“Bring them home now”, ou “tragam-nos de volta já”. Várias publicações nas redes sociais garantem que a frase-símbolo que pretende manter no topo da agenda a missão de recuperar os israelitas capturados por membros do Hamas, a 7 de outubro, foi replicada no palco maior do desporto mundial: os Jogos Olímpicos de Paris 2024.

As publicações mostram imagens — fotos, nuns casos, e vídeos, noutros — da equipa de natação sincronizada de Israel com a frase desenhada dentro de água. Alegadamente, o “bring them home now” teria feito parte da rotina das nadadoras na competição de Paris. Uma decisão de recurso, depois de a equipa ter sido proibida de usar um pin no equipamento com essa mesma referência política.

“A equipa olímpica de Israel não foi autorizada a usar os pins ‘Tragam-nos de volta’ para os Jogos Olímpicos de Paris. Por isso, decidiram soletrá-la para que o mundo inteiro a visse”, referem várias publicações no Instagram, no X (antigo Twitter), TikTok e no Facebook.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Verdade? Não — e por diversas razões.

Primeiro, em relação à própria imagem que está a ser dinamizada nas redes sociais. É verdade que a equipa de natação sincronizada de Israel desenhou a frase política. Mas esse momento não aconteceu durante os Jogos Olímpicos de Paris. Aliás, no dia em que muitas destas publicações começaram a ser partilhadas — a 26 de julho —, as competições oficiais de natação nos Jogos de Paris ainda nem sequer tinham começado. Além disso, esta coreografia não aconteceu no âmbito de qualquer competição oficial.

É isso que se explica na conta da equipa israelita no Instagram, num post de novembro de 2023 em que a imagem e respetivo contexto são partilhados. “A equipa de natação artística de Israel foi fotografada este fim de semana [16/17 de novembro] na Piscina Nacional do Instituto Wingate para uma foto especial em homenagem ao repatriamento dos reféns para Israel.”

Dez elementos da equipa feminina de natação sincronizada participaram na rotina, que resultou em imagens captadas fora e dentro de água. O momento pretendia uma mensagem: “Como todo o país, também estamos a torcer para que todos os reféns voltem para casa rapidamente. Decidimos filmar esta homenagem na esperança de sensibilizar para os crimes contra a humanidade cometidos contra os israelitas e contra cidadãos de muitos países.”

Também os autores das imagens partilharam os resultados da sessão nas respetivas contas de Instagram. Adam Spiegel captou as imagens exteriores, Michel Braunstein as subaquáticas, como a que se vê de seguida.

Há um ponto válido na publicação, mas que não está relacionado com estas imagens. Sem se referir especificamente a pins de cariz político ou a quaisquer outras mensagens difundidas por alguma comitiva nacional, o Comité Olímpico Internacional publicou, em março deste ano, uma “declaração contra a politização do desporto“, recordando que esse é um princípio fundamental da Carta Olímpica. E sublinha: “Reconhecendo que o desporto acontece dentro de uma moldura social, as organizações desportivas inseridas no Movimento Olímpico devem orientar-se pela neutralidade política. Têm os direitos e os deveres de autonomia, que incluem a liberdade para estabelecer e controlar as regras do desporto, determinar a estrutura e o modo de governo das suas organizações, gozar do direito a eleições livres de qualquer influência externa e a responsabilidade de garantir que os princípios de boa governação são aplicados.”

Os Jogos Olímpicos de Paris acontecem em pleno clima de tensão entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza. Uma situação que atingiu novo pico na sequência do ataque do Hamas em território israelita, que provocou mais de mil mortes imediatas e do qual resultaram centenas de reféns — que ainda hoje se calculam em mais de 100. É esse o contexto da suposta rotina da equipa de natação sincronizada.

Conclusão

As imagens da equipa de natação sincronizada israelita, que desenhou um “Tragam-nos de volta já” numa piscina, não foram captadas em Paris, no contexto dos Jogos Olímpicos, nem a rotina foi realizada em qualquer competição oficial. O momento é de novembro do ano passado, como referiu a própria equipa na altura e como atestam as imagens dos fotógrafos que captaram aquele momento.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

IFCN Badge