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Qual é a polémica em torno do nome do Super Bock Arena - Pavilhão Rosa Mota?

Rosa Mota não marcou presença na inauguração do renovado pavilhão com o seu nome, agora chamado Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota. Em carta enviada na semana passada a todos os vereadores da Câmara do Porto, a atleta olímpica disse-se “enganada” pelo executivo.

Em causa está a introdução do nome “Super Bock Arena” à frente da toponímia anterior “Pavilhão Rosa Mota” que, segundo a campeã olímpica, resultou de uma decisão feita à revelia do acordado com a Câmara do Porto.

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Desde quando existe o Pavilhão Rosa Mota?

Em 1952, ainda sem abóbada completa, o edifício projetado pelo arquiteto José Carlos Loureiro foi inaugurado quando acolheu o Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins, no qual Portugal se sagrou campeão.

O chamado Pavilhão dos Desportos havia sido construído após a demolição do anterior Palácio de Cristal, em 1951, e acolhia, para além de eventos desportivos das mais variadas modalidades, alguns eventos culturais, congressos, exposições e feiras.

Em 1988, no ano em que Rosa Mota é medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Seul, o Pavilhão adota o nome da atleta nascida na cidade do Porto. Na altura, era presidente da Câmara Fernando Cabral, do PSD.

Rosa Mota foi medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988.

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Por que razão o Pavilhão se deteriorou?

Fernando Gomes, do Partido Socialista, ganhou a Câmara do Porto, em 1989 e, no início da década de 90, o edifício sofreu uma obra de reabilitação. Apesar de lhe ter melhorado as condições, a obra foi pouco profunda e não solucionou alguns dos seus problemas estruturais.

Um deles era uma acústica deficiente: uma vez que o Pavilhão foi feito a pensar em eventos desportivos, não estava preparado para acolher concertos ou outros eventos culturais. A certa altura, o edifício sofria de infiltrações, que se foram agravando com o tempo. Em 2005,  o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) dizia que o estado de deterioração do edifício era tal que estava em risco de cair.

Nos doze anos em que Rui Rio (PSD) esteve à frente da Câmara do Porto, não se avançou com obras. Em 2009, durante o mandato do anterior presidente da Câmara do Porto, a autarquia apresentou um projeto para modernizar o ‘Rosa Mota’ com 19 milhões de euros, no âmbito de uma parceria público-privada entre a autarquia (que entraria com 10 milhões de euros) e um consórcio formado pela Associação Empresarial de Portugal (AEP), a Parque Expo, o Pavilhão Atlântico e o Coliseu do Porto (três milhões).

No projeto, estava prevista a renovação do espaço e a construção de um edifício nos jardins do Palácio de Cristal para acolher um centro de congressos. Em 2012, a obra, entretanto orçada em 25,7 milhões de euros, perdeu o financiamento.

Em 2013, quando o executivo de Rui Moreira entrou em funções na Câmara do Porto, entrava chuva a partir das janelas do antigo Palácio. No entanto, houve sempre eventos no edifício, desde sempre explorado pela Câmara do Porto, como Feiras do Livro ou congressos de partidos políticos. Os eventos de música que pediam uma acústica mais sofisticada tinham, no entanto, de ser feitos noutra sala de espetáculos.

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Quando é que se decidiu abrir um concurso para a exploração privada?

A autarquia iniciou em dezembro de 2014, através da empresa municipal Porto Lazer, um processo de concessão da gestão, recuperação e instalação do emblemático edifício a uma entidade privada. A votação do júri viria a pender favoravelmente para o consórcio “Porto 100% Porto”, constituído pela produtora PEV-Entertainment e a construtora Lucios.

Ficou definido que o consórcio teria a seu cargo a gestão do Pavilhão Rosa Mota por 20 anos e a reabilitação do Pavilhão no prazo de dois anos, sem que houvesse qualquer construção nos jardins e sem alterar a configuração do exterior do edifício.

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Quem pagou o quê na remodelação do Pavilhão Rosa Mota?

O consórcio pagou integralmente as obras, num valor que ronda os 8 milhões de euros, e ainda pagará 4 milhões de euros por ano à Câmara do Porto pela utilização e exploração do equipamento durante os próximos 20 anos.

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Era obrigatório incluir o nome da marca Super Bock no nome do pavilhão?

Não. Em ata de Reunião de Câmara do dia 27 de novembro de 2018, consultada pelo Observador, Rui Moreira afirma que “o contrato original já previa a possibilidade de renaming do Pavilhão, havendo o poder de a Câmara autorizar ou não”. De facto, quando a Câmara aceitou a mudança do nome do edifício, há menos de um ano, a obra já estava praticamente acabada, não tendo sido necessária essa garantia para o consórcio ter avançado com as obras.

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Rosa Mota aceitou essa inclusão?

A atleta, no início, não se terá sentido confortável com a situação de ter uma marca associada ao seu nome, ainda para mais uma marca de uma bebida alcoólica. Com as remodelações, iniciadas em 2017 e patrocinadas pela Super Bock, chegou a estar em cima da mesa a possibilidade de o nome de Rosa Mota desaparecer da designação do pavilhão multiusos, mas Rui Moreira terá dito à atleta que isso não ia acontecer, como a mesma conta na carta enviada agora aos vereadores.

“O presidente Rui Moreira convidou-me para reunir com ele, na Câmara e aí, começou por afirmar exatamente o contrário dos senhores do [sociedade] Círculo de Cristal: ‘A toponímia não se muda’ e acrescentou, sabendo do meu enorme constrangimento em que o meu nome esteja ligado uma bebida alcoólica e até da legalidade discutível desta situação: ‘Mas se a Rosa pudesse aceitar a bebida alcoólica (Super Bock) a cidade beneficiaria muito’”, escreveu Rosa Mota.

A contragosto, Rosa Mota acabou por aceitar a concessão “Pavilhão Rosa Mota Super Bock”. Na proposta de designação daquele pavilhão, de 20 de novembro de 2018, a que o Observador teve acesso, a vereadora Catarina Araújo escrevia que se pretendia “acrescentar à designação toponímica Pavilhão Rosa Mota, a marca comercial Super Bock Arena” e assegurava que “este novo pedido não altera a designação formal ou corrente do equipamento, traduzindo-se apenas na adoção suplementar de branding“.

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Porque é que Rosa Mota está contra o nome agora escolhido?

O nome escolhido para o antigo Palácio é Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota, tendo-se colocado a marca à frente da toponímia anteriormente existente. O próprio logótipo aceite pela atleta não é o mesmo que acabou por ser apresentado pela vereadora do Desporto.

O logótipo que Rosa Mota aprovou depois de ceder ao pedido de que o nome do patrocinador fosse incluído.

O logótipo apresentado pela vereadora do Desporto e que Rosa Mota diz, na carta, ter rejeitado.

O Observador sabe que a atleta sempre pensou que o aditamento de “Super Bock Arena” à toponímica anterior implicava que “Pavilhão Rosa Mota” se mantivesse à frente na designação de “Super Bock Arena”, mas o conceito legal de “acrescentar”, presente nos documentos oficiais, refere-se apenas a um acréscimo no nome, seja ele feito antes ou depois da designação já existente.

Por ter sido um processo controverso que levou a atleta a propor até a retirada, “com a máxima discrição possível”, do seu nome do pavilhão, “caso a sua permanência fosse um grande prejuízo para a Câmara/cidade”, Rosa Mota diz agora que se sente “enganada” pelo executivo.

Por seu turno, Rui Moreira afirma que o Pavilhão, “embora batizado com o nome da atleta, não tinha qualquer inscrição do seu nome nem na fachada nem em nenhum local visível”. Durante a inauguração do agora renovado Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota, Rui Moreira virou o discurso. “Ali fora do Palácio vejo escrito Pavilhão Rosa Mota, aqui dentro também vejo. O que eu sei é que as pessoas que gostam da Rosa Mota gostam que este pavilhão esteja reabilitado”.