Nas últimas semanas, a TAP tem sido a empresa portuguesa que tem estado mais em cheque. Mas nas redes sociais há outro alvo, também ligado ao setor dos transportes: a Comboios de Portugal. Numa publicação de Facebook do passado dia 15 de fevereiro, alega-se o seguinte: “A CP tem 90 comboios e 124 administradores, há secções com 4 funcionários e 12 chefes.” Ou seja, demasiadas pessoas a mandar para tão poucos trabalhadores. Atingiu, até ao momento, mil partilhas. Trata-se, no entanto, de uma publicação errada.

Publicação viral alega falsamente que CP tem 124 administradores.

O Observador contactou a empresa para perceber se, de facto, existe algum fundamento nas alegações partilhadas nas redes sociais. A resposta é: não. “A estrutura de Recursos Humanos da CP conta com mais de 3700 trabalhadores, dos quais 38 têm categoria de diretor, o que corresponde a cerca de um diretor por cada 100 trabalhadores”. Números bem diferentes dos proferidos pelo utilizador.

Já quanto ao conselho de administração, o número é bastante inferior: cinco pessoas, em vez de 124, tal como está descrito pela resolução do Conselho de Ministros nº118 de 2019. Estas informações também constam do site oficial da CP.

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Resolução do Conselho de Ministros (2019) sobre o conselho de administração da CP.

Agora, falta olhar para o número de comboios, que também não corresponde ao divulgado pela publicação inicial. “A média diária de [viagens de] comboios realizados por dia útil é superior a 1300, percorrendo mais de 2170 quilómetros de linhas ferroviárias de norte a sul do país”, garante a CP. Sobre os veículos ferroviários que constam do “parque operacional de material circulante”, a empresa conta com 43 locomotivas, 197 automotoras elétricas (de composição múltipla, num total de 738 veículos), 54 automotoras diesel (também de composição múltipla, num total de 128 veículos) e 192 carruagens de passageiros.

Ou seja, podem contabilizar-se 486 veículos e carruagens no parque operacional da CP (não contabilizando individualmente as composições múltiplas de cada automotora). Considerando apenas as locomotivas e as automotoras (o melhor equivalente possível ao termo “comboios” referido pelo utilizador), contam-se 294 destes veículos — portanto, um valor mais de três vezes superior ao mencionado no post aqui verificado.

Ao fazer uma pesquisa na internet por resultados semelhantes aos da publicação original, é possível encontrar uma notícia do Jornal Económico onde se lê o seguinte: “Nova estrutura organizacional da CP vai ter 124 diretores e chefes”. Mas isto liga-se à reestruturação entre a empresa pública e a Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário. E nem sequer se refere a administradores mas sim a diretores e chefes, até porque essa alteração veio do conselho de administração da transportadora pública.

Conclusão

Não é verdade que a empresa pública Comboios de Portugal tenha 124 administradores, 90 comboios e “secções com 4 funcionários e 12 chefes”. Segundo a transportadora portuguesa, esses números estão errados.

A empresa conta com mais de 3700 mil trabalhadores, dos quais 38 são diretores, o que corresponde a cerca de “1 diretor por cada 100 trabalhadores”. No que diz respeito ao número de administradores, também está incorreto: segundo a resolução do Conselho de Ministros de 2019, são cinco pessoas e não 124. Quanto ao número de comboios que fazem parte do “parque operacional de material circulante”,  ultrapassa largamente as 90 unidades — são, pelo menos, 294, considerando apenas locomotivas e automotoras.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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