A prova apresentada é um vídeo, com pouco mais de 20 segundos e em que é visível um homem atrás das grades, mas com uma qualidade de áudio que deixa muito a desejar. Com boa vontade, é possível ouvir o homem dizer que treinou com alguém em Fortaleza. Isto logo depois de transmitir aquilo que parece uma manifestação de receio em deixar-se gravar — “Vai meter uma bala na minha cara”, é o que parece ter sido dito.
A acompanhá-lo, nas publicações feitas através do Facebook, existe uma legenda, que pode ou não ter ligação com o homem visível nas imagens, que em momento algum se identifica ou é identificado.
“Acabaram de enviar para o grupo de whatsapp QRUNOTÍCIAS”, pode ler-se. “Estão repassando que isso é um desafio de um jogo e terá mais atentados em creches. Foi identificado como Luiz Lima de 25 anos o autor do atentado na creche em Blumenau.”
Não é tudo informação falsa: uma creche foi efetivamente atacada no passado dia 5 de abril, na cidade brasileira de Blumenau, no estado de Santa Catarina. Um homem, mais tarde detido e identificado como Luiz Henrique de Lima, de 25 anos, saltou o muro do Cantinho Bom Pastor e matou, com um pequeno machado, quatro crianças, entre os 5 e os 7 anos. Outras quatro crianças ficaram feridas no ataque que chocou o estado e o país inteiro. Daí até começar a circular informação adicional — e falsa — foi um ápice.
Para além de o vídeo em questão não indicar sequer a situação descrita na legenda, a própria polícia garantiu, em conferência de imprensa, que as “notícias” entretanto a circular em grupos de Whatsapp e redes sociais não tinham qualquer fundo de verdade.
“Isto foi um caso isolado. A situação é de um caso isolado. Não tem relação com outras práticas criminosas e não é um fato coordenado, seja por jogo ou por rede social”, disse, em conferência de imprensa, Ulisses Gabriel, o delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina. “Entrevistas prévias [da polícia com o suspeito] indicam que é um facto isolado. Não tem relação com outros factos e não está relacionado com coordenação ou jogos envolvendo outros criminosos”, assegurou.
Ainda assim, o boato já se tinha disseminado de tal forma que começaram a surgir notícias de outros ataques, noutras cidades do estado, gerando-se o pânico, com inúmeros pais a acorrer às escolas dos filhos já a temer o pior — mesmo depois de a Polícia Militar ter vindo a público desmentir a informação. O mesmo fenómeno aconteceu em Portugal, depois de várias mensagens publicadas nas redes sociais, com a ameaça de ataques a escolas de diferentes pontos do país, terem começado a circular.
No Brasil, Kleber Edson Wan-dall, o prefeito da cidade, entre Blumenau e Itajaí (outro município sobre o qual a mesma desinformação correu), também foi obrigado a acalmar a população. “Não procede a informação de que uma unidade escolar de Gaspar sofreu atentado”, assegurou. “Não há registo de nenhum incidente relacionado a violência na cidade.”
Conclusão
É falso que o ataque a uma creche em Blumenau tenha resultado de uma espécie de desafio entre criminosos. Não só o vídeo partilhado para supostamente o comprovar não deixa descortinar essa ideia, como as autoridades responsáveis pela investigação do crime vieram a público garantir que o ataque, que vitimou 4 crianças, “foi um ato isolado”. Os outros massacres que supostamente teriam acontecido noutras cidades do estado e que consubstanciariam esta teoria também nunca aconteceram.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.