Uma publicação viral de Facebook, partilhada no dia 23 de outubro de 2020, voltou a surgir nas redes sociais. O tema principal é uma suposta relação, no mínimo, inusitada: os “enfartes ocorrem com mais frequência no banho”. Após interrogar os internautas sobre essa suposta relação causa/efeito, o autor do post descreve, por etapas, como qualquer pessoa deve tomar banho. Além de não sustentar a sua tese alegadamente científica, a publicação é falsa.

Publicação alega que ocorrem mais enfartes quando uma pessoa está a tomar banho. É falso.

Ao longo do texto, que não refere qualquer estudo científico credível e revisto por pares, o autor fala de várias instruções que devem ser seguidas, como “começar a tomar banho molhando os pés, depois as pernas, de seguida os ombros e finalmente a cabeça”. Optando pela sequência inversa, “o sangue aumenta a sua velocidade para chegar à cabeça mais rapidamente para compensar a diferença de temperatura que pode eventualmente causar rompimento de vasos, capilares, artérias e consequentemente um enfarte”, diz o autor.

“Não existe base nenhuma científica nesta publicação. Nada que sustente estas afirmações”. É assim que o médico cardiologista Henrique Cyrne Carvalho começa por desmentir a publicação original ao Observador. Depois, assegura também que, apesar de existir uma probabilidade de incidência de enfarte da parte da manhã — horário em que muitas pessoas tomam banho antes de prosseguir para outras atividades –, ela não está ligada ao ato de lavar o corpo, da temperatura da água ou de outros eventos que decorrem na casa de banho.

“Existe, de facto, um aumento da prevalência de enfarte no início do dia. Durante a noite, existe uma diminuição da frequência cardíaca e da pressão arterial. No início da vigia [quando acordamos, por exemplo] , através do sistema nervoso simpático, tanto a frequência cardíaca como a pressão arterial aumentam. E isso são condicionantes num doente com predisposição para enfartes, que podem agravar ou levar a que um evento destes ocorra”, explica.

Esses aumentos podem estar ligados, por exemplo, a uma determinada atividade física matinal. Ainda assim, mesmo para pessoas que estejam em repouso, ou seja, sem fazer qualquer tipo de atividade física, existe uma maior prevalência de enfartes da parte da manhã.

Por outro lado, uma pesquisa sobre o tema permite encontrar alguns textos, pouco sustentados, que falam nesta hipótese. Um deles pode ser consultado no site Healthline, onde se argumenta que existem poucos dados” sobre a frequência de enfartes durante o banho. No mesmo site, encontramos outro texto de 2020 (um ano antes de o primeiro ter sido lançado) onde se argumenta que “banhos quentes podem reduzir a ocorrência de enfartes”. Ainda que sejam visões contrárias, não estão qualquer relação — nem sequer são citados — com a publicação em questão.

Conclusão

Não é verdade que exista uma maior frequência de enfartes enquanto uma pessoa está a tomar banho. O autor da publicação original não sustenta a sua argumentação nem refere a origem daquela informação. O cardiologista Henrique Cyrne Carvalho esclareceu ao Observador que não existe tal causa/efeito. Por outro lado, é certo que existe uma maior prevalência de enfartes da parte da manhã para quem tenha essa predisposição, mesmo para pessoas que estejam em repouso, ou seja, que não estejam a fazer desporto. Isto porque o corpo humano, quando acorda, “sofre” um aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial desde que esteve a dormir.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de factchecking com o Facebook.

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