mulheres sobre interrupção da gravidez.

Dado este contexto, a Apple frisou que os dados da aplicações de saúde só são partilhados com quem o utilizador entender – é preciso uma autenticação específica – não estando sequer acessíveis à Apple, diz a empresa.

A outra novidade é a apresentação de um modelo chamado Apple Watch Ultra – que será o mais dispendioso da linha, ultrapassando os mil euros na chegada ao mercado português. É um relógio mais robusto, que claramente tenta competir com as apostas da Garmin e de outros fabricantes, virado para atletas com práticas mais extremas.

O novo Apple Watch Ultra vai sair caro em Portugal – arranca nos 1.009 euros.

Vai ser o maior entre os equipamentos da Apple, com uma caixa de titânio de 49 milímetros e um ecrã mais brilhante. Vai ter também uma coroa diferente e um novo botão, chamado Action, que poderá ser personalizado pelo utilizador. Este equipamento promete até 36 horas de bateria com uma única carga.

Tem também um modo de GPS “multiband”, que incluirá a frequência L5. Para quê? Para garantir uma localização mais precisa, especialmente se estiver num sítio com muita gente a usar funcionalidades semelhantes – o exemplo da Apple foi o de uma maratona.

O ecrã de maiores dimensões tem ainda outro propósito – a possibilidade de ser usado como um computador em situações de mergulho, com uma aplicação específica, chamada Oceanic + App. O relógio pode ser submerso até 40 metros de profundidade, dando uma série de indicações ao utilizador.

A gama Apple Watch deste ano fica completa com o modelo Apple Watch SE, que pretende ser um equipamento mais barato, de entrada de gama. Por cá custará 309 euros. O Watch Series 8 arranca nos 509 euros.

Leo Gebbie, analista da CSS Insight, descreve as novidades na gama Watch “como a atualização mais significativa desde que o produto foi lançado em 2015”. “Habitualmente, nos modelos principais Watch vemos uma atualização incremental, mas a Apple rasgou a receita este ano e mudou por completo a linha de ‘wearables’, liderada pelo novo Watch Ultra”.

Este analista acredita que seja o Ultra a atrair atenções, mas “a Series 8 e o Watch SE têm um papel crítico a desempenhar para a Apple continuar a ser um player dominante no mercado de smartwatches”. Este analista descreve o Ultra como “uma nova oferta radical da Apple”, que até aqui “não se tinha desviado do design original” do relógio, que permitirá competir “com marcas desportivas como a Garmin, mas também com fabricantes de relógios suíças que têm estado a fazer relógios para experiências de desportos extremos”.

AirPods Pro prometem o dobro do desempenho de cancelamento de ruído

A Apple atualizou também os AirPods Pro. Os auriculares sem fios mantêm-se visualmente muito semelhantes, mas têm um chip H2, com a empresa a prometer uma melhoria da qualidade de áudio.

Este modelo, apresentado em 2019, já tinha cancelamento de ruído, que a empresa indicou ter sido também melhorado. Promete agora o “dobro” do cancelamento de barulhos externos. Há ainda uma nova funcionalidade que já estava disponível nos modelos de outros fabricantes – a capacidade para baixar ou subir o volume diretamente nos auriculares.

Revelados quatro iPhone 14. Apple Watch com dados de ovulação e deteta acidentes. Ultra para mergulho. AirPods com volume controlado nos auriculares