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O que faz um sexólogo?

Um terapeuta sexual — ou sexólogo — é um profissional de saúde, geralmente médico ou psicólogo clínico, com uma especialização em Sexologia Clínica, o que lhe dá um conhecimento aprofundado sobre saúde sexual.

Um profissional com esta formação pode ajudar uma pessoa ou um casal que sinta dificuldades relacionadas com a sexualidade, sejam as queixas centradas em questões físicas, psicológicas, emocionais ou sociais.

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Quando faz sentido procurar ajuda?

Para Fernando Mesquita, psicólogo clínico e terapeuta sexual, a intervenção de um sexólogo é indicada em casos de disfunções sexuais ou para casais com dificuldades como “discrepância no desejo e expectativas, insatisfação sexual, situações de trauma sexual, dificuldades de comunicação ou intimidade, mudanças nos padrões de comportamento sexual e problemas relacionados com eventos de vida significativos, bem como com a orientação sexual e identidade de género”.

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O que são disfunções sexuais?

São situações em que a pessoa não consegue ter uma relação sexual ou em que ela é insatisfatória para si e/ou para o seu companheiro/a, sendo esta situação mantida de forma prolongada no tempo, causando sofrimento à pessoa ou parceiro/a sexual.

As disfunções sexuais são muito variadas, tanto no homem, como na mulher, e podem estar relacionadas com o desejo, a excitação, o orgasmo ou com a presença de dor.

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Quais são as disfunções sexuais mais frequentes nas mulheres?

Os resultados dos estudos que quantificam as disfunções são muito variáveis. Mas estes são geralmente apontados:

  • Perturbação do Interesse e da Excitação Sexual. Aproximadamente 34% das mulheres tem pouco ou nenhum interesse, de forma persistente, em ter atividade sexual e/ou resposta a estímulo sexual, sendo que esta disfunção é mais frequente entre os 55 aos 64 anos.
  • Perturbação do Orgasmo. Entre entre 10% a 42% das mulheres — conforme diferentes estudos — tem esta perturbação, sendo que aproximadamente 10% afirma nunca ter tido um orgasmo ao longo da vida.
  • Perturbação de Dor. Está relacionada com a existência de dor na área genital ou pélvica ou com a tensão nesses músculos — afeta aproximadamente 15% das mulheres.

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E nos homens?

  • Disfunção Erétil. A incapacidade de ter ou manter uma ereção que permita ter relações sexuais tem uma prevalência baixa nos homens com menos de 40 anos (entre 1 a 9 %), mas ronda os 40 a 50% nos homens com mais de 60.
  • Ejaculação Prematura. Está presente em 20% a 30% dos homens, sobretudo mais jovens.
  • Desejo Sexual Hipoativo Masculino. A falta de libido atinge cerca de 4o% nos homens com mais de 66 anos.
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Qual é a diferença entre ter uma disfunção ou uma dificuldade?

O psicoterapeuta Fernando Mesquita refere que, geralmente, a permanência do problema (durante um período mínimo de seis meses), a consistência ou persistência (entre 75% a 100% das ocasiões) e o mal-estar causado são os fatores essenciais para diagnosticar uma disfunção.

“Por exemplo, não podemos dizer que um homem tem disfunção erétil por ter tido dificuldade em ter ou manter a ereção durante um encontro sexual ou num período de tempo curto. Mas se essa dificuldade persistir em todas (ou quase) as ocasiões por um período mínimo de seis meses, provavelmente estamos perante uma disfunção sexual, neste caso a disfunção erétil.”

O terapeuta alerta também para o facto de não se considerar que há uma disfunção sexual quando, apesar da persistência do problema, “a situação for mais bem explicada por uma perturbação mental não-sexual ou se for uma consequência de dificuldades relacionais graves ou outros fatores de stress significativos, bem como se resultar dos efeitos de uma substância/medicamento ou de outra condição médica”.

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Como se tratam as disfunções sexuais?

Depende da disfunção e, sobretudo, do que a está a causar. As disfunções podem ter causas físicas, psicológicas ou, frequentemente,  uma combinação de ambas.

Assim, depois do diagnóstico — que pode ou não envolver exames médicos — é definido um tratamento que pode passar por medicação, fisioterapia, mudanças no estilo de vida, psicoterapia e/ou terapia sexual.

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Que mitos têm um impacto negativo na sexualidade?

Muitas pessoas que não têm uma disfunção preocupam-se muito com o que é ou não “normal” e têm algumas crenças que atrapalham uma sexualidade saudável.

Fernando Mesquita refere que o mito mais presente nos casais que procuram terapia é que “sexo é penetração, tudo o resto são preliminares”. Outro mito comum, diz o terapeuta, é que “os homens estão sempre prontos para o sexo”, o que pode colocar uma pressão pouco saudável nestes e uma expectativa desajustada nas companheiras. “Ao contrário do que muitas pessoas pensam, são cada vez mais frequentes os pedidos de ajuda de casais heterossexuais onde a diminuição do desejo sexual está no homem.”

Por fim, outra questão que surge com frequência é “o que é normal” do ponto de vista da frequência com que se mantém relações sexuais.

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E há uma frequência que seja considerada “normal”?

Não. O terapeuta sexual diz que a necessidade de comparação é comum no ser humano, “mas, na maioria das situações, serve apenas para causar ansiedade e stress”. O importante é que cada pessoa ou casal encontre a frequência ideal para si, salientando que “a sexualidade não é estática e varia de pessoa para pessoa, bem como na própria pessoa ao longo do tempo”.

“É natural observar alterações na frequência das relações sexuais ao longo do ciclo de vida de um casal. Por exemplo, existe uma tendência para uma maior frequência sexual no início da relação amorosa ou caso desejem ter filhos. No entanto, se um casal não sentir isso não significa que seja ‘menos normal’ do que os outros.”

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Como é que a saúde mental e a sexualidade se influenciam?

Influenciam-se mutuamente: ter uma perturbação mental, como depressão ou ansiedade, pode afetar a sexualidade, mas os problemas sexuais também podem ter um impacto na saúde mental, agravando outras doenças ou contribuindo para o seu desenvolvimento.

Tomando como exemplo a depressão, Fernando Mesquita refere que “frequentemente está associada a alterações na resposta sexual, como dificuldades na excitação, orgasmo e desejo”, sendo que, além disso “alguns medicamentos para a depressão apresentam efeitos colaterais que afetam a função sexual”.

Por outro lado, a influência da sexualidade na saúde mental é muitas vezes subestimada e “pessoas que enfrentam desafios na esfera sexual, como disfunções sexuais ou insatisfação, podem experimentar um aumento de stress, ansiedade ou mesmo depressão”.

“Esta interação entre saúde mental e sexualidade revela a importância de uma abordagem integral ao tratar pacientes com perturbações mentais que vá além dos sintomas psicológicos, incorporando os impactos na qualidade de vida sexual e vice-versa.”