Circula nas redes sociais uma fotografia que, de acordo com um conjunto de publicações que se têm tornado virais nos últimos dias, mostraria supostamente uma mulher condenada à morte por apedrejamento no Irão, soterrada até à altura do pescoço e a beber água através de uma colher.

“Uma mulher imediatamente antes de ser apedrejada até à morte no Irão ao abrigo das leis da sharia. Em alguns lugares deste planeta, os direitos das mulheres limitam-se a receber uma colher de água antes do apedrejamento”, lê-se numa legenda que acompanha a fotografia.

“Ainda me querem dizer que o Islão merece fazer parte da nossa civilização?”, acrescenta a legenda, que também diz que a imagem retrata o “Islão dos tempos modernos”.

Trata-se, contudo, de uma publicação falsa. A fotografia não foi tirada no Irão durante uma execução por apedrejamento, mas sim na Colômbia, durante uma ação de protesto.

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O arquivo digital de fotografias da Agência Reuters permite encontrar a origem destas imagens. Pode consultar fotografias do protesto aqui, aqui e aqui. As fotografias foram tiradas pelo fotógrafo Eduardo Muñoz no dia 4 de julho de 2003 na cidade de Cali, na Colômbia.

A legenda até diz quem é a mulher: Maria Gabriela Ruiz, de 66 anos. A mulher, bem como dois outros manifestantes, enterraram-se voluntariamente até ao pescoço durante um protesto contra o governo colombiano. O protesto visava a inação do governo no realojamento de 150 pessoas que precisavam de ser colocadas numa zona segura da cidade — numa altura em que aumentava o crime organizado naquela região.

Durante o protesto, os três manifestantes foram acompanhados por familiares e amigos. Algumas fotografias mostram Maria Gabriela Ruiz a ser consolada por um neto e a ser alimentada com recurso a uma colher. É desse momento a imagem que surge na publicação em causa, erradamente legendada como representando uma mulher condenada à morte por apedrejamento no Irão.

O facto de esta imagem em particular não representar uma mulher condenada no Irão não significa, contudo, que a prática da pena de morte por apedrejamento não exista no Irão.

Desde a revolução iraniana de 1979 que a execução por apedrejamento se tornou uma prática comum no Irão. Ao longo das últimas décadas, vários relatórios internacionais, incluindo por parte da Amnistia Internacional e da HumanRightsWatch, dão conta de várias dezenas de pessoas condenadas à morte por apedrejamento no Irão, incluindo mulheres condenadas por adultério ou homens condenados por pedofilia.

Apesar de uma moratória anunciada em 2002, a verdade é que aquela forma desumana de punição continuou a ser usada no Irão — e em novembro de 2023 foi notícia a condenação de mais uma mulher à morte por apedrejamento pelo crime de adultério. O Irão continua a ser um dos países do mundo com maior número de execuções. Só em 2023 foram executadas 834 pessoas.

Conclusão

Não é verdade que a fotografia que está a circular represente uma mulher condenada à morte por apedrejamento no Irão (embora essa prática continue a ser registada em relatórios de organizações internacionais). A imagem foi captada durante um protesto em 2003 na Colômbia, durante o qual três manifestantes se enterraram voluntariamente para criticar a inação do governo. As imagens originais, no arquivo da Agência Reuters, dissipam as dúvidas.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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