A publicação original foi feita no Instagram ainda antes do Natal, mas a imagem tornou-se viral em janeiro de 2020. Nela é possível ver uma criança dentro daquilo que pode ser um lago, com água quase até aos joelhos. Segura um coala ao colo e na cara tem colocada uma máscara respiratória. Ao fundo são visíveis chamas e nuvens de fumo. O cenário é a Austrália, onde os incêndios de proporções gigantescas que se têm multiplicado nos últimos meses já queimaram mais de oito milhões de hectares. A fotografia foi partilhada milhares de vezes no Facebook e no Twitter mas é falsa. Apesar de estar explicado na legenda original que é uma montagem, essa informação perdeu-se pelo caminho. Muitos utilizadores mostraram-se comovidos com a ligação entre a criança e o animal — a estimativa aponta para a morte de mil milhões de animais selvagens — e juntaram detalhes à história.

“Imagem é mais poderosa do que os gritos da Greta [Thunberg]. Uma menina silenciosa segura um coala. Olha na nossa direção desde as águas do oceano onde encontraram refúgio”, pode ler-se  no perfil de Elena Cobb, uma de milhares de pessoas que difundiram a fotografia.

O tweet em inglês é de 7 de janeiro e mais ou menos por essa altura espalharam-se outros com a mesma mensagem, em francês, em turco ou em português:

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Depois disso, a autora da primeira publicação teve de voltar ao Instagram para esclarecer que o resultado final é a junção de várias fotografias. Contudo, na partilha que fez a 22 de dezembro, Thuie — que é fotógrafa e artista digital — até já dizia que a partilha era “arte dedicada aos corajosos bombeiros” e incluía a hashtag “photoshop”. Entretanto, na atualização que fez, a australiana pede às pessoas que mencionem que a imagem é uma “edição em photoshop”. “É por isso que a minha conta é conhecida”, especifica.

Tudo começou com uma fotografia que já tinha da própria filha, parcialmente dentro de água. Acrescentou uma máscara à cara da criança para dar ênfase àquilo que quem vive nas zonas afetadas (incluindo Thuie, o marido e as duas filhas) tem respirado todos os dias. O coala foi recortado de uma imagem retirada do site Unsplash. Inicialmente publicada em maio de 2016, nela o animal surge virado para a esquerda (e não para a direita, como na montagem de Thuie) e empoleirado no tronco de uma árvore. As chamas e o fumo surgiram de duas fotos encontradas no catálogo do banco de imagens Unsplash.

Contactada pela AFP Factuel, uma plataforma francesa da agência noticiosa, a fotógrafa explicou o que pretendia fazer com este trabalho, que lhe deu mais de 13 mil gostos no Instagram (contra os habituais posts a rondarem os 500 ou 700 gostos).

“A intenção era representar o que estamos a passar neste momento, os incêndios, as pessoas afetadas por estes incêndios e as máscaras que aqueles que vivem nas áreas em perigo têm de usar, e o facto de os animais serem tão afetados como os humanos”, disse Thuie.

Conclusão

A publicação é fruto da junção de várias fotografias, uma da filha da autora e outras recolhidas em bancos de imagens. Nenhuma foi tirada durante os incêndios na Austrália. Apesar de a autora já ter corrigido a publicação original no Instragram, a imagem foi erradamente difundida em várias línguas no Facebook como se tivesse sido tirada durante os incêndios naquele país.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

Errado

De acordo com o sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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