Uma publicação partilhada no Facebook alega que a Direção-Geral da Saúde aprovou a administração de seis doses da vacina da Pfizer contra a Covid-19 a cada pessoa. O autor acrescenta à publicação um documento referente a uma atualização do plano de vacinação contra o novo coronavírus e fala em “circo” para tentar “convencer” as pessoas a “tomar mais” vacinas. Mas não é verdade que a Direção-Geral da Saúde tenha aprovado a administração de mais doses do fármaco e a informação do documento é descontextualizada.

Vamos por partes. O que leva o autor da publicação a concluir que, a partir de agora, cada pessoa tem de tomar seis doses da vacina da Pfizer é uma informação divulgada no site do Serviço Nacional de Saúde (SNS): “Alteração para seis doses: aprovada a 08.01.2021”. Tal frase é retirada de um documento de atualização do plano de vacinação contra a Covid-19. Este documento, que surge no post de Facebook em causa sob a forma de captura de ecrã, é verídico e pode ser consultado aqui (terceiro diapositivo). O documento está também, de facto, no site do SNS, conforme indica o autor.

Mas a informação é descontextualizada. Ao Observador, fonte oficial do Infarmed — Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde explica que “a referência às seis doses tem única e exclusivamente a ver com a quantidade de doses a retirar de cada frasco da vacina Comirnaty, dos laboratórios BioNTech/Pfizer”.

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Ou seja, a expressão “alteração para seis doses” não se refere a qualquer tipo de mudança relativamente ao número de vacinas que cada pessoa tem que tomar para se manter protegida contra a Covid-19. Refere-se, sim, ao número de doses que é possível extrair de cada frasco do fármaco. “A questão em causa é o aproveitamento de forma errónea de uma informação veiculada pelas autoridades de saúde sobre a vacinação Covid-19”, conclui o Infarmed na resposta enviada ao Observador.

Inicialmente, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) autorizou a extração de cinco doses por frasco. O Infarmed explicou depois, numa nota publicada a 30 de dezembro de 2020, que a Pfizer tinha apresentado o “pedido de alteração” para extração de mais uma dose do frasco de cada vacina. “Posteriormente, face à possibilidade de extração de mais uma dose, a EMA atualizou essa informação, passando a extrair-se seis doses de 0,3ml de cada frasco da referida vacina”, detalha a resposta enviada pelo Infarmed ao Observador.

A alteração surgiu a 8 de janeiro deste ano. Tal deu origem à atualização do plano de vacinação contra a Covid-19, publicado a 28 de janeiro — e que o autor da publicação de Facebook sob análise neste Fact Check cita (documento referido acima).

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O autor do post fala, ainda, sobre a taxa de vacinação em Portugal, para dizer que o país tem atualmente, uma taxa de cobertura de 90% de vacinados. O atual coordenador da task force do plano de vacinação, o coronel Carlos Penha Gonçalves, prometeu no dia 27 de novembro acelerar o processo de vacinação contra a Covid-19 e afirmou que é possível atingir a marca dos 90% da população vacinada.

Para tal, o responsável pelo núcleo de coordenação do plano de vacinação contra a Covid-19 anunciou o objetivo de atingir uma capacidade de inoculação de meio milhão de pessoas por semana. As declarações surgiram durante uma visita ao Centro de Vacinação de São Domingos de Rana, em Cascais. Mas os dados mais recentes — numa altura em que a Direção-geral da Saúde se prepara para divulgar a posição sobre a vacinação das crianças entre os 5 e os 11 anos — ainda apontam para uma taxa ligeiramente abaixo desse patamar.

Conclusão

É falso que a Direção-Geral da Saúde tenha aprovado a administração de seis doses da vacina da Pfizer a cada pessoa. O autor da publicação faz uma interpretação errada de uma informação veiculada pelas autoridades de saúde. A expressão “alteração para seis doses” utilizada no documento de atualização do plano de vacinação (que leva o autor a fazer a publicação) refere-se ao número de doses que passou a ser autorizado retirar de cada frasco da vacina, e não ao número de doses a administrar a cada pessoa.

A informação pode ser encontrada nos documentos das autoridades de saúde e é também confirmada ao Observador pelo Infarmed — Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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